Era o período de férias, estava na fazenda Santa Maria, no interior de Ceará-Mirim-RN. Tia Benigna tinha me dado um boné de duas abas, ainda lembro as cores, amarelo e azul. Fiquei andando com o meu boné naqueles caminhos estreitos, com pouco mais de metro e meio de largura, tendo cercas de arame farpados nos dois lados.
Não sei porque eu resolvo imitar um cego. Puxei o boné para cima dos olhos e sem ter uma vara para me guiar, comecei a andar. Até fechei os olhos, queria realmente saber o que sentia um cego. E lá estava eu, dando meus passos curtos e de repente aumentei a velocidade, estava vivendo o meu momento de cego. Pensei: "cego corre" e foi aí que o pior me aconteceu. Quando saia em disparada, olhos fechados, sinto que meu braço foi rasgado pelo arame farpado.
Foi uma dor quente, e ao levantar o boné eu vi os cravos do arame dentro da minha carne e o sangue começou a sair.
Nem pensar ir para casa e pedir a mamãe para cuidar do corte. Temia receber como pagamento da minha encenação de cego, uma boa surra. Se havia algo lá em casa que estava sempre sobrando, era a punição através da surra, e quem mais consumia era eu.
Decidi tratar sozinho daquele sangramento. Corri até o rio, onde a água cristalina era abundante. Lavei, mas nada do sangue estancar. Pressionei e não adiantou. Foi então que tive a ideia de pegar areia do fundo do rio, bem alvinha, e jogar na abertura do corte. Funcionou como argamassa. Fiquei deitado, com o braço exposto ao sol, secando aquele procedimento.
Duas horas depois do ocorrido, já se aproximava o momento do almoço, fui até uma bananeira, cortei uma folha e a seiva foi aplicada em cima da argamassa.
Mamãe só percebeu no final do dia e ao perguntar o que era aquilo, respondi: "Foi um aranhão que a cerca fez em meu braço, mas nem doeu".
E a marca permanece. Valorize as suas cicatrizes, elas são troféus de vitórias.
Francisco Martins
30-09-2025
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