quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

UM BARÃO


Ontem alguém conversando comigo disse:
-Sério, você é homem?
- Sim
- Mas como assim? Em pleno século 21 você não optou em ser gay,  transsexual, bissexual. Nossa! Como você é cafona.
Não preciso nem dizer que fiquei estupefato.  Um jovem em corpo de homem, vestido de mulher, indagava se eu não estava infeliz sendo simplesmente homem.
Fiquei ali pensando na primeira vez que paguei a uma prostituta. Os tempos eram outros, 1982, eu tinha apenas 18 anos e nunca meus olhos haviam focados um corpo feminino. Tudo que sabia vinha das imagens de calendário de bolsos, estampas de espelhos redondos e quando podia, algumas revistas. Precisa encarar o corpo feminino. Era chegada a hora! Meus hormônios pediam, ou melhor gritavam dentro de mim. Meu pai tinha me dado a mesada, uma nota de um  barão (Aquela do Barão Rio Branco) Lembra-se? À noite eu fui para a zona, rua cheia de mulheres. Nervoso, impaciente, sem a mínima experiência. Um jovem virgem. Foi quando se aproximou aquela mulher e fez a proposta. Perguntei qual o valor. Ele disse ser um barão.  Fomos para o quarto. Ela ficou nua, eu sequer conseguia me mover, estático! Contemplava o corpo da mulher.
- Não vai ficar nu?
- Não.
-Por quê?
- Não quero.
-Mas você pagou. Venha!
Fiz um sinal negativo com a cabeça e as mãos.
Agradeci e disse que ela podia se vestir. Tinha saciado minha curiosidade, estava satisfeito com o quê vi. Ela não compreendeu e chegou a perguntar:
-Você é gay?
Respondi:
- Não, sou seminarista. Abri a mochila e mostrei a túnica branca e alva como era minha alma.
Ao sair do quarto ela agradeceu e disse:
-Foi o dinheiro mais fácil da minha vida.

Francisco Martins

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