Tião, homem de mãos calejadas e coração de ouro, olhava para a sua noiva, Rosa, com um brilho nos olhos que as estrelas do sertão invejariam. A festa de casamento tinha sido simples, mas cheia de alegria, regada a cachaça, forró e muita prosa boa. Agora, a casa estava em silêncio, apenas o som grilado dos insetos e o vento sussurrante na palha do telhado quebrava a quietude da noite.
Rosa, com seu vestido branco de algodão, estava sentada na beira da cama de casal, a primeira que eles teriam juntos. O véu, feito de renda que sua mãe teceu, repousava sobre os ombros, e o cheiro de flor de laranjeira perfumava o ar. Tião sentia um misto de nervosismo e uma felicidade imensa. Tinha esperado a vida inteira por aquele momento.
Ele se aproximou devagar, os passos pesados no chão de terra batida. Rosa ergueu o olhar, e seus olhos grandes e escuros, cheios de doçura, encontraram os dele. Um sorriso tímido surgiu em seus lábios.
"Minha Rosa", ele murmurou, a voz rouca de emoção, "agora somos um só, diante de Deus e dos homens."
Ela estendeu a mão, e Tião a segurou com ternura, sentindo a maciez da pele dela. Não havia pressa, apenas a certeza de um amor que brotou devagar, como a chuva mansa que prepara a terra para a vida. Ele tirou o chapéu de couro e o pendurou no prego da parede, um gesto de quem se despe de seu dia para abraçar a intimidade da noite.
Rosa se levantou, e Tião a ajudou a desatar o espartilho do vestido. Cada botão, cada laço, era um passo para uma nova jornada. O silêncio era preenchido pela respiração dos dois, pelo batucar suave de seus corações. Quando o vestido escorregou e caiu no chão como uma nuvem branca, Rosa estava ali, em sua simplicidade e beleza, iluminada pela luz bruxuleante da lamparina.
Tião tocou o rosto dela com a ponta dos dedos, percorrendo a linha da mandíbula, a curva do pescoço. Era a confirmação de um sonho, a materialização de um desejo puro e profundo. Eles não precisavam de muitas palavras. O olhar trocado entre eles dizia tudo: respeito, carinho, e a promessa de uma vida partilhada.
Naquela noite, sob o céu estrelado do sertão, Tião e Rosa iniciaram sua história. Não foi uma noite de arroubos ou paixões desenfreadas, mas de uma doçura singela, um encontro de almas que se reconheceram e se acolheram, plantando as sementes de um amor duradouro, forte como o umbuzeiro e resiliente como a caatinga. A primeira noite de núpcias foi o selo de um pacto, a confirmação de que, dali em diante, eles caminhariam juntos, sob o mesmo sol, sob a mesma lua, e com o mesmo coração.
Mané Beradeiro
24 novembro de 2025
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