segunda-feira, 30 de agosto de 2021

UMA POSSE SEM COQUETEL

 

 A posse do Padre Jorge O'Grady de Paiva (1909- 2001), na Academia Norte-rio-grandense de Letras, que aconteceu na noite de 30 de agosto de 1984, há exatos 37 anos, teve uma peculiaridade: não houve a tradicional confraternização no salão de eventos.  O Padre Jorge O'Grady tomou posse na  cadeira 22, sendo o terceiro ocupante. A decisão de não ter havido o coquetel partiu do próprio empossado e segundo noticiou Paulo Macedo, em sua coluna no Diário de Natal (01 de setembro de 1984) "foi em virtude do recente falecimento  do eminente mestre Onofre Lopes". Naquele ano o  Presidente da Academia era Dom Nivaldo Monte e a saudação ao novo imortal foi feita por Jurandyr Navarro.

sábado, 28 de agosto de 2021

DR PACHECO DANTAS

 

Há exatos  143 anos, nascia  José Pacheco Dantas, filho do Coronel e Chefe Político Felismino do Rego Dantas Noronha e Maria Amélia Pacheco Dantas, no município de Ceará-Mirim-RN. Ele foi o primogênito de uma numerosa família com 14 irmãos. Viveu sua infância entre a cidade e a Casa Grande do Engenho União. Fez os estudos preliminares na sua cidade e em seguida foi estudar no Atheneu, em Natal.

        Desde cedo, Pacheco Dantas demonstrou inclinação para o jornalismo, com 16 anos funda em Ceará-Mirim o “Eco Juvenil”, em formato pequeno, com agentes na Capital e interior do Estado, além de manter intercâmbio com  Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Minas Gerais.

É o  Professor Hélio Dantas quem nos diz:

 Aos 18 anos, o “Almanaque do Rio Grande do Norte”, edição de 1897, publicação de Renaud & Cia., Natal, insere em suas páginas, substancioso trabalho seu, sob a epígrafe - Ceará-Mirim - que constitui um dos melhores estudos sobre esse município, abrangendo aspectos geo-econômicos, educacional, político, administrativo, sua potencialidade, aproveitamento de suas riquezas, produção,etc. É um trabalho de fundamental importância para o estudo e conhecimento do Ceará-Mirim do último cartel do século XIX ao 1º cartel do século XX.”

       Aos 19 anos, em 1897, Pacheco Dantas está na cidade do  Rio de Janeiro.  Lá consegue emprego  em jornais, passando por vários periódicos e chega a ser dono do seu próprio jornal “Gazeta do Norte”, em 1913, que mantém por 18 anos.  Vencendo inúmeras dificuldades, o jovem Pacheco Dantas vai ter seu primeiro emprego na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, no ano de 1900, onde trabalha como auxiliar por um curto período.  Nesse ínterim começa a estudar Medicina, formando-se em 1905. Defendeu a tese de doutorado com o tema “Sífilis e Casamento”, apresentando-a na banca em 27 de novembro daquele  ano. Posteriormente também teve graduação em Odontologia e Farmácia. Interessante é que  embora ele tivesse essas formações, não chegou a instalar consultório para exercer  tais profissões de forma liberal. Sempre trabalhou como funcionário público.

           Uma vez dentro da colmeia do funcionalismo público, Pacheco Dantas, embora tivesse atividades paralelas no campo do jornalismo, nunca deixou de assegurar sua instabilidade econômica, mantendo suas funções como servidor amanuense, chegando a ocupar o cargo de Secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro (1932). 

Pacheco Dantas em 1932

        Sempre que podia vinha visitar seus parentes em Ceará-Mirim. Chegou até ser proprietário de fazendas aqui no Rio Grande do Norte, administrando a distância. As fazendas foram Valparaíso, Itapuan e Livramento, nos municípios de Ceará-Mirim e Angicos, com criação de gados e plantações diversas.

        Tentou ser Deputado Estadual no Rio de Janeiro, filiando-se no Partido Nacional Evolucionista-PNE, em 1934.  Não obtendo êxito.

        Casou com Isabel da Cunha Dantas, da tradicional  família Pereira, com quem gerou dois filhos:  Yolando e Yvonne.


Participou ativamente, em 1903, da campanha pró-famintos do nordeste, fundando e presidindo, no Rio de Janeiro, o “Comitê Central”,  recolhendo donativos para os flagelados do Nordeste.  Funda, ainda, a “Liga Nacional Contra as Secas do Norte”,  com a finalidade de combatê-las e amenizar seus efeitos.

Representou o Rio Grande do Norte, no 4º Congresso Operário Brasileiro, realizado no Rio, em 1912, e representou o Estado, no Congresso de Aplicações Industriais do Álcool", patrocinado pelo Ministério da Agricultura, em 1903, na capital federal.

Pugnou também pelo aproveitamento das fontes minerais de Pureza e de Olho - d’água do Milho, tendo inclusive mandado proceder a exame quantitativo das águas dessas fontes. Batalhou, também, pelo aproveitamento do sargaço e sua industrialização, inclusive argumentando que no Japão havia 500 usinas e nenhuma no Brasil; ainda lutou pela construção das estradas de ferro Sampaio Correia e de Mossoró. Foi por sua intercessão que o Loide Brasileiro fez entrar seu primeiro navio no porto de Natal, em 1902, de nome “Planeta”.

Pertenceu, entre outras, às seguintes instituições: Sociedade de Medicina e Cirurgia; Sociedade Brasileira de Homens de Letras, Sindicato dos Médicos, todos no Rio de Janeiro. Foi sócio do Instituto Histórico do Rio Grande do Norte e do Instituto Histórico de Sergipe. Quando acadêmico, pertenceu à Fundação de Estudantes Brasileiros, foi Presidente do Diretório Acadêmico de Medicina, ambas no Rio. Foi fundador da Associação de Imprensa do Rio e da Associação Brasileira de Imprensa. Reorganizou e foi presidente do venerando Grêmio Norte Riograndense e foi fundador da Federação dos Centros do Norte do Brasil.

Quando visitou Ceará-Mirim pela última vez, levou uma porção de terra e com a qual mandou fazer uma almofada, manifestando seu desejo de repousar sobre ela sua cabeça quando partisse deste mundo. Pacheco  Dantas viveu até o dia 24 de julho de 1961, aos 83 anos.

 

Francisco Martins – 28 de agosto 2021

 

Fontes pesquisadas

Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 30 de março 1901;  3 de maio de 1902;  19 de agosto 1905.

Jornal “Gazeta de Notícias”, Rio de janeiro, 5 de fevereiro de 1911; 28 de julho 1911.

Jornal “A Notícia”, Rio de Janeiro,  18 de abril de 1900; 28 de novembro 1905; 18 de junho 1914.

Revista Fon Fon: Semanário Alegre, Político, Crítico e Espusiante, Ano X. n° 3, 15 de janeiro 1916.

Revista da semana, Rio de Janeiro, ano XVIII, nº 26, agosto 1916.

Revista Vida Doméstica, Rio de Janeiro,  edição 172, mês de julho de 1932.

Diário de Notícias – RJ, 4 de maio de 1932.

Diário da Noite, RJ, 19 de julho 1932.

Diário Carioca-RJ, 4 de maio de 1932.

O Paiz (RJ), 5 de dezembro de 1905;  5 de novembro 1912; 30 de agosto 1913; 18 de outubro 1914; 30 de maio de 1915; 18 de julho 1916; 10 outubro 1934.

A Ordem (RN), 27 dezembro 1938.

Jornal do Commércio  (RJ) 5 de novembro 1955;

O Poti - José Pacheco Dantas, o Patriarca de Ceará-Mirim -  Hélio Dantas -  27 de agosto 1978.

 Síntese Biográfica – Desembargador Virgílio Otávio Pacheco Dantas – Centenário 6.1.1982 – Meneval Dantas -  Rio Grande do Norte – Dezembro 1981.

 

 

               



terça-feira, 24 de agosto de 2021

COMENTANDO MINHAS LEITURAS: NA QUINTA DOS PIRILAMPOS

 

Há livros que trazem coisas boas, imagens lindas que nos fazem querer ser personagem daquela ficção. Um deles é o que li nestes últimos dias, escrito pelo saudoso Pedro Simões.
"A Quinta dos Pirilampos" é um livro encantador, suas páginas transpiram estórias, religiosidade popular, defesa ecológica, saberes transmitidos por gerações. Será "A Quinta dos Pirilampos" um misto de memórias com ficção? Faço essa pergunta porque em alguns capítulos o texto tem fortes características de uma narrativa memorialística. Independente se há ou não esse misto, o livro é catalogado como romance. "A Quinta dos Pirilampos" é em parte um lugar real, e foi partindo dessa gleba que Pedro Simões elaborou a teia das estórias. Enquanto leitor eu percebi três colunas que sustentam o livro, são elas: respeito, família e amor. Coisas que jamais serão vendidas em prateleiras de supermercados e tampouco embrulhadas em papel almaço. Convido você a ter um encontro com o universo criado por Pedro Simões na sua Quinta dos Pirilampos.


Francisco Martins
22 de agosto 2021

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

ALUNOS DO PH3 IRÃO PRESTAR HOMENAGEM AO ESCRITOR FRANCISCO MARTINS

 


O Centro Educacional - PH3, em Parnamirim-RN, através dos alunos  do segundo ano, turmas A e B, da Educação Infantil, prestará na manhã deste sábado, 21 de agosto, uma homenagem ao escritor Francisco Martins . A  programação está guardada às setes chaves e somente amanhã o homenageado ficará sabendo o que vai acontecer. Até lá, ansiedade é a palavra que mais bate no coração do poeta.

terça-feira, 17 de agosto de 2021

COMENTANDO MINHAS LEITURAS: OZANY ESTREIA NA LITERATURA INFANTIL

 


Comprei esse livro para o acervo da biblioteca da qual sou patrono. Li e parabenizo a autora e ilustradora pela beleza da obra. É livro de chegada de Ozany Gomes, que traz ao leitor três histórias repletas de ensinamento às crianças. Ao lê-lo eu me lembrei dos textos de Lobato, onde aprendíamos coisas do mundo e tão necessárias ao nosso crescimento cultural. Gostei e recomendo e deixo meus aplausos para a homenagem que foi feita a um escritor (na segunda história).

Francisco Martins

sábado, 14 de agosto de 2021

RETRATO DE HELOÍSA

É domingo, estou em casa e enquanto me preparo para ir às corridas penso em minha namorada. Heloísa chama-se ela, e é de uma vaga cidade “Pureza” - que eu suponho florida e doce, graças a uma dessas associações que nos vêm à cabeça e ficam lá morando, até que a expulsemos à força de uma decepção. Heloísa tem apenas seis meses de Rio, dos quais cinco me pertencem por direito de descoberta e conquista.

No começo do nosso namoro eu ficava a imaginar o que ela vira em mim de notável para me querer tanto: sou um homem feio. Talvez eu, moço da cidade, deva ter parecido à Heloísa a antítese viva de tudo quanto ela conheceu anteriormente em matéria de rapaz. Assim raciocinava, encerrando o assunto. Quando nos conhecemos, houve em nós uma reciprocidade de espantos. Heloísa se espantou de mim , eu me espantei de Heloísa. Haverá melhor base para o amor? Tanto não há que nos amamos logo. Se bem recordo, disse eu então a Heloísa: “Mas é o campo na cidade!” - e foram estas as primeiras palavras que ela escutou de minha boca. Por atrapalhação ou cortesia, a sua resposta veio no mesmo tom de trocadilho: “Na cidade, sim, e com muito prazer!” Rimos e ficamos namorados. E aos poucos nossos nomes foram se diluindo ao calor de conversas semelhantes, ao ponto de, quinze dias depois desse primeiro diálogo, trocarmos frases assim: -A cidade virá ao campo amanhã? Ao que eu, Esmeraldo, respondia: -A cidade chegará às sete e meia em ponto.

Chegava, e tinham início as conversas, que giravam mesmo, entre um abraço e dois beijos, sobre campo e cidade. Se falávamos do campo Heloísa simulava desembaraço, cosmopolitismo, rindo comigo de suas coisas físicas e humanas, as quais eu reduzia, com alguma habilidade, à matéria anedótica. Heloísa é de riso fácil: sua risada se perdia por entre as árvores do subúrbio, quieto àquela desora em que ficávamos de conversa no portão. Mas quando ela gargalhava com inteira franqueza e convicção era quando tocava a sua vez de analisar a cidade, criticá-la, interpretá-la. Aqui ela ria toda, com olhos, cabelos e uma boca armada de muchochos que se me afiguravam claramente boca, cabelos e olhos do campo. Não que Heloísa não gostasse da cidade. É que o seu raciocínio era feito de um feno especial, muito claro e muito campestre. Residindo no arrabalde de uma grande metrópole era como se continuasse a viver na sua longínqua e humilde “Pureza”. Vê-se daí como somos diferentes, o que talvez explique a nossa mútua afinação amorosa.

 Nasci nesta cidade, da qual nunca me apartei. Fui criado por uma velha tia que, passando desta para a melhor, me transferiu a um internato para órfãos, do qual fugi aos treze anos para levar a vida solta que ainda hoje, com vinte e cinco anos e a profissão de corretor de corridas, ainda gozo. Já Heloísa teve a organizada e tranquila vida de moça da roça. Por isso Heloísa tem base, tem constância e tem consistência, três coisas que me faltam. Sou em tudo um flutuante, enquanto Heloísa é sedimentada como um edifício de arranha-céus, ruim imagem de cidade à qual recorro para explicar um objeto do campo. Mas a rigor este já não é o retrato de Heloísa. Foi o retrato de Heloísa. Porque, a partir do dia em que nos conhecemos, Heloísa mudou, embora não se aperceba e até negue, quando acusada. Curioso como Heloísa cisma de me conhecer. Tenho algumas entradas no xadrez, dois processos por coisa de somenos, a polícia de três Estados gostaria de me segurar. Azares da profissão.

Contei tudo a Heloísa, num domingo em que fomos à Quinta da Boa Vista e subitamente me senti comovido de vê-la assim abandonada no relvado, os olhos macios pousados em mim, o cabelo irisado de pingos de sol. Mas não se deu por achada, nem desta nem das outras vezes em que voltei a falar-lhe de minha vida. Muda sempre de assunto, não sem antes afirmar ter penetrado a essência da minha interioridade, a de lá arrancado, não sei a força de que ganchos, uma palavra estranha e nova para mim: o adjetivo “bom” que ela põe na boca  com sonoridade de qualificativo evidentemente campestre:

 -Você quer é se fazer de mau, Esmeraldo. Mas eu sei que você é bom. Diz, sorri, me abraça. E eu, consultando a cumplicidade da rua, com o rabo do olho, beijo-a na boca. Esta penúltima operação é sempre necessária: Heloísa tem medo da língua da vizinhança. Se Heloisa me quer, raciocino friamente, é uma função daquela crença, da qual rio abertamente, embora vá alimentando com palavras e até com atos a matéria prima de tão inusitada suposição. Por ser do campo, Heloisa pensa que todo mundo é de lá. Daí o mal entendido. Mas voltemos ao namoro. Para cinco meses de romance está a parecer que a cidade tem caminhado com vagar. Não tanto, conforme passo a expor sem grande quebra de discrição, antes a bem da cidade, ou da verdade mesma. Ao correr desses meses, Heloisa tem descerrado suas faldas, se deixado rasgar, como uma colina macia, na alma e outras geografias. Devagar, é verdade, porque há em Heloisa uma inata tendência para dizer não! à cidade, ao mesmo tempo que sabe ir exigindo coisas. Por exemplo: os nossos primeiros encontros tinham certa intermitência. Verificavam-se no portãozinho da pensão onde mora Heloisa, às terças, quartas e sábados. Mas com jeito e vagar Heloisa foi reclamando maior assiduidade, que o campo tem as suas reivindicações. Encontro diário era uma delas, e eis-nos dependurados todas as noites na cancelinha do jardim da pensão, até lá para depois das dez. Encontro e passeio diário pelas ruas penumbrentas do bairro são sinônimos, sabeis ó namorados que não andais aos bandos. Eis-nos, pois, de braço-dado, alargando nossos conhecimentos: Heloisa, da cidade específica e da cidade submersa que dorme em mim; eu, do campo que há nela, cada vez menos nela. Digo assim porque - verifico com desprazer - Heloisa tem mudado. Já não é filha de Maria, nem vai à Igreja aos domingos, como era seu hábito. Primeiro deixou atrasar a mensalidade, até então paga pontualmente à Virgem. E ultimamente refuga com brusquidão os recibos que padre Domingos, supondo-a doente, manda cobrar por intermédio de seu Doca, o sacristão.

Faz planos para o futuro, lamenta o tempo que perdeu bobamente em “Pureza”; encasquetou-se-lhe na cabeça a ideia de mandar buscar a prima Lúcia, “que está mofando naquela terra onde o diabo perdeu as botas”. Diz assim e sorri - um sorriso da cidade mesmo. E eu fico a procurar nas suas pupilas um pouco da terra e do vento da sua longínquo e ensolarada “Pureza”. Não distingo traço: nada daquele mundo flutua agora nas líquidas e escuras pupilas de Heloisa. E de tudo o que mais me preocupa, ao ponto de cogitar numas férias e viajar - viajar para o campo - de tudo, o que mais me preocupa é o seguinte: Heloisa vai ter um filho. 

Homero Homem

14 de Março de 1953

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

CRONOLOGIA DE UM POETA EM MÚLTIPLOS DE QUATRO

Quando tive 4 anos eu fiquei estupefato,
Como pode ser assim?
A vida é feita de fatos!
E toda minha imaginação,
Meus reinos,
Minhas perguntas,
Que fim levarão?


 
Quando eu tive 8 anos
Meu ninho era perfeito
Aconchego e beijos
Não me faltavam

Quando tive 12 anos
O mundo já tinha me dito:
As respostas chegam devagar,
As perguntas é que são sempre ligeiras,
Mas a vida nem sempre é infância.

 


Quando eu tive 16 anos
Já planejava ser capitão do navio
Da minha existência
E preparava cartas náuticas dos
Mares que não conhecia.
 

Quando eu tive 20 anos
Conhecia estradas diversas
Caminhos que me levavam
E traziam ao ponto de partida
E eu contemplava as margens
Sem soltar a bússola.





Quando eu tive 24 anos
Conhecia feras e esferas
Sabia discernir a chegada 
Das estações e sonhava 
Com a primavera.

Quando eu tinha 28 anos
Não ligava para o calendário da existência
A eternidade corria em minhas veias
E meu futuro não era escuro

 
Quando eu tinha  32 anos
A vida estava deveras pesada
Meus pés eram chumbos
Minhas asas atrofiadas
Um coração fechado
 
Quando eu tinha 36 anos
Mutações começaram  a acontecer
Folhas de sulfite se agarram a mim
Palavras brotavam com mais sapiência.
Germinava um escritor.

 
Quando eu tinha 40 anos
Era ousado como as águas de um rio
Valente como o vento que adentra na floresta
Mas tinha um segredo adormecido.
E os livros guardados como vinhos
Foram servidos aos amigos.


Quando eu tinha 44 anos
O sertão nordestino apossou-se
Da minha alma. Mandacaru e  Teiú
Moldaram um poeta personagem.
Um cordelista nascia entre cactos
E versos carentes da métrica e rima.

Quando eu tinha 48 anos
Trazia comigo uma apostila
De erros e acertos
Uma certeza que tudo
Deve ser e ter a medida certa.

 







Quando eu tinha 52 anos
Estava cada dia mais liberto
Felicidade ou não são momentâneas
O que importa é enfrentar os dragões 
E não desistir dos sonhos que devem ser
constantes.



Quando eu fiz 56 anos
(E isso não faz muito tempo)
Elaborei planos de escalar montanhas
Respirar ares mais puros
Descobrir ninhos de gaviões
Ousar viver!

Quando eu fizer 60 anos
Daqui a três anos
Ganharei medalha de ouro
Nas Olimpíadas de Paris.

Francisco Martins
12 e 13 de agosto de 2021

ASSIM DISSERAM ELAS ...

 

 "... a história da humanidade é uma pirataria que não tem fim. O mais forte, sempre que pode, depreda o mais fraco. Só quando a Justiça for uma realidade, em vez de ser um ideal, é que as coisas mudarão de rumo"

Dona Benta.

 

Fonte:  Aventuras de Hans Staden, de Monteiro Lobato. Editora Brasiliense Ltda, São Paulo, 9a Ed, 1954, página 17.

O CIRCO CHEGOU






O poeta Diógenes da Cunha Lima trouxe a beleza do circo para dentro de um livro. Cabe ao leitor dá nome a esta casa de espetáculo. Algumas personagens foram traçadas com a arte de Iaperi Araújo, que ilustrou o livro. Coube a Ivan Lira de Carvalho chamar a atenção do público, escrevendo o texto das orelhas. Lá dentro, antes da abertura do show, Diógenes, Iaperi e Racine Santos falam da importância do circo. Após essa breve apresentação, o ledor chega à pagina 15 onde as luzes dos poemas começam a cintilar e vão brilhar até o final do espetáculo. Vá ao circo. Ah, antes que eu esqueça, ao meu eu dei o nome de Baobá Circo.


Francisco Martins, que também é o Palhaço Leiturino


11 de agosto 2021

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

JAMAIS DIREI...

Eu não posso, pois "posso todas as coisas naquele que me fortalece" (Filipenses 4:13)

Eu não tenho, pois "Meu Deus suprirá, segundo as suas riquezas na glória de Cristo Jesus, cada uma de minhas necessidades" (Filipenses 4:19)u

Que tenho medo. "Poque Deus não nos deu o espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação" (2 Timóteo 1:7)

Que tenho duvidas ou falta de fé, porque eu tenho " A medida da fé que Deus repartiu a cada um" (Romanos 12:3)

Que eu sou fraco, porque "O Senhor é  a força da minha vida" (Salmo 27:1) e "O povo que conhece ao seu Deus se tornará forte e fará proezas" (Daniel 11:32)

Que Satanás tem domínio sobre minha vida, "porque maior é aquele que está em mim do que aquele que está no mundo" (1 João 4:4)

Que estou derrotado, porque "Deus em Cristo sempre me conduz em triunfo" (2 Coríntios 2:14)

Que não tenho sabedoria, pois "Cristo Jesus foi feito por Deus sabedoria para mim" (2 Coríntios 1:30)

Que estou doente, pois "Pelas suas pisaduras e fui e sou sarado" (Isaías 53:5)

Que estou preocupado e frustado, pois estou "Lançando sobre Ele, toda a minha ansiedade, porque Ele tem cuidado de mim" ( 1 Pedro 5:7)

Que estou condenando, pois "Agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" ( Romanos 8:1)

Obs: este texto não é da minha autoria, mas eu o conservo em um caderno há mais de trinta anos)

CONVERSA DE CANCELA: VOLTANDO PARA CASA

 A tarde terminava com o sol se pondo entre as carnaubeiras.  Uma imagem linda de ser vista, um descanso à alma do homem que retornava à casa  após uma dia de labuta  lavrando a terra.

Tão logo pegou a estrada,  eis que nosso campesino se encontra com Mota, seu vizinho que também voltava do trabalho. Mota gostava de prosear, tinha conversa para tomar menino das garras do papa-figo e até mesmo fazer bode tomar banho de chuva.

−Boa tarde meu amigo!

─ Boa tarde!

─ Ainda está com a visita do seu cunhado?

─ Sim, não vejo a hora daquela criatura voltar para  Santa Cruz

─ Por quê?

─ Meu amigo sabe que eu não sou miserável, mas aquele rapaz é uma estrovenga.

─ Então é trabalhador?

─ Antes fosse. Quando digo estrovenga refiro-me  à  vontade que ele tem de comer. Agora eu entendo o ditado: parente é como praga de gafanhoto: come tudo.

Pois está na hora do senhor ensinar a ele que  aranha vive do que tece.

─ Eu? Imagina se vou me meter nisso, ele  é metido a valentão e eu não quero  criar problema no meu casamento por causa de cunhado ademais em buraco de cobra tatu não entra.


 

E assim, enquanto caminhavam, os dois homens mantinham a conversa recheada de sabedoria popular, os famosos adágios, provérbios que vão passando de geração a geração.  Já chegando  próximo da casa de Mota, esse falou se despedindo:

É ditado da cutia: o sol se pôs, acabou-se o dia; mas é ditado da raposa: o sol se pôs, ainda se faz muita coisa.

 

Mané Beradeiro

Parnamirim-RN, 12 de agosto 2021

 

As ilustrações são de Perci Lau. Fonte: Almanaque Globo Rural, ano 1, 1987, página 139.

 

UM LIVRO BROTADO NA ILHA DAS FLORES

 


 Você sabia que Graciliano Ramos escreveu "Vidas Secas" em apenas três semanas? A história estava pronta em sua cabeça, toda estruturada, apenas aguardando a oportunidade de ser datilografada. Ele a criou quando estava preso na Ilha das Flores, em 1936. O livro foi lançado dois anos depois, pela Editora José Olympio.

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

O LIVRO DE LOLA




Maria Julia e Lola vivem uma aventura nas páginas deste livro. Destinado aos adolescentes," O livro de Lola", escrito por Lino de Albergaria, com ilustrações de Thaís Linhares, vai narrar a relação entre uma avó e a sua neta. Até que ponto Lola pode ir para salvar a sua avó? Qual é o problema crucial de Maria Julia? O texto repleto de encantamento e magia vai transportar o leitor ao mundo de fantasia que é tão forte na fase da adolescência. Chamo a atenção para beleza das letras capitulares e as ilustrações que são lindas.

Francisco Martins
11 de agosto 2021

terça-feira, 10 de agosto de 2021

O HUMOR DE MANÉ BERADEIRO - SERMÃO DE GUERRA

 


Um jovem Pastor Protestante, durante um sermão no culto dominical, para os soldados que estavam acampados na Base Americana em Natal,  na famosa Trampolim da Vitória, pregou assim: "De todos os vícios, a bebida é certamente o pior. Quando bebem, vocês perdem o controle dos seus atos e ficam atirando com as pistolas de forma contra os inimigos. Ora, estando bêbados, não acertam no alvo"

UM MÊS DE SAUDADES DE ZILDA LOPES DO REGO

 Ontem, 9 de agosto, foi celebrada a missa do 30º dia de falecimento de Zilda Lopes do Rego. O culto aconteceu na Igreja Santa Terezinha, bairro Tirol, em Natal.  Ao final da missa, o poeta e escritor Francisco Martins leu uma homenagem à Zilda Lopes do Rego.


 

Escrever apenas em uma lauda o que foi Zilda Lopes do Rêgo é limitar toda uma vida que sempre floriu e deixou produções por onde passou.

Não farei em prosa,  pois sei que ficarei muito a dever sobre a memória dessa mulher tão especial. Permitam-me  externar quem foi Zilda Lopes do Rêgo, com o gênero poético  em versos brancos. Ei-lo:

Zilda  Lopes foi menina que Pau dos Ferros  viu nascer

Foi  flor que desabrochou para   a Cultura embelezar

Foi mulher que teve a fibra do ofício administrar

Foi guerreira,  educadora,  Conselheira  espetacular

Dona Zilda neste solo, nesta terra em que viveu

Jogou sementes da saudade  no coração daqueles

Que com ela conviveu.

Tinha paixão por livros, por papel, por jornais, pela dose de uísque, por  um papo no celular

Falava horas sem parar.

Ah!  Dona Zilda, lembro bem daquele olhar, do sorriso tão materno quando meu nome entoou

Levando-me para o Conselho onde hoje eu estou.

Vou abrir o portão, que entre Dona Zilda, no Céu, pois, cá, em nossos corações,

Zilda Lopes do Rego é  a mais linda plantação.

É flor de mandacaru

É roçado de algodão

É velame e macambira

É Juazeiro florido

É solo deste sertão

Zilda Lopes é xanana que embeleza as ruas da cultura

É amiga, mãe de Pinto, é saudade de montão!

 

Francisco Martins

05 de agosto 2021

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

10 ANOS SEM SALDANHA

 


Hoje 09 de agosto, a Comissão Norte Rio-grandense de Folclore homenageia o Cordelista Zé Saldanha em seus 10 (dez) anos de encantamento! O poeta Zé Saldanha permanece vivo entre nós, através de suas poesias!

Zé Saldanha é saudade
Neste mundo do cordel
Seus versos nos são alentos
Que lembram o menestrel
Dez anos na eternidade
Um poeta que é Nobel

Mané Beradeiro

COMENTANDO MINHAS LEITURAS: VIRA, VIRA, VIRA LOBISOMEM





Lúcia Pimentel Góes, natural do estado de São Paulo é a autora deste livro "Vira, vira, vira lobisomem". A história começa verdadeiramente quando Lobisô completou sete anos e ao longo da sua existência, sempre de sete em sete anos transformações acontecem na vida dessa personagem. É um livro que traz uma mensagem muito bonita sobre as estações da vida. A autora tem mais de 160 títulos publicados e é ganhadora de vários prêmios. As ilustrações são de André Neves.