segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

SER ESCRITOR LIVRE

 

Escrever é, muitas vezes, como caminhar descalço por uma rua desconhecida. Cada palavra é uma pedra, cada frase um desvio, e o escritor precisa decidir se aceita o desconforto ou se inventa uma nova trilha. Ser escritor livre é justamente isso: não pedir licença ao mundo para existir em letras.

O escritor livre não se prende ao relógio, nem às regras rígidas da gramática como se fossem algemas. Ele as conhece, claro, mas escolhe quando quebrá-las — como quem desafina de propósito para criar uma música nova. A liberdade está em poder narrar o silêncio de uma praça às três da manhã, ou transformar uma xícara de café em metáfora para a eternidade.

Há quem diga que escrever é trabalho, disciplina, suor. E é. Mas ser escritor livre é também brincar, rir das próprias palavras, deixar que elas se embaralhem e se reinventem com suas próprias réguas. É não temer o julgamento, porque a escrita não é tribunal: é janela. Quem lê, espreita; quem escreve, abre.

No fundo, ser escritor livre é aceitar que a literatura não cabe em molduras. É permitir que o texto seja pássaro: às vezes pousa, às vezes voa, às vezes se perde no horizonte. E o escritor, em sua liberdade, não tenta prendê-lo. Apenas observa, registra e segue.

Porque escrever livremente é isso: não buscar aplauso, mas respiro. Não buscar perfeição, mas verdade. E, quando a última palavra se encerra, o escritor sabe que não terminou nada — apenas começou outra forma de ser.

Taniamá Vieira da Silva Barreto

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