O verso perde o vigor
Métrica se desalinha
A rima chora de dor
Os companheiros que ficam
Nas estrofes testificam
Seu legado e seu valor.
Mané Beradeiro
Invado a casa de Dorian Gray e, de repente, me vejo cercado de cores, cores e cores. São cores que se alastram pelo chão, sobem pelas paredes, avançam sobre nós, como a querer devorar-nos. São telas, são tapetes, são mosaicos, são murais enormes se agigantando sobre uma parede e que parecem querer rasgá-la e ganhar a rua, o mundo.
Berilo Wanderley |
Dorian Gray |
E a casa de Dorian, tem essa feição antiga de casa antiga, varandas cheias de calma, jardins adormecidos... Onde, parece, a gente está sempre vendo que _ como diz o poeta Dorian Gray _ "humilde alguém se assenta a um canto e fica a escutar a música das árvores e a lua que chega".
Fonte: O Menino e seu Pai caçador, Berilo Wanderley, FJA/Clima, Natal 1980, p. 45
O leitor de hoje tem ao seu dispor uma quantidade imensa de sites que tratam sobre o Cordel Brasileiro. Neles é possível não apenas ler os poemas, como também ouvir e ver declamações, aulas, oficinas, dicas de livros sobre o tema, etc. Tudo fácil de ser encontrado e ao alcance do internauta. Mas nem sempre foi assim. 43 anos atrás, o estudioso e pesquisador do Cordel Brasileiro, Veríssimo de Melo, escreveu com entusiasmo a mudança que estava chegando nesse gênero literário, era o uso do Micro-Filme. Leia o artigo abaixo e perceba o quanto crescemos.
CORDEL EM MICRO-FILME
Veríssimo de Melo
A literatura de cordel - antes tão humilde, restrita apenas aos mercados e feiras ou nas mãos dos caboclos nordestinos, hoje é motivo constante de teses e debates em universidades dentro e fora do país. Como se explica a ascensão desse tipo de literatura tão pobre nos seus aspectos formais?
Na era da informática e da Comunicação, descobriu-se que o cordel é um dos canais legítimos de difusão da cultura e ideologia dos nordestinos. A partir do século passado, ele desempenha papel relevante na difusão de valores, homens e fatos regionais, nacionais e até internacionais.
A sua eclosão no Nordeste - e não noutras áreas brasileiras, - é ainda um fato que provoca reflexões. Mas já se sabe que aqui ele encontrou condições ideais para sua florescência e sobrevivência. Condições que não ocorreram noutras regiões do país. Modernamente, o cordel vem aparecendo em cidades do centro e sul, como Rio de Janeiro e São Paulo. O que se justifica pela presença maciça de nordestinos nesses Estados e igualmente porque esse tipo de literatura tem público garantido, sendo, portanto, um valor comercial.
Só nas últimas décadas a literatura de cordel passou a interessar a professores universitários e escritores em geral. Várias teses de mestrado já se ocupam de aspectos do cordel, tanto do ponto de vista literário quanto social e cultural. Um conterrâneo nosso, prof. José Gomes Neto, para obtenção do grau de Mestre em Letras, na Universidade Federal de Santa Catarina, escreveu sua tese sobre "O ASPECTO VERBAL NA LITERATURA DE CORDEL". É valioso trabalho de pesquisa, onde examina e estuda paralelismo entre os aspectos verbais na literatura em geral e no cordel, apontando conclusões.
Temos sido testemunhas do enorme interesse que o cordel tem provocado entre professores e escritores do país, que se deslocam até Natal, vez por outra, para adquirir folhetos. Muitos percorrem o Nordeste inteiro à procura de folhetos, comprando exemplares, tomando emprestado, fazendo cópias dos que mais os interessam.
Vemos, assim, que a literatura de cordel já ingressou na era eletrônica. Ou, por que não dizer? - na era biônica, - pois a palavra nova, empregada até mesmo em sentido pejorativo, nada mais significa do que a união da biologia com a eletrônica. É a eletrônica a serviço do homem. E nem se compreenderia a eletrônica sem essa vinculação ao homem.
O cordel ganhou agora um raio de ação muito mais vasto. Pode ser estudado por qualquer pessoa, em qualquer parte. O que antes era pobre lazer de caboclos semi-analfabetos, - hoje é matéria-prima para estudos e debates universitários de âmbito nacional e até internacional.
A República, 17 novembro 1979.
Não há dúvidas: o cordel é o melhor símbolo de resistência na literatura brasileira. Ele passou por várias fases, foi lavrado pelas mãos de homens e mulheres do povo e aos poucos foi fincando suas raízes e sendo o juazeiro na flora literária. Vem as secas, falta água, morre tudo ao seu redor, mas o Cordel permanece com vigor.
Mané Beradeiro
Parnamirim-RN, 11 de fevereiro de 2022
A cidade por ser um organismo vivo cresce com o passar dos anos. Lembro que quando cheguei para morar em Natal, no ano de 1981, havia poucos edifícios. Ir do Centro até Lagoa Nova I, então, uma viagem. Hoje Natal, Parnamirim, Extremoz, São Gonçalo e Macaíba estão juntas. O limite geográfico é quase imperceptível.
Foto: Jornal "A República".
Inúmeras famílias estão perdendo entes e pessoas queridas, e sabemos na pele o como o processo de luto é muito difícil.
Esse material foi desenvolvido como um apoio para a elaboração do maior sofrimento da vida de alguém. Indico não somente para quem está passando por esse momento, mas a todos que desejam ajudar quem esteja vivendo o luto. Nele você encontrará experiências e exercícios que viabilizam o processo do luto.
Sobre a autora:
Helenrose Oliva Valin da Rocha, casada, mãe. Pedagoga, Especialista em Avaliação do Ensino - Aprendizagem, autora de livros infantis cristãos, Contadora de Histórias, Líder do Ministério de Crianças da Igreja Batista de Presidente Epitácio/SP
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Fim do veraneio no litoral potiguar. Muitas famílias foram para Pirangi, hoje município de Parnamirim-RN. Trago para o deleite dos leitores, a crônica escrita por Dioclécio Duarte. Uma página repleta de testemunho e saudade. Um texto com 83 anos.
PIRANGI
Cinco intermináveis horas em cavalo "chotão"... Atravessamos, primeiramente, espessa mata. Depois marchávamos ao longo do tabuleiro para, em seguida, nos enterrarmos nas areias movediças das dunas.
Inúmeras mangabeiras que, mais tarde, desapareceram ao corte das foices e machados assassinos eram ornamentos dos terrenos arenosos.
Os homens ignorantes dos crimes que cometiam transformaram os troncos das árvores raquíticas em caçuás e sacos de carvão vendido na cidade por preços ínfimos.
E eu sei que ainda hoje não parou a devastação. As saborosas mangabas diminuíram. Custo a descobrir dentro das enormes cuias que, antigamente, as pretas velhas conduziam na cabeça oferecendo à porta das casas ricas.
Entre as mangabeiras, desordenadamente, os batiputás surgiam. Os antigos aprenderam com os índios a fabricação do óleo que empregam na cozinha do peixe, dando-lhe gosto especial.
De quando em vez se erguia um cajueiro florido.
As mangabeiras, as árvores de bati e os cajueiros são as frutas preferidas desses sítios. Somente na proximidade da praia é que se desvendam os altivos coqueiros.
Depois... O tempo correu veloz. Amigos morreram. Não mais existe o professor Mendes, um homem alto e magro, de extrema palidez. Andava sempre de luto e tossia como se a tísica lhe roesse continuamente os pulmões cansados.
Onde está a família Pulga? As meninas envelheceram e abandonaram a praia carregada de filhos. Deixou de fazer rendas a velhinha de cabelos brancos entre cujos dedos esguios os bilros cantarolavam para dormirem ao contacto da almofada de palha.
Isso foi há muitos anos. Eu não passava de uma criança travessa que gostava de apreciar as jangadas e ouvir a história feiticeira dos pescadores.
Os meus amigos pescadores! Mas eles não me acompanham... A paisagem primitiva não aparece perante os meus olhos.
Pirangi no meu tempo de menino era uma praia alegre. As ondas não tinham a irritação das suas irmãs. O mar era suave o tranquilo. Permitia que andássemos, com água pela cintura, 500 metros ou mais sem receios de precipícios e ressacas.
Era um mar generoso e amigo. Quando as jangadas chegavam carregadas de "xaréus", "ciobas", "galos", "cavalas", "serras", "dourados", "garoupas", ajudava a arrastá-los até a areia da praia, onde a algazarra era enorme.
Voltei agora a Pirangi. Não conhecia a estrada. Em lugar do animal bisonho corria o automóvel. Tudo para mim estava mudado. Os pescadores perderam também a confiança na amizade do mar.
Poucas as jangadas. Botes raros. Apenas meia dúzia de "currais" roubam a bravura do pescador e o seu contacto destemeroso com o oceano. Os "currais" simbolizam a preguiça. E não pertencem ao pescador. Ficam os seus donos embalados e sonolentos nas redes até a hora em que os empregados vão colher a safra das armadilhas nocivas.
Foram os tresmalho substituídos pelos "currais". Os pescadores desertaram. Não encontram ocupação. Um "curral" exige o serviço de seis homens. O tresmalho de trinta. Mas o tresmalho é mais trabalhoso, como a jangada e o bote são mais arriscados. Escasseiam os peixes. Passam fome os pescadores. Os "currais" destruíram os cardumes e mataram o animo dos pescadores. As praias perderam também a existência pitoresca e encantadora.
Pirangi é uma vítima, pobre vítima da indolência dos homens e do espírito displicente da autoridade que preferia deixar de cumprir a lei a experimentar incômodos, desatendendo a compadres e correligionários, a quem era difícil esclarecer e mostrar o erro de não ser patriota.
DIOCLÉCIO D. DUARTE
Jornal "A República", 9 de fevereiro de 1939, página 3.
Em novembro próximo, o cordel "Assim veio o homem" vai completar 22 anos de existência. Foi o primeiro feito por Mané Beradeiro. Ontem, 27 de janeiro, o texto passou pela sua primeira modificação e revisão. Agora, ao invés de ter doze estrofes, o cordel possui vinte e quatro, todas em sextilhas. Confira o vídeo. Breve teremos os folhetos disponíveis para venda.
Augusto Leopoldo Raposo da Câmara (1856 -1941)
Edgar Ferreira Barbosa (1909-1976)
Eduardo Medeiros ( 1886-1961)
Jayme Leopoldo Raposo Adour da Câmara (1898-1964)
Inácio Meira Pires (1928-1982)
Nilo de Oliveira Pereira ( 1909-1992)
Rodolfo Augusto de Amorim Garcia (1873-1949)
João da Fonseca Varela (1850-1931)
Wilson Correa Dantas Cavalcanti (1920-1998)
Esses nove nomes, de homens ilustres, todos nascidos em Ceará-Mirim-RN, têm sua participação no livro 400 nomes de Natal, ano 2000, que foi organizado por Rejane Cardoso, na gestão da Prefeita de Natal, Wilma de Faria. Cada nome tem um pequeno ensaio biográfico.
"Auta de Souza, foi uma destas criaturas a quem Deus, lhe dando um corpo para sofrer, deu-lhe um'alma para brilhar" (Câmara Cascudo)
Horto e Auta de Souza, dois nomes que são praticamente inseparáveis. O primeiro é o título do livro, o segundo, nome da autora. Poucos livros no Rio Grande do Norte recebem um olhar tão carinhoso por parte do público leitor e dos profissionais do mercado editorial, como ele.
1ª edição - capa |
Lançado pela primeira vez em 20 de junho de 1900, com 232 páginas e 114 poemas, com tiragem de mil exemplares, o livro trazia na 1ª edição o prefácio de Olavo Bilac. Foi impresso nas oficinas de "A República".
2ª edição - capa |
Dez anos depois, em 1910, Henrique Castriciano, irmão de Auta de Souza, organiza a 2ª edição, preparada em Paris, com 17 poemas a mais. O livro teve capa e ilustrações de D.O. Widhopff e foi impressa na Tipographie Aillaud, Alves e Cia, Bouleve Montparnasse, 96. É importante que se diga que essa edição foi feita pelo Governo do Rio Grande do Norte, na época, Alberto Maranhão, conforme consta na Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo, em 1º de novembro de 1911, na página 10.
2ª edição |
A 3ª edição demora vinte seis anos para chegar ao leitores, é de 1936, Tipografia Batista de Souza, Rio de Janeiro-RJ. Nessa 3ª edição, o prefácio foi feito por Tristão de Athayde ( Alceu Amoroso Lima). A edição foi acima de 2000 exemplares, pois o Governo do Rio Grande do Norte comprou e doou esta quantidade para a instituição Dispensário Sinfrônio Barreto (Natal), conforme publicação no jornal "A Ordem", edição do dia 12 de dezembro de 1936.
3ªedição |
Esses livros foram vendidos como ingressos para "A Festa do Horto", bastante divulgada pelos jornais "A Ordem" e "A República", em várias edições. Toda a arrecadação das vendas foi destinada ao Dispensário Sinfrônio Barreto. O evento aconteceu na noite de 14 de março de 1937, no Teatro Carlos Gomes ( hoje Alberto Maranhão) e em seu programa constava uma palestra de Palmira Wanderley sobre a vida e o livro de Auta de Souza, além de declamações de poemas do Horto e aqueles que foram musicados e fazem parte do Cancioneiro de Auta de Souza, que contou com as participações de Sílvia Paiva, Dulce Tavares, Clarice Palma, Bertha Guilherme, Elza Dantas, Maria de Lourdes Lago, Maria Amorim, Zenaide, Alba e Maria do Carmo Soares, todas acompanhadas pelo Maestro Thomaz Babini. "A Festa do Horto" foi um sucesso de público e critica.
4ª edição - capa |
A 4ª edição data de 1970, e foi feita pela Gráfica Manimbu, da Fundação José Augusto, que naquele ano tinha como Presidente Ilma Melo Diniz. A 5ª edição demorou aparecer. Somente trinta e um anos depois é que ela vai chegar às mãos dos admiradores de Auta de Souza, trazendo o selo da Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - EDUFRN, lançada no ano de 2001.
5ª edição - capa |
Edição 2009 ( a 6ª) |
Edição do ano 2021 ( a 7ª ) |
Edições - produzidas fora do Rio Grande do Norte (sem a participação de organizadores ou editores potiguares)
No Distrito Federal, a Editora Auta de Souza - Sociedade de Divulgação Espírita Auta de Souza lançou no ano 2000 a edição comemorativa dos 100 anos de "Horto".
A Lebooks Editora lançou uma versão digital do "Horto", no formato eBook, disponibilizada para venda desde o dia 18 de dezembro de 2019, no site da Amazon.
No mesmo ano, a Editora Figura de Linguagem lançou também uma edição que vem sendo bastante criticada pela má qualidade da diagramação e outros erros.. Segundo Carlos Castin " Essa edição lançada pela Figura de Linguagem é um vilipêndio à obra poética de Auta de Souza, e diante de inúmeras falhas editoriais, é para ser esquecida".
Edição da Figura de Linguagem |
Fontes pesquisadas
Sites:
http://www.elfikurten.com.br/2013/05/auta-de-souza.html
https://www.albertolopesleiloeiro.com.br/peca.asp?ID=7197089
https://www.amazon.com.br/HORTO-Auta-Souza-Ra%C3%ADzes-ebook/dp/B082WKHHZ3
https://literaturars.com.br/2019/09/05/horto-auta-de-souza/
http://www.editoraautadesouza.com.br/livros/horto-edicao-especial
https://www.unirn.edu.br/noticia/obras-de-auta-de-souza-serao-relancadas-com-apoio-do-uni-rn
http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/lana-amento-da-edia-a-o-original-de-horto-acontece-nesta-sexta-feira-10/527205
Jornais:
"A Ordem" - edições de 12.12.1936; 23.10. 1942
"A Republica" - edições de 04.03.1937; 07.03.1937; 14.03.1937
"Diário de Natal" -edições de 2.02. 1970; 21.11. 1970
Livros:
Fundação José Augusto - 40 anos - 1963-2003, página 73.
"Horto" - Auta de Souza - edições 2001 e 2009 - acervo da Biblioteca SESC Rio Branco - Natal/RN
"Alma Patrícia" - Crítica Literária - Luiz da Cãmara Cascudo - 2ª edição Fac-Similar 2021. Org. Eulália Duarte Barros.
"A Política atualmente não se faz por opinião, mas por conveniência, como os casamentos"
Fonte: Eloy de Souza, no pseudônimo de Jacinto Canela de Ferro, em carta publicada no jornal "A República", em 7 de fevereiro de 1914.
Nota: 108 anos depois continua a velha forma de fazer política no Brasil
Escrever?
O poeta Mané Beradeiro está montando a segunda etapa, da primeira edição do cordel "As Ruas Cascudianas", um texto que narra de forma poética, todas as ruas de Natal onde morou Câmara Cascudo, o "Provinciano Incurável". A primeira edição são de 500 exemplares. A metade já foi feita E vendida. Agora, no primeiro semestre de 2022, o poeta pretende encerrar a edição, com os 250 livros restantes.
Todas as capas são feitas de caixa de papelão, no estilo cartonero, através do selo da Carolina Cartonera, editora informal fundada pelo poeta. As 500 capas são personalizadas, nenhum é igual a outra. Se você deseja adquirir o livro, pode entrar em contato pelo whatsApp (84) 9.8719-4534. O valor com frete para todo o Brasil é de R$ 10,00 (dez reais). Segue abaixo as primeiras capas disponíveis para venda em 2022.Amanhã, dia 3 de janeiro de 2022 eu começo a por em prática, desta vez de forma mais intensa, a minha veia de pesquisador. Consegui finalmente agendar uma visita ao Arquivo Público Estadual, que desde o início do Governo de Fátima Bezerra foi terceirizado. Todo o acervo entregue à uma empresa. Irei verificar se realmente essa iniciativa foi boa para os pesquisadores. Muitos projetos culturais estão na agenda: livros, cordéis, contação de histórias, vídeos, etc. Cada um chegará em seu tempo. Aguardem!