quinta-feira, 27 de março de 2025

90 ANOS DE UMA BRIGA DE SANTO EM PAPARI

 A leitura é algo formidável. Nos dá conhecimento, sabedoria e prazer.  Estou me aprofundando na obra do escritor Raimundo Nonato, e tentando ler tudo que ele escreveu. Nos últimos 15 dias já li: "Memórias  de um retirante"(2ª ed. 1987), "Estórias de Lobisomem" (1959), "Varal das Memórias" (1988) e "Figuras e Tradições do Nordeste" (1958).
Foi no último livro que encontro uma história que teve como palco a  cidade de Papari, atual Nísia Floresta. Isso se deu  90 anos passados. É um relato do Dr.Ney Marinho, enviado ao escritor Raimundo Nonato, que está no capítulo "Outras brigas de Santos". Confira.
 

    "Por volta do dia 6 de março de 1935, aproximadamente pelas 9 horas da manhã, depois de celebrar a missa em Papari, hoje Nísia Floresta, o então padre Paulo Herôncio retirou da Igreja local a imagem de Nosso Senhor dos Martírios, a fim de realizar a procissão em São José de Mipibu, nos atos da Semana Santa.
    Para fazer o transporte do referido Santo, ali estavam postados um automóvel de aluguel e um marceneiro, encarregado de desatarrachá-lo do altar.
    Ao ter conhecimento do propósito do pároco,a população em peso levantou-se caminhando para a frente da Igreja, numa demonstração de protesto.
Imagem ilustrativa
    Aos reclamos exaltados da multidão, teria o cura respondido:
    __ "Quero, mando e posso!... Se o Santo não for comigo, eu levo com ajuda da Polícia". E dito isto, foi saindo em direção à residência do Sr. José Araújo, antigo político de influência em Nísia Floresta.
    Nesta altura o povo foi tomado de exaltação, sendo que o primeiro grito partiu de Leonor Januário. Falaram até em rasgar a batina do Padre...
    Mas, como só acontece em ocasiões tais, sempre surge a voz do bom senso.
    E foi aí que o senhor João Argilio e D. Iaiá Paiva procuraram conciliar os ânimos, enquanto o vigário saía de automóvel para São José.
    Dias depois a mesma senhora endereçou ao sacerdote uma carta circunstanciada, procurando justificar a atitude dos seus conterrâneos perante o reverendo, pela grande veneração que eles tinham ao seu santo e pedindo para o mesmo voltar a Nísia Floresta, pois todos desejavam a paz.
    Ao que tudo indica, ele não mais voltou. E como acentua Ney Marinho, a exemplo dessa quadra que ele pegou da tradição oral,

                __ Cafundó de Papari
               não tem olho nem pestana,
               foi o rato que roeu
               pensando que era banana.

    ficou uma espécie de rivalidade provinciana e fraternal , que o tempo não conseguiu apagar, nem a gente dos dois lugares quis esquecer."
 
 
Fonte: Figuras e Tradições do Nordesre - Raimundo Nonato - Coleção Mossoroense. Ed. Pongetti. Rio de Janeiro, 1958. Outras Brigas de Santos. Páginas  118 a 122.

Nenhum comentário: