quarta-feira, 2 de outubro de 2019

SOBRE A SÉRIE VERSOS POPULARES - PARTE II - UM MAÇO DE CORDÉIS


GILBERTO CARDOSO




Dando continuidade a análise dos três mais recentes livros da Série Versos Populares -  publicados pela CJA Edições,  convido o leitor a conhecer o livro do poeta Gilberto Cardoso.

Gilberto Cardoso
“Um maço de cordéis – lições de gente e de bichos”, da autoria de Gilberto Cardoso.   O poeta Gilberto sabe do meu apreço por ele, o quanto  o estimo. Temos uma amizade que foi edificada pela literatura. E é em nome desta amizade e pela literatura que peço permissão ao poeta  para tratar do seu livro.




Grande parte dos poemas que compõem este maço de cordéis, já veio ao publico em forma de folhetos. Outrossim, é bom dizer que esta não é a primeira vez que ele participa desta  Série de Versos Populares. Foi ele o organizador do segundo  volume,  folheto com tiragem de mil  exemplares, com o título de  “Tem tudo não falta nada na feira de Santa Cruz”,  um poema coletivo com a participação de nove poetas:  Jarcone Vital, Adriano Bezerra, Hélio Crisanto, Gilberto Cardoso, Tarcísio José, Chagas Lourenço, Léo Medeiros, Don Itanildo e Cleudivan Jânio.






O livro de Gilberto Cardoso  principia com um  cântico de amor ao sertão nordestino, suas raízes, suas riquezas materiais e imateriais, quando ele toma por mote “Sou tudo que representa as coisas do meu sertão” e passa a glosar em 24 décimas, obedecendo  ao esquema de rima: abbaaccddc. Aqui, o poeta Gilberto confirma o que escrevi na resenha de Manuel de Azevedo, que o amor ao sertão nordestino está no sangue.
 
Permanecendo ainda no campo das décimas, o livro tem outros poemas com este tipo de estrofe, que desobedecem  ao tão conhecido  esquema canônico dos poetas.  Gilberto Cardoso ao escrever “A criança e o urubu”,  opta em fazê-lo  com  a sequência : ababbccddc e assim se mantém nas 24 estrofes.    O poema é contundente no tocante a mensagem, que conclama o leitor a refletir sobre as injustiças sociais. Há duas rimas repetidas na estrofe 4 (p.19).


Com o esquema abbccddeed,  verseja o poeta em  23 décimas e finaliza com 1 oitava assinatura (GILBERTO), no poema “Meu encontro com o Xexéu”.   Este poema  é um louvor  àquele que viveu 81 anos entre nós, o poeta João Gomes Sobrinho, falecido em 29 de maio deste ano. Uma homenagem àquele que começou a versejar aos 9 anos de idade.   Segundo consulta feita pelo autor do livro,  a Marco Haurélio, “estas formas de rimas chegaram a serem usadas pelos românticos”. Resta saber quais.


 No tocante aos poemas que tem a estrutura de sextilhas, todas abertas, o poeta escreveu 4  cordéis:



1)      Um halloween diferente -  32 estrofes /192 versos

Neste poema o eu lírico é um jovem que escreve aos seus pais, para explicar tudo o que aconteceu.  Um texto digno de compor  a série da Cabana Maldita. A história é  muito bem construída. Prende o leitor de estrofe a estrofe.



2)      Os frutos do orgulho -  21 estrofes /129 versos

São 18 sextilhas e 3 septilhas, que cumprem o dever de mostrar ao leitor  o grande mal que faz o orgulho na vida do homem.  O poeta lembra também que  o orgulho atinge todas as profissões e camadas sociais.   

3)      Fabião das Queimadas - o escravo sonhador – 41 estrofes/250 versos

40 sextilhas e 1 décima formam  a estrutura poética  que vai  narrar a história do mais famoso poeta , cantador e rabequeiro:  Fabião.  Pela maneira escrita, pela sonoridade dos versos, pela construção das estrofes e a beleza das imagens nelas presentes, eu considero um dos melhores poemas do livro.



4)      A sonata do  diabo – 32 estrofes /192 versos.

Eis aqui outro poema digno de aplauso. Nele, Gilberto Cardoso  mergulhou  na história e foi buscar a imagem de Giuseppe Tartini (1692 a 1770), italiano, músico, compositor. O poeta  foca seu enredo para  “O trinado do Diabo”, uma entre as 400 peças escritas por Tartini.   A estrofe 31 tem repetição de rima: sagrado/sagrado/pecado (p.102).



E finalmente, chego aos poemas que são maioria no livro de Gilberto Cardoso, aqueles que têm as estrofes em septilhas, são eles:



1)      A lição de Janielson – 32 estrofes/224 versos

Será ficção a história narrada neste poema? Senão,  a rígida formação dada ao professor Andrier, não foi capaz de ensiná-lo que “ ser professor é descer ao nível do aluno e elevá-lo ao nível do professor” –conforme ensinava o Cônego Monte. O certo é que neste poema,  o leitor vai ter uma linda lição de vida, onde verá que a norma culta nem sempre carrega  em suas leis o calor do amor. Um cordel que com certeza ao ser conhecido pelo Professor Marcos Bagno, doutor em filologia e língua portuguesa, ficará  feliz ao ver que outros professores e principalmente poetas, defendem a mesma bandeira.

 

2)      A vingança do poeta  - 24 estrofes/168 versos

O verso de gracejo se faz presente neste poema.  Baseado em fato real, o poeta Gilberto Cardoso narra uma história em que foi vítima com seu amigo Hélio Crisanto.



3)      A incrível história de Dick – 34 estrofes/238 versos

Quem conta um conto aumenta um ponto, diz o ditado popular. Mas no cordel que narra a história de Dick isso não procede. Tudo é verdadeiro, o poeta Gilberto Cardoso foi fiel à narrativa.  Vou deixar a curiosidade com o leitor. Adianto que é também um texto repleto de gracejo. Muito bom!



4)      O elogio da leitura – 24 estrofes/168 versos

Aqui, o poeta vai mostrar os valores que a leitura possui e a importância dela para a transformação de vidas .



5)      Estrelas da cultura potiguar -  14 estrofes/98 versos

A prata da casa: Zila  Mamede, Auta de Souza, Nísia Floresta, Câmara Cascudo, Nei Leandro de Castro, José Bezerra Gomes, Deífilo  e Tarcísio Gurgel, Antonio Francisco, Fraçois Silvestre, Homero Homem  Siqueira são alguns do nomes honrosamente celebrados neste cordel.



6)      A história de Piabinha – 24 estrofes/168 versos

A cidade de Campo Redondo tem para sempre na sua história, o exemplo de caridade canina testemunhado através de uma cadela chamada Piabinha.   A cachorra fez algo naquela pequena cidade que vem perdurando desde 2015 e que vai continuar sempre presente na literatura.   Este cordel é uma das narrativas que faz jus ao subtítulo do livro “ ...lições de gente e de bichos”.

Vou ficando por aqui e nos próximos dias darei continuidade, desta vez resenhando "Histórias Cordelizadas".


Mané Beradeiro 
01 outubro 2019











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