terça-feira, 16 de junho de 2009

NÃO PERCAM A ESPERANÇA



Final de um dia cansativo, como os demais de segunda a sexta feira, estou no ponto de ônibus aguardando o transporte que me levará para casa.
Ali também estão outras pessoas, algumas caladas, mergulhadas em seus pensamentos. Outras com ar de preocupação, bem visível na fisionomia, e entre todas, estão dois homens conversando sobre política.
Aquela conversa era ouvida por todos, pois eles falavam alto e até quem não queria ouvia assim mesmo. Eram senhores que já haviam ultrapassado os quarenta anos vividos. Cresceram no físico, na idade, mais permaneciam crianças no pensamento.
Não deu para descobrir seus nomes. Vamos chamá-los de homem 1 e homem 2. Vejam só o diálogo daquela tarde:
H1 __ Eu não acredito em político, para mim são todos ladrões. Faz mais de dez anos que eu não voto em ninguém, não apareço nem nas urnas.
H2 __Eu também, acho que todos furtam. Eles só querem nossos votos. Eu vou até a câmara, peço ajuda para pagar uma conta de água, digo que votei neles e os engano.
H1 __ Meu título eu nem sei onde está. Não preciso dele. Nunca vou fazer concurso, não tenho esperança de ter emprego.
H2 __ Se eles fizessem alguma coisa pela gente eu até confiaria neles, mas não fazem nada. Vejam só! Estamos há mais de quarenta minutos esperando um ônibus e não vem nenhum. Isto é uma vergonha.
E o diálogo continuava com estas e outras palavras que externavam a insatisfação com a classe política, em todos os âmbitos: nacional, estadual e municipal.
As pessoas que se encontravam ali respiravam fundo. Algumas desejavam proteção auricular, outras pareciam insensíveis ao que ouviam e eu, bem, eu estava com a garganta coçando, a língua queimando, louco de vontade para entrar naquele diálogo. Foi quando um deles falou:
H1 __Para mim não tem jeito: senadores, deputados, vereadores, nada presta!
Entrei com ímpeto naquele papo.
__Permitam-me fazer uma pergunta aos senhores.
Eles olharam para mim um pouco espantados.
H2 __Pode fazer cidadão!
__Quando uma lâmpada não está funcionando perfeitamente na casa de vocês, o que fazem?
H1 __Ora que pergunta mais besta, trocamos.
__Trocam a lâmpada ou toda a fiação elétrica?
H2 __ O senhor é doido? Onde já se viu mexer na parte elétrica toda da casa por causa de uma lâmpada. Trocamos só a lâmpada.
__ E se a lâmpada que foi trocada também estiver com problemas?
H1 __ Eu volto para o lugar onde comprei, e peço outra ou meu dinheiro de volta.
__Bom! Falei isto com a mão fechada, batendo-a de encontro a palma da mão esquerda, como quem aplicasse uma martelada em leilão.
H2 __ isto mesmo. Mas o que tem haver esta troca de lâmpada com nossa conversa?
__As lâmpadas queimadas são os políticos corruptos, ladrões, insensíveis à vocação de legislador que foram outorgados pelo povo. A estrutura que chega até eles, e fornecem energia para funcionarem com perfeição ou não, é nossa, é a nossa consciência, nosso voto, nossa escolha. Votar nulo ou em branco não ajuda sua vida, sua cidade, seu país. Não cumprir o dever de cidadão eleitoral é pior ainda, pois isto não irá em nada contribuir para tirar a lâmpada queimada. Percebem que a causa não é a instalação elétrica, mas sim as lâmpadas?
Eles ficaram pensativos. O ônibus chegou, entrei e fui para casa na esperança que a vida por ser mais iluminada, depende de nós.

Um comentário:

Escritor Lima Neto disse...

belíssimo texto, meu amigo. ele é fiel e bastante verdadeiro quanto ao que passa em nossa sociedade, entre nós, com relação a confiabilidade no sistema político.
de certa forma, muitas vezes, nós agimos como os dois homens, de tão desiludidos que estamos com relação à política em nossa sociedade. nos desinteressamos, reclamamos, verdadeiramente abrimos mãos de nossos direitos devido a essa desilusão. e agindo assim, muitas vezes com um certo sentido, nem nos damos conta de que talvez justamente por conta disso todo o sistema continue como está.
ficar desiludido em dado momento é até normal, sentir-se ludibriado, desistir, momentaneamente, de ideais políticos, é até compreensivel. o que não pode existir e se deixar abater permanentemente e abrir mão de tudo, inclusive de seus direitos.