Mostrando postagens com marcador Machado de Assis. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Machado de Assis. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

O QUE MACHADO NÃO FEZ?



 Amanhã terminamos o mês de  outubro, dedicado às crianças. Nosso melhor e maior escritor Machado de Assis, não gerou filhos. No seu livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas" ele escreveu através do seu personagem principal, que não passara a outrem o legado da nossa miséria.
Na verdade, Machado de Assis sentiu na pele não ter sido pai. Certa vez, José Veríssimo, seu amigo, dizia que estava sendo pai do nono filho.
Machado comentou:
- Nove é talvez demais. Porém nenhum é pior.
Usando a velha máxima: talvez tenha plantado árvores, escreveu livros, mas não gerou filhos.

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

FOLHETO DE CORDEL NA OBRA MACHADIANA


O maior escritor da literatura brasileira, Machado de Assis, chegou a conhecer os folhetos que hoje chamamos literatura de cordel. A prova disso é que ele a usa como objeto em um dos seus contos, quando a personagem Inácio, adquire o folheto que é vendido no passadiço do Largo do Paço (Rio de Janeiro, ano de 1870).


A prova dessa minha afirmação o leitor vai encontrar no livro "Várias Histórias", mais precisamente no conto "Uns braços", na página 33 (São Paulo, edição Globo, 1997).

No qual lemos: " Inácio passava-os todos ali no quarto ou à janela, ou relendo um dos três folhetos que trouxera consigo, contos de outros tempos, comprados a tostão, debaixo do passadiço do Largo do Paço... pegou um dos folhetos, a Princesa Magalona".


Veja o leitor que Machado de Assis faz o registro da existência desse gênero literário, o cordel, que naquele tempo era também em prosa: " ...contos de outros tempos". Não há aqui a citação que o título a Princesa Magalona estivesse escrito no formato de poesia.


O importante é que existe a presença da literatura de cordel, embora de forma secundária, na obra Machadiana.


Mané Beradeiro 
15 de agosto 2022


domingo, 4 de julho de 2021

"A IGREJA DO DIABO" NA VISÃO DE UM LEITOR CRISTÃO

 


Em 1884 Machado de Assis então com 45 anos  publicou pela Garnier, um conjunto de contos intitulado "Histórias sem data". Nesse livro, o conto de abertura é "A Igreja do Diabo", que tem quatro capítulos. O texto trata exatamente do que declara o título - isto é - o Diabo funda uma Igreja.

O anjo decaído não nega seu caráter destruidor, "aquele que veio para destruir" tem bem ciente o seu papel: "...combater as outras religiões, e destruí-las de uma vez" (Cap.I, Parágrafo I). Há nesse conto verdades bíblicas. É bom dizer que o autor, intelectual, que provavelmente tenha sido coroinha "na Igreja de Lampadosa, na altura dos seus catorze ou quinze anos....conheceu de perto a atmosfera  das Igrejas" (Massaud Moises- Coleção Vidas Ilustres - Volume Os Romancistas, ano 1961).

Quando lemos há muitas coisas que estão presentes nas entrelinhas, e com  maturidade de leitor vamos notando isso ao decorrer do nosso crescimento. São as sombras das frases! O fato do Diabo se apresentar a Deus - fez-me lembrar que no livro de Jó ele também esteve diante de Deus e debalde argumentou que  Jó só era fiel a Deus porque era rico e tinha uma família feliz. "Estende, porém, a mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua face", diz o Diabo ( Jó 1:11). E é nesse livro de Jó que aprendemos ser o poder do Diabo limitado. "Eis que tudo quanto ele tem está em teu poder, somente contra ele não estendas a mão" (Jó 1:12).

Voltando ao conto "A Igreja do Diabo" vemos no final do capítulo II, no último parágrafo:"Debalde o Diabo tentou proferir alguma coisa mas Deus impusera-lhe silêncio". Notem a Onipotência de Deus mostrada por Machado de Assis neste parágrafo - Deus impusera-lhe silêncio! "Uma vez na terra, o Diabo não perdeu um minuto. Deu-se pressa em enfiar a cogula beneditina" - Aqui também nos deparamos com mais duas verdades bíblicas - presentes nas sombras das frases - são elas:

1)  Apocalipse 12:12b "Ai dos que habitem na terra e no mar; porque o diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo"

2)  II Coríntios 11:14 "...Porque o próprio satanás se transfigura em anjo de luz"

Machado de Assis teve em certo tempo da sua vida, amizade com o Padre Silveira Sarmento, que lhe ensinou Latim. Isso foi em 1858 - tinha ele 19 anos. A influência do Padre Sarmento na formação do jovem Machado foi mais além do que o Latim.  O fato é que sabia escrever com maestria, não apenas no estilo literário, mas também na profundidade do assunto,  com domínio e conhecimento. Não podia ser diferente quem cresceu sempre nutrindo o gosto de ler.

Em 1856 - aos 17 anos - trabalhava na Tipografia Nacional - como aprendiz de tipógrafo. Um funcionário superior surpreendeu-o em falta,  porque lia em pleno expediente, encaminhou-o ao administrador da repartição que era Manuel Antonio de Almeida, autor do livro "Memórias de um Sargento de Milícias". Este passou a  ampará-lo e foi amigo de Machado de Assis até seus dias finais.

Chegando ao capítulo IV notamos que a Igreja do Diabo era sucesso. Estava presente nos quatro cantos da terra, mas havia O HOMEM no meio do caminho, lembrando a Pedra de Drummond que Machado não chegou a ler. E o homem - o mesmo que optou por perder o Paraíso lá no Gênesis - também agiu sendo infiel ao Diabo, mostrando "a eterna contradição humana".

Quero trazer a riqueza de elementos de intertextualidade que está presente nesse conto. São portas de diálogo que Machado de Assis deixa para o leitor abrir. Vejamos algumas:  Abrãao - homem natural de Ur, região da Caldeia, do qual se originaram o Judaísmo, o Islamismo e o Cristianismo , religiões com crença em um único deus; Maomé - profeta que recebeu de Alá a inspiração para escrever o Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos; Lutero - monge agostiniano que se tornou uma das figuras centrais da Reforma Protestante; Fausto - personagem de uma lenda popular alemã que fez pacto com o Diabo em troca da sua alma; Homero - poeta da Grécia antiga autor de Ilíada e Odisseia, além de outros.

Por fim, o que aprendemos com o conto?

Coisas assustadoras não podem ganhar ideia de normalidade

Natureza dissimulada é sempre perigosa

Quem mais compreende o homem é o seu Criador - Deus.


Francisco Martins




domingo, 15 de março de 2020

COMENTANDO MINHAS LEITURAS - A SEMANA I



"Uma Seleção de crônicas de Machado de Assis foram publicadas na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro entre os anos de 1892 e 1900. Alguns desses textos já foram reproduzidos na edição organizada em vida pelo autor de Páginas Recolhidas". É esse o texto que há no livro "A Semana I", (Editora Globo: Rio de Janeiro, 1997). O estilo da crônica é sem dúvida o quê  mais nos fornece dados sobre aquele que a escreve. Neste caso, Machado de Assis vai se dando aos poucos em textos que sua mão escreveu no século XIX, mais precisamente na última década daquele século. Além do retrato da época, meio de transportes, costumes, crenças, vestimentas, comidas, etc, que mais poderemos aprender? Machado de Assis vai revelando. Mostrando seu pensamento, dizendo entre uma linha e outra que a arte é uma religião e nela o gênio é o seu sumo sacerdote¹. Do alto dos seus 53 anos de vida, Machado de Assis, acha-se no direito de advertir o leitor que "os anos nada valem por sim mesmos. A questão é saber aguentá-los, escová-los bem, todos os dias, para tirar a poeira da estrada, trazê-los lavados com água de higiene e sabão de filosofia"². E quando se trata de filosofia,  o autor sabia se alimentar como ninguém. Comeu do pão da sabedoria nos mais variados pratos que lhes foram apresentados: os grandes filósofos gregos, os pensadores  e homens cultos da sua época, além é claro de mostrar ter muito conhecimento sobre o livro sagrado, a Bíblia. Por inúmeras vezes é possível encontrar referências bíblicas nos textos machadianos. Ele recorre com frequência à sabedoria do povo judeu. Mas, isso não assegura que Machado tenha sido um cristão convicto, e ele mesmo se declara adepto do Espiritismo³.


Francisco Martins.
15 março 2020

Referências

1) Crônica 2 de Outubro de  1892, p. 24
2) Crônica 30 de Outubro de 1892, p.35
3) Crônica 23 de Setembro de 1895, p.146

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

CONSERTO E CONCERTO NA OBRA MACHADIANA

Machado de Assis mexe muito com minha curiosidade de leitor. Sempre estou aprendendo com ele e descobrindo coisas, principalmente no tocante a semântica. Um bom exemplo é o emprego das palavras concerto e conserto usadas nos textos machadianos. Aprendi quando estudante,  que há somente duas formas para se aplicar essas palavras, ei-las:

a) Use "conserto" quando tiver significado de reparo, restauração, reforma, remediar, corrigir, colocar algo em bom estado.

b) Use "concerto" (com a letra “c”) para indicar uma sessão musical, agindo como um sinônimo de orquestra, espetáculo ou show musical.

E assim acreditei e confiei nos meus mestres que fora disso não há mais nenhuma chance de ser empregada a palavra concerto.

E foi lendo e relendo algumas obras de Machado de Assis que encontrei concerto (C), quando deveria ser com (S). Estaria Machado de Assis errado?  Confira você mesmo leitor.


1) Mas, meu amigo, é muito bom ter casas: o senhor é que não conta os estragos, os consertos, as penas-d'água...

2) Custódio tirou o lenço, alisou o chapéu devagarinho; depois guardou o lenço, concertou a gravata...

(Papeis Avulsos II/ O empréstimo, p. 53)

3) Durante a estação lírica é a ópera; cessando a estação, a alma exterior substitui-se por outra: um  concerto,  um baile ...

4 ...todos os olhos estão no Jacobina, que concerta a ponta do charuto, recolhendo  as memórias.

(Papéis Avulsos II/ O Espelho, p. 73)

E agora, as frases 2 e 4 estariam erradas?

A priori, com base no conceito acima, poderíamos afirmar que sim, mas o dicionário Aurélio nos lembra que a palavra não tem apenas esse significado. Con-cer-to pode vir na frase com o sentido de harmonia ou acordo.

Assim sendo, Machado de Assis não errou.

São coisas da nossa  Língua Portuguesa. Que como dizia o Barão de Itararé,  "Calça é coisa que se bota e bota é coisa que se calça".



Referências

ASSIS, Machado. Papéis Avulsos II. São Paulo: Globo, 1997

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

ASSIM DISSERAM ELES ....

"O contador de histórias é justamente o contrário de historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias. Por que essa diferença? (...) O historiador foi inventado por ti, homem culto, letrado, humanista; o contador de histórias foi inventado pelo povo (...)"

Machado de Assis

História de quinze dias. São Paulo: Editora Globo, 1997, p. 84.

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

COMENTANDO MINHAS LEITURAS - HISTÓRIAS SEM DATA

Nunca é tarde para ser apresentado a Machado de Assis. Ele é  um dos maiores escritores da literatura brasileira, senão o maior. Ler sua obra, isto é, todos os seus livros, é uma oportunidade de aprender muito.  Em março deste ano reli HISTÓRIAS SEM DATA, uma coletânea com dezoito contos, que teve sua primeira edição em 1884, pela Garnier - Rio de Janeiro. Alguns são bem  conhecidos do público, como por exemplo: "A Igreja do Diabo", diga-se por sinal atualíssimo em relação a  situação das igrejas, parece até um conto profético. "Singular Ocorrência" é outro conto muito bem escrito e "As academias de Sião", no qual o autor mostra porque há homens femininos e mulheres másculas, são ao meu ver os três melhores desse livro. Machado de Assis ainda não foi descoberto pelos leitores brasileiros, em sua grande maioria. Alguns já ouviram falar sobre ele, sabem dizer os títulos mais famosos por ele escritos, mas não chegaram a mergulhar no conhecimento do vasto conjunto da sua obra literária. Ainda é tempo de estender a mão a este velho e bom escritor que o Rio de Janeiro nos deu.