sábado, 11 de abril de 2020

COMENTANDO MINHAS LEITURAS - O GARANHÃO DAS PRAIAS

Partindo da loa cantada, atribuída a Maria Antonia, que diz:"A Lua tem quatro quartos/ Nenhum quarto tem amor/ Neles moram o desengano/ O frio, a tristeza, a dor",  o escritor José Mauro de Vasconcelos vai narrar por treze capítulos as histórias de  "Canário", Dóttie, Hanna, Mariaualê personagens que vivem dentro da selva, numa aldeia indígena.
Dóttie é enfermeira,  com um passado que a tranca dentro do quarto minguante, onde mora o frio. Sua história é triste, mas sua lição de vida é transformadora.
Hanna, uma missionária que não consegue êxito em sua missão, habita o quarto do desengano. "Canário", o garanhão, homem  que vive naquela aldeia por mais de vinte anos, trabalhando como vaqueiro, é o maior conquistador e desejado pelas mulheres, por causa da sua beleza física.  Se a vida vai proporcionar a "Canário" muitos momentos de prazer, isso não assegura que faz dele uma pessoa feliz. Ele sabe que é morador do quarto crescente, dentro do qual divide o espaço com a tristeza.
"Canário" é o tipo de homem que não dispensa ninguém num ato sexual,  deu abertura, ele entra, literalmente! Foi assim com Dóttie, com  a índia Mariaualê (sexo oral, respeitando que ela ainda era jadomã  -virgem), com Rucanaro, com Felícia e até mesmo um frade. O livro deve ter causado um impacto junto ao público quando foi lançado em 1964, dada as cenas de sexo que relata. Textos picantes,  como estes:
"- Beije-me todo, Dóttie.
-Nunca fiz isso, Canário.
-E por quê? O que tem demais? Tudo é corpo. Cada pedaço do corpo é corpo.
Ela arfante de prazer jogou a cabeça entre as coxas fortes de canário" (p. 68 e 69).
 Não pense o leitor  que vai encontrar apenas aventuras sexuais, ou como queira xuque-xukre, no linguajar indígena. Em "O Garanhão das Praias", você vai se deparar também com a realidade da pobreza em que viviam aqueles índios e as poucas condições de trabalho que tinha o então Serviço de Proteção aos Índios, enfrentando epidemias, com vacinas de Paludan e comprimidos de Malezim. Na última página, o autor  conclui a narrativa determinando que  escreveu em Aruanã (antiga Lepoldina), estado de Goiás.

Francisco Martins
8 de abril de 2020







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