Ah, como bem o definiu Sanderson Negreiros, um dos nossos:
Causer admirável, figura humana que impressiona pela vitalidade e inquietação existencial, memória fotográfica e perispiritual de tudo que viu, sofreu, amou e viveu, fixador paciente de nossa sociologia regional, ditada e autodidata das melhores passagens do cotidiano; verve, voraz e perspicaz, poeta contador de história e animal perdido na selva carioca; guardião de auroras e também de crepúsculos, incapaz de odiar e voltado para os temas que esgotam o filosofar.
Nunca é tarde, em um ambiente assim, de emoção e de saudade - repita-se - embalarmos também na lembrança dos versos da poetisa Hirma Varela, dedicados a Raimundo Nonato da Silva:
Ele escreveu suas vivências,
Cada página escrita
foi crescendo e juntas estas viraram livros
que ele ia distribuindo entre os amigos.
Contava histórias de sua terra,
em ritmo lento de quem sorrir.
Falava em chuva, em seca, em ruas palmilhadas de saudade,
dizia nomes dos que se foram e os quais ele amou.
O acadêmico e confrade Paulo Macedo desabafa conosco:
Há lembranças fortes de nossa amizade, com os conselhos que dele recebi no começo de minha vida jornalística, incentivo, orientação até.
Desta tribuna, portanto, sublima-se a nossa homenagem singela e emocional. Todas as lembranças ficam, como lição e testemunho imperecíveis. Legou um exemplo de vida, na contemporaneidade, a todos nós, pobres e efêmeras criaturas humanas, feitas à imagem e semelhança de Deus.
Afinal, chega-se ao epílogo desta oração protocolar, em memória de Raimundo Nonato da Silva.
Se poucos dissemos, que se culpe o tempo. E se esse tempo não nos cansou, deve-se à existência fecunda e digna de Raimundo Nonato da Silva, que nos fascina e nos humaniza.
Por isso, recorremos à lição de Fernando Pessoa:
Tudo vale a pena se a alma não é pequena.
O certo é que a nossa palavra nasceu do coração, sem o rigoroso apego ao curriculum-vitae; longe da frieza das datas, não nos preocupando com a ordem cronológica dos títulos, dos cargos do homenageado, mas, acima dessas circunstâncias, palmilhando os caminhos do afeto, da amizade e da valorização da
cultura, que é eterna, sobressaindo a narrativa de seus próprios amigos e admiradores. Assim a homenagem foi mais ampla e fraternal.
Tudo brotou mesmo do coração, no vôo alto e sereno do pensamento, à luz da solidariedade, da emoção incontida, da saudade que ainda perdura, como que vislumbrando a sabedoria de Kahlil Gibran:
Quando atingires teu objetivo, verás tudo mais belo, mesmo com olhos que nunca viram a beleza.
Enfim, configura-se a nossa louvação a Raimundo Nonato da Silva. Simples, solidária, espontânea, sentida, com cheiro de terra, marcada pelo calor humano, do bem-querer, às vezes embargando a voz, no instante evocativo que passa e que se vive.
Esta a mensagem de fé, de confiança, à geração de hoje e do porvir, no exemplo de amor às letras, da dedicação à pesquisa, em sentido universal.
Nada mais fizemos senão cumprir com um pouco do muito que ainda deve e continuará devendo o Rio Grande do Norte a Raimundo Nonato da Silva, no apanágio de seu nome e de sua obra, de seu espírito e de sua inteligência, imprimindo maior projeção cultural, para o nosso povo e nossa terra.
Nossa voz, agora, emudece, elevando o pensamento a Deus, joelhos dobrados e vista para os céus, em homenagem a Raimundo Nonato da Silva, ainda e sempre imortal, na dadivosa lembrança de todos.
Ontem, imaginem, lemos isto, em papel amarrotado:
Quando o sofrimento vier ao teu encontro, deixe rolar dos teus olhos uma lágrima, dos teus lábios um sorriso e do teu coração uma prece a Deus. Só assim serás feliz.
E diremos nós: Como viveu, feliz deve estar mesmo, na morada celestial, Raimundo Nonato da Silva.
(Discurso proferido na sessão solene da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, em 29 de setembro de 1994, e no IHG/RN, na data de 27/11/2007, comemorativa do Centenário de Nascimento do saudoso acadêmico)
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