sábado, 4 de abril de 2020

COMENTANDO MINHAS LEITURAS - ARARA VERMELHA

O estado de Goiás  deve conhecer os livros escritos por José Mauro de Vasconcelos, aqueles que tratam sobre histórias romanceadas, que integram o círculo do índio. Aprende-se muito sobre a cultura indígena quando lemos os livros de José Mauro de Vasconcelos.
Tenho quase certeza que ele é um escritor desconhecido daquele público, assim como ainda é da maioria dos brasileiros. Quando falamos o nome de José Mauro geralmente as pessoas lembram do livro "O Meu Pé de Laranja Lima", mas ele foi muito maior do que aquela obra. Quem  não tem a dimensão do que estou afirmando, aconselho ler as resenhas que estão publicadas aqui. Os links estão todos abaixo.

Hoje eu quero escrever sobre o livro "Arara Vermelha" (1953). Nesse  romance, o grande personagem é o Rio Araguaia, que na língua dos carajás  é Beé Rokan.  Ele vai correr por todas as páginas do livro e mostrar a sua  beleza e grandeza.
Rio Araguaia - foto da internet
A história tem início na cidade de Leopoldina, que está totalmente diferente daquela que foi apresentada  em "Longe da Terra"(1949). A feição do lugar é outra.  Tori  (homem branco) está invadindo a floresta e matando os animais para vender as peles na cidade - são os mariscadores. Somam-se a esses caçadores a ação dos garimpeiros e Camura e Kanaú começam a jornada pelo Araguaia em busca de resgatar um diamante roubado, uma grande pedra preciosa, que está  sendo levada por um Tenente, sua esposa e outras duas pessoas numa canoa.
Kanaú é  índio carajá que tem crise de identidade depois que foi levado para a cidade, chegando a conhecer Rio de Janeiro e São Paulo. Dividido entre as culturas do seu povo e do homem branco, ele reluta fazer as marcas que caracterizam todo índio carajá, isto é, os círculos na face, chamados de Omarira.
Índio da tribo Carajá ´atente para  Omarira (imagen da internet)



 "A noite tinha mil olhos e era dona de mil gritos" p. 237

A trama vai se desenrolando à semelhança da correnteza do Araguaia, hora calma, outras velozes. Tem  elementos da natureza humana que estão presentes tanto no índio como no branco: violência, roubo, morte, dor, crença, etc. Até a metade do livro o leitor não viverá grandes emoções, mas a leitura começa a ficar cativante e provocadora a partir daí. Quem ficará com o diamante? O Tenente? Daniel? Kanaú?  Camura? Tilde? Quais mistérios podem apresentar a floresta para eles? Quem sobreviverá? Vá buscar as respostas lendo "Arara Vermelha".
Quero trazer duas curiosidades que estão neste livro, entre tantas, que serviram de motes para a construção de outros livros do autor. A primeira está logo no início, quando o índio Camura chega em Leopoldina, numa canoa que ele chamava de "Rosinha". Sete anos depois, José Mauro escreveu "Rosinha, Minha Canoa". A segunda é a presença de  Kuriala, aqui bem velho.  Sobre ele José Mauro escreveu Kuriala: Capitão e Carajá.

Tenho ou não razão quando afirmo que Goiás deve descobrir José Mauro de Vasconcelos?

Francisco Martins
04 abril 2020


Leia também as resenhas dos livros:

Banana Brava
Longe da Terra
Vazante
Farinha Órfã 




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