Padre José Freitas Campos |
Quem não conhece o profeta da paz? Um cearense nascido em Fortaleza, Foi bispo auxiliar no Rio e Arcebispo de Olinda e Recife, a partir de 12 de março de 1964. Como bispo auxiliar do Rio de Janeiro, promoveu a Cruzada de S. Sebastião para a construção de casas para as famílias pobres e criou o Banco da Providência para a manutenção das obras de caridade. Sonhando com a união de todos os bispos brasileiros, surgiu a CNBB da qual foi o seu primeiro secretário geral por dois mandatos. Como pastor de Olinda e Recife (1964-1985), foi um dos bispos mais atuantes do Concílio Vaticano II. Este baixinho, frágil, sorria feliz por ver os novos caminhos pastorais que a lgreja ia assumindo.
Vestindo uma batina creme e usando uma cruz peitoral
de madeira se apresentava como pastor de todos. Deixou o Palácio dos
Manguinhos, e foi morar na sacristia da Igreja das Fronteiras. Ergueu uma
parede para fazer um quarto, onde tinha a cama e uma mesa para estudar e
escrever. Durante o Concilio, com um grupo de bispos assumiu o compromisso de
ser lgreja dos pobres e para os pobres, decisão esta denominada "Pacto das
Catacumbas".
Sofreu
purificando-se na noite escura. Até meados dos anos 80, seu nome não podia ser
mais publicado ou pronunciado. Participou do movimento internacional com os
pobres ‘’mãos estendidas" e lançou o grande projeto de "um ano 2000
sem fome’’. Não lhe foi poupado o sofrimento, a incompreensão, a dúvida sutil
sobre suas intenções. Contudo, aceitou as piores perseguições contra a sua
pessoa e o seu pastoreio no silêncio que santifica.
Após se tornar emérito, D. Helder recolheu-se no silêncio:
nem uma palavra ou declaração. Como sempre fez continuou a se levantar de madrugada, abrir a
janela, e orar por sua amada Olinda e Recife. Suas vigílias deram-lhe forças
espirituais ao longo da vida. Faleceu, santamente, no dia 27 de agosto de 1999,
aos 90 anos. Uma vida entregue totalmente a Deus, à Igreja e aos pobres mais
pobres. Conheci-o amiúde. Era muito ligado à Igreja de Natal. Esteve aqui
presente em grandes momentos da nossa caminhada pastoral: pregando o retiro do
clero, como homileta da ordenação episcopal de D. Costa, em 1972, recebendo o
titulo de cidadão norteriograndense e em tantos outros acontecimentos
eclesiais. Por estar presente nas assembleias regionais, nos cursos de canto
pastoral e em tantos outros eventos, ele me chamava pelo nome. Tinha-o em grande
estima. A cada ano, por ocasião do encerramento do curso de canto pastoral no
Auditório do Colégio São José em Recife, estava sempre dando a sua palavra
profética de ânimo e de esperança. De quando em vez ia visitá-lo na sua pequena
casa ao lado da Igreja das Fronteiras. Ele fazia questão de abrir a portaria e
acolhia a quem o procurava.
Combinei com o Pe. Baronto de irmos visitá-lo. Atendeu-nos bem, mas já estava um tanto quanto fragilizado pelo rigor dos anos. Não me reconheceu mais. O Pe. Baronto me apresentou dizendo-lhe que era um compositor nordestino e começou a entoar cantos de minha autoria. Ele sentado regia como se fosse uma grande orquestra composta de gente cheia de esperança. Foi a última vez que pude contemplar o rosto inconfundível e sereno deste profeta da Igreja do Nordeste e do Mundo. Anos depois por ocasião do seu centenário do nascimento tive a grande graça de compor um hino em sua homenagem cujo refrão assim rezava: Um nordestino, um profeta audaz, D. Helder Câmara, pastor da paz.
Pe.José Freitas Campos - do Presbitério de
Natal