Academia Norte-Rio-Grandense de Letras
Necrológio do Acadêmico Paulo Macedo
Falecido em 5 de julho de 2020
Discurso de homenagem póstuma proferido pelo Acadêmico João Batista Pinheiro Cabral, cadeira 6
Em Sessão Solene realizada em 8 de outubro de 2020
Senhor Presidente Diógenes da Cunha Lima Filho, Senhor Vice-Presidente Jurandyr Navarro da Costa, senhoras Acadêmicas, senhores Acadêmicos, dignos familiares de Paulo Macedo, minhas senhoras e meus senhores.
Estamos aqui reunidos nesta tarde quase noite da primavera do ano da graça de 2020 para juntos e com o mesmo sentimento, cumprirmos o que estipulam as normas de nossa Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, e participando do necrológio/réquiem de nosso extinto e estimado confrade Paulo Macedo, que ocupou em vida a cadeira nº 10 da Casa de Câmara Cascudo.
Aceitei, não sem antes ponderar que há acadêmicos mais qualificados, que poderiam de uma forma mais sofisticada cumprir este mister, mas tentarei levar a cabo a aceitei a missão que me foi dada pelo Presidente desta casa. Assim, aqui estou para dela desincumbir-me.
Permitam-me iniciar com um poema de Fernando Pessoa intitulado, "Depois de tudo", que corre assim:
Depois de tudo ficam três coisas:
A certeza de que estamos sempre a começar ...
A certeza de que é preciso continuar ...
A certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar.
Por isso devemos: fazer da interrupção um caminho...
Da queda um passo de dança ...
Do medo uma escada ...
Do sonho uma ponte .
Paulo Macedo nasceu em Limoeiro do Norte-CE, em 29 de dezembro de 1931. Essa cidade, ao tempo do seu nascimento, era sede de um pequeno município, antes das grandes obras públicas que iriam transformá-las no polo de desenvolvimento econômico que é hoje. Os pais de Paulo Macedo foram Miro Davi Fahiena e Dona Maria Olimpo Fahiena que lhe deram o nome de Isaac Miro Fahiena de acordo com algumas fontes ou Isaac Fahiena, de acordo com outras.
Quando o então menino - futuro Paulo Macedo - completou dois anos de idade, sua família, mudou-se para a capital do estado do Ceará, Fortaleza, onde ao atingir a idade escolar o pequeno Isaac foi estudar no Colégio “São João”, como está registrado na excelente entrevista concedida por Paulo Macedo ao programa "Ponto de Vista" com Nelson Freire, que foi ao ar pela primeira vez há alguns anos e reprisado logo depois do seu falecimento como uma significativa homenagem póstuma do produtor do programa.
Nessa entrevista Paulo Macedo afirma que enquanto estudante do educandário acima referido foi assistir uma palestra do então prefeito de Natal - Djalma Maranhão - proferida durante uma convenção de Clubes de Diretores Lojistas que se realizava no Centro de Convenções de Fortaleza-CE, tendo sido escolhido para fazer a saudação ao palestrante e assim ficou conhecendo o político e prefeito potiguar Djalma Maranhão. Ao agradecer a saudação do jovem estudante pelas entusiásticas palavras de boas vindas, o prefeito lhe fez um convite, que se revelou profético, para que futuramente ele se mudasse para Natal a fim de ajudá-lo com seu trabalho nas lides políticas e jornalísticas que planejava desenvolver em Natal. Quis o destino que tudo isso viesse acontecer, como será demonstrado mais adiante.
Quando as forças do destino começaram atuar de forma cronotopocinética sobre o jovem Isaac Fahiena, ele foi compelido a deixar a terra da bela Iracema e dirigir-se à terra de Poti. Assim, cumprindo seu destino, deixou o Ceará e veio para o Rio Grande do Norte. Não veio diretamente para Natal. Tangido pelos ventos fortes da fortuna foi, primeiro, para a cidade de Patu-RN. Lá chegando, tornou-se locutor do serviço de alto-falantes da cidade, a Divulgadora Municipal, que era o meio de comunicação mais moderno daquela época. Porém as inescrutáveis e insondáveis forças eólicas do destino voltaram a agir sobre o jovem Isaac e trouxeram-no para Natal, que no dizer do grande cronista Wodem Madruga, Acadêmico eleito mas ainda não empossado, é a aldeia de Poti mais bela.
Aqui chegando, lembrou-se do convite que lhe fizera Djalma Maranhão, em Foraleza-CE quando da já mencionada convenção de Clubes de Diretores Lojistas lá na terra da bela Iracema. Djalma recebeu-o muito bem e o contratou imediatamente para trabalhar num jornal que acabara de instalar que se chamava "Folha da Tarde" e depois no "Jornal de Natal", o periódico de maior densidade política e teor econômico e social, dirigido aos leitores de educação média. Esse jornal continha artigos e notícias que tratavam de ideias sociais e teve circulação intermitente, e de forma infrequente perdurou por algumas décadas em Natal. A redação dos dois jornais mencionados localizava-se na Avenida Rio Branco, próximo ao então Mercado Público da Cidade Alta, onde hoje funciona o Banco do Brasil e uma agência dos Correios.
Paulo Macedo depois de passar pouco tempo alojado na própria redação, foi residir em um pensionato na Avenida Junqueira Aires, quase em frente a Igreja Presbiteriana de Natal, perto do majestoso edifício sede da Prefeitura Municipal de Natal.
Em pouco tempo, o jovem Paulo Macedo conquistou total confiança de Djalma Maranhão. Graças a sua dedicação aos afazeres e passou a trabalhar diretamente com Djalma. A essa altura Djalma já era prefeito eleito de Natal e convidou-o para trabalhar junto a ele, como Chefe de Gabinete do Prefeito, posto que conquistou pela sua ética no trato com as pessoas, por sua sensibilidade e sua grande alma, como foi dito por Dorian Gray Caldas, em artigo, publicado na “Tribuna do Norte” há alguns anos e citado por Daladier Pessoa da Cunha Lima, em seu antológico artigo intitulado "Honras ao amigo Paulo Macedo", publicado no jornal “Tribuna do Norte", em 25 de julho de 2020, homenageando postumamente o ilustre desaparecido. Nesse artigo o Acadêmico Daladier cita, ainda, Câmara Cascudo em seu livro "Gente Viva" no qual se lê: " A morte existe; os mortos não! Prorrogo-lhes a companhia nestes vestígios de convivência". É isso que nos ensina o mestre de todos nós, sob cuja égide nasceu esta Academia Norte-Rio-Grandense de Letras.
Paulo Macedo, nome que adotou ao tornar-se uma pessoa pública no Rio Grande do Norte, no Nordeste e no Brasil, cuidou de acrescentar pelas vias legais e judiciais ao seu nome Isaac Fahiena ( ou Isaac Miro Fahiena), nome que lhe foi dado ao nascer, passando seu nome a ser legalmente Isaac Fahiena de Paulo Macedo. E foi como Paulo Macedo que ele conquistou todas as posições, cargos, funções e títulos que ao longo da vida colecionou. Paulo Macedo galgou, para citar apenas algumas de suas conquistas, os seguintes resultados, tudo fruto de seu persistente trabalho.
─ Graduou-se na primeira turma do curso de jornalismo pela Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza, quando o curso funcionava no prédio da Fundação José Augusto, muito antes da sua federalização;
─ Foi professor de História da Música na Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na época em que era Reitor o Doutor Onofre Lopes da Silva;
─ Cursou a Escola Superior de Guerra - ESG - no Rio de Janeiro, concluindo o curso com muito sucesso;
─ Foi fundador da Secretaria Municipal de Turismo de Natal e seu primeiro titular, defendendo entusiasticamente a vocação do Rio Grande do Norte para o turismo, como atividade econômica e cultural. Convém lembrar que nessa época, não havia Secretaria Estadual de Turismo nem órgão que cuidasse da promoção do turismo como atividade econômica de grande importância para o Estado;
─ Foi uma espécie de Secretário de Cultura do Estado (Diretor da Fundação José Augusto) no Governo de José Agripino Maia;
─ Foi Assessor do Governo de Lavoisier Maia Sobrinho;
─ Foi Diretor da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, na Presidência do então Deputado Estadual Nelson Freire que o incumbiu de organizar a realização em Natal do Iº Congresso Brasileiro das Assembleias Legislativas, com o comparecimento de mais de mil deputados estaduais;
─ Construiu e inaugurou o majestoso Memorial Câmara Cascudo, localizado ao lado da antiga Catedral de Nossa Senhora da Apresentação, próximo a Praça André de Albuquerque;
─ Presidiu durante anos o Rotary Club, em Natal-RN e participou de várias atividades rotarianas no Brasil e no exterior, conforme depoimento pessoal no já citado programa "Ponto de Vista";
─ Foi integrante do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e de outras seis instituições similares, em diferentes estados e no Distrito Federal;
─ Recebeu a outorga de Cidadão Honorário de mais de 150 municípios do Rio Grande do Norte (Depoimento no citado programa "Ponto de Vista');
─ Conheceu mais de 60 países, conforme a mesma fonte acima;
─ Foi lhe outorgada a distinção de Cidadão Honorário Norte-Rio-Grandense, título que lhe foi concedido pela Assembleia Legislativa do Estado;
─ Exerceu atividades jornalísticas em vários jornais de nossa capital e de Recife-PE;
─ Foi fundador da crônica social diferenciada no Brasil. Seus programas alcançavam recordes de audiência, principalmente os levados ao ar pela Rádio Poti de Natal onde atuou por quase 40 anos;
─ Suas crônicas sociais eram publicadas com grande destaque, principalmente nos jornais "Diários de Natal e “O Poti”, a época os de maior circulação no Estado;
─ Criou e manteve por mais de 30 anos o programa de grande prestígio na televisão chamado "Sala Vip", na Tv Ponta Negra;
─ Seu programa de notícias sociais, políticas e econômicas na Rádio Poti, sempre ao meio dia, era líder absoluto de audiência e de prestígio em todo o Rio Grande do Norte;
─ Fundou o jornalismo automobilístico no Rio Grande do Norte, publicando por mais de 30 anos, sempre às sextas-feiras, um caderno especializado com as últimas notícias das inovações no setor, tanto na imprensa natalense como na pernambucana, ( conforme entrevista no programa "Ponto de Vista");
─ Por três décadas patrocinou e realizou a maior festa em prestígio e qualidade chamada "Festa das Personalidades" que atraia a atenção de todo o país para Natal ( mesma fonte);
─ Coordenou em nosso Estado por muitos anos o concurso de Miss Rio Grande do Norte, sempre com grande sucesso;
─ Recebeu e homenageou em Natal, por duas vezes, diferentes vencedoras do Concurso Miss Universo (mesma fonte);
─ Foi agraciado com a Medalha do Mérito Alberto Maranhão, no Governo do Monsenhor Walfredo Gurgel.
Paulo Macedo casou-se em primeiras núpcias com a pianista e musicista Luíza Maria Dantas de Macedo. Deste casamento nasceu-lhe um filho, Miguel Neto. Com o passar do tempo, dela divorciou-se. Contraiu segundas núpcias com a senhora Tânia Macedo. O casal criou dois filhos dessa nova união, chamados Paulo e Adriana. Paulo Macedo era um pai extremado, muito devotado aos filhos, visitando-os frequentemente, levando-os para almoços e jantares nos fins de semana. Facilmente eram visto juntos em animadas reuniões familiares nos restaurantes de Natal.
Paulo Macedo pertenceu a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras desde 1979 até a sua morte. Convém destacar que além de integrar a Casa de Câmara Cascudo, Paulo Macedo também fez parte, por muitos mandatos consecutivos, do Conselho Estadual de Cultura, sendo sempre reindicado para ali continuar prestando sua colaboração à cultura do nosso Estado. Paulo Macedo foi indicado para a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras- ANL - pelo mestre Luis da Câmara Cascudo, seu proponente, que um belo dia telefonou ao Presidente da ANL, Doutor Onofre Lopes da Silva, dizendo-lhe da forma mais direta e peremptória possível que sugeria "terminantemente" o nome de Paulo Macedo para ocupar a cadeira 10, cujo patrono é Elias Souto, tendo sido seu fundador e o primeiro ocupante Bruno Pereira, que se encontrava vaga devido ao seu falecimento.
Imediatamente o Presidente da ANL, Doutor Onofre Lopes da Silva chamou Veríssimo Pinheiro de Melo e Diogenes da Cunha Lima Filho e comunicou-lhes o sumário da conversa telefônica que tivera sobre o preenchimento da cadeira 10, que, como já foi dito, encontrava-se vaga e pediu a Veríssimo e a Diogenes que apoiassem a candidatura do jornalista, cronista , entrevistador de programas de televisão e radialista Paulo Macedo ( Conforme depoimento na referida entrevista "Ponto de Vista" e mais o testemunho de Diogenes da Cunha Lima Filho).
Além dos pontos aqui alinhados, Paulo Macedo era também, conforme Daladier Pessoa da Cunha Lima em seu já citado artigo, “um artífice de amizades, fomentador da paz e da boa convivência entre os seres humanos". Um lídimo integrante do discipulado de Gamaliel, como gostava de dizer Câmara Cascudo.
Paulo Macedo organizou e publicou durante 30 anos "O Dicionário da Sociedade do Rio Grande do Norte", enfatizando sempre a sua atualização anual. Elaborou e publicou durante muitos anos em jornais do Rio Grande do Norte e Pernambuco, um caderno especializado em automobilismo. Em forma de livro organizou, editou e publicou um volume contendo escritos de vários cultores das letras, sobre diversos temas, ao qual deu o título de "Memória Contemporânea".
Paulo Macedo foi eleito para a cadeira nº 10 da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras – ANL, em 13 de setembro de 1979. Tomou posse em 26 de fevereiro de 1981. Foi saudado pelo Acadêmico Diogenes da Cunha Lima Filho. Serviu à instituição que o acolheu como Vice-Presidente por muitos e muitos anos até o dia do seu falecimento. Paulo Macedo encantou-se no dia 5 de julho de 2020, em decorrência de um acidente doméstico, no qual quebrou o fêmur e durante a internação no hospital para onde foi levado a fim de receber tratamento, contraiu uma pneumonia vindo, infelizmente, a falecer.
Senhor Presidente,
Senhor Vice Presidente,
Senhoras e Senhores Acadêmicas e Acadêmicos,
Digníssimos familiares de Paulo Macedo,
Minhas senhoras e meus senhores,
ASSIM ERA PAULO MACEDO.
MUITO OBRIGADO!