sábado, 2 de novembro de 2019

MORRER


O homem morre a prestações. A velhinha que visitei hoje, de sessenta e oito anos, está há meses na cama, morrendo. Morreu-lhe a mocidade, morreu-lhe a vista, o ouvido agoniza, a memória e a inteligência morrem aos centímetros. A carcaça que sobrevive à linda criatura que ela foi, é ela? Não, apenas resíduos, resto que ainda não morreu. Falta-lhe morrer o coração. A morte arrecada as vidas a prestações...

Fonte:Lobato, Monteiro.  Mundo da Lua. São Paulo: Editora Brasiliense, 1946, páginas 39 e 40.

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