sábado, 22 de dezembro de 2012

A FORMIGA SOLITÁRIA



Entrei no banheiro dos homens e foi impossível não notar a presença dela naquele lugar. Era um pequeno ponto, num canto da parede, imóvel. Pensei que ela estava morta. Com um fiapo de vassoura mexi com ela e tive a certeza que estava viva.
O que estava fazendo uma formiga ali? Perguntei-me.
Os dias seguintes, sempre que ia ao banheiro, ela estava lá. No mesmo local. Aquilo ia me deixava curioso. Por que ali? Formigas não vivem em grandes comunidades? Chamei Professor Paulo, que leciona Ciências. Ele veio, olhou a formiga e sentenciou: “-Formigas não vivem sozinhas. Esta deve ter sido expulsa do formigueiro, ou então está perdida”.
A semana terminou o mês também. Já se passaram três meses e minha amiga continua morando lá, naquele canto de parede, num banheiro masculino da Escola Municipal Manoel Machado, em Parnamirim, Rio Grande do Norte. Em princípio procurei manter um relacionamento com ela mais foi difícil. Ela não me entendia, nem eu a ela. Mas, dentro de mim, queimava a vontade de saber o motivo dela viver longe de tantas outras formigas. Não tive alternativa a não ser procurar ler tudo sobre a família Formicidae.
Entrei na internet com vontade, e depois que achava que sabia tudo sobre formigas tomei coragem e fui mais uma vez tentar um diálogo com ela. Coisa de louco você pode pensar. Desta vez apaguei a luz do banheiro, pois algo me dizia que talvez assim teria maior chance, e acreditem, eu não estava errado. Consegui conversar com ela.
Clic! Apaguei a luz. Entrei vagarosamente. Fui até perto dela e falei:
-Você sabia que sua família apareceu na Terra há aproximadamente cem milhões de anos, quando o Brasil e a África eram uma só massa de terra?
Silêncio... Ela nem sequer se moveu. Não desisti.
-Eu tenho a impressão que você não gosta de multidão, por isto abandonou o formigueiro. Lá tem milhões de formigas, não é?
Novamente aquele silêncio. Mas deu para perceber que ela movimentou uma das anteninhas. O que significaria isto? Sinceramente não sabia.
-Olha eu trouxe um torrão de açúcar para você. Tenho notado que não há muito que comer por aqui. Vou deixá-lo aqui, pertinho de você está bem?
Depositei o açúcar e fiquei por alguns segundos pensando no que falar para aquele ser tão pequenino.
Eu estaria louco? Sim, só poderia estar. Levantei-me e disse para mim mesmo: “Tome juízo homem, você já não é mais criança para ter estas fantasias”. Ainda pensava quando percebi que ela queria dizer-me algo e para escutá-la foi preciso que me aproximasse o máximo possível.
-Obrigado pelo açúcar. Falou-me.
-Não tem que agradecer. Respondi sorrindo e eufórico em poder dialogar com uma formiga.
-Qual o seu nome. Perguntei
-Rafael
-Rafael? Você então é uma formiga macho?
-Sim. Eis a razão pela qual estou sozinho neste mundo.
-Poderia explicar melhor?
-Nós, as formigas machos, só servimos uma única vez, para fecundar a rainha. Depois disto nos tornamos descartáveis. Não podemos nem sequer entrar no formigueiro, pois seremos barrados e se insistirmos nos matam.
-Ah! Então você foi expulso da sua colônia?
-Isso mesmo. Agora eu sou uma formiga eusocial, destinada a viver sozinha.
-E lá no formigueiro não tem nenhum outro macho?
-Não! A rainha controla tudo. Ela só põe ovos femininos e estéreis, é por isto que tudo funciona tão bem lá dentro, não há macho, nem choques entre sexo. Tudo é harmoniosamente preparado. Ela anda dentro do formigueiro e vai percebendo a necessidade se precisa de operárias, pões ovos que geram operárias, se precisar de soldados, que também são fêmeas, põe ovos dos quais eclodem soldados.
 -Então quer dizer que um formigueiro é na verdade um grande campo de organização feminina. Um exemplo para a nossa sociedade...
-Não diga isto meu bom rapaz. Veja mais além. Lá dentro não existe igualdade, direitos, só deveres, olhe por exemplo, a vida da casta das operárias, trabalham dia e noite até morrer. Vivem no máximo quatro meses, enquanto a rainha, dependendo da espécie pode viver de dois a vinte anos. Isto é injusto, jamais houve ou haverá uma operária anciã.
Perguntei se ela gostaria de ser transportada para a reserva florestal, conhecida como Mata da Viúva, que fica alí perto. Ela respondeu-me:
-Não, não quero morar lá em hipótese alguma. Enquanto estamos dentro do formigueiro temos proteção, mas agora, seria suicídio. Serviria de alimento para pássaros, lagartos e outros predadores. Aqui me sinto seguro.
-Tamanduá também! Completei, eles comem por dia trinta mil formigas.
-De tamanduá eu não tenho medo, pois na minha infância fui amigo de um tamanduá, e ele me deu uma senha que salvaria minha vida de todos os tamanduás.
-Que senha? Fui curioso, embora achasse que Rafael jamais me revelaria.
-Para você posso falar, pois os humanos não fazem parte do cardápio deles. A senha é a seguinte: sempre que um tamanduá jogava a língua em minha direção eu deveria gritar: OLHA A ONÇA TAMANDUÁ!
 -E funcionou alguma vez?
-Sim, sempre com infalível precisão. Tamanduá não pode ouvir isto que se senta imediatamente e abre os braços.
-Ah! Então é por isto que as pessoas falam em “abraço de tamanduá”.
-É, o bicho aguarda sentado que onça o ataque e ele crava suas unhas afiadas e poderosas nas costas dela, para se defender.
Aquela revelação foi importante para mim. Quis saber mais sobre o universo das formigas, e perguntei o que ele faria da vida. Querem saber da resposta? Ei-la:
-Vou descansar um pouco e aventurar sair por aí. Quem sabe poderei ter a felicidade de encontrar outros machos que também foram banidos das suas colônias.
Rafael sabia que não teria muito tempo para viver. E tinha certeza que naquela área não haveria perigo de se encontrar com um Tamanduá.
Despedi-me de Rafael levando comigo uma grande lição, a saber: alegria de formigueiro é ver tamanduá sendo atacado por onça.

Francisco Martins

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

UM ANO PARA SER E FAZER DIFERENTE: DEPENDE DE VOCÊ



Terminamos mais um ano. Os homens são sedentos pelas frações do tempo, quer sejam em séculos, décadas, anos, meses, dias, horas, minutos, segundos. Isto vem de longe, duma época bem distante. Contar os dias é algo tão peculiar do ser humano, assim como é próprio do rio correr à foz.
Mas os grandes, aqueles que constroem um mundo a parte e vivem numa dimensão muito mais superior, não se preocupam com o fator tempo, aliás no que tange ao transcendental o cronos não existe.
Há pessoas que passam por aqui muitos anos, no entanto, nada edificam, são adeptos da pior filosofia da existência: a normose, que assim é definida pelo grande mestre Hermôgenes: “Os maus hábitos cristalizados como normais pela sociedade, tais como o consumismo e a corrupção”.
E o pior é que a grande maioria segue a normose e não sabe. São escravos sem horizontes a libertação. Que em 2013 sejamos capazes de fazer um ano diferente em nossa vida. Sejamos idealistas e não e apenas sonhadores, pois a diferença entre este e aquele é que o idealista luta para realizar aquilo que sonha.
Que os homens possam no ano vindouro ser mais poetas, cantar a vida, viver a fé. Que cada mulher cultive durante todo o ano novo não apenas a beleza exterior, mas sobretudo a interior.
Que os pais tenham sabedoria para transmitir aos filhos. Que os professores, ah! os mestres, bem a eles desejamos um 2013 paradisíaco. Aos jovens deixamos a tarefa para que cada um possa vir a obedecer a si mesmo, não sem freios, sem limites, sem horizontes, mas com foco. Pois aquele que não obedece a si mesmo é regido pelos outros.
E às crianças, tesouro de cada lar, que para elas haja em 2013 uma Civilização de Amor. Feliz Ano Novo!

O MUNDO ACABOU?


O mundo acabou para quem não aprendeu amar, para àqueles que não sabem perdoar. Acabou para quem não nutre sonhos.
Terminou definitivamente para todo homem que tomou a ressolução de continuar machista.
O mundo acabou para o ancião que se entregou às dores e solidão
Teve fim o mundo para quem não quer realmente ser melhor.
E o mundo será sempre a mais pobre esperança para quem não acredita que além deste globo efêmero e selvagem há a existência de Deus a cuidar daquele que permite por Ele ser amado.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

ÚLTIMO SHOW DE MANÉ BERADEIRO EM 2012










Foi hoje pela manhã, na Escola Municipal Cícero de Souza Melo, no bairro Passagem de Areia, em Parnamirim, que Mané Beradeiro fez a última apresentação de 2012. O show foi uma culminância do ano letico daquela escola, com a presença de alunos e professores do turno matutino. Houve várias apresentações culturais antes do momento com Mané Beradeiro.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O NATAL QUE EMANUEL CONHECE




               Emanuel, doze anos, todos eles vividos numa pobre casa de pau a pique, coberta com palhas de coqueiros. Lá não há luz elétrica, em sua casa ainda se usa lamparina, alimentada com querosene. Também não tem água saneada, usa-se água de cacimbas, tão branca que é preciso acrescentar algumas gotas de limão para fazer o barro assentar.

            A escola que fica mais próxima da sua casa está há uns cinco quilômetros, não tem nenhum transporte que o leve até ela, se quiser estudar tem que ir a pé. Emanuel tem nos olhos o brilho da esperança, na pele, desidratada, a marca da fome. Maria e Zé, seus pais, são analfabetos, ele trabalha na roça, ela, raspando mandioca numa casa de farinha. Sobrevivem, não têm carteira assinada, plano de saúde, salário fixo, feriados e dias santos.
      Alguém perguntou a Emanuel o que é o Natal.
      -Natal? É festa que existe lá na cidade, nas ruas bonitas. Aqui não há nada disto não, respondeu ele.
      -Então que dizer que você nunca recebeu um presente de Papai Noel?
      -Nem dele, nem do meu pai. Foi a resposta dada por Emanuel, lançando seu olhar na linha do horizonte, como quem aspirava ver chegar o inesperado.
      Que estaria pensando Emanuel?
      Será que ele tinha conhecimento que muitas vezes jogamos fora, esbanjando alimento, que para nós não tem sabor nenhum, mas, que para ele e sua família pode ser o único pão daquele dia?  Talvez alguém tenha dito a ele, que em algumas casas, não tão distante dali, neste mesmo País, Estado e Cidade, vivem pessoas que se dão ao luxo de usar uma camisa, calça ou sapato uma vez por mês, posto que, têm um guarda roupa  com muitas peças.
      Emanuel levou a mão até acima dos olhos, o polegar ficou perpendicular a sobrancelha direita, os demais, unidos, protegiam a vista de Emanuel, que já na ponta dos pés, conseguiu ver o vulto do seu pai apontava no poente, tendo como moldura o sol se pondo, as nuvens vermelhas.
      Vi Zé chegar, vinha do trabalho, trazia numa bolsa de couro, dois preás. Estava garantido o salgado daquela noite e do dia seguinte. Com certeza Maria não faltaria com a farinha.
      Fui embora, pensando que há uns dois mil e sete anos atrás, também numa aldeia de Belém houve um José e uma Maria, que nos trouxeram Jesus, Emanuel, Deus Conosco. 
      Feliz Natal!!! 

(publicado originalmente  em 13 de dezembro de 2007, no blog Chaminé)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

ANRL DECLARA VAGA A CADEIRA 39

 
Raimundo Nonato Fernandes




O escritor Jurandyr Navarro, membro da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras e  Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte foi o orador do necrológio de Raimundo Nonato Fernandes, primeiro ocupante da Cadeira 39. Jurandyr Navarro falou sobre várias fases da vida de Raimundo Nonato, num discurso  bem elaborado e com marcas de grande ensaísta. A cerimônia contou com a presença de escritores e familiares do escritor (  viúva, filhas, neta e bisneto). Com este ato, a ANRL declara vaga a Cadeira 39 e publica edital para as inscrições que irão até o dia 17 de janeiro de 2013.

NECROLÓGIO DE RAIMUNDO NONATO FERNANDES







POETAS CRIAM ACADEMIA METROPOLITANA DE CORDEL


Poetas cordelistas da Grande Natal realizaram o 1º Encontro Metropolitano de Cordel, sexta-feira passada, dia 14 de dezembro de 2012, no auditório do IFRN, Campus da Cidade Alta/Natal-RN. Na ocasião do Encontro, os poetas fundaram a Academia Metropolitana de Cordel, sendo escolhidos para Diretoria provisória, os poetas Zé Martins (Diretor Presidente), Abaeté, Hegos, Wilson Palá e Rousiene Gonçalves. Como Representantes dos municípios da Região Metropolitana, ficaram os poetas Isaías Gomes, Cláudia Borges, Vera Lúcia, Tião Silvestre e Jadson Lima.
Segundo os fundadores da referida Academia, a cultura cordelista precisava de uma entidade de luta, que defendesse os interesses do cordel, que hoje constitui um potencial para o desenvolvimento turístico e cultural do Estado, e em especial, da Grande Natal. O cordel carece de oportunidades e de atenção institucional na formulação de políticas públicas. Com a Academia, os poetas passarão a ser representados junto aos órgãos públicos e às empresas promotoras de culturas, para que possam usufruir de projetos que virão beneficiar a categoria e a cultura popular.
O esbouço organizacional da Entidade recém-criada se configura de forma diferente às das demais academias. A começar pelos patronos que só passarão a existir, na medida em os atuais acadêmicos forem morrendo. Além disso, a Academia Metropolitana não terá limite para ingresso de novos acadêmicos. Terá como uma das instâncias deliberativas, o Conselho de Representantes, constituído por 10 poetas que representarão seus respectivos municípios em que residem. São os 10 municípios da Região Metropolitana: Natal, Ceará-Mirim, Extremoz, Macaíba, São Gonçalo do Amarante, Vera Cruz, Parnamirim, São José do Mipibu, Monte Alegre e Nísia Floresta.