quinta-feira, 18 de agosto de 2016

TRANSFORMAÇÃO

Eu já tive cabelos bem pretos,
Tão escuros quanto a cor do  negro.
Eu era forte, incansável, ágil.
Nada me assustava, nem a tesoura,
Nem os pelourinhos da vida.
Hoje meus cabelos estão grisalhos.
Aparentam charme de Casa Grande,
Fios prateados, pintados com o esforço da vida.
Amanhã, quando atravessar o portal que me leva
Ao campo da terceira idade, eles estarão brancos,
Como flocos de algodão, como a polpa do coco,
Dirão a mim: chegamos até aqui!

Francisco Martins
Parnamirim-RN
23 abril 2016

terça-feira, 16 de agosto de 2016

ASSIM DISSERAM ELAS...

"Os sonhos são poderosos quando acreditamos que podem converter-se em realidade. Os sonhos vazios de conteúdo pertecem ao reino da fantasia; os sonhos das líderes pertencem ao reino do possível"

Carla Vizzone

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

UM AUTÓGRAFO COM VALOR DE OURO

Finalmente tive a oportunidade de conhecer um dos meus escritores favoritos. Fui quinta-feira última buscar experiência na fala do magnânimo escritor Ignácio de Loyola Brandão. Ele estava participando da FLIPIPA e tive a felicidade de não apenas vê-lo, ouvi-lo, mas também pedir seu autógrafo. Ignácio tem 80 anos e carrega dentro si um tesouro belíssimo, onde não há moedas,  mas algo muito mais valioso, a imaginação, a criatividade, que transformada em literatura nos leva a uma alegria que somente os leitores sabem apreciar. Vida longa a Ignácio de Loyola Brandão.

CURIOSIDADES DA LITERATURA NO RN

Luiz Carlos Lins Wanderley, patrono da cadeira 6 na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, foi o primeiro potiguar a se formar em Medicina. Doutorou-se na Bahia, em 1857, aos 26 anos. Nasceu em 1831 (Açu) e morreu em Natal, em 1857, aos 59 anos. Foi poeta, teatrólogo, político e o primeiro romancista, além de  assumir o Governo da Província, em 1886. Casou duas vezes, na mesma data, com diferença de 17 anos entre uma esposa e outra. A segunda núpcias foi com a cunhada.

domingo, 14 de agosto de 2016

LEMBRANDO EUCLIDES DA CUNHA - O DIA DA SUA MORTE

Amanhã,  15 de agosto, faz 107 anos da morte do Escritor Euclides da Cunha, que escreveu o clássico Os Sertões.  Euclides procurou a morte na manhã de domingo daquele ano, quando se dirigiu armado com um revólver calibre 22 à casa da Estrada Real de Santa Cruz, em  Piedade, Rio de Janeiro.
Euclides foi decido a matar ou morrer, quando procurou o cadete Dilermando de Assis, que tinha um caso amoroso com Anna, a esposa do escritor. Euclides levou um tiro no pulmão.

Para saber mais sobre essa história aconselho os seguintes livros:

Anna de Assis - história de um trágico amor, de Judith Ribeiro de Assis em depoimento a Jeferson de Andrade. Irradiação Cultural, 1990

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

IGNÁCIO DE LOYOLA ESTARÁ HOJE À NOITE NA FLIPIPA

O grande homenageado deste VII Festival Literário da Pipa é o escritor Hélio Galvão, escritor que se vivo fosse estaria completando 100 anos de nascimento em 2016.  Nesta, quinta feira, Hélio Galvão será tema de uma mesa redonda com a presença de Vicente Serejo, Wodem Madruga,  Marcelo Alves, Andreia Galvão e  Winnie Knox.
Hélio Galvão
Em seguida terá às 20 h uma mesa com o tema sobre as HQs Reiventam a Literatura,  com Márcio Benjamim, Leander Moura e Milena Azevedo. E fechando a noite, Ignácio de Loyola Brandão, nos presenteia com seu carisma e suas histórias.

"Vencedor do Prêmio Machado de Assis 2016 (Academia Brasileira de Letras), Ignácio é um dos mais destacados autores da chamada “geração 70”. Lançou 42 livros de contos, crônicas, literatura infanto-juvenil e romances, traduzidos para mais de dez idiomas. Escritor polivalente, dá preferência ao romance, mas escreve sobre diversos assuntos. Viajante, escreveu relatos sobre lugares que visitou em suas andanças literárias.
Jornalista desde os 15 anos, alcançou sucesso em âmbito nacional como escritor com o romance Zero (1975) – proibido no Brasil até 1979, o livro foi editado primeiro na Itália. Em 1987, desiludido com o papel revolucionário da literatura, deu uma parada para balanço; retornou à ficção somente em 1995, com O anjo do adeus.
Principais obras: Bebel que a cidade comeu; Zero: romance pré-histórico; Não verás país nenhum; Cabeças de segunda-feira; O beijo não vem da boca; A rua de nomes no ar; O homem do furo na mão e outras histórias; O homem que espalhou o deserto; Os melhores contos; O anjo do adeus."

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

PONTA PÉ INICIAL DO PROJETO CARTONERO NA ESCOLA HOMERO DANTAS FOI DADO HOJE

A Escola Municipal Homero de Oliveira Dantas, em Parnamirim, recebeu na tarde de hoje o editor cartonero e escritor Francisco Martins, que esteve em visita aos alunos da Professora  Tetê Dantas, que irão produzir um livro pela Editora Carolina Cartonera. Na visita, o escritor falou sobre o Movimento Cartonero, mostrou o quanto os livros podem nos encantar e principalmente transformar a nossa vida, como aconteceu com Carolina Maria de Jesus, patrona da editora.




MANÉ BERADEIRO LEVOU ALEGRIA ÀS CRIANÇAS DA ESCOLA COSTA E SILVA

















terça-feira, 9 de agosto de 2016

FLIPIPA COMEÇA NESTA QUARTA FEIRA


•Dia 10/08 (quarta-feira) | Pré-abertura
.Assembleia Cultural Itinerante/Tenda dos Autores
19h – Apresentação do Coral Infanto-juvenil do PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – Grupo é formado por crianças e jovens assistidos pelo PETI, o coral e orquestra são mantidos pela prefeitura de Tibau do Sul. Desde 2013, jovens praticam suas habilidades artísticas em grupos artísticos tendo a regência do maestro Quefrem Lemuel Mendonça dos Santos. Atualmente tem 24 integrantes entre meninos e meninas, utilizando diversos instrumentos como flauta doce, violino, violão e cajon.
20h - Tema 1: Cultura popular - Militância e tradição: Mestre Pedro Benedito e o Coco de roda
Emblemático tirador de coco da região de Pernambuquinho, Tibau do Sul, Pedro Benedito é também uma das importantes vozes que ecoam os ritmos ancestrais das dunas e tabuleiros da região litorânea. É tirador de cipó e artesão.
21h - Tema 2: “A Sanfona do litoral potiguar”: Com mestre Pio Sanfoneiro | Marcos Lopes
Pio Sanfoneiro - Conhecido como mestre Pio do Acordeão, integra o grupo "Os 3 Iguais", um trio de pé de serra composto pelo mestre Pio, seu filho César e seu irmão Barbosa Neto. Entoam xotes, arrasta-pés e baião de tradição regional.
Marcos Lopes – Agrônomo e apaixonado pela cultura sertaneja, conhecido por ser o criador do Forró da Lua e do Museu do Vaqueiro, ambos na Fazenda Bonfim (São José de Mipibu). O local é referência quando o assunto é cultura sertaneja e já recebeu lendas como Dominguinhos, Marinês, Chiquinha Gonzaga. Estudou acordeão no Conservatório de música e tem como atividade de lazer tocar em feiras, mercados e espaços culturais ao lado de mestres sanfoneiros.

MANÉ BERADEIRO ESTARÁ NA ESCOLA COSTA E SILVA AMANHÃ

Mané Beradeiro, personagem criado e vivido pelo escritor Francisco Martins, apresenta-se amanhã, às 8 h, para os alunos do turno matutino da Escola Municipal Costa e Silva, em Parnamirim-RN. O evento acontece dentro das festividades alusivas a Semana do Estudante, cujo dia é celebrado na quinta feira próxima,  11 de agosto.

PROFESSOR GERALDO BATISTA LANÇA ROMANCE COM PALCO DA II GUERRA MUNDIAL




segunda-feira, 8 de agosto de 2016

FILOSOFIA DE VIDA - 2ª ESTROFE


ESTA ÁRVORE FOI TESTEMUNHA
DA NOTÍCIA QUE OUVI
(SETEMBRO 1987)
DITA POR UMA MULHER
QUE NO SEIO GERMINOU
A SEMENTE QUE LHE DEI
FRAÇÃO QUE DE MIM FICOU.

O SEGREDO ELA GUARDOU
OS GALHOS ACOLHERAM
O JORNAL NÃO NOTICIOU
ÁRVORE AMIGA A QUEM EU FUI FALAR:

-A CRIANÇA NASCEU! ISRAEL JÁ CHEGOU.
(28 MAIO 1988)

VINTE E SETE ANOS SE FORAM (1988-2016)
E ELA CONTINUA A SABER MUITO DE MIM.
QUEM CONTA ÀS ÁRVORES NÃO CONTA A NINGUÉM.



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CARAVANA DE ESCRITORES POTIGUARES -EDIÇÃO 2016

Sexta-feira p.p., foi feito o lançamento oficial do projeto Caravana de Escritores Potiguares, edição 2016,  uma iniciativa de Thiago Gonzaga, escritor e pesquisador da literatura potiguar. O evento aconteceu no Palácio Potengi, atual Pinacoteca do Estado, com a presença de escritores e convidados. Falaram na tribuna Thiago Gonzaga, a escritora e Acadêmica, Secretária Geral da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, Leide Câmara e encerrou os discursos, o escritor e poeta José de Castro, cuja fala está abaixo, na íntegra.


"Boa noite a todos. Quero saudar as autoridades aqui presentes e aos nossos patrocinadores, ao Governo do Estado, à Fundação José Augusto, à representante da Academia Norte-Riograndense de Letras, a pesquisadora e escritora Leide Câmara...E, claro, à COSERN.

E também saúdo o coordenador do Projeto, o escritor e pesquisador Thiago Gonzaga. E também a todos os nossos amigos escritores e escritoras que participam da Caravana, e a todos as amigas e aos amigos convidados aqui presentes nesta noite de festa.

Sinto-me honrado em falar em nome dos que compõem esse grupo de escritores. Somos pessoas que abraçam várias profissões e que escrevem em diversos gêneros, mas temos algo em comum que nos une, que é a força da palavra escrita, o amor aos livros, à leitura e à literatura.

E todos nós temos a consciência de que precisamos trabalhar muito para dar uma contribuição significativa à área da leitura literária em nosso estado.

Segundo dados da pesquisa “Retratos do Brasil”, realizada pelo IBOPE em 2015, por encomenda do Instituto Pró-Livro, 44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro. Esse é um dado cruel e o Rio Grande do Norte, infelizmente, não foge muito desse figurino. Daí a importância do trabalho dessa Caravana de Escritores Potiguares, idealizada e coordenada pelo escritor e pesquisador Thiago Gonzaga, ele mesmo um idealista e que conseguiu mobilizar todo esse grupo de escritores desde o ano de 2013.

Desde aquele ano pegamos a estrada e saímos pelos caminhos e descaminhos destas terras potiguares, feito PIPA VOADA, como diria o escritor, teatrólogo e romancista Junior Dalberto. E seguimos pelas estradas, quem sabe “estradas de tijolos amarelos”, pavimentadas nos contos curtos de Thiago Gonzaga.

E levamos conosco alguns VERSOS TEMPORAIS, feito andarilhos expostos ao calor das palavras, cheios de CANTOS E ESPANTOS, como diria a poeta Leocy Saraiva. E temos também o nosso LIVRO DE PALAVRAS e aqui “falo da palavra lavrada entre fatos e feridas./ Falo do canto cantado entre prantos e despedidas/ Falo do falo erguendo estandartes, pulsando arte, /engravidando a vida”, como está registrado nos versos do poeta João Andrade.

E temos consciência de que nossa arte realmente engravida a vida. Pois queremos fazer nascer o novo, e somos muitos dentre ALGUMA PRATA DA CASA e andamos com leveza trilhando o CHÃO DOS SIMPLES, na escrita segura e na crítica abalizada do acadêmico Manoel Onofre Júnior, ele que é uma das nossas maiores referência dentro da Caravana.

Acompanha-nos também a literatura fantástica, não só de Junior Dalberto com seus circos voadores, seus lobisomens, sua galeria de tantas personagens insólitas, mas também a escrita ficcional de Dancley Fernandes, que tem um certo PODER DE VINGANÇA que gera o prazer da leitura em todos os que apreciam viajar na fantasia.

Como nos presenteia também o farmacêutico Damião Gomes, que faz o aviamento de uma receita novelística de como antever o futuro e como se aproveitar disso em O FUTURISTA. E depois, vira um contista de CORAÇÃO DE PEDRA, uma gema lavrada em histórias divertidas, às vezes tragicômicas, mas muito bem contadas.

E ainda na prosa temos A IMAGEM DO CÃO, não do cão chupando manga ao sol do meio dia, mas uma novela do jovem talentoso Guilherme Henrique, com uma história psicológica, que tem lá seus mistérios e seus encantos.

E temos conosco também um cronista. Um cara que gosta de contar “as maiores mentiras do verão” - e olhe que aqui no estado temos longos verões. Enfim, um cronista muito “galado”, como diria o próprio Carlos Fialho... Que também é editor...

Aliás, temos dois editores viajando conosco. O outro é o Cleudivan Jânio, que lançou um livro sobre os selos do Rio Grande do Norte. Tomo a liberdade de fazer uma pequena brincadeira com ele... Certa vez, escrevi num dos meus livros de máximas de humor a seguinte frase: “Nunca fui filatelista. E nem tenho vontade de sê-lo”.

Fialho e Cleudivan, um da Jovens Escritas e o outro da CJA Edições, vêm lançando vários livros dos nossos autores, inclusive alguns livros meus. O que seria de nós escritores se não fossem os editores? E se não tivéssemos também leitores? E se não existissem os poetas?

E se não existissem os diversos tons da poesia? Não os 50 tons de cinza, mas os TONS DE VER-TE e os TONS DE AMAR-ELA? Pois temos o nosso De Cristo com seus poemas mínimos, que dizem tanto! “Nos momentos/ ímpares/ formamos/ um belo par/// Ela gostou/ do meu tempero/ acho que estou/ no cominho certo/// Qual fênix/ ardendo/ tu me chamas/// Ela se foi / levando os móveis/ foi mais cômodo.///... Nesses poemas, o máximo, com um mínimo de palavras.

E ainda temos mais poetas conosco. Não poderia deixar de citar a poeta Drika Duarte com seu livro de poemas “NEGRA ONAWALLE”. Salve Zumbi que “vigia o mato, olha a floresta, / protege o povo/ e o que lhe resta..." Salve “Dandara que comandava o quilombo noite e dia/ E do seu olhar/ soava o grito de alforria...(...) Odó Yiá, minha mãe. Eu sou filha de Iemanjá! ” (...) “E vamos dar as mãos/ e dançar uma ciranda/ no espaço de Aruanda”’... Salve, Drika Duarte!

E todos nós, escritores, editores, leitores damos as nossas mãos e cantamos, inclusive junto com outros autores convidados, que são tantos aqui no Rio Grande do Norte. Poderíamos citar um Clauder Arcanjo, lá de Mossoró, da Sarau das Letras. Um Mané Beradeiro, poeta e contador de causos que é o Francisco Martins, de Parnamirim. Um Marcos Medeiros com sua Formiga Perdida. Um Lívio Oliveira, poeta, que esteve conosco em Acari, assim como o poeta santacruzense Marcos Cavalcanti. Um Aluizio Mathias, editor da Folha Poética. Uma Shirlene Marques, advogada e jornalista, e tantos outros que ainda seguirão conosco... E os que nos apóiam com seus registros e sua alegria, como uma Carla Alves, nossa cerimonialista de hoje e amiga de sempre.

Muitos seguem conosco e tantos outros ainda se juntarão a nós. E seguiremos, aqui e ali, plantando utopias de um estado leitor junto às nossas escolas públicas, junto aos professores e às professoras, junto a alunos, sejam crianças, adolescentes ou jovens. A todos, de todas as idades, levamos o encanto da leitura literária. E desafiamos o perigo das estradas, o risco da noite, mas sabemos sorrir o riso do vento e entoamos o nosso canto ferido de estrelas cadentes riscando o céu.

E plantamos a semente da esperança em cada coração leitor. E abrimos os olhos para a visão de um mundo melhor.

E seguimos a nossa jornada, lado a lado com o leitor, de mãos dadas com vários dedos de prosa e alguns dedos de poesia... Pois sabemos que...

“Por onde passa o poeta
sangra o caminho
de perfumes e espinho.
E ferem os versos
o avesso do mundo.
E desvira
a emoção
e grita a rima
que a alma
se acalma
se espanta
e se aninha
nos braços
do vento.
Sopra a brisa
e avisa:
ainda é tempo
de amar
e de ficar louco,
pelo menos um pouco.
É tempo
de deixar rastros
pelas estradas
cansadas
de pés feridos.
Feito versos,
cadentes estrelas,
riscando o céu.
Por onde passa o poeta
deixa uma seta
e uma encruzilhada,
uma curva, uma reta
onde o coração
decide o rumo
dos seus passos.
E o poeta
afaga os versos
e reinventa
os descaminhos
da jornada
que segue em frente
desnuda, inteiramente
sem destino.
Por onde passa
o poeta
a estrada
se alonga.
Infinita,
jamais se acaba. ** (Poema do livro APENAS PALAVRAS, de José de Castro. Natal: CJA Edições, 2015)

Muito obrigado a todos.

Natal/RN, 05/08/2016"

*José de Castro, jornalista, escritor, poeta, membro da Caravana de Escritores Potiguares.

CEM ANOS DEPOIS O MAL PERMANECE




Francisco Martins

Os contos completos de Monteiro Lobato estão presentes em quatro livros: Urupês (1918), Cidades Mortas (1919), Negrinha (1920) e o Macaco que se fez homem (1923). Ao todo totalizam sessenta e seis contos. Desse conjunto, quatro celebram centenário em 2016, são eles: “A Vingança da Peropa”, “Um Suplício Moderno”, “Pollice Verso” e “O Espião Alemão”. Os três primeiros estão em Urupês e o último integra Cidades Mortas. Esses não são os contos mais antigos de Lobato, de todos os que foram datados, há três que já estão nas páginas da literatura com seus cento e dezesseis anos: Café Café, Cavalinhos e Noite de São João, escritos em 1900.
                O quê há de tão especial nos contos acima que completam centenário de criação?  Nada de extraordinário. Mas, tomei a iniciativa de enquanto leitor, buscar um viés que interligasse a trama lobatiana dos três contos com a sociedade do presente século. Será possível?  Até quando a literatura permite que isso aconteça? Afinal, lemos para quê? Alguns dirão: para entretenimento, outros afirmarão – para buscar conhecimento, e tem os que lêem pela cultura.              
                Independente do tipo de leitor que somos,  habituais ou ocasionais, uma coisa é certa, devemos  ter em mente o poder da leitura:
Que ninguém leia por nós para que ninguém seja dono de nossas vidas. Esse é o valor da leitura. Ler para aprender a nos ler no próprio mundo... uma pessoa, um país, uma nação é uma forma própria de ler e de se ler (BÉRTOLO)
Seguiremos então na busca do viés que penso encontrar nos contos centenários, objeto deste artigo. Primeiramente vejamos “A Vingança da Peroba”,  no qual vamos nos deparar com João Nunes, o pai de  José Benedito, apelidado por Pernambi, com sete anos, a quem o pai já ensinava a tomar pinga. Sua máxima filosófica era: “Homem que não bebe, não pita, não tem faca de ponta, não é homem” (LOBATO, p.70). Aqui encontramos a ponta do viés, inda hoje, um século depois, a sociedade vive mais do que ontem mergulhada no problema das drogas.  Se antes fora o álcool que destruiu tantos males, hoje, fora das páginas ficcionais está bem presente o craque, a cocaína e outras drogas que acabam com nossas crianças e jovens.  
Saiamos do conto  acima e vamos às páginas de um outro “Um Suplício Moderno”, nesse, a personagem central é Biriba, um homem, funcionário público, explorado em todos os sentidos, no salário e nos afazeres. O próprio narrador do conto diz: “Mundam de formas as coisas; a essência nunca muda” (LOBATO, p. 83).  Fiquei a pensar nos “Biribas” que estão hoje sendo servidores municipais e estaduais e federais, nos “Biribas” da ativa e aposentados, que sofrem com a atual crise política e econômica em que vive o Brasil.
Já no terceiro conto desta análise, em  “Pollice Verso”,  após a leitura percebi que ainda hoje, em pleno século XXI existem profissionais de saúde fazendo gesto do polegar virado para baixo, condenando à morte seus pacientes. Apenas um pequeno grupo vê a medicina como um sacerdócio. Fala mais alto o dinheiro. Sempre haverá neste meio profissional a figura de Inácio Gama, médico que assim se comportava: “Inácio não enxergava em Mendanha o doente, mas uma bolada maior ou menor, conforme a habilidade do seu jogo” (Ibid., p. 105)
Por fim, no quarto conto, “O Espião Alemão”,  Lobato inicia o texto falando das guerras e com muita sabedoria exprime: “Homens e coisas passam, mas guerra fica” e transporta o leitor até um pequeno lugarejo de cinco mil habitantes, Itaoca, que por sinal se faz presente em diversos contos da sua obra. Aqui, o escritor nos mostra o quanto é possível com artimanhas, produzir e trazer à população uma situação perigosa:
A situação é gravíssima, senhores! Itaoca está sobre um vulcão! Minada de todos os lados, a vida das nossas famílias, a honra das nossas esposas, as mãozinhas das nossas crianças (sensação) correm o maior dos riscos! (Id., 2014, p. 312)
                Eis que já se passaram cem anos que foram escritos esses contos, mas a droga, a exploração do homem em seu trabalho, a inoperante prestação dos serviços  públicos e a escassez de  pessoas com condutas íntegras dão campo ao crescimento e existência destes males em nossa sociedade.


Referências:
BÉRTOLO, Constantino. Revista Emília, In: Ler para quê? Fronteiras e horizontes. Disponível em: http://www.revistaemilia.com.br/mostra.php?id=475. Visualizada em 25 jul 2015.
LOBATO, Monteiro. Contos Completos. São Paulo: Biblioteca Azul, 2014