sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

GARIMPEIRO DA CULTURA



Eu tenho um olhar de águia
Mas voltado para glórias que se edificam com coisas vindas do passado.
Possuo um faro  canino, capaz de detectar com extrema precisão fatos e fotos dos assuntos que me atraem.
Há em mim, duas pinças, mãos que seguram e movem com prazer a bateia, da qual eu retiro o ouro da cultura.
Quem sou eu?
Sou um pesquisador,
E não se engane,  nesta área também se mata, rouba e morre
Sou um garimpeiro da cultura!

Francisco Martins
14-02-2017 – Natal/RN

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

REMINISCÊNCIA DO CONCRETO DEMOLIDO - A CASA DE JUVENAL LAMARTINE

Casa de Juvenal Lamartine - demolida em 1995




"Cada tijolo tem um pouco de minha lembrança. Vai se virar num espigão - é o tributo maldito do que se convencionou chamar progresso"

Oswaldo Lamartine, em carta a Olavo Medeiros, 25 de junho de 1994

O espigão - na Rua Trairi - 558 - Petrópolis - Natal/RN

Referência

MELO, Veríssimo.  Veríssimo de Nelo - Cartas e Cartões - Oswaldo Lamartine. Natal: Fundação José Augusto, 1995.


terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

COM CHEIRO DE POESIA

Lutar com palavras é a luta mais vã 
Entanto lutamos
mal rompe a manhã

Carlos Drummond de Andrade

Na homenagem que foi prestada recentemente para Angélica Vitalino e Aracy Gomes, algumas leituras foram compartilhadas, entre elas, quero destacar a que foi apresentada  pela Mediadora de Leitura Jarlene Carvalho (foto). Ela trouxe uma prata da casa, um poeta do torrão de Santa Cruz-RN, que muito admiro seus textos.

Naquela manhã Jarlene leu: "Hoje o dia amanheceu com cheiro de poesia", do livro Retrato Sertanejo (Hélio Crisanto)

Um nevoeiro de verso
Despontou quebrando a barra
Um sagui fazendo farra
Vendo o seu bando disperso
Vejo o horizonte imerso
Na mais perfeita harmonia
E o inverno contagia
A mata que floresceu
Hoje o dia amanheceu
Com cheiro de poesia

Debrucei-me na janela
Olhando um cordão de chuva
Vendo filas de saúva
fazendo estrada amarela 
Olhando essa cena bela
Meu peito sente alegria
E o sertão se fantasia
Com o que Deus prometeu
Hoje o dia amanheceu
Com cheiro de poesia

Vê-se que o poeta constrói seu poema com um olhar voltado à natureza. Mescla-se a ela, as pequenas coisas lhe dão alegria. E lembrando Thiago de Mello, outro grande poeta,

Cada palavra também
tem sua alma e seus amores
Uma só faz cem metáforas,
outras têm só um segredo.
Mas todas sabem cantar...



ANL DECLARA VAGA A CADEIRA 3 QUE TINHA COMO OCUPANTE JOSÉ DE ANCHIETA

A tarde de hoje foi de saudades para familiares, amigos e confrades do escritor José de Anchieta Ferreira, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras - ANL,  que ocupava a cadeira 3. A ANL realizou em sua sede, com a presença de imortais e convidados, a sessão solene - necrológio de José de Anchieta, tendo como orador o Acadêmico João Batista Pinheiro Cabral, que fez um discurso memorável enfatizando as nuances que deram brilho à vida de José de Anchieta. Um texto carinhosamente tecido com sentimento e inteligência, fornecendo àqueles que o ouviram, elementos nobres da vida do escritor que faleceu no ano passado. Brevemente todo o teor do discurso será impresso na Revista da ANL, edição de nº 51,  que abrange o 2º trimestre de 2017.
Da esquerda para a direita: Diogenes da Cunha Lima, João Batista Pinheiro Cabral, Paulo de Tarso Correia de Melo, Eulália Duarte Barros, Lívio Oliveira, Armando Negreiros, Manoel Onofre e Daladier da Cunha Lima.
Algumas partes do discurso:

José de Anchieta era filho de Júlio Ferreira da Silva e de  Maria Stella Garcia Ferreira e nasceu em 1928, na cidade de São José de Mipibu.Foram seus irmãos,  pela ordem decrescente :

1)   Maria da Conceição Ferreira

2)   Aída Ferreira de Almeida

3)   Geraldo Jeferson Ferreira da Silva

4)   Pedro Ferreira da Silva

5)   Murilo Ferreira da Silva

6)   Francisco Garcia Ferreira da Silva

7)   João Batista Garcia Ferreira

Casou-se logo depois de formado com Lúcia Maria Guerra Ferreira, filha de Domício de Brito Guerra e de Dona  Clinéa Barbalho Guerra. Fez seus estudos primários no tradicional e hoje centenário Grupo Escolar Barão de Mipibu, em sua cidade natal: São José de Mipibu. Concluído o curso primário transferiu-se para Natal onde no  antigo Colégio Marista, que funcionava no anexo da Igreja de Santo Antonio terminou o ginásio. O passo seguinte foi o Ateneu Norte-rio-grandense onde terminou seu curso secundário. Prestou vestibular na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, diplomando-se médico oftalmologista em 1955. 
...

Em tudo que fez na vida Zé de Anchieta foi tolerante e paciente perdoando a tudo e a todos e cumprindo exemplamente seus deveres. Para ele todos eram bons até prova em contrário.  Veríssimo de Melo, também de saudosa memória, que foi o amigo que me apresentou a ele descreveu-o como um homem bom, que não tinha mágoas de ninguém, que era um cientista humilde demais, um pouco tímido e um homem absolutamente tranqüilo e cumpridor dos seus deveres. Disse-me também Veríssimo na ocasião realçando o que já foi dito acima, que era um médico que atendia aos pobres e aos ricos, de igual modo e com igual atenção, e que não demonstrava aos seus pacientes ou seus familiares ambição por qualquer recompensa pecuniária.
 

UM SEDENTO PESQUISADOR - MONTA A HISTÓRIA DA COMENDA ALBERTO MARANHÃO

Francisco Martins - no acervo da Tribuna do Norte - 14.02.2017
O escritor Francisco Martins está empenhado em várias pesquisas da área cultural do Rio Grande do Norte. Brevemente irá disponibilizar ao público a história da Comenda Alberto Maranhão, a principal medalha do  estado. A Comenda foi criada em 1959, no Governo Dinarte Mariz e já foi entregue a mais de 70 personalidades. A  pesquisa está sendo feita nos arquivos do jornal A República, Tribuna do Norte, Teatro Alberto Maranhão, Fundação José Augusto e Conselho Estadual de Cultura do Rio Grande do Norte.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

AFIGURAVES EM PARNAMIRIM


Por iniciativa do professor Francisco Martins, O Livro dos Afiguraves [Editora Feedback, Natal, 2.015] está sendo lido e difundido por professores da rede municipal de ensino de Parnamirim. Escrito por Franklin Jorge, a obra, já esgotada, é o registro do relacionamento do autor com a cidade de Luís Gomes e sua população nos últimos 30 anos.
Na fotografia abaixo, os professores Rosimery, Aracy, Deneide, Geraldo, Jarlene, Vera, Lúcia e Maria José.
.Acervo do Instituto Franklin Jorge [em organização]

DESVELANDO MEMÓRIAS

Por Geraldo S. Queiroz

Retiro dos arquivos um exemplar do jornal O VALE, presenteado pelo amigo JOSÉ LUIZ DA SILVA, já perto de completar 40 anos.
Neste número, de agosto de 1979, chama a atenção uma matéria sobre o poeta assuense RENATO CALDAS – O POETA BOÊMIO, assinada pela escritora MARIA EUGÊNIA MONTENEGRO, vinda das Minas Gerais e que prestou grandes serviços à região do Vale do Açu e ao Rio Grande do Norte.
Partilho com os amigos o achado, desvelando memórias que considero significativas para conhecimento de todos aqueles que se interessam pela cultura popular.Certamente, outros achados virão embalados nesta rede de comunicação.
RENATO CALDAS - O POETA BOÊMIO
Renato Caldas está para o Assu assim como D. Pedro I está na tela de Pedro Américo, a marcar uma época.
Renato Caldas, como autêntico poeta-boêmio, emoldura de folclore as ruas do Assu.
Seu livro FULÔ DO MATO é folclore. Seus poemas são vivência, gente, costume, sentimento, vida. Seus versos são ricos em imagens as mais belas e do gosto popular, encantando a leigos e eruditos, pela espontaneidade, humor e malícia. Vejamos a abertura do seu livro:
“Sá dona vossa mecê
é a fulô mais cheirosa
a fulô mais prefumosa
qui o meu sertão já botô!
Podem fazê um cardume
de tudo qui fô prefume
de tudo qui fô fulo
qui nem um, nem uma só
Tem o cheiro do suó
qui seu corpinho suô.
Tem cheiro de madrugada,
fartura de areia muiada
qui uruvaio inxambriô.
É cheiro bom, deferente,
qui a gente sintindo, sente
de outra coisa o fedô”.
É figura imprescindível nas reuniões sociais, com seus repentes e graça matuta, conhecido em todo o Brasil. Amigo de Sílvio Caldas, Noel Rosa e dos grandes artistas da velha guarda. Muitas vezes fez versos para grandes músicos, não dando valor ao dinheiro, ficando assim na obscuridade. Longe da terra, não podia esquecer o Assu, voltando mais rico em vivências, em rimas, em humor.
Certa vez, estando há longo tempo no Rio de Janeiro, sua esposa enciumada, sentindo a falta do marido boêmio, passou-lhe, de Assu, o telegrama: “Renato, se estiveres na Casa de Noca lembra-te que ainda existo”. Recebeu a resposta: “Renato segue dia 20. Abraços. Noca”.
Passando pelas ruas do Assu, Renato Caldas faz folclore, no andar compassado, no trajar simples de sertanejo, a fumar o seu imprescindível cigarro de palha ou cachimbo, que nunca trocou pelos modernos Minister ou Hollywood.
Senta-se à calçada dos amigos, sempre com repertório novo de irreverentes anedotas e dá um show de humorismo. Gosta de umas e outras, fase em que entra num período perigoso de malícia, com muita pimenta nos casos que conta, nos versos que diz.
É um grande repentista. Certa vez foi a um baile “dançar umas valsas”, na expressão popular. Animado, alto, abraçava efusivamente a dama, apertando-a cada vez mais, a ponto da jovem reclamar: “Olha, seu Renato, eu sou uma moça”. Malicioso, respondeu: “Porque quer”.
De uma de suas idas a Natal levava, certa vez, umas nambus e avoetes, já torradinhas e cheirosas, para comer, quando chegasse numa pensão à margem da estrada, sua pensão preferida. Ali chegando, pediu a copeira – a Chiquinha – que lhe trouxesse arroz, farinha, pratos e talheres. Depois de saborear o gostoso petisco, fechou a lata que trazia as avoetes e seguiu viagem. Ao chegar em Natal, viu que, no meio da farofa, ficara uma colher. De volta ao Assu, passando pela pensão, cheio de mesuras, entrega a Chiquinha um bilhete, que dizia:
Estou de volta, Chiquinha
Pra trazer sua colher
De coisa que não é minha
Eu só aceito mulher.
É também grande trovador.
Apreciando a trova do poeta Falcão, da Paraíba, como autêntico boêmio, fez o plágio. São elas respectivamente:
a trova de Américo Falcão:
Não há tristeza no mundo
que se compare à tristeza
do olhar do moribundo
fitando uma vela acesa.
o plágio de Renato Caldas:
Não há tristeza no mundo
que se compare à agonia
do olhar do vagabundo
vendo a garrafa vazia.

Maria Eugênia Montenegro.
O VALE.
Agosto/1979.

Referência:
Disponível em:  https://www.facebook.com/geraldo.s.queiroz/posts/1850041771930878. Visualizada em 13 fev 2017.

CANTO DE DUPLO LOUVOR





Para Angélica e Aracy

Sempre haverá poeta que louvará seus amigos.
Por isso cantarei:
Quem ama é capaz de grandes coisas, tais quais como estender a colcha dos seus sentimentos e sobre ela deixar que se sentem as amigas.
Tê-las na luz de um olhar matinal e convidá-las a um banquete de poemas que irá nutrir a alma.
Distribuir risos e abraços, falar do amor ágape, o mais sublime de todos.
Desejar que a elas, sempre, todos os dias, o Único, o Verbo, a Palavra acalente alma e espírito
E que na estação da vida possamos outra vez compartilhar o  pão da amizade, da cultura  e do saber.
Por quê? 
Porque há um rio de vida e leitura dentro de nós!
Porque "há amigos mais chegados do que um irmão" (Pr. 18:24b)
 
Francisco Martins
Parnamirim-RN – 13 de fevereiro de 2017