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segunda-feira, 4 de novembro de 2024

HOJE É A DATA DOS 70 ANOS DA POSSE DE JOSUÉ MONTELLO NA ABL


 Josué Montello nasceu em 21 de agosto de 1917, no Maranhão, e  faleceu no dia 15 de março de 2006. Assim, desta forma tão sucinta se expressa o nascer e o morrer de um homem que existiu por 88 anos.

Ele foi um gigante na literatura brasileira, um cidadão que prestou serviços relevantes ao seu país,  aqui e no exterior. Há muito para dizer sobre Josué Montello e muito mais para se aprender sobre ele e com a sua obra.

Imortal, entrou na Academia Brasileira de Letras em 4 de novembro de 1954, onde viveu por quase 52 anos, sendo o ocupante da cadeira 29. O poeta Mané Beradeiro, celebrando os 70 anos da posse de Josué Montello na ABL, está escrevendo um cordel bibliográfico sobre o mesmo, que vai ser lançado brevemente.

 

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

COMO APARECEU TIBÚRCIO GAMA

 Hoje iniciamos uma série de postagens sobre curiosidades da literatura e escritores. São textos colhidos nas minhas leituras que estarei disponibilizando a você, que sempre passa por aqui e curte as postagens.

A primeira é sobre  Artur de Azevedo.

COMO APARECEU TIBÚRCIO GAMA

    Todos os domingos, desde a fundação do Correio da Manhã, publicava Artur Azevedo, na primeira página do jornal de Edmundo Bittencourt, um conto de inspiração jovial. 
   Regularmente, o contista surgia com a sua anedota, o seu pequeno caso brejeiro, ou a historieta de passatempo, e divertia os leitores com a espontaneidade de sua graça.
     Não tardou surgissem no caminho do velho escritor as críticas hostis das novas gerações. O conto, assim como Artur Azevedo o construía, parecia-lhes modalidades obsoletas de narrativa. Havia agora uma plêiade mais ágil e mais interessante de contistas modernos, sensivelmente superiores ao autor dos Contos Possíveis. Por que não dar oportunidade a esses valores novos?
    E Artur Azevedo, um dia, recebe a notícia de que o Correio da Manhã não mais publicaria o seu conto dominical. Em vez da página habitual do antigo colaborador, o jornal abrira um concurso destinado a selecionar, entre os trabalhos da nova geração, os de mais alto merecimento.
    Com efeito, assim se fez. E o premiado, na primeira seleção do Correio da Manhã, é, na verdade, um desconhecido: Tibúrcio Gama.
    Ao ser conhecido o resultado do concurso, Artur Azevedo se apressou em escrever uma carta ao jornal, com esta notícia: o Tibúrcio Gama era ele! o conto premiado era seu!
   Interessado em saber se poderia ombrear com os escritores novos, o velho mestre recorrera ao expediente de remeter um conto sob pseudônimo, e com outra letra, para a seleção do jornal...
    E concluía: "Confesso" - Escreveu, fechando a carta - "que a escolha não me contrariou, mas como não posso nem devo receber o prêmio de um torneio oferecido aos moços, rogo aos meus ilustres colegas que destinem os 50$000 de Tibúrcio Gama a um conto suplementar, que seja efetivamente escrito por um moço."
 
 

Fonte: Anedotário Geral da Academia Brasileira -  Josué Montello - 3ª edição - Livraria Francisco Alves Editora S.A,  Rio de Janeiro, 1980.    


terça-feira, 8 de outubro de 2024

ESCREVEU COM AUTORIDADE, VATICINOU COM IMPERFEIÇÃO


Não queira ir além das suas aptidões. Com elas você pode ser bom, extremamente genial, mas entrar em campos que não lhe dizem respeito pode levá-lo a dizer e fazer coisas  não louváveis. 

Veja o exemplo de Victor Hugo, escritor francês, consagrado internacionalmente. Em 16 de julho de 1870 plantou um carvalho no jardim da sua casa e disse: "Dentro de cem anos, não haverá guerras nem papa".  Errou feio. 154 anos depois, ainda temos guerras e há papa.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

A IDADE DO HOMEM

     "Deus fez o homem, deu-lhe trinta anos de vida e assegurou-lhe um destino de felicidades sobre a terra. Em seguida fez o burro, dando-lhe a condição de ser escravo do homem, com direito de viver cinquenta anos. O burro pensou, pensou, e refugou vinte. Logo depois, o Senhor fez o cão, para o ofício de guardar o homem e roer um pedaço de osso, com trinta anos de existência. O cão achou que dez lhe bastavam e abriu mão do resto. Por fim, criou Deus o macaco, a quem deu cinquenta anos de vida, com o ofício de fazer rir o homem. O macaco coçou a cabeça, fez uma careta e dispensou vinte anos: para palhaço, bastavam-lhe trinta.
    E aí entrou o homem, com o seu pedido velhaco, que o Senhor prontamente atendeu:
    _ Vinte anos que o burro não quis, vinte que o cão enjeitou, vinte que o macaco recusa, dai-nos, Senhor, eu ficarei com eles.
    E assim se explica a vida do homem: até os trinta, vive forte e feliz; dos trinta aos cinquenta, com os encargos de família, vive a idade do burro; dos cinquenta aos setenta, de sentinela à família, vive o tempo do cão; e afinal, dos setenta aos noventa, vive a parte do macaco, fazendo rir a família com a sua rabugem e a sua caduquice."

Você provavelmente já leu a história acima ou talvez tenha ouvido. Ela é propagada  pelas redes sociais, contada em conversas de amigo e outros meios. Eu mesmo sou testemunha disso. Já não sei quantas vezes escutei alguém contar essa história. Mas quem é o autor ou a fonte dela?

Hoje, gostaria de fazer justiça a isso. Chamo então a atenção do leitor para a existência do escritor Xavier Marques, baiano, natural de Itaparica, que viveu entre os anos de 1861 a 1942. Veja sua biografia clicando aquiXavier Marques.


Foi ele o autor do livro  " A Cidade Encantada", publicado em 1919, coisas de 105 anos passados, onde vamos encontrar a publicação do apólogo.

Eis aí as fontes que chegam para escoimar a falha de que esse texto é de autoria ignorada.

Francisco Martins
2 de setembro 2024


sexta-feira, 23 de agosto de 2024

UM FLATO DE 30 ANOS

Tenho um texto em prosa, (no tamanho de um folheto de cordel) escrito por Renato Posterli, que trata sobre um assunto muito curioso, a saber: pum, peido ou flato.

O autor é médico psiquiatra e professor de medicina legal da Universidade Federal de Goiás-UFGO e outras instituições.

O trabalho não é de hoje, mas coisa de 30 anos passados. Foi lançado pela Boágua Editora, em Natal, 1994. Não é um trabalho chulo, mas sim feito com seriedade.




quarta-feira, 26 de junho de 2024

QUANDO A HISTÓRIA É ESCRITA EM FERRO E IMAGEM

 Sempre que posso eu gosto de sair fotografando meu espaço. Registro com a câmera do celular coisas que aparentemente podem não ter muito significado ou não interessar a quase ninguém, mas a mim, sim. Tenho interesse por coisas da História, as pequenas, que falam dos grandes. Foi assim, que em 2008, 16 anos passados, eu resolvi andar pelas ruas do bairro da Ribeira, em Natal. Fotografei  o local onde outrora foi uma casa que serviu de berço à Câmara Cascudo. No antigo ponto comercial, que hoje não mais funciona, existia uma placa sinalizando que ali nasceu nosso gênio cultural.



A placa era de metal, um presente dos amigos do escritor, que a fixaram naquela parede em dezembro de 1955. Tempos depois da minha visita, a placa foi extraída pelos vândalos, deve ter servido de moeda para compra de drogas.

O teor da placa:  "Nesta casa, em 30 de dezembro de 1898, nasceu o insigne escritor, Dr. Luis da Câmara Cascudo historiador da Cidade do Natal, Mestre do Folclore e glória definitiva da cultura brasileira. Homenagem dos seus amigos. Natal, 30 de dezembro de 1955".

Francisco Martins - 26 de junho de 2024.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

LIVRO ORGANIZADO POR EVA POTIGUARA GANHA PRIMEIRO LUGAR NO EIXO INOVAÇÃO - PRÊMIO JABUTI 2023


O Prêmio Jabuti 2023 é distribuído em quatro eixos, que subdividem em vinte e uma categorias. Os eixos são: 1) Literatura ( 8 categorias); 2) Não Ficção ( 6 categorias); 3) Produção Editorial (4 categorias) e o 4º) Inovação (3 categorias).

Foi no Eixo INOVAÇÃO,  na categoria Fomento à Leitura, que a escritora EVA POTIGUARA( Evanir de Oliveira Pinheiro) foi premiada em primeiro lugar, com o seu livro: Album  Biográfico Guerreiras da Ancestralidade do Mulherio das Letras Indígenas.

"O projeto visa a inclusão das escritoras indígenas na literatura, já que muitas são estigmatizadas como mulheres de tradição oral, sem qualidade em sua escrita. Criou a oportunidade de 80% publicarem pela 1ª vez e de parte das escritoras saírem das aldeias e terem contato direto com os leitores. A obra tem distribuição gratuita física e em e-book. Circula em bibliotecas públicas  e particulares de instituições de ensino". (


O trabalho organizado por Eva Potiguara concorreu com mais quatro participantes. Quem desejar conhecer a obra premiada pode baixar o livro, versão digital,  clicando aqui Guerreiras da Ancestralidade.

Parabenizamos a Eva Potiguara pelo sucesso.


Francisco Martins

quinta-feira, 22 de junho de 2023

DA VEZ QUE MILTON SIQUEIRA ESCREVEU COMO POETA MATUTO

O Poeta Milton Siqueira (1911-1988) considerado um dos representantes da poesia marginal, escreveu também na linguagem sertaneja. A prova disso está no livro Emoções.


 Truvuada

Ao colega José Praxedes, o maior poeta vaqueiro do nordeste

Chuva, relampo e truvão,

Essa noite foi bunito,

So se uvia a exprosão

Pulos artos infinito!


O pai da boa cuaiada

Tava brabo qui nem feria,

E sapecava as espada

Dos relampo nas esferia!


Cabra trimia de medo

Quando as luz alumiava

Sub os serrote e os penedo,

E os curisco os ceu riscava!


Os aniná dos pulero

E os outro dos currá,

Correro tudo ligero,

Pra mode se ocurtá!


Era grande a tempestade,

Paricia tiroteio

Ou metraia de verdade,

Ou o qui dizê nem seio!


Na minha rede inroscado,

Rezava a Nosso Sinhô,

De frieza intiriçado,

E trimendo de pavô!


Uma faisca caiu

Numa oitica veia,

Uma zuadão se uviu

Pru riba de nossas teia!


Pensei cum eu ca cum migo,

O mundão hoje se acaba,

Pru mode qui isso é castigo

Que sub os mortá disaba!


As ventania chiava

Como as cascavé zangada,

E as têia arrebentava

Numa fura indimonhada!


Pru toda parte curria

Um riacho invulumoso,

Os bucho dos rio inchia

Cumo dragão pavoroso!


Qui São Jiromo nas vala,

Pru toda sua bondade,

Rezava as muié na sala

Do meu vizinho e cumpade!


Os truvão arribombava

Cumo bomba de canhão,

Os relampo arrelampava

Como boca de vurcão!


Os chão tava qui nem papa,

Dave lama nos jueio,

Hoje aqui ninguem inscapa,

Tive no imo esse anseio!


Eu tinha me alevantado

E abrido a minha jinela,

Mode inspiá assustado

A frevura da panela!


O ceu simiava um pote

A chuvê chuva pra baxo,

E as terra era um caçote

Merguiando num riacho!


A tão danidas trumenta

Cuma essas do sertão,

Ninhuma corage infrenta,

Nem se fô Napulião!


Mondé

Ao Veríssimo de Melo e ao Câmara Cascudo


Fulô, eu não sou preá,

Mode caí im mondé...

Tu tem no peito, muié,

Um gato maracajá...


A tuarma é cascavé

Pricurando invenená

Meu coração a briá

Chêio de amô e de fé!


Num sou Adão, traidera,

Muié ruim, fuxiquera,

Mode cumê a mação!


És irismã da seipente,

Te finguindo dinucente,

Mode eu caí no arçapão!


FONTE: Milton Siqueira, Emoções. Rio Grande do Norte - 1950.







terça-feira, 30 de maio de 2023

DADOS BIOGRÁFICOS DE GILBERTO ARANHA - O JOVEM ESCRITOR POTIGUAR

Voltemos à conversa sobre Gilberto Aranha. Deixei o leitor sem ter algumas informações  sobre ele, porque conforme anunciei, precisava ter certeza sobre elas. Vou enumerá-las:

1) Teria Gilberto Aranha realmente morrido aos 15 anos?

2) Quem foram seus pais?

3) Qual a causa da sua morte?

Para encontrar a resposta a essas perguntas eu sabia que teria que me dedicar à pesquisa. Tinha anotado em minha agenda ir ao cartório solicitar o atestado de óbito do jovem escritor e também mergulharia de forma profunda nos jornais que estão disponíveis na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional. Mas, quem tem amigo, tem um tesouro, e eu tenho entre meus amigos, um confrade, um pesquisador, escritor e irmão das Belas Letras. É o André  Felipe Pignataro Furtado, que ao ler a minha publicação sobre Gilberto Aranha, foi ele mesmo buscar as respostas que eu ainda iria atrás.

E na manhã de ontem, logo cedo recebi dele as respostas. Portanto, todas as informações que aqui vou mostrar eu devo e agradeço ao leitor e pesquisador André Felipe.

Gilberto Aranha realmente escreveu "Aspectos da Vida" aos quinze anos, embora não tenha publicado. Isso só aconteceu  em 1932, o que levou Terra de Senna a deduzir que ele tinha morrido com quinze anos.  Acreditando em Terra de Senna, fiz a conta: 1931 -15 = 1916 ( o  ano do nascimento). 

A conta não bate, pois em 1918 e 1919 vamos encontrar textos de Gilberto Aranha nas revistas Fon-Fon e Tico-Tico, o que comprova ser impossível ele ter nascido em 1916.


Este texto acima "Alma de Criança", publicado na Revista Tico-Tico, edição nº 724, do dia 20 de agosto de 1919, página 23, é o mesmo conto,  que no livro tem o título de  "Órfãos abandonados". 

Gilberto Aranha nasceu no dia 21 de outubro de 1901, na casa de nº 47, da Rua do Comércio, na Ribeira, sendo filho de Fortunato Rufino Aranha (paraibano) e Bernardina de Oliveira Aranha.


 Seu pai, Fortunato Aranha, foi o primeiro livreiro de Natal. Comerciante de livraria, que ficou famosa com o nome de Livraria Cosmopolita.

O jovem escritor viveu  (29) vinte e nove anos, pois faleceu no dia 23 de janeiro de 1931, às 20 h, na Avenida Nísia Floresta, sendo vítima de colapso. Foi sepultado no Cemitério do Alecrim.


Isso basta por hoje. Nossos aplausos e agradecimentos a André Felipe.

Francisco Martins, 30 de maio de 2023.

domingo, 28 de maio de 2023

GILBERTO ARANHA - CONTISTA FORA DO CANON POTIGUAR


Quantos livros de literatura de prosa foram publicados na década de 30 do século passado em Natal?  Quais escritores tiveram notoriedade naquela época? Quais passaram  de forma tangencial e que  ficaram esquecidos nas estantes de bibliotecas?

Recorro a  quem bem sabe do assunto e trago ao leitor que  no final da década de 20 e depois já nos anos 30, Policarpo Feitosa dispunha suas obras "Flor do Sertão"(1928), "Gizinha" (1930, "Alma Bravia" (1934), "Encontros do Caminho"(1936), "Os Moluscos (1938). Edgar Barbosa  publica em 1937 "História de uma Campanha" e em 1938, José Bezerra Gomes apresenta ao público o seu primeiro romance "Os Brutos".  Depois  disso as próximas produções em prosa já irão pertencer à década seguinte.

Importante deixar bem claro que  no tocante ao gênero conto,  a produção praticamente não existia. Gurgel nos ensina  que as primeiras tentativas foram frustantes nos anos de 1914 e 1915 e somente em 1961 Newton Navarro  publica "O Solitário Vento de Verão", livro de conto. Chego com estas informações,  preparando o terreno  para que possa deitar a semente deste artigo.

No dia 24 de janeiro de 1931 faleceu   em Natal Gilberto Aranha,  aos 15 anos de idade. Menino inteligente, leitor e infelizmente doente. Não sei  qual foi a causa da sua morte.   Queria dizer aqui neste artigo quem foram seus pais, mas enquanto pesquisava surgiu uma incógnita  sobre o assunto e estou tentando resolver. Tão logo tenha a solução publicarei sobre a filiação.

Gilberto Aranha era potiguar,  nascido em 1916. Deixou um livro póstumo, e após a sua morte o mesmo foi lançado em 1932. Foi um livro de contos, com qualidade textual, aprovado pela crítica do Rio de Janeiro e até onde saiba, totalmente ignorado na província potiguar. Terra de Senna  lhe dedicou uma resenha no jornal  "Diário Carioca", que  publico abaixo, na qual é possível perceber que  Gilberto Aranha foi  sem sombra de dúvidas um bom contista. Ele não consta no cânon dos escritores consagrados, mas passa agora, 92 anos após a sua morte, a constar na lista dos contistas esquecidos e revelados do Rio Grande do Norte.



Leia a resenha feita por  Terra de Senna e tire suas conclusões.

"ASPECTOS DA VIDA"

Aspectos da Vida...Viu-os, sentiu-os, uma criança de quinze anos.    Na idade precisa em que nós abrimos os olhos à vida, ávidos de sensações, numa tentativa hercúlea, humana, de aprender a viver com a felicidade e o infortúnio dos outros. Por isso, aos quinze anos, todos nós pretendemos ver muito, todos nós desejamos ver e sentir com toda a força dos nossos sentimentos...

Invade-nos, então, a tristeza dos males alheios. E porque alçamos bem alto os nossos sentimentos, aparecemos aos olhos dos que não sabem ver, ao juízo dos que não sabem sentir, como a efigie clássica da tristeza da raça. Gilberto Aranha, a criança que escreveu "Aspectos da Vida", foi, como todos nós, um pesquisador tenaz da vida. Não quis, porém, o destino que as suas observações se amadurecessem com a própria vida.

Teria sido bom? Teria sido mau? Um destino que corta, no seu início, uma vida como a de Gilberto Aranha, é sempre mau. Para os verdadeiros artistas, um sofrimento é uma página de Arte. E uma página de Arte não será a felicidade suprema de um artista? Gilberto Aranha escreveu o seu "Aspetos da Vida" quando começava a viver. Entretanto, não procurou mascarar a vida com as falsas pantomimas - caricaturas de felicidade - que a própria vida sabe criar e onde os mais incautos de espírito ... ( inlegível) ... de autoras e atores.
Gilberto deixou-se ficar espectador somente. Índice, portanto, de uma mentalidade construtora. Seus contos são bem feitos. Porque suas personagens vivem a existência que não poderiam deixar de viver, porque são o reflexo ou o stigma de um destino.
    "Irmãos na desgraça, amigos na ventura", é uma página em que sentimentos antagônicos se entrechocam. Bondade e egoísmo. A história simples de dois homens que se tornaram felizes um dia:   "Inesperadamente felizes, deixaram ficar naquele albergue de miséria e nas ruas lúgubres, por onde arrastaram os seus andrajos e a sua indigência, o espectro da fome a torturar outras vitimas".
Não será isso, na sua chocante realidade, um aspecto da vida?
                                                     
Há quadros da mais viva emoção, traçados, embora ligeiramente, pela mocidade inquieta de Gilberto Aranha. Citemos, ao acaso, um dos mais expressivos: "A enfermeira". Um episódio da seca é tratado pelo moço escritor com segurança absoluta e acentuado poder descritivo. Em "Estranho amor", nota-se. por certo, uma suavidade afetiva, tocada, aqui e ali, de uma ingenuidade amorosa e moça. Marina, entretanto, não constituirá a imagem fugace da "felicidade aparente", que tanta gente conhece?
"Aspectos da vida" é um livro bom. Extremamente bom. Por que, mostrando alguns dos seus maus aspectos, deixa sempre entrever uma sombra de bondade ou uma ilusão que, suaviza afinal, as asperezas de um determinismo inquietante.
Gilberto Aranha morreu cedo. Fechou os olhos, quando mais desejaria abri-los para o mundo.  Fugiu-lhe, sem dúvida, a felicidade maior.
Mas para os que muito lhe queriam, essa felicidade não fugiu de todo.
Porque ele nos ficou, para sempre, na simplicidade adolescente e boa dos seus escritos e na visão do que ele viria a ser nas nossas letras, se tivesse conseguido vencer o seu próprio destino. 

 Terra de Senna

Esta história não termina aqui. Ainda há bastante terreno para ser explorado. Aguardem novas notícias.

Francisco Martins
28 de maio de 2023


Fontes:

GURGEL, Tarcísio. Informação da Literatura Potiguar. Natal: Argos, 2001. 

(Pesquisa no site da Biblioteca Nacional - Hemeroteca)

DIÁRIO DE NATAL, edição de 17 fevereiro de  1907

DIÁRIO CARIOCA, edição 25 de janeiro de 1931.

DIÁRIO CARIOCA, edição 9 de abril de 1932.

DIÁRIO DE NATAL, edição de 21 de fevereiro de 1949

O POTI, edição de  19 de  janeiro de 1975.



quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

CAROLINA WANDERLEY - UMA MULHER DAS LETRAS POTIGUARES




Quatro de Janeiro de 1891, há exatos 132 anos, nasceu MARIA CAROLINA WANDERLEY, na cidade de Assu-RN. Viveu 85 anos, sempre solteira. Foi poeta, professora. Em 1914  fundou com sua prima, Palmira Wanderley, a revista "Via-Láctea". Na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras foi a fundadora da cadeira 6. Ela e Palmira foram as primeiras mulheres a entrarem para a ANRL.


Tuas cartas

Relembro as tuas cartas uma a uma,

Em minha mente todas se gravaram

Não encontro uma só que não resuma

Tudo o que nossos lábios já trocaram.

Tu me escrevias sempre; vez nenhuma

A sua falta os olhos meus choraram.

Morria o sol do estio ... vinha a bruma,

— E as tuas cartas nunca me faltaram.

Hoje os dias se passam lentamente

Que me escrevas espero ansiosamente,

Mas com que mágoa vejo que emudeces...

Termina esse silêncio que crucia,

É que me vai trazendo dia a dia

A certeza cruel de que me esqueces!

A República, 16.02.1917

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

A PRESENÇA DE POTIGUARES NA REVISTA DE ANTROPOFAGIA

 Quem é do mundo da Literatura Brasileira já ouviu ou ouvirá alguém falar sobre “A Revista de Antropofagia”, um periódico de curta duração, que circulou no Brasil nos anos de 1928 e 1929. Os Idealizadores foram Oswald de Andrade e Raul Bopp. É um marco na história literária brasileira e deve ser conhecida, afinal, o Rio Grande do Norte também está lá. Isso mesmo! Demos nossa contribuição.

Noventa e quatro anos passados, o estado do Rio Grande do Norte ainda se firmando na sua construção literária,  audaciosamente exportava textos para a cidade de São Paulo, onde chegavam ao escritório da “Revista de Antropofagia”, localizado à Rua Benjamin Constant.

Em Maio de 1928, quando é lançada a revista, já somos agraciados na página 4, com um comentário generoso sobre o “Livro de Poemas” de Jorge Fernandes, que havia sido editado no ano anterior.

 Na edição nº 2, Junho de 1928, eis que Jorge Fernandes tem poesia publicada logo na primeira página: “O Estrangeiro”.  E se por aqui Jorge Fernandes continuava batalhando por um lugar ao sol, lá em São Paulo, a Revista de Antropofagia continuava dando espaço ao poeta, desta vez na edição  de nº 7, Novembro - 1928, página 5,  publicando a prosa poética:  “A Tardinha em viagem  no Seridó” 


Na edição nº 9,  Janeiro de 1929, página 5, é publicada “Canção do Retirante”.   Era o Brasil tomando conhecimento da porteira de Jorge Fernandes que se abria para deixar entrar o Modernismo no Rio Grande do Norte. Alguns desses trabalhos acima citados não estão presentes no livro: "Jorge Fernandes - o viajante do tempo modernista - obra completa", organizada por Maria Lúcia de Amorim Garcia.

Câmara Cascudo também deu sua contribuição ao periódico. A primeira é em Agosto de 1928, revista nº 4, página 3,  onde ele escreve: “Cidade do Natal do Rio Grande do Norte”. Na página seguinte, o Diretor da Revista, Antonio de Alcântara Machado ( A. De A.M) comenta um livro de Cascudo sobre  López do Paraguay (1927). Na revista nº 10 -  Fevereiro de 1929 – Câmara Cascudo se apresenta como poeta, em “Banzo”, na primeira página.
Depois de Jorge Fernandes e Câmara Cascudo, a Revista de Antropofagia também registra a participação de dois outros potiguares: Jayme Adour e Otacílio Alecrim. O primeiro  escreveu um artigo com o título "História do Brasil em dez tomos", na edição nº 4,  de 7 de abril de 1929 e no mês seguinte, maio,  foi o Diretor do Mês da revista. Jayme Adour nasceu em Ceará-Mirim e muito jovem se transferiu para a região Sudeste. 

Otacílio Alecrim, escreve na edição nº 12, que circulou no dia 26 de junho de 1929. O seu artigo tem como título: "Miss Macunaima". Otacílio Alecrim nasceu em Macaíba e assim, como Jayme Adour também se transferiu para o Sudeste. Com esta pequena pesquisa, deixo aqui a minha contribuição, neste ano em que comemoramos 100 anos do Modernismo. Para ter acesso a todos os números da Revista de Antropofagia é só clicar aqui: Biblioteca Brasiliana

30 de Novembro de 2022
Francisco Martins
Pesquisador




segunda-feira, 21 de novembro de 2022

UM BOM SOLDO PARA UM SARGENTO DE MILÍCIAS


 "Memórias de um Sargento de Melícias", dois volumes e "Águas Fortes de Darel"  foram duas obras leiloadas recentemente e vendidas, em um único  lote ao preço de R$ 14.500,00 ( catorze mil e quinhentos reais). O leilão aconteceu em 19 de novembro, na cidade do Rio de Janeiro. 66 lances foram dados.


sábado, 2 de abril de 2022

O BARÃO E O QUEIJO

 Eis uma informação gastrônomica sobre um produto da culinária potiguar:  José Maria da Silva Paranhos, o famoso Barão do Rio Branco, provou do queijo do Seridó. Quem nos garante isso é Câmara Cascudo, numa Acta Diurna de 20 de abril de 1945, publicada em "A República", onde lemos: "Meu Pai possuía, e não mais pus os olhos em cima, uma carta autografada de Rio Branco, muito espirituosa, agradecendo uma remessa de queijos do Seridó"



segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

OS NOVE NOMES DE CEARÁ-MIRIM QUE NATAL NÃO ESQUECEU NO ANO 2000

Augusto Leopoldo Raposo da Câmara (1856 -1941)

Edgar Ferreira Barbosa (1909-1976)

Eduardo Medeiros ( 1886-1961) 

Jayme Leopoldo Raposo Adour da Câmara (1898-1964)

Inácio Meira Pires (1928-1982)

Nilo de Oliveira Pereira ( 1909-1992)

Rodolfo Augusto de Amorim Garcia (1873-1949)

João da Fonseca Varela (1850-1931)

Wilson Correa Dantas Cavalcanti (1920-1998)

Esses nove nomes, de homens ilustres,  todos nascidos em Ceará-Mirim-RN, têm sua participação no livro 400 nomes de Natal, ano 2000, que foi organizado por Rejane Cardoso, na gestão da Prefeita de Natal, Wilma de Faria. Cada nome tem um pequeno ensaio biográfico.




quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

"HORTO" : ESBOÇO PARA NORTEAR AS FUTURAS EDIÇÕES

"Auta de Souza, foi uma destas criaturas a quem Deus, lhe dando um corpo para sofrer, deu-lhe um'alma para brilhar" (Câmara Cascudo)


Horto e Auta de Souza, dois nomes que são praticamente inseparáveis. O primeiro  é o título do livro, o segundo, nome da autora. Poucos livros no Rio Grande do Norte recebem um olhar tão carinhoso por parte do público leitor e dos profissionais do mercado editorial, como ele. 

1ª edição - capa

Lançado pela primeira vez em 20 de junho de 1900, com 232 páginas e 114 poemas, com tiragem de mil exemplares, o livro trazia  na 1ª edição o prefácio de Olavo Bilac. Foi impresso nas oficinas de "A República". 

2ª edição - capa

Dez anos depois, em 1910, Henrique Castriciano, irmão de Auta de Souza, organiza a 2ª edição, preparada em Paris, com 17 poemas a mais. O livro  teve capa e ilustrações de D.O. Widhopff  e foi impressa na Tipographie Aillaud, Alves e Cia, Bouleve Montparnasse, 96. É importante que se diga que essa edição foi feita pelo Governo do Rio Grande do Norte, na época, Alberto Maranhão, conforme consta na Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo, em 1º de novembro de 1911, na página 10.

2ª  edição

 A 3ª edição demora vinte seis anos para chegar ao leitores, é de 1936, Tipografia Batista de Souza, Rio de Janeiro-RJ. Nessa 3ª edição, o prefácio foi feito por Tristão de Athayde ( Alceu Amoroso Lima). A  edição foi acima de 2000 exemplares, pois o Governo do Rio Grande do Norte comprou e doou  esta quantidade para a instituição Dispensário Sinfrônio Barreto (Natal), conforme publicação no jornal "A Ordem", edição do dia 12 de dezembro de 1936.

3ªedição

Esses livros foram vendidos como ingressos para  "A Festa do Horto",  bastante divulgada pelos jornais "A Ordem" e  "A República", em várias edições. Toda a arrecadação das vendas foi destinada ao Dispensário Sinfrônio Barreto. O evento aconteceu na noite de 14 de março de 1937, no Teatro Carlos Gomes ( hoje Alberto Maranhão) e em seu programa constava uma palestra de Palmira Wanderley sobre a vida e o livro de Auta de Souza, além de declamações de poemas do Horto e aqueles que foram musicados e fazem parte do Cancioneiro de Auta de Souza, que contou com as participações de Sílvia Paiva, Dulce Tavares, Clarice Palma, Bertha Guilherme, Elza Dantas, Maria de Lourdes Lago, Maria Amorim, Zenaide, Alba e Maria do Carmo Soares, todas acompanhadas pelo Maestro Thomaz Babini. "A Festa do Horto" foi um sucesso de público e critica.

4ª edição - capa

A 4ª edição data de 1970,  e foi feita pela  Gráfica Manimbu, da Fundação José Augusto, que naquele ano tinha como Presidente Ilma Melo Diniz. A 5ª edição demorou aparecer. Somente trinta e um anos depois é que ela vai chegar às mãos dos admiradores de Auta de Souza, trazendo o selo da Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - EDUFRN, lançada no ano de 2001.

5ª edição - capa
A edição acima, embora tenha sido entregue ao público no ano de 2001, ela "representa" a edição dos 100 anos de "Horto" no Calendário Cultural do Rio Grande do Norte. Há uma singularidade nessa edição, que a torna mais rica, trata-se da Introdução para um estudo da vida e obra de Auta de Souza, de Ana Laudelina Ferreira Gomes, uma pérola sobre o assunto, que se estende das páginas 21 a 62.

Edição 2009 ( a 6ª)
No ano de 2009, a EDUFRN volta a se dedicar ao livro, lançando o que podemos enumerar de 6ª edição, embora não esteja isso implícito na ficha catalográfica. Uma edição com 274 páginas, que além do conteúdo do Horto, tem outros poemas e ressonâncias. Um Cd e um DVD acompanham o livro:  no CD , "Horto em Canto", há 16 poemas de Auta de Souza que foram musicados por Alvamar Medeiros, e o outro "Noite Auta, Céu Risonho" um documentário. De todas as edições, foi a que mais envolveu pessoas. A Professora Universitária Ana Laudelina Ferreira Gomes escreveu a apresentação, introdução e o texto da quarta capa.

Fábio Fidelis e Carlos Castin organizaram a mais recente edição do "Horto", que foi lançada na tarde de 10 de dezembro de 2021, na Academia Norte-rio-grandense de Letras. Os organizadores optaram por fazer uma edição similar a de 1900, justificando que ao longo destes 122 anos, a obra vem recebendo acréscimo em suas edições. 

Edição do ano 2021 ( a 7ª )


Edições - produzidas fora do Rio Grande do Norte (sem a participação de organizadores ou editores potiguares)

No Distrito Federal, a Editora Auta de Souza - Sociedade de Divulgação Espírita Auta de Souza lançou no ano 2000 a edição comemorativa dos 100 anos de "Horto". 

A  Lebooks Editora lançou uma versão digital do "Horto", no formato eBook,  disponibilizada para venda desde o dia 18 de dezembro  de 2019, no site da Amazon.


No mesmo ano, a Editora Figura de Linguagem lançou  também uma edição que vem sendo bastante criticada pela má qualidade da diagramação e outros erros.. Segundo Carlos Castin  " Essa edição lançada pela Figura de Linguagem  é um vilipêndio à obra poética de Auta de Souza, e diante de inúmeras falhas editoriais, é para ser esquecida".

Edição da Figura de Linguagem

Fico por aqui, deixanbo bem claro aos leitores, que provavelmente falte alguma edição, não por esquecimento, mas por desconhecê-la, afinal, este artigo é um esboço e não um texto definitivo sobre o assunto.

Francisco Martins
13 de janeiro de 2022,  Parque Industrial, Parnamirim-RN.

Fontes pesquisadas

Sites:

http://www.elfikurten.com.br/2013/05/auta-de-souza.html

https://www.albertolopesleiloeiro.com.br/peca.asp?ID=7197089

https://www.amazon.com.br/HORTO-Auta-Souza-Ra%C3%ADzes-ebook/dp/B082WKHHZ3

https://literaturars.com.br/2019/09/05/horto-auta-de-souza/

http://www.editoraautadesouza.com.br/livros/horto-edicao-especial

https://www.unirn.edu.br/noticia/obras-de-auta-de-souza-serao-relancadas-com-apoio-do-uni-rn

http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/lana-amento-da-edia-a-o-original-de-horto-acontece-nesta-sexta-feira-10/527205

Jornais: 

 "A Ordem" - edições de 12.12.1936;  23.10. 1942

"A Republica" - edições de  04.03.1937;  07.03.1937;  14.03.1937 

"Diário de Natal" -edições  de 2.02. 1970; 21.11. 1970

Livros:

Fundação José Augusto - 40 anos - 1963-2003, página 73.

"Horto" - Auta de Souza - edições  2001 e 2009 - acervo da Biblioteca SESC Rio Branco - Natal/RN

"Alma Patrícia" -  Crítica Literária - Luiz da Cãmara Cascudo - 2ª edição Fac-Similar 2021.  Org. Eulália Duarte Barros.



segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

FLORÊNCIO GOMES DE OLIVEIRA - UM PADRE CORDELISTA?

 Não posso deixar que o ano de 2021 termine sem escrever algo sobre o poeta Florêncio Gomes de Oliveira,  que se tornou padre, nascido na localidade de Monte Alegre, próximo de São Sebastião, em Mossoró-RN. O Mestre Câmara Cascudo escreveu uma Acta Diurna sobre ele,  que foi publicada em "A República", em 15  de dezembro de 1940. Já se foram 81 anos. E por incrível que possa ser, o título da Acta continua  atual: "Um poeta esquecido, o Padre Florêncio Gomes de Oliveira".

Cascudo nos diz que ele versejava em sextilhas, setissilábicas, portanto, o que nos impede de afirmar que Padre Florêncio Gomes de Oliveira foi poeta cordelista? Certa feita, em 2 de março de 1843, o Padre Florêncio Gomes de Oliveira, quando era vigário de Caraúbas-RN,  recebeu o seguinte mote: A dois de março se viu/ Um grande sinal no Céu/ Prognóstica ser castigo/ Triste de mim que sou réu.

Sem demora, ele atendeu o desafio e versejou em decassílabos

Com cauda imensa e brilhante
De figura portentosa
de luz clara e  majestosa,
Refulgente e rutilante
Qual o raio coriscante
Que entre nuvens surgiu
Qual no espaço surgiu
Ao  Sul, ignoto Cometa
Que sem óculos nem luneta
A DOIS DE MARÇO SE VIU

Néscio Povo que de tudo
Faz fanático mistério,
Sem virtude e sem critério,
Sem ciência e sem estudo,
Diz e clama, de abelhudo,
Sem temer do Euro o véu,
Que todo o mundo é réu,
A quem Deus quer castigar
E prova para mostrar
UM GRANDE SINAL NO CÉU

A oculta natureza
De tal sorte organizou
Que indícios nos deixou,
De sua imensa grandeza
Pela vasta redondeza
Moderno astro antigo,
A girar sem ter jazigo
Fogo imenso que também
Quando os povos néscios vêm
PROGNÓSTICA SER CASTIGO

Não precisa a Providência
Para o Mundo castigar,
Vir ao Mundo apresentar
Sinal da Onipotência
Se o Mundo tem ciência
Dos castigos lá do Céu
Deixe do vício o labéu
Que nos dias dos clamores,
Triste de nós pecadores
TRISTE DE MIM QUE SOU RÉU.

Padre Florêncio Gomes de Oliveira - um bom nome para a galeria das Academias literárias.

Mané Beradeiro - 28 de dezembro 2021