segunda-feira, 2 de março de 2020

CRÔNICAS DA GRATIDÃO - LEMBRANÇA II - A CASA DE OTTO GUERRA

Eu estava  com 18 anos quando me encantei com aquele  castelo e o tesouro que nele havia.  Nunca imaginei em minha vida que alguém pudesse ser tão rico  como ele.  Fiquei parado naquela janela, admirando o mundo que existia ali dentro, até esqueci de chamar  a pessoa e pedir a encomenda que tinha ido buscar.
Professor Otto Guerra
 Lembro o dia da semana e o ano, uma quinta-feira à tarde de 1982. O endereço também nunca esqueci: Rua Coronel José Pinto, nº 277,  Cidade Alta. Naquele ano eu trabalhava como Assessor  de Imprensa da Arquidiocese de Natal - no Gabinete do Arcebispo Metropolitano - Dom Nivaldo Monte. Entre meus afazeres estava a responsabilidade de escrever e editar o Boletim Informativo da Arquidiocese de Natal que circulava de forma gratuita pelas paróquias, levando as notícias principais da Igreja local. A última página do B.I era reservada para o Editorial, que na maioria das vezes tinha como autor o Professor Otto de Brito Guerra. Recebi a incumbência de ir pessoalmente à casa do Professor Otto Guerra e pegar o editorial. Caminhei da Praça Pio X até a casa dele. Cheguei, abri o pequeno portão de ferro e fui à janela, ia bater palmas e chamar pelo Professor Otto Guerra, quando fui surpreendido com aquela visão da biblioteca. Nunca tinha visto nada igual dentro de uma residência. Muitas estantes, todas repletas de livros. Fiquei em êxtase! Aquela pequena janela, gradeada, serviu de moldura para o quadro mais lindo que até então meus olhos contemplaram. Como senti vontade de viver ali, de fazer parte daquele espaço. 
Francisco Martins e a casa de Otto Guerra
Quando dei por mim vi que o Professor Otto Guerra estava do outro lado da janela, olhando para mim e perguntando o que queria. Fiquei todo perdido. Embaraçado  ainda perguntei se ele realmente morava ali. "Sim - esta é a minha casa. Quem é você?". Disse ser o rapaz que veio buscar o Editorial para o B.I. Ele foi até a máquina de escrever e trouxe o texto. Saí dali  pensando no tesouro que tinha o Professor Otto de Brito Guerra. Aquele dia foi inesquecível, conheci um homem que amava os livros de forma intensa, que dava prioridade a eles em sua casa. Como fiquei grato em ter voltado muitas vezes àquela casa.


Hoje, depois de tantos anos, a casa é a sede do Instituto Otto Guerra. Os livros continuam lá. Otto com certeza está no Céu, deliciando-se com todos os livros que não leu na sua existência terrena e também  lendo os que ainda serão escritos. Tomara que ele leia esta crônica.

Francisco Martins
Parnamirim-RN - 02 de março 2020

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