terça-feira, 30 de setembro de 2025

A TRISTE ENCENAÇÃO

 



Há uma cicatriz em meu braço direito, que foi adquirida na infância, provavelmente quando eu estava com dez anos. Se estiver certo disso, ela anda comigo há exatos cinquenta e um anos. Como foi que ganhei essa cicatriz? Bem, ela veio como fruto de uma triste encenação teatral. Vou explicar.

Era o período de férias, estava na fazenda Santa Maria, no interior de Ceará-Mirim-RN. Tia Benigna tinha me dado um boné de duas abas, ainda lembro as cores, amarelo e azul. Fiquei andando com o meu boné naqueles caminhos estreitos, com pouco mais de metro e meio de largura, tendo cercas de arame farpados nos dois lados.

Não sei porque eu resolvo imitar um cego. Puxei o boné para cima dos olhos e sem ter uma vara para me guiar, comecei a andar. Até fechei os olhos, queria realmente saber o que sentia um cego. E lá estava eu, dando meus passos curtos e de repente aumentei a velocidade, estava vivendo o meu momento de cego. Pensei: "cego corre" e foi aí que o pior me aconteceu. Quando saia em disparada, olhos fechados, sinto que meu braço foi rasgado pelo arame farpado.

Foi uma dor quente, e ao levantar o boné eu vi os cravos do arame dentro da minha carne e o sangue começou a sair.

Nem pensar ir para casa e pedir a mamãe para cuidar do corte. Temia receber como pagamento da minha encenação de cego, uma boa surra. Se havia algo lá em casa que estava sempre sobrando, era a punição através da surra, e quem mais consumia era eu.

Decidi tratar sozinho daquele sangramento. Corri até o rio, onde a água cristalina era abundante. Lavei, mas nada do sangue estancar. Pressionei e não adiantou. Foi então que tive a ideia de pegar areia do fundo do rio, bem alvinha, e jogar na abertura do corte. Funcionou como argamassa. Fiquei deitado, com o braço exposto ao sol, secando aquele procedimento.

Duas horas depois do ocorrido, já se aproximava o momento do almoço, fui até uma bananeira, cortei uma folha e a seiva foi aplicada em cima da argamassa.

Mamãe só percebeu no final do dia e ao perguntar o que era aquilo, respondi: "Foi um aranhão que a cerca fez em meu braço, mas nem doeu".

E a marca permanece. Valorize as suas cicatrizes, elas são troféus de vitórias.


Francisco Martins

30-09-2025

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

DEÍFILO GURGEL, UM SER ESSENCIALMENTE HUMANO, UM POETA FRANCISCANO

Terça-feira passada, o Conselho Estadual de Cultura realizou uma sessão especial, em homenagem a Deífilo Gurgel, que em 2026 terá seu centenário de nascimento. Deífilo Gurgel foi Conselheiro e é um importante nome da cultura potiguar. Alexandre Gurgel, filho, pronunciou o seguinte discurso:




Caríssimo amigo e Presidente do Conselho Estadual de Cultura, Dr. Valério Mesquita, estimado e querido amigo do meu pai Deífilo Gurgel, e caríssima conselheira Professora Lalinha Barros, também estimada e querida amiga dos meus pais e por extensão minha, autora da propositura deste convite que tanto me honra.

Através de ambos, cumprimento aos demais estimados conselheiras e conselheiros deste Conselho Estadual de Cultura, honrada instituição na qual Deífilo não só teve assento, como a honrou com a sua humana presença.

Nesse encontro de amigos, a exatamente um mês dos 99 anos de nascimento de meu pai, falar do Deífilo Gurgel folclorista é chover no molhado, pois o seu labor como maior pesquisador da cultura popular potiguar tem o reconhecimento nacional. Mas esse ‘chover no molhado’ não me impedirá de enumerar humanas passagens envolvendo mestres, mestras e brincantes da nossa cultura popular, as quais ele protagonizou com essas grandes figuras.

Hoje, dirigirei a minha fala à essência humana de um homem movido pelo sentimento à flor da pele e pelo olhar tomado pela poesia. Mas não falarei como um simples filho, mas sim como um amigo mais novo que admira e ama verdadeiramente com todos os louvores um amigo/pai ou um pai/amigo, exemplo extremo de altruísmo, que sentia e trazia para si as dores do mundo, dos mais humildes, dos ofendidos.

Falar de Deífilo Gurgel, para mim, é falar de humildade extrema, de amor desmedido pelos menos favorecidos, por todos aqueles que ficam excluídos, à margem. É falar do seu humanismo genuíno e explícito à sua maneira simples, sem alarde. É falar da poesia que pulsava em suas veias, do respeito irrestrito e desmedido aos seus semelhantes e as diferenças, fossem elas quais fossem. É falar de justiça como leme e de sentimento como essência. E é falar do seu amor por Natal.

Mas falar Deífilo é também, e obrigatoriamente, falar de Zoraide Gurgel, a pastora dos seus sonhos do poeta, a sua Mimosa, Zora ou Zozó, seu amor maior, mãe dos seus nove filhos e companheira de toda uma vida, pois sem Zoraide, Deífilo jamais teria sido o Deífilo que todos conheceram. Foi parceira em todos os sentidos, em todas as ocasiões e escolhas. Eram um só, um só corpo, um só espírito, um amor indissolúvel, inspirador à eternidade.

Por obra desse casal, em minhas retinas estão gravadas para sempre, as iluminadas presenças de Chico Antônio, o maior embolador de coco da história que encantou Mário de Andrade, de Seo Pedro Guajiru o eloquente e bailarino mestre do Boi Calemba de São Gonçalo do Amarante, de João Menino o pequeno, em estatura, mas grande em alma e espírito, Rei dos Congos de Saiote também de São Gonçalo, de Chico Daniel o colossal calungueiro que Ariano Suassuna disser ser o maior artista popular o Brasil, dos irmãos Relâmpago: Zé, Antônio e Miguel, também calungueiros de primeira linha e tantos outros mestres, mestras e brincantes da nossa rica cultura popular, que nos brindavam ao dividir a humana mesa da casa e dos corações dos meus pais, que tinham muitas moradas, rotineiramente em almoços de sabores únicos e inesquecíveis preparados com todo amor por minha mãe, pois todos tinham a nossa casa como porto seguro quando vinham a Natal.

Retorno aos anos 40 do século passado, para dividir uma das mais humanas histórias protagonizadas por Deífilo, das quais conheço. Ele recém-chegado à capital, ainda muito jovem vindo de Areia Branca, não tinha 20 anos, entre 1944/1945, no ocaso da segunda guerra mundial, durante uma noite, caminhando a pé pela Praça José da Penha em frente ao Grande Hotel do Major Theodorico Bezerra, vê ninguém menos do que o lendário Zé Areia caído na praça, completamente ébrio. Não se contendo, ergue Zé Areia, movido pela preocupação de vê-lo caído ao relento da noite, e o leva para o Grande Hotel, onde o barbeiro mais famoso da cidade mantinha o seu estabelecimento. Solicita que abriguem Zé Areia na sua barbearia, e só se contenta quando isso acontece. Mais de meio século depois, é a sua humana pena responsável pelo verbete do folclórico personagem na indispensável obra ‘400 nomes de Natal’, 1999, edição Prefeitura de Natal.

Retorno ao tempo presente para dizer que se hoje existe a Lei do Registro do Patrimônio Vivo no Rio Grande do Norte, isso se deve a Deífilo Gurgel.

Aquele olhar humano, que raramente se vê, amoroso, cuidadoso, zeloso, à busca de propiciar – além do registro em suas diversas obras, as figuras desses emblemáticos nomes da nossa cultura popular – a dignidade aos nossos mestres, mestras e brincantes, tal olhar partiu sim de Deífilo.

Nos anos de 1960, mesmo ainda não tendo se apaixonado e se dedicado de corpo e alma ao nosso folclore, Deífilo se tornara amigo próximo e frequentador da casa do maior nome da arte popular potiguar, o magistral Xico Santeiro. Lá via e sentia na pele as agruras de uma vida sofrida e de pouco reconhecimento. Diante do sofrido enredo da vida do nosso maior escultor popular, Deífilo procura o amigo Cortez Pereira, então deputado estadual, para sugerir ao amigo a iniciativa de projeto de lei para a concessão de uma pensão especial para Xico Santeiro. A propositura de Cortez foi aprovada na Assembleia Legislativa, mas vetada pelo governo estadual que alegou que contraria o artista para a Fundação José Augusto, o que jamais aconteceu. Iniciava-se ali o olhar verdadeiramente amigo e guardião de Deífilo Gurgel voltado aos reais protagonistas da nossa cultura popular. Vale salientar que a amizade de Deífilo e Cortez, vem junto a amizade de outro grande amigo de adolescência: Genibaldo Barros, nascida nos bancos do ginásio de Santa Luzia em Mossoró.

De volta ao tempo presente, em 2023, estive visitando Amélia, umas das filhas de Xico Santeiro, na velha casa da Rua Guanabara onde Deífilo ia ao encontro do velho amigo. Na ocasião, Amélia me confidenciou emocionada: “meu filho, doutor Deífilo era um homem de verdade, sem duas conversas. Lembro uma vez que ele veio aqui conversar com papai, a gente tudo criança, e ele observou que não tinha comida aqui em casa. Ele saiu calado e logo depois voltou com umas sacolas cheias de comida. Ele trouxe a feira que matou a nossa fome. Não vou esquecer isso nunca. Que Deus o tenha.”

Retorno novamente no tempo. Em 1970, o saudoso professor João Faustino, assume a secretaria de educação e cultura de Natal. À época, estava Deífilo desempregado, pois tinha pedido demissão do Banespa, aliada a uma malfadada experiência de uma padaria que não deu certo, o que combaliu as suas finanças. O caçula da família era eu, não tinha um ano ainda.

João, velho e querido amigo de meu pai, soube da situação de Deífilo e o procurou para convidá-lo a assumir o departamento de cultura do município. Sem imaginar, João se tornaria o principal responsável por levar os rumos da vida de meu pai ao encontro do folclore potiguar, que se tornou depois da minha mãe e da família, a sua maior paixão.

Aqui ressalto da amizade íntima e verdadeira de toda uma vida protagonizada pelos casais Deífilo e Zoraide, João Faustino e Sônia Ferreira.

Apesar de não ser natalense, mas filho de Areia Branca, Deífilo amou como poucos essa Aldeia de Poty. Como diretor do departamento de cultura de Natal criou o primeiro prêmio de poesia do estado, o Othoniel Menezes, em homenagem ao velho amigo.

Voltando algumas décadas no tempo entre o final dos anos 40 e início da década de 50 do século passado, participou como incentivador e animador cultural do primeiro encontro modernista e divisor de águas das artes plásticas potiguares, que reuniu três dos seus grandes amigos: Ivon Rodrigues, Newton Navarro e Dorian Gray.

Em 1961, junto a grande geração de amigos, poetas e escritores, entre os quais: Zila Mamede, Miriam Coeli, Sanderson Negreiros, Luís Carlos Guimarães, Newton Navarro, Celso da Silveira, Dorian Gray, Nei Leandro de Castro, entre outros, tendo o também amigo Berilo Wanderley como divulgador em sua coluna na Tribuna do Norte, participam todos como protagonistas, do ‘I Encontro do Escritor Potiguar’, evento que marcou para sempre essa imensa geração.

Acelero novamente o tempo e retorno a meados dos anos de 1970, quando Deífilo escreve artigo no saudoso jornal ‘A República’. No seu texto, sugere às administrações municipal e estadual, um grande evento a se realizar anualmente nos meses de dezembro, com a cidade tomada por luzes, presépios espalhados pelos quatro cantos desta aldeia, apresentações dos nossos grupos folclóricos e dos nossos talentos musicais, imaginando para Natal o maior Natal do mundo, e não apenas isso, mas sim, dando nome ao evento de: ‘Natal em Natal’. Isso mesmo, foi Deífilo Gurgel quem pensou primeiro o ‘Natal em Natal’. Esse artigo está transcrito na sua íntegra, em fac-símile, no livro ‘Autorretrato do poeta – Deífilo Gurgel, poesia inédita e a fotografia de uma vida feliz’, 2018, de minha autoria. Tenho a honra de possuir em meus alfarrábios, o primeiro cartaz do ‘Natal em Natal’ com belíssima ilustração de Dorian Gray.

Os anos corriam e a conduta humana de Deífilo frutificava como exemplo a olhos nus para mim. Afirmo categoricamente de que, a banda boa do meu ser, vem inexoravelmente dele e de minha mãe, já os meus deslizes, tenham absoluta certeza, aprendi com a vida.

Vi Deífilo lutar, por anos, incessantemente até conseguir pensões especiais junto ao governo do estado, como uma missão sua de levar dignidade aos nossos mestres, mestras e brincantes, para Chico Antônio – o homem que para Mário de Andrade cantava mais do que meia dúzia de Carusos –, para o doce, gentil e elegante Mestre Cornélio Campina do Araruna e para o Mestre Severino Guedes do Bambelô Asa Branca. Vi Deífilo conseguir a contratação do grande calungueiro Chico Daniel para apresentações permanentes pela Funcarte e vi Deífilo conseguir pensão especial para Dona Militana junto a prefeitura de São Gonçalo do Amarante. Mas também, vi Deífilo triste por não conseguir uma pensão para o Mestre Pedro Guajiru junto ao governo do estado, e escutei a sua voz embargada e triste ao me ligar para me informar da trágica morte do também grande mamulengueiro Zé Relâmpago, e eu emudecer sem palavras. A dor dele era a minha também. Nessas passagens, Deífilo teve a parceria próxima dos amigos: Valério Mesquita, hoje presidente deste Conselho, então presidente da Fundação José Augusto, instituição na qual por 12 anos, Deífilo dirigiu o CPC – Centro de Promoções Culturais, e do professor Diógenes da Cunha Lima, à época Reitor da UFRN, instituição da qual Deífilo foi o primeiro professor da cadeira da Disciplina de Folclore Brasileiro.

Certa vez, ao visitar nas Rocas, o grande José Jordão, outro amigo do folclore, ex-componente do Araruna e um dos nossos grandes escultores populares, o artista queixou-se de que estava quase cego. De imediato, Deífilo procurou o comando do Hospital da Polícia à busca da cirurgia de catarata para o amigo, no que foi atendido prontamente. Jordão operou os dois olhos e voltou a enxergar perfeitamente. Ao visitá-lo pós-cirurgia, escutou de Jordão o desejo de voltar a esculpir, mas que não tinha dinheiro para comprar as imburanas que precisava para forjar as suas criações. Dias após, chegava de surpresa à casa do escultor uma carrada de madeira na carroceria de uma caminhonete. Assim era Deífilo Gurgel, um espírito desprendido, um bem-aventurado, um de boa-fé.

Sempre que posso, enalteço a justa obra do laborioso folclorista e do pesquisador incansável que redescobriu em 1979, Chico Antônio e o levou a São Paulo para se apresentar no Som Brasil de Rolando Boldrin, resgatando no tempo e na história o desejo adiado de Mário de Andrade, que de todas as maneiras quis levar o coquista à Pauliceia Desvairada, mas não teve êxito. Que também nesse mesmo ano de 79, descobriu o fabuloso Chico Daniel, um dos maiores mamulengueiros deste país, que no início dos anos de 1990, descobriu a emblemática romanceira Dona Militana, única potiguar (entre mulheres e homens nascidos em solo potiguar) a ser agraciada com a Ordem do Mérito Cultural, e que ainda através da sua meticulosa obra, editada pós-morte, ‘Romanceiro Potiguar’, 2012, edição Fundação José Augusto, trouxe novamente à cena e ao debate cultural, a figura mítica do poeta Fabião das Queimadas, descoberto por Eloy de Souza e Câmara Cascudo.

Também enalteço, e muito, os belos e líricos versos dos sonetos do poeta Deífilo, registrados e enaltecidos na necessária obra ‘Uma história da poesia brasileira’, 2007, Editora G. Ermakoff, do grande Alexei Bueno, que trata Deífilo como um dos grandes poetas da sua geração. Mas inquestionavelmente, a obra que mais enalteço do meu pai/amigo é a sua imensa e inspiradora obra humana.

Deífilo veio ao mundo para servir, unicamente para servir, sem barganhar, literalmente, nada em troca. Foi um franciscano poeta.

Estão em mim os seus últimos meses de vida, quando estive diariamente junto a ele e a minha mãe, ele frágil, muito frágil, acometido por uma depressão pusilânime e traiçoeira, mas que não foi capaz de suprimir dele, mesmo no ocaso da sua existência, a sua eterna preocupação: o futuro dos nossos mestres, mestras e brincantes populares. Com lágrimas nos olhos me indagava quando encontrava um fio de ânimo para conversar: “Ali (assim me chamava carinhosamente), como é que esse povo (referindo-se à sua legião de amigos do folclore potiguar) vai ficar quando eu morrer?”

Como ato derradeiro deste inesquecível encontro, deixo para todos aqui presentes, o fiel autorretrato/testamento escrito por meu pai, meu maior amigo e exemplo absoluto de um ser essencialmente humano, em forma de poema, que se ergue para mim, todas às vezes em que o leio, como um mantra necessariamente indispensável de permanente alerta, para os meus possíveis deslizes de conduta.




EPITÁFIO (Deífilo Gurgel, 27 de setembro de 1994)

Este foi um homem feliz.
Trabalhou em silêncio
sua ração cotidiana
de humildes aleg(o)rias.
Nunca o seduziu a glória dos humanos
nem a eternidade dos deuses.
Fez o que tinha de fazer:
repartiu o seu pão entre os humildes,
defendeu como pôde os ofendidos,
semeou esperança entre os justos,
e partiu, como tinha de partir,
feliz com sua vida e sua morte.


Este foi Deífilo Gurgel.

A minha gratidão e o meu abraço a todos.


Natal, 23 de setembro de 2025.

Palestra proferida no Conselho Estadual de Cultura.

Alexandre Gurgel
Jornalista, escritor, pesquisador, membro efetivo do IHGRN na cadeira que tem como patrono Deífilo Gurgel

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

"QUINTA CULTURAL" NO IHGRN

 

Nesta quinta (25/09), às 17h, o IHGRN promove a palestra “A evolução da administração pública no RN: por uma proposta de desenvolvimento local”, com Marconi Neves Macedo, doutor em Administração e professor da UFRN. O encontro discutirá caminhos para o desenvolvimento potiguar a partir da gestão pública e do fortalecimento institucional. Aberto ao público, no Salão Nobre do IHGRN (Rua da Conceição, 622 – Cidade Alta). Uma oportunidade para refletir sobre o passado e projetar o futuro do RN!

terça-feira, 23 de setembro de 2025

ESCRITOR NA ESCOLA COSTA E SILVA



Sexta-feira próxima, dia 26 de setembro, o escritor Francisco Martins/Mané Beradeiro estará  contando histórias para as crianças, dos turnos matutino e vespertino, na Escola Municipal  Presidente Artur da Costa e Silva, em Parnamirim.

O evento é promovido pela Biblioteca Escolar  Professora Alcione Flávia, através das mediadoras de leitura. O público estudantil fez leituras nas obras do autor, através dos livros infantis e folhetos de cordel, tendo também pesquisado sobre a vida do escritor.

O ÚLTIMO ABOLICIONISTA DE MOSSORÓ

     Raimundo Nonato (da Silva) é o último abolicionista ainda "vivo" e remanescente da campanha de libertação dos escravos em Mossoró, culminada com a vitória de 30 de setembro de 1883. Tanto pesquisou daquele movimento, tanto se informou com quem sabia e onde se sabia, e escreveu e escreve livros, ensaios, conferências, discursos, artigos, ao longo do tempo, desde a mocidade, sobre as figuras e os episódios daquela campanha; e pelo fato, também, de ano após ano, seguidamente, ser sempre convocado e trazido (uma vez que se encontra domiciliado no Rio), pela prefeitura e pela Maçonaria de Mossoró, pra orador ou integrante "honoris causa", das comemorações ali procedidas, no transcurso da data alvissareira  _ que já se tornou ele como que uma espécie de "testemunha", diga-se mais, de "cúmplice" da história, incorporado impregnado metamorfoseado por aqueles fastos lendário. A impressão que se tem, afinal, é a de que Nonato "teria secretariado " o presidente Joaquim Bezerra da Costa Mendes, da "Sociedade Libertadora Mossoroense", "assistido" aos comícios de Almino Afonso; andara "articulado" às conspirações da Loja "24 de Junho", "acompanhado" as vigílias e as "marches-aux-flambeaux", comandadas pelo líder negro Rafael Mossoroense da Glória, pelas ruas noturnas e ardentes da capital do grande país do oeste "segurando" a mão veneranda do patriarca Francisco Romão Filgueira...

    No ano de 1983, ano do centenário da libertação dos escravos, Nonato nos deu a "História social da abolição em Mossoró" (Coleção Mossoroense, vol. CCLXXXV - Centro Gráfico do Senado Federal, 1983). E eis o seu grande livro, o livro que dele todos esperávamos, tudo o mais que produziu antes, sobre o velho tema, resultando como que estudos e esboços preparatórios para a síntese completa e definitiva, que ele representa e vale. 

    No seu trabalho, Nonato não se limitou às origens, ao desenvolvimento, ao "granfinale" da campanha. Foi mais além. E aquém.

    Ao lado dos fatos e das circunstâncias históricas, ele ergueu, em resumos informativos, as grandes linhas da vida econômica, social e política de Mossoró, desde que, região da ribeira do Apodi, nela se plantaram as raízes da fazenda Santa Luzia, primeiro com José de Oliveira Leite, depois com o português de Braga, o sargento Antonio de Souza Machado, pelos meados do século XVIII. Para ajudá-lo e apoiá-lo nessa reconstituição, convocou os corretos pesquisadores e historiadores da área, como Francisco Fausto de Souza, Luís da Câmara Cascudo, Vingt-un Rosado, Nestor dos Santos Lima, outros ainda. Alcançados, mais adiante, os dias do movimento abolicionista, que são o seu objetivo principal, os amplos painéis de desdobram. E é então, como na bela imagem de Edgar Barbosa, o mais inteligente criador de imagens literárias do Rio Grande do Norte, que assistimos à arrancada cívica de todo um povo, movido pelo ideal libertário, "gente digna de se levar uma cruzada, a uma expedição, a toda empresa que necessita de fé".

    Nonato parece não ter esquecido nada. Situações, perfis, detalhes, no palco e nos bastidores, caldos e rescaldos daquelas horas ásperas. Tudo ele perscrutou e juntou, _ repita-se _ para nos retransmitir naquela sua linguagem descritiva, corrente, coloquial.

    Eis um velho amigo, desses cuja presença carregamos pela idade madura, pelo resto da vida, ligado às nossas boas lembranças da adolescência e da mocidade. Sabemos como lhe foram difíceis os dias da formação, no duro ofício de sobreviver, pobre, humilde, sem apoios familiares. Seu valor pessoal tomou-se, por isso mesmo, muito mais alto, porque ele chegou aos níveis a que os melhores companheiros de sua, de nossa geração atingiram, pelo esforço próprio, quotidiano, obstinado. Fez-se a si mesmo. Suas reservas de vitalidade e espírito são inesgotáveis, animadas sempre de um bom humor, de uma malícia contagiante, de uma memória pitoresca e diversa. Mais de cinquenta livros, e plaquetes publicados, a grande maioria voltada para assuntos e pessoas de Mossoró. Acaba-se por concluir, percorrendo-se as páginas de muitos deles, que nenhum tipo humano da grande cidade e adjacências, que tivesse alguma característica peculiar e especial escapou de registro e evocação; homens públicos, homens comuns, padres, jornalistas, sacristãos, funcionários, simples bodegueiros _ mesmo os cangaceiros, de Jesuíno Brilhante a Lampião. Alguns livros também autobiográficos. Enfim, uma bra sem travos e agravos, na marcha, embora dos solavancos da existência.

    "História social da abolição em Mossoró" é um livro que se lê com interesse e proveito. Mossoró há de recolhê-lo como um dos documentários, como um dos títulos mais altos de sua identidade comunitária.

AMÉRICO DE OLIVEIRA COSTA - Escritor

 Fonte: "Conversa à luz das piracas - minhas memórias do oeste potiguar". Raimundo Nonato,  Coleção Mossoroense, Volume CCCLXXXVII. Ano 1988, páginas 14 e 15.

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

FRANCISCO MARTINS FOI ELEITO PARA ACADEMIA BRASILEIRA DE CONTADORES DE HISTÓRIAS - ABCH

 Setembro tem sido um dos melhores meses deste ano de 2025. Creio que não será superado em felicidade pelos outros meses que virão. Entre tantas alegrias vividas eu quero registrar uma das maiores honrarias que já recebi. Fui eleito para fazer parte da Academia Brasileira de Contadores de Histórias-ABCH. O anúncio aconteceu segunda-feira passada, à noite, em live transmitida pelo canal do Youtube da ABCH.

Fiquei emocionado, afinal, sou o primeiro Contador de Histórias do Rio Grande do Norte a fazer parte da ABCH, uma instituição nacional, com dez anos de existência, que tem como missão: preservar, valorizar e perpetuar o contador de histórias através de ações efetivas, encontros, oficinas e muita troca de saberes.

Chego aos 61 anos na ABCH e tomara ficar na cadeira 24 por bastante tempo, contando histórias e quando não mais puder , escrevendo histórias para que outros façam a semeadura. A posse vai acontecer em novembro, na cidade de Garanhuns-PE e sobre isso farei outra postagem.

Quero desde já agradecer as pessoas que me ajudaram a chegar até aqui: as escolas, igrejas, hospitais, associações diversas que acreditaram no meu ofício de Contador de Histórias e ao longo desses dezessete anos estiveram comigo, ajudando-me a ser um profissional da oralidade. 


segunda-feira, 15 de setembro de 2025

"RAIMUNDO NONATO, O FILHO DA VITÓRIA" FOI ENTREGUE AO AUTOR

 


O poeta Mané Beradeiro recebeu na manhã de hoje, 15 de setembro, a primeira edição do cordel livro "Raimundo Nonato, o filho da vitória". O livro foi impresso na Manimbu Editora e Gráfica, da Fundação José Augusto-FJA, tendo sido a tiragem de 650 exemplares.

Cem exemplares ficaram com a FJA que vai distribuir às Casas de Cultura do Rio Grande do Norte e cem, serão entregues ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte-IHGRN, que patrocinou a compra do material para a edição.

Na foto, Mané Beradeiro recebe das mãos de Afrânio Medeiros de Melo (produtor gráfico da Manimbu) e de Gilson Matias (diretor da FJA) o livro. Muitas outras pessoas, que não estão na imagem, ocupam para sempre o coração do poeta, pela ajuda dada ao IHGRN para tornar real essa edição.

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

NOTA DE PESAR POR NIVALDETE FERREIRA

 


CENTELHA DE CORDEL

 

Para ser velho saudável
É preciso ter coragem
Puxar ferro com vontade
Levar sempre na bagagem
Esperança, Fé e Vida
Nesta tão curta viagem

Mané Beradeiro 11  setembro  2025

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

"NEGRITUDE POTIGUAR" É TEMA DA QUINTA CULTURAL

 


O NOVO CORDEL DE MANÉ BERADEIRO SERÁ LANÇADO EM OUTUBRO

 

É com imensa alegria e o coração repleto de emoção que venho anunciar meu mais novo cordel: 'Raimundo Nonato, o filho da vitória'! Uma obra que mergulha na história inspiradora de Raimundo Nonato, mostrando como o caráter, o estudo e o trabalho transformam destinos. Preparem-se para conhecer a saga de um menino que se fez gigante. O lançamento será dia 9 de outubro,  às 16 horas, na sede do IHGRN, em Natal. Marquem na agenda! ✨📖

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

domingo, 7 de setembro de 2025

NOVO LIVRO DE BENEDITO VASCONCELOS - O DOUTOR DO SERTÃO NORDESTINO


 ADQUIRA JÁ O SEU EXEMPLAR DO LIVRO "CRÔNICAS SERTANEJAS" E MERGULHE NO UNIVERSO DO SERTÃO!

De autoria do Professor Benedito Vasconcelos Mendes, a obra reúne narrativas que retratam a riqueza cultural do sertão nordestino.

Por apenas R$ 80,00 (incluindo despesa de correio) você terá em mãos um livro que explora as tradições, os costumes e as histórias de um povo forte e resiliente. O autor,  engenheiro agrônomo e renomado escritor que já publicou diversos livros sobre temas regionais, utiliza sua vivência e profundo conhecimento da região para criar crônicas envolventes e autênticas.

Para garantir o seu exemplar, faça o pagamento via Pix:

Chave Pix: 02669846491

Não perca a oportunidade de ter em sua estante esta importante obra sobre o sertão!

Sobre o autor:

Benedito Vasconcelos Mendes é um respeitado professor e escritor, com uma carreira dedicada aos estudos e à valorização da cultura sertaneja. Sua obra literária abrange diversos livros sobre temas regionais. Sua escrita busca traduzir a alma do sertão, apresentando ao leitor um olhar sensível e profundo sobre essa importante região do Brasil.                                  Obs. Não esqueça de enviar por WhatsApp, o endereço para onde o livro deve ser enviado.

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

WALDSON PINHEIRO - O FAROL DA EDUCAÇÃO

 Desde quando o verso de cordel me picou que eu não consigo parar de escrever poesia nesse gênero textual. Já estou com 69 títulos e o meu objetivo é chegar a 100 até julho de 2026.  Tenho algumas produções que venho trabalhando de forma não acelerada, outras, pedem que eu me dedique com mais empenho, como é o caso do cordel biográfico que estou escrevendo sobre Waldson Pinheiro. Esse quero concluir ainda em setembro, para que no mês de novembro já esteja com ele todo pronto para o  lançamento. 



Waldson fez da palavra uma bandeira
Defendendo o saber com valentia
Transformando a cultura em poesia
Fez da escola um altar de luz inteira
Sua obra reluz como uma clareira
No caminho da fé e da instrução
Foi mestre, escritor e inspiração
Seu legado jamais será vencido
Pois na história ele fica erguido
Como um farol brilhando a educação.

Mané Beradeiro



IMPRESSO MAIS UM CORDEL DE MANÉ BERADEIRO

 

"Uma história para contar- 40 anos da Escola Municipal Homero Dantas" é o mais novo folheto de cordel, assinado pelo poeta Mané Beradeiro.

O lançamento vai acontecer neste mês de setembro, por ocasião do "Chá de Letras", na sua 18ª edição.

O cordel tem 45 estrofes, sendo 44 com sete versos e uma com dez versos.