Sessenta e cinco anos tem
Sebastião. Um homem que nasceu no interior do estado e sempre por lá viveu. Não
sabe nada de coisas modernas, não gosta de televisão, computador? Jamais chegou
perto e o máximo que aceita é um rádio de pilha que leva todos os dias para o
roçado e à noite não deixa de escutar a Hora do Brasil.
Sebastião
esteve doente, ficou mesmo arriado, deitado vários dias, com muita dificuldade
até mesmo para urinar, coisa que pra ele sempre foi fácil de fazer. Lembra-se
que certo dia, andando com o neto, Sebastião estava quilômetros longe do seu
sítio, quando pediu para o neto:
-Para o
carro ali naquela próxima cancela que eu quero descer para dar uma mijada.
O neto
obedeceu, o avô saiu, agarrou-se numa
estaca e começou a urinar. Qual não foi sua alegria quando finalmente aliviado
falou para o neto:
-Coisa
boa e gente mijar no que é nosso!
-Vovô e
estas terras daqui são sua? Não sabia!
-São
não! Eu estou dizendo isso me referindo aos meus sapatos. Veja só. Estão todos
mijados.
O neto
deu uma boa gargalhada e ouviu o avô sentenciar:
-Ria,
pode rir, você também vai ficar assim!
Mas, o
que teria Sebastião? Levaram-no ao médico e o mesmo solicitou um exame de
próstata. Não tem coisa pior para um sertanejo do que isso. Sebastião não criou
nenhum obstáculo para ir ao médico, mas quando soube que ele levaria uma dedada
no fiofó, ah! A coisa foi outra.
-Nunca
que vou deixar ninguém meter o dedo aqui. Jamais! Vá cutucar o anel de outro!
Tentaram
de tudo e Sebastião não cedia um milímetro para que o exame fosse feito.
Argumentaram que ele poderia
desenvolver com câncer de
próstata, sofrer mais, etc. Nada adiantou, até que ligaram para o sítio e
falaram com a esposa dele, explicando tudo. Depois que Joana ouviu a conversa
pediu ao neto que chamasse o médico.
Joana que já conhecia Sebastião há mais de quarenta e cinco anos disse
ao médico a senha que faria Sebastião ceder ao exame do toque retal.
O médico
voltou e muito seguro disse a Sebastião:
-Tudo
bem, o senhor não quer que eu faça o toque. Então vou prescrever uma dieta, na
qual o senhor terá que cumprir rigorosamente...
-Certo
doutor, gostei, pode passar a dieta que eu faço direitinho!
- O
senhor não vai poder comer rapadura nem farinha...
-O que?
Que acabar com a minha felicidade?
- Não
pode de jeito nenhum. Terá que passar um
ano sem comer nada de rapadura e farinha.
Sebastião
ficou triste, cabisbaixo, pensativo e depois de alguns momentos olhou para o
médico e disse:
-Mostre
sua mão!
O médico
atendeu
-Qual é
o dedo?
-Este
aqui, o indicador
-Assim,
sem nada!
-Não,
usarei luva esterilizada.
-Quanto
tempo dura?
-Quinze
segundos.
-O que a
gente não faz para não deixar de comer rapadura e farinha!
E
Sebastião foi examinado.
Mané Beradeiro - 7 Janeiro 2015