Os professores da rede municipal de Parnamirim, que estão na função de mediadores de leitura, terão hoje à tarde, um encontro com o que há de melhor na literatura africana, na pessoa do escritor Ikechukwu Sunday Nkeechi, mais conhecido por Sunny. O escritor está sendo trazido ao Rio Grande do Norte através da Editora Paulinas, que é uma grande parceira do projeto Parnamirim- um rio que flui para o mar de leitura. O evento vai acontecer no auditório Clênio José dos Santos - que fica nas instalações da Prefeitura Municipal - situada à Avenida Castor Vieira Régis, nº 50, bairro Cohabinal.
Conheça mais um pouco do autor, lendo a entrevista abaixo, copiada do Portal Paulinas (https://www.paulinas.org.br/editora/?system=paginas&action=read&id=11676)
Desculpem-me por eu ter crescido, mas adoro desenho animado, contação de
histórias, fábulas e livros infantojuvenis”, afirma, com um sorriso
iluminado, Ikechukwu Sunday Nkeechi, 41 anos, conhecido como Sunny. O
significado do nome Ikechukwu “o poder de Deus”, Sunday “dia ensolarado
ou domingo” e do sobrenome Nkeechi “amanhã será melhor”. Sunny nasceu em
Nkalagu, cresceu e estudou na cidade de Oba, ambas ao sul da Nigéria.
Há 15 anos escolheu o Brasil para viver. Casou-se com a pernambucana
Fabiana Felix da Silva, em 2003, com que tem os filhos Erika
Onyinyechukwu “presente de Deus” Félix Nkeechi e Erick Onyekachukwu
“quem é maior que Deus?” Félix Nkeechi. Após chegar ao Brasil, Sunny,
cursou Letras e Educação Física. Publicou quatro livros infantojuvenis
de contos da tradição oral de seu povo, em 2006:
Ulomma, a Casa da Beleza e Outros Contos; em 2012:
As aventuras de Torty, a Tartaruga; em 2013:
Contos da Lua e da Beleza Perdida; e em 2014:
O Natal de Nkem,
todos por Paulinas Editora. Sunny diz não se considerar um bom
escritor, mas sim um bom contador de histórias, aliás, um bom
recontador, como costuma afirmar. Revela que sempre foi e é um ouvinte
entusiasmado de boas histórias, as quais sempre o fascinam. As contadas
na família o guiaram pelo mundo mágico da imaginação, e continuam
guiando. Sendo histórias milenares da tradição de seu povo africano,
Sunny diz estarem guardadas na memória como marcas indeléveis, e nem a
vida e suas labutas diárias poderão apagá-las.
Como nasceu seu primeiro livro?Sunny –
Eu gostava de contar histórias. Mas nunca havia pensado em escrever.
Quando estava em Recife (PE), uma amiga chamada Graça Lins me incentivou
a escrever. Eu ainda estava aprendendo a língua portuguesa, e ela
insistiu, incentivou: “Escreva que eu corrijo”, disse. Aceitei como
desafio, e comecei a contar as histórias de meu povo. Meu primeiro livro
Ulomma, a Casa da Beleza e Outros Contos é
uma história que, para mim, é forte. Ulomma, uma mulher que passa por
grandes dificuldades, mas vence pela persistência, verdade e amor. É uma
história que aprendi da cultura oral, junto de meu povo, e que perpassa
gerações e gerações. Escutei de minha avó. Ela aprendeu da mãe dela,
depois minha mãe e assim vai perpassando. Sempre ouvíamos essas
histórias em família, depois de um dia de trabalho ou quando a família
se reunia para conversar. São nesses momentos que pais, tios e avós
aproveitam para contar histórias às crianças. É um meio de ensinamento
que jamais esquecemos. São valores familiares perpassados de forma
lúdica, descontraída, e jamais esquecidos na vivência do dia a dia.
A tartaruga é muito presente em seus livros. O que ela significa?Sunny –
Sim! Nós convivemos muito com os animais, a floresta. Isso é comum na
África. Então tiramos muitos ensinamentos da natureza e dos animais. A
tartaruga é aparentemente fraca, lenta, mas na selva africana é um dos
animais que mais vida longa tem, pode chegar até 135 anos. É um animal
resistente, e por isso gera muitas lendas. E eu comparo a tartaruga ao
meu povo. E quanto mais tempo se vive, mais sábio se torna. As
histórias, as fábulas, conseguem trazer respostas às nossas inquietações
e, mesmo que não respondam integralmente, são provocações que estimulam
novas buscas, novas fontes.
Seu último livro fala sobre o Natal. Em que ótica você o aborda?Sunny
– O Natal de Nkem trata da magia do Natal até a ressurreição de Cristo.
A história deste livro nasceu da inquietação de eu querer saber e
entender como surgiu o Natal. Então comecei a pesquisar, buscar. O livro
narra desde o nascimento de Jesus Cristo, sua vida pública, paixão,
morte e ressurreição. Na história, Nkem está com o avô Amén doente. Os
dois são muitos apegados, e o menino torce pela sua recuperação para
ouvir seus contos e histórias. Nkem sempre se maravilhava com a
facilidade e sabedoria com que o avô resolvia disputas entre súditos e,
também, com a eficácia dos conselhos que dava a todos. Já o pai de Nkem
estava na guerra. Com a doença do avô e a ausência do pai, Nkem é
nomeado príncipe regente. Ele queria dizer não, desejava chorar cada
lágrima que estava embaçando seus olhos. Gostaria de receber seu pai de
volta, em vez da coroa. Com isso Nkem se lembra da história contada pelo
avô sobre o Natal, que era a história de um Rei, um menino-rei, um Rei
diferente. Então nesse livro que pesquisei e escrevi, eu entendi o Reino
proposto por Jesus Cristo, que é de paz, e não por conquista através de
guerra e perseguição. Isso é lindo!
Por trás dos personagens de seus livros há Sunny?Sunny
– Claro (risos), por mais que se tente escrever objetivamente, a
subjetividade vai permear, vai penetrar a obra. Em cada obra há, sim, um
pedaço de mim.
Em suas obras você ressalta a dimensão família. Qual a importância da família em sua vida?Sunny –
A família é o cerne do humano, do nosso viver. É na família que
aprendemos a amar e somos amados. Nasci numa família de oito irmãos, com
os pais dez. Mas na África a família é sempre muito ampliada, tios,
tias, primos, avós. Tenho tios que têm 15 filhos. Então a família se
torna um clã. E nesse ambiente aprendemos o respeito, o amor e somos
orientados até para a profissão. Seria tão bom se cada família
conseguisse se responsabilizar pelos seus, talvez não tivéssemos tantas
pessoas em situação de rua. Em minha infância, as contações de histórias
me ensinaram muitos valores para a vida, por isso, procuro reforçar
esses valores através de meus livros. Por exemplo, uma criança que
aprende que a verdade é um valor jamais vai mentir, enganar. Este vai
ser um valor que ela jamais vai deixar de lado. São pessoas dessa que a
sociedade precisa. Na vida corrida, às vezes sobra pouco tempo para
dedicar à família, mas 10, 15 minutos dedicados com qualidade fortalecem
os vínculos familiares.
Qual de seus livros você tem mais afeição?Sunny – Todos, de todos eu gosto. Mas o meu primeiro, o
Ulomma,
me trouxe muita alegria e ressalto a primeira história que dedico
especialmente às mulheres negras, às lutas delas. A personagem Ulomma,
através da perseverança e do amor, acaba vencendo. Então, mulheres, sei
que vocês ainda têm muito a conquistar, mas acreditem, lutem, o tempo as
recompensará. E acredito, se a democracia continuar se fortalecendo
aqui no Brasil, as mulheres terão muito espaço. Ulomma significa a Casa
da Beleza. A beleza vai reinar e vocês viverão felizes para sempre.
Fonte: Revista Família Cristã, novembro de 2015.
Jornalista: Osnilda Lima.