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quinta-feira, 22 de junho de 2023

DA VEZ QUE MILTON SIQUEIRA ESCREVEU COMO POETA MATUTO

O Poeta Milton Siqueira (1911-1988) considerado um dos representantes da poesia marginal, escreveu também na linguagem sertaneja. A prova disso está no livro Emoções.


 Truvuada

Ao colega José Praxedes, o maior poeta vaqueiro do nordeste

Chuva, relampo e truvão,

Essa noite foi bunito,

So se uvia a exprosão

Pulos artos infinito!


O pai da boa cuaiada

Tava brabo qui nem feria,

E sapecava as espada

Dos relampo nas esferia!


Cabra trimia de medo

Quando as luz alumiava

Sub os serrote e os penedo,

E os curisco os ceu riscava!


Os aniná dos pulero

E os outro dos currá,

Correro tudo ligero,

Pra mode se ocurtá!


Era grande a tempestade,

Paricia tiroteio

Ou metraia de verdade,

Ou o qui dizê nem seio!


Na minha rede inroscado,

Rezava a Nosso Sinhô,

De frieza intiriçado,

E trimendo de pavô!


Uma faisca caiu

Numa oitica veia,

Uma zuadão se uviu

Pru riba de nossas teia!


Pensei cum eu ca cum migo,

O mundão hoje se acaba,

Pru mode qui isso é castigo

Que sub os mortá disaba!


As ventania chiava

Como as cascavé zangada,

E as têia arrebentava

Numa fura indimonhada!


Pru toda parte curria

Um riacho invulumoso,

Os bucho dos rio inchia

Cumo dragão pavoroso!


Qui São Jiromo nas vala,

Pru toda sua bondade,

Rezava as muié na sala

Do meu vizinho e cumpade!


Os truvão arribombava

Cumo bomba de canhão,

Os relampo arrelampava

Como boca de vurcão!


Os chão tava qui nem papa,

Dave lama nos jueio,

Hoje aqui ninguem inscapa,

Tive no imo esse anseio!


Eu tinha me alevantado

E abrido a minha jinela,

Mode inspiá assustado

A frevura da panela!


O ceu simiava um pote

A chuvê chuva pra baxo,

E as terra era um caçote

Merguiando num riacho!


A tão danidas trumenta

Cuma essas do sertão,

Ninhuma corage infrenta,

Nem se fô Napulião!


Mondé

Ao Veríssimo de Melo e ao Câmara Cascudo


Fulô, eu não sou preá,

Mode caí im mondé...

Tu tem no peito, muié,

Um gato maracajá...


A tuarma é cascavé

Pricurando invenená

Meu coração a briá

Chêio de amô e de fé!


Num sou Adão, traidera,

Muié ruim, fuxiquera,

Mode cumê a mação!


És irismã da seipente,

Te finguindo dinucente,

Mode eu caí no arçapão!


FONTE: Milton Siqueira, Emoções. Rio Grande do Norte - 1950.







segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

O VIRUS E O VELHO - PARTE II

 


-Olá Dotô! A gente se encontrou de novo.

Em março eu tive aqui proseando com vosmicê sobre o tal Corona Virus. Se arrecorda?

Pois num é que  eu estou contaminado por ele!

E tem gente que me pergunta:

“Compadre você pegou a Covid 19?”

Arrespondo com o espríto de Seu Lunga: - Não, foi ela quem me pegou!

Mentira? Não! Pegou mesmo na última quinta-feira deste mês de Santa Luzia.

Comecei a sentir uma dor no juízo, aqui dentro da cabeça.  Adepois veio um cansaço grande,

Um esmorecimento parecia até que eu tinha levado uma surra de cipó brocha.

Homi, Dotô, pra mió o sinhô intendê, era como se eu fosse  um  tejo e tivesse passado umas duras horas pelejando com a cascavel.

Pra piorar a situação  chegou a caganeira, destas de chicotada, que a gente vai se acabando pelo fundo igualzim a panela veia.

Perdi as contas que fui a casinha. Ah vírus miserável!

As caixas dos peitos  num foram afetadas, respiro tal qual um bezerro novo.

O velho bombo (coração) continua a bater na merma cadência de 56 anos atrás,  que dizer, menos, mas bate bem.

Por onde será que esse condenado entrou?

Num importa, né dotô?.

Eu quero mesmo é fazer com que ele saia de dentro de mim e vá pros quintos do Inferno.

Bicho nojento

Sujeito homicida dos sonhos alheios

Destruidor de famias

Isso só pode ser o peido do Satanás espaiado  pelos cinco continentes.

Mas eu vou miorá, Vou sim!

Anote aí Seu dotô

Mané Beradeiro não é homem que vai morrer assim facilmente.

Inda vou abrir muitas cancelas,

passar por mata-burros,

Deixar rastro em estradas  e espaiar versos como quem planta  pé de fulô.

 

Parnamirim-RN

07 de dezembro 2020

 

 Observação: Se você não leu a Parte I  clique aqui e leia: O Velho e o Vírus

quarta-feira, 25 de março de 2020

O VÍRUS E O VELHO



Meu doutor eu sou do mato.
Lá não tem televisão, o meu rádio tá quebrado,  telefone tem também não!
Eu senti o mundo parado
O povo todo trancado
Numa grande aflição!
Quando procurei a feira,
Na cidade do meu chão,
Nem bancas estavam lá.
Surgiu minha  indagação:
-O que é que se assucede?
-Será guerra mundial?
Mas não ouço um estrondo, nenhum um tiro de canhão.
Doutor me arresponda:
-Que está acontecendo?
E o doutor foi explicando coisa que eu não sabia.
Um tal de coronavírus vindo lá do estrangeiro,
Tá matando muita gente, muito mais que Lampião,
Que os peidos de Jandira, que o bafo de Tonhão,
Que  inhaca de Raimundo,
Que a fome no meu sertão.
Eu fiquei agoniado e disse para o doutor:
-Será possível que não tenha um homem que mate esse sujeito?
Que fure os olhos dele, quebre as pernas por inteiro, destrua as suas armas, lasque logo este estrangeiro?
Doutor, só mais uma pergunta. Pode ser?
-Esse tal de coronavírus come mesmo o quê?
Menino! Quando o doutor falou fiquei todo arrepiado. Minha alma deu um pulo, meu corpo ficou gelado.
Vou voltar pra minha casa e ficar todo trancado.
O tal do coronavírus come velho pra todo lado!

Mané Beradeiro
Parnamirim/RN - 25 março 2020



 

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

MANÉ BERADEIRO TEM PAGINA NO FACEBOOK

Agora o leitor e admirador de Mané Beradeiro poderá  conhecer um pouco mais de tudo que ele escreveu visitando a fanpage no Facebook Mané Beradeiro.
Lá além de ver todos os folhetos que estão disponíveis para venda e outros livros assinados por Mané Beradeiro, o visitante poderá ver brevemente outras ações que serão compartilhadas naquele espaço.  Desta forma pretende Francisco Martins alcançar um maior número de pessoas que ainda não conhece o trabalho que ele realiza através da literatura de cordel e suas aulas lúdicas. Visite, dê uma curtida e divulgue em suas redes sociais.

 

quarta-feira, 27 de junho de 2018

COMENTANDO MINHAS LEITURAS EM CORDEL: APRENDENDO COM J.BORGES

O poeta de bancada é aquele que tem por ofício construir o seu verso sem se preocupar com o tempo. A ele é dado todos os minutos, horas e dias para burilar a sua estrofe e, se isso fizer, ele vai cada vez mais aperfeiçoando sua produção textual.
No tocante à literatura de cordel associa-se a esse trabalho a aplicação da métrica, rima e oração, trio indispensável para vestir com beleza, sonoridade e elegância o poema.
Quem ler meus folhetos verá que muitas vezes eu pequei nessa pratica. Aos poucos fui aprendendo graças às críticas e também porque busquei aprender observando as sextilhas e outras formas que lia nos folhetos, sempre tendo o cuidado de selecionar poetas de renome.
Estou crescendo enquanto poeta, mas confesso que até agora não senti o desejo de consertar os erros que cometi em meus folhetos. Eles são testemunhas da minha evolução.
Hoje, quando eu leio qualquer poema de cordel eu tenho um olhar que se aprofunda sobre a sua estrutura, é uma forma de aprendizado e também me dá a certeza de que não há poeta perfeito.
Recentemente li o romance "Nazaré e Damião o triunfo do amor entre a vingança e a morte", de José Francisco Borges. São 154 estrofes num enredo com cenas cheias de ações e sentimentos. A história tem como palco o interior de Minas Gerais. J .Borges, ao meu ver, não foi feliz na construção das estrofes 144 a 148. Nas quais há um rendimento muito pobre no temperamento e caráter de Tenório, o vilão e de Maria, mãe de Nazaré.  O texto que li não determina a data da sua criação. Talvez tenha sido um dos primeiros de J.Borges, pois ele mesmo se antecipa às futuras críticas, pedindo desculpas:

"Me desculpem se não fiz
Uma história bonita
E quem for grande poeta
Duma caneta perita
Me perdoe se está errado
Que sou novo na escrita"
(Estrofe 153)

Realmente há rimas que o poeta tropeçou, tais como:

1) ninguém/ninguém/bem
2)rapaz/audaz/satanás
3)rapaz/voraz/satanás
4)desaparecer/tomar/descansar
5)surpresa/mesa/malvadeza
6)dia/viam/bebiam

J.Borges é um grande xilógrafo? Sem dúvida, o maior do Brasil e o mais premiado, mas isso é outra história.

Mané Beradeiro
27 de junho de 2018

Referência: Coleção  Cordel J.Borges. São Paulo: Hedra, 2007.

Leia também as outras resenhas:

 Os 12 Pares da França - Quem foram eles?
A Presença Feminina
Zé Saldanha - centenário de nascimento
A Confissão de um drogado - Zeca Pereira
Boca de Noite - de Robson Renato
O cordel de bandeira verde - Marco Haurélio e Antonio Francisco
Chico Catatau - Izaías Gomes
Eventos sob o sol a pino - incidentes sob a lua cheia - Aderaldo Luciano
O Pavão Misterioso - José Camelo de Melo
A luta de um cavaleiro contra o bruxo feiticeiro - João Gomes de Sá
Ivanildo Vila Nova - Marciano Medeiros


quinta-feira, 7 de junho de 2018

POETA MANÉ BERADEIRO PREPARA CANÇÃO DO CANAVIAL

O poeta cordelista Mané Beradeiro, nome sob o qual respira Francisco Martins, já publicou 47 folhetos, sendo 38  no estilo de cordel e os demais são poemas de versos livres.  Os temas abordados pelo autor vão desde histórias bíblicas, ecologia, biografias, relacionamentos, afrodescendentes, política, folclore, etc Cada folhetotem o preço de R$ 2,00.
O autor pretende ainda esse ano lançar outros folhetos, todos no gênero de cordel, num total de 5 títulos:
  Juvenal Antunes: o feio poeta de belos poemas - cordel
  O novo rei - cordel-livro
  Dois doidinhos arruaceiros - gracejo - cordel
  Onde está a Madalena? Uma História de amor eterno - cordel
 


Precisamente há duas semanas, o poeta vem trabalhando em pesquisa para concluir o seu mais recente cordel que vai tratar sobre a história dos engenhos do vale de Ceará-Mirim. O Folheto vai ser uma importante ferramenta pedagógica nas mãos de professores. A primeira parte traz o texto de cordel, depois vem a relação com os nomes de todos os engenhos que existiram no antigo Vale de Ceará-Mirim, iconografia, textos  de escritores (Edgar Barbosa ,Nilo Pereira, Madalena Antunes) em prosa, correlatos com o tema abordado e por fim a bibliografia consultada. O lançamento desse trabalho ocorrerá em julho, quando a cidade completa aniversário. O título será: Canção do Canavial no Brioso Vale do Ceará-Mirim - origem, apogeu e decadência dos seus engenhos.


sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

CHAMEGO ETERNO



Quando nós dois se casamos,
Fizero nós prometê:
"Cada um cuida do ôtro
Inté o ôtro morrê".
E nós vem fazeno assim:
Ocê cuidano de mim
E eu cuidano diocê.


Mas tô sintino que o tempo
Tá quereno me alertá,
Que "meu tempo" tá acabano,
Que devo me "prepará".
Esse "está" chegano a hora
É o que me apavora!
-QUEM CUIDA DO QUE FICÁ?

Sei que um vai morrê primeiro,
Não há o que contestá.
Quem já partiu, não importa,
Não vô me preocupá.
A minha preocupação,
Acredite meu irmão,
-É ESSE QUE VAI FICÁ!

É que nós vê tanto véio
Puraí, abandonado,
Que bate aquele medo
De tê sido "premiado".
Tratam véi que nem minino,
Daqueles ruim, bem traquino,
Que deve sê castigado.

Mas por que sê castigado,
Alguém pode respondê?
Que fato delituoso
Foi capaz de cometê
Seu João e Dona Maria?
-Sera que foi a ousadia
DE QUERÊ ENVELHECÊ?

Mas pra tudo tem um jeito,
Pra tudo tem solução.
Que tal nós pedirmos juntos
A DEUS PAI, em oração,
Pra levá nós dois, juntinho?
-Ninguém ficava sozinho,
Nem tinha separação.

E pra obra sê completa,
NÓS IA NUM SÓ CAIXÃO.
Sem medo de ficá só,
Sem medo de humilhação.
NÓS DOIS LÁ, ENCAIXOTADO,
BEM JUNTINHO, BEM GRUDADO,
NA MAIÓ CHAMEGAÇÂO.

FIM

Marcelo José Gomes Costa


Imagem coletada do seguinte endereço: http://www.fotolog.com/dadoosilva/62026036/

domingo, 4 de fevereiro de 2018

AS TRÊS COMADRES



A menina do vaqueiro ficou sendo muito amada

Por toda a região sua fama era dada

No resguardo da mulher vieram ao pé da serra

Três pessoas bem prendadas.
 

Uma era raizeira, trouxe nas mãos um facheiro

Deu ao nobre vaqueiro, falando num linguajar bem rasteiro:

-Compadre, pelas horas que canta o dia, pelo frio que veste a serra,

Pelo peixe escondido na loca e o boi que vagueia no mato.

Eu entrego um facho de luz – pra alumiar os caminhos desta sua fia – nos passos do Bom Jesus!
 

A segunda visitante, rezadeira do sertão, sacerdotisa do povo, pastora de coração,

Com ramos de pião-roxo expulsou daquele lar,  a ação do mau olhado,  com a seguinte oração:

-Ia Jesus andando pelas ruas de Nazaré

Quando encontra Pedro – sentado num lugar qualquer.

“Que tens tu, Pedro?” – Perguntou o Salvador

“Tenho mau olhado” – que fariseu me botou.

Jesus  com pião roxo – ligeiro Pedro curou.
 

A terceira que entrou, numa bacia jogou, moeda de quarenta reis,

E  sentenciou:

-Vamos cobri-la com água, lavar a nossa cabrita.

Para que durante a vida seja forte a sua sina,

Nunca lhe falte  dinheiro, nem amor a essa menina!
 

E assim, após o banho, dentro de um caçuá,

Dormia bem protegida de tudo quanto é mal

A semente do vaqueiro, mandacaru sem igual.

 

Mané Beradeiro

Parnamirim –RN, 05 de setembro 2017


ACOMPANHE ESTA HISTÓRIA POÉTICA LENDO OS TEXTOS ANTERIORES NOS LINKS ABAIXO:

Pedido
A Resposta da donzela
Núpcias sertanejas
Desejo de buchuda
O Parto

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

O POBRE COITADO

 
 Os poemas de Marcelo José Gomes Costa são  como a água do pote, saborosos, refrescantes. Não me canso de admirar o seu estilo.  Neste "O Pobre Coitado", o eu lírico nos prende  desde os primeiros versos. Na simplicidade do falar caipira, o poeta usa o cordel para nos dá uma lição de sabedoria.  Verifiquem leitores, leiam e tirem suas conclusões.


Cumpade, DEUS pôs dois zóio
Aqui no meu coração.
Num fui perguntá a ELE
Os mutivo ô a razão
Pois acho qu'eu sei porque:
SÓ DEVE SÊ MOD'EU VÊ
O SOFRÊ DOS MEU IRMÃO.

Com os zóios do coração
Fica mais fácil inxergá
A dô que o ôtro sente
Sem nada lhe perguntá.
E o coração, meu cumpade,
Acredite que é verdade,
Num custuma s'inganá.

Quand'eu olhava, cumpade,
Usano os zói da razão,
Lhe confesso e inté lhe peço
Que me conceda o perdão
Por agir como um bandido
Ao tratá os "disvalido"
Sem a menó compaixão.

Compaixão que um certo dia
Eu cheguei a precisá
Mas você sabe, cumpade,
Quem veio me ajudá?
Um ''daqueles disvalido"
Qu'eu tratei como um bandido
Foi quem vêi me alevantá.

Pois foi um "deles", cumpade,
Que veio me socorrê
Mermo sabeno que eu
Dêxava ele morrê
S'eu tivesse em seu lugá.
E isso me fez pensá:
E agora, o que fazê?

Sem precisá dizê nada,
Só com um gesto m'insinô,
Que a vida é bem mais fácil
Praquele que tem amô.
E quem também intendê
Que um dia só vai colhê
Aquilo que se plantô.

Foi ali, naquele instante,
Qu'eu vi quant'eu tava errado.
Ao vê sua mão istendida
Fiquei mêi disconfiado,
Mas seu gesto me amostrô
Que na verdade "eu que sô"
O mais pobre dos coitado.

Marcelo José Gomes Costa

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

ALÉM DE VÉI, INXIRIDO

 Autor: Marcelo José Gomes Costa

Tu sabe o que um véio sente
Quando vê uma mulhé,
Disfilano em sua frente
Cumo quem qué e num qué?
-Ispere só invelhecê,
Que aí sim, tu vai vê
E sabê como é que é.

Ocê pensa que o véio
Olha só de inxirimento.
Num se apresse no pensá,
Nem faça tal julgamento.
Amanhã tu vai sabê
Qu'esse olhá num dá prazê
Só lhe traz mais sofrimento.

O véi sofre s'alembrano
Dum tempo que já passô.
S'alembra da juventude,
Seus "tempo" de predadô.
E quando uma delas passa
Charmosa, cheia de graça,
Inda se vê "caçadô".

Tem uns véi que num s'inquadra,
Mas esses são exceção.
Sai da farmácia feliz
Com a "solução" na mão.
Dispôs que o azulzim tomá
Só dá tempo festejá
A sete palmos do chão.

Sei que tem mulhé que abusa,
Mas quem sô eu pra acusá?
Mas pra que saia tão curta
Se num fô só pra amostrá,
O "Pico do Everest",
Sem que o cabra da peste
Se mexa nem do lugá?

E adepois ficam chamano
O véio de inxirido.
Num vô defendê ninguém
Pois isso num faz sentido.
Mas sem querê ô quereno,
Acabam sim, REVIVENO,
O que já tava "MURRIDO".

Já "MURRIDO' e INTERRADO
Por força da NATUREZA,
Qué dá sinal que tá vivo
Por conta da SAFADEZA.
Acha milhó s'inganá
Ao num querê inxergá
Que tudo nele é MOLEZA.

Quando a cabeça num pensa
Se colhe decepção.
O TREM JÁ PASSÔ PRA ELE,
JÁ PARÔ N'OUTRA ISTAÇÃO.
Precisa se conformá
Que nada mais vai mudá
A sua situação.

SE CONFORME COM A VELHICE
QUE É PRESENTE DIVINO.
QUEM VELHO NÃO QUER FICAR,
QUE MORRA QUANDO MENINO.
MAS SAIBA RECONHECER
COMO É BOM ENVELHECER
SEM PERDER RUMO NEM TINO.

FIM



Nota: o autor é natural de Campina Grande-PB, nasceu em 1948, é bacharel em Direito e aposentado. Escreve poemas como forma de passatempo, publicando nos grupos das redes sociais. Essa é a primeira participação do poeta no meu blog.

domingo, 10 de setembro de 2017

quarta-feira, 1 de março de 2017

COMENTANDO MINHAS LEITURAS: NAS VEREDAS DE MIM MESMO

Livro: Nas veredas de mim mesmo
Autor:Hélio Crisanto
Gênero: poesia
Editora: CJA, 1ª edição, 2016
Leitura: 24/02/2017

As 140 páginas do livro "Nas veredas de mim mesmo" formam um grande cântico do poeta Helio Crisanto em homenagem ao sertão e seus múltiplos valores.  Gosto da poesia de Hélio Crisanto, tenho acompanhado seu trabalho pelas redes sociais e dos três livros por ele lançado, dois estão em minha biblioteca. O poeta e escritor  Hélio Crisanto constrói com magnitude estrofes (septilhas e décimas) que nos dão prazer."Nas veredas de mim mesmo" é um livro onde se sente  o peso da vida nordestina, não foi à toa que o primeiro poema é:

A BAGAGEM DO TEMPO

Quando a chama do corpo se amofina,
O cansaço vai logo aparecendo...
Nossa alma de dor segue chemendo,
Os incômodos lhe atacam na surdina.
Se o relógio do tempo determina,
Logo a gente só pensa em despedida,
Corpo frágil, e a voz já combalida
Já não sente prazer em quase nada;
A bagagem do tempo é tão pesada
Que não cabe na mala dessa vida.

E com a experiência da sua vida e o coração pulsante pelas coisas da sua geografia, do seu sertão de ontem e de hoje, Hélio Crisanto vai escrevendo seus poemas, tendo como temas os mais variados assuntos e peculiaridades desta terra árida e fértil de lembranças. Flora e fauna são telas constantes em suas estrofes. Há lirismo, humor, política, cidadania, patriotismo, fé, romance e muito mais. Como leitor eu fiz a minha lista dos melhores poemas desse livro. Ei-la:
1) Amanhecer caboclo
2) Na minha infância era ssim
3)Nordestinês
4)Meu passado infantil não foi bonito mas eu sinto prazer em recordar
5)No sítio de João Bezerra
6)O filme do tempo
7)Casa de matuto
8)Doenças do meu sertão

Hélio Crisanto vive em Santa Cruz/RN - quem desejar adquirir o livro diretamente com o autor basta escrever para helicrisanto@bol.com.br/ crisantino30@hotmail.com.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

MANÉ BERADEIRO LANÇA SEU 42º FOLHETO HOMENAGEANDO O JORNALISTA WODEN MADRUGA

O poeta cordelista Mané Beradeiro lançará amanhã, sábado, dia 14 de janeiro, na II Feira Livre, que acontecerá no Mercado de Petrópolis, em Natal, o seu 42º folheto,  que é uma homenagem ao jornalista Woden Madruga,  um dos mais veterano e atuante no jornalismo potiguar. O folheto não é uma biografia, mas um poema que trata sobre o folclore tendo como principal protagonista o bode Woden.  A ilustração da capa foi feita pelo jornalista, chargista e cartunista Eliabe Alves.
Ruminante cavicórneo

Que pra roça não voltou

Depois que molhou bigode

Ser humano se tornou

Formou-se em Jornalismo

Nunca mais ele berrou.



segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

O NATAL DO POETA



Não há nada lá no Livro
Sagrado aos Cristãos
Que diga ter sido o galo
Um cantor de multidão.
Não existe naquelas páginas
Inerrantes de inspiração
Prova que foram três os Reis Magos
Da visitação.
Então, como poeta, que tem  completa permissão,
Convido o nobre leitor a  viajar na ficção,
Pensar no nascimento de quem trouxe Salvação
Misturar Bíblia e Poesia,  Anjos, José e Maria
Arrancar da tradição ibérica, a agonia, de que
No  Presépio havia neve em  demasia.
De tudo que nós sabemos, vai ficar neste poema,
Um jumento cansado, uma virgem escolhida e
Um José cheio de fé.
É verdade que o casal não encontrou nenhum local
Pra arriar seus apetrechos. 
A noite foi chegando,  temperatura caindo, 
A mulher de José,  gemendo  da gestação,
Disse ao marido: “-Se aveche meu José, encontre
Qualquer lugar, do jeito que a coisa tá, não demora Jesus chegar”
O jumento entendeu aquela situação e cansado da viagem deu rumo
A  condição, fez frecheira  na rodagem, invadiu  uma fazenda, rompeu cancela
Fechada, adentrou numa cocheira.
 José entendeu o fato,  deu um trato no recinto
Palha serviu de cama, boi dividiu ambiente
Estrelas deram  a Maria:brilho, coragem e força.
Corais de Anjos estavam com o glória entalado
E quando Jesus nasceu, ouviu-se choro sagrado
Do Céu desceu legião de seres celestiais,
Cantando glórias ao menino, esperado por demais!
Fuxicaram  aos pastores,  daquela região:
“-Corram agora, vão ver o Verbo  Criança, o Deus que se fez Homem,
A Estrela da Manhã, o Leão de Judá,  aquele que veio ao mundo
Para o céu escancarar”
E foi assim meu leitor, que o poeta lembrou
O nascimento daquele que só plantou o amor.

Mané Beradeiro – 19 dezembro 2016