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terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

VIAGEM A PIRANGI, NO TÚNEL DO TEMPO, COM DIOCLÉCIO DUARTE

    Fim do veraneio no litoral potiguar. Muitas famílias foram para Pirangi, hoje município de Parnamirim-RN. Trago para o deleite dos leitores, a crônica escrita por Dioclécio Duarte. Uma página repleta de testemunho e saudade. Um texto com 83 anos.



PIRANGI

 Cinco intermináveis horas em cavalo "chotão"... Atravessamos, primeiramente, espessa mata. Depois marchávamos ao longo do tabuleiro para, em seguida, nos enterrarmos nas areias movediças das dunas.

    Inúmeras mangabeiras que, mais tarde, desapareceram ao corte das foices e machados assassinos eram ornamentos dos terrenos arenosos.

    Os homens ignorantes dos crimes que cometiam transformaram os troncos das árvores raquíticas em caçuás e sacos de carvão vendido na cidade por preços ínfimos.

    E eu sei que ainda hoje não parou a devastação. As saborosas mangabas diminuíram. Custo a descobrir dentro das enormes cuias que, antigamente, as pretas velhas conduziam na cabeça oferecendo à porta das casas ricas.

    Entre as mangabeiras, desordenadamente, os batiputás surgiam. Os antigos aprenderam com os índios a fabricação do óleo que empregam na cozinha do peixe, dando-lhe gosto especial.

    De quando em vez se erguia um cajueiro florido.

    As mangabeiras, as árvores de bati e os cajueiros são as frutas preferidas desses sítios. Somente na proximidade da praia é que se desvendam os altivos coqueiros.

    Depois... O tempo correu veloz. Amigos morreram. Não mais existe o professor Mendes, um homem alto e magro, de extrema palidez. Andava sempre de luto e tossia como se a tísica lhe roesse continuamente os pulmões cansados.

    Onde está a família Pulga? As meninas envelheceram e abandonaram a praia carregada de filhos. Deixou de fazer rendas a velhinha de cabelos brancos entre cujos dedos esguios os bilros cantarolavam para dormirem ao contacto da almofada de palha.

    Isso foi há muitos anos. Eu não passava de uma criança travessa que gostava de apreciar as jangadas e ouvir a história feiticeira dos pescadores.

    Os meus amigos pescadores! Mas eles não me acompanham... A paisagem primitiva não aparece perante os meus olhos.

    Pirangi no meu tempo de menino era uma praia alegre. As ondas não tinham a irritação das suas irmãs. O mar era suave o tranquilo. Permitia que andássemos, com água pela cintura, 500 metros ou mais sem receios de precipícios e ressacas.

    Era um mar generoso e amigo. Quando as jangadas chegavam carregadas de "xaréus", "ciobas", "galos", "cavalas", "serras", "dourados", "garoupas", ajudava a arrastá-los até a areia da praia, onde a algazarra era enorme.

    Voltei agora a Pirangi. Não conhecia a estrada. Em lugar do animal bisonho corria o automóvel. Tudo para mim estava mudado. Os pescadores perderam também a confiança na amizade do mar.

    Poucas as jangadas. Botes raros. Apenas meia dúzia de "currais" roubam a bravura do pescador e o seu contacto destemeroso com o oceano. Os "currais" simbolizam a preguiça. E não pertencem ao pescador. Ficam os seus donos embalados e sonolentos nas redes até a hora em que os empregados vão colher a safra das armadilhas nocivas.

    Foram os tresmalho substituídos pelos "currais". Os pescadores desertaram. Não encontram ocupação. Um "curral" exige o serviço de seis homens. O tresmalho de trinta. Mas o tresmalho é mais trabalhoso, como a jangada e o bote são mais arriscados. Escasseiam os peixes. Passam fome os pescadores. Os "currais" destruíram os cardumes e mataram o animo dos pescadores. As praias perderam também a existência pitoresca e encantadora.

    Pirangi é uma vítima, pobre vítima da indolência dos homens e do espírito displicente da autoridade que preferia deixar de cumprir a lei a experimentar incômodos, desatendendo a compadres e correligionários, a quem era difícil esclarecer e mostrar o erro de não ser patriota.  

DIOCLÉCIO D. DUARTE 

 Jornal "A República", 9 de fevereiro de 1939, página 3.


Imagem: site https://natalrn.com.br/parnamirim-rio-grande-do-norte/, visualizado em 08 de fevereiro de 2022.


sexta-feira, 20 de março de 2020

ONDE ESTUDOU JOSÉ MAURO DE VASCONCELOS EM NATAL

José Mauro de Vasconcelos quando morou em Natal estudou no Colégio Diocesano, que  funcionava no prédio onde hoje são as instalações do Convento Santo Antonio, anexo a Igreja de Santo Antonio, também conhecida como "Igreja do Galo".
 


"A cidade ia ficando longe, via-se bem a balaustrada de Petrópolis como se fosse um brinquedinho de anão. A Catedral com sua torre alta. A igreja  do meu colégio Santo Antonio. A sua torre arredondada com um galo esperando um raio que nunca apareceu..." (VASCONCELOS, p. 242)

Vamos conhecer um pouco da história deste colégio. Recorro primeiramente a Lauro Pinto, ele escreve: "O Colégio Santo Antonio foi fundado pelos padres diocesanos de Natal, no dia 1º de março de 1903, e sempre funcionou anexo à Igreja do mesmo nome" (PINTO, p.53).
O memorialista no diz que as instalações eram precárias, principalmente o sistema sanitário. A água potável, no tempo em que Lauro Pinto  por lá estudou, vinha de uma cisterna, abastecida com por calhas, por ocasião das chuvas.
Em 1919 houve um violento surto de febre tifóide, vitimando seis estudantes: Lídio Cabral  da Fonseca, Absalão Pinheiro, José Anísio Gomes, Artur Tupã e outro que Lauro Pinto não lembra o nome. O colégio foi fechado. Esta foi a primeira fase do Colégio Santo Antonio. 
Em 1930, o Colégio  é reaberto, desta vez confiado aos Irmãos Maristas, que ficam nas mesmas instalações até o final de  1935. No dia 7 de fevereiro de 1936 começou a funcionar na avenida Apodi, esquina com avenida Deodoro até os dias atuais.
 

José Mauro de Vasconcelos, aos 11 anos estudou no Colégio Santo Antonio,  que também já era conhecido pelo nome de Colégio Marista. Ele vai lembrar do Irmão Feliciano, aquele que foi o primeiro a descobrir a solidão da sua alma e também do Padre Monte, que era  Diretor Espiritual dos alunos e foi  escolhido para ser o patrono da primeira turma de concluintes, no ano de 1935. 
Padre Monte
-Você já viu o Padre Monte?

-Aquele magrinho de óculos.
-Sim. O  confessor do colégio ...
(VASCONCELOS, p.34)

As memórias de José Mauro neste período de estudante  estão registradas no livro "Vamos aquecer o Sol" (1974). Ele fez parte dessa primeira turma e narra o que viu na noite de 23 de novembro de 1935, ( no 8º Capítulo - A Viagem) quando começou a Insurreição Comunista, afetando a cerimônia de formatura, que não aconteceu. .

 (imagens do atual Convento dos Capuchinhos - onde funcionou o Colégio Santo Antonio)





Referências:

PINTO, Lauro. Natal que eu vi. Natal/RN: Imprensa Universitária, outubro 1971.
A ORDEM, jornal. Colégio Santo Antonio - Primeira Turma de Peritos Contadores- Ano I, nº  104, 20 de novembro de 1935.
A ORDEM, Jornal.  Colégio  Santo Antonio - Ano I, nº 162,  7 fevereiro 1936.
VASCONCELOS, José Mauro de. Vamos aquecer o Sol. São Paulo/SP: Melhoramentos,

quarta-feira, 4 de março de 2020

AS 15 VESTIBULANDAS DA FACULDADE DE DIREITO




Próximo da semana em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, 8 de março,  eu quero trazer aos leitores os nomes de 15 mulheres jovens que disputaram em igualdade com os homens, as vagas na primeira turma da Faculdade de Direito de Natal, no longínquo  mês de fevereiro do ano de 1955.  Vamos à lista:

1) Ivone Mesquita
2) Anna Maria Freire Cascudo
3) Genalda de Paula Cabral
5) Zila da Costa Mamede
6) Francisca Teixeira Borba
7) Terezinha de Azevedo Câmara
8) Eloisa Freire de Oliveira
9) Anilda Cavalcanti Marinho
10) Déa Maria de Souza Rodrigues
11) Terezinha de Almeida Galvão
12) Zélia Madruga
13) Aila Rodrigues
14) Cleide Miriam Wanderley
15) Moema Paiva Ferreira de Souza 

As provas  foram realizadas no período de 1  a 28 de fevereiro de 1955. 

Ao todo, concorreram 99 estudantes para a formação da primeira turma de Direito do Rio Grande do Norte. O resultado  foi publicado pelo  "O Poti" em 1 de março de 1955, com os seguintes nomes:
 1) Anna Maria Cascudo - 7,6
2) Antonio Emerenciano Sobrinho - 5,0
3) Anilda Cavalcanti Marinho - 6,7
4) Arnaldo Azevedo - 7,6
5) Artur Luiz - 5,3
6) Déa Maria Rodrigues -  6,5
7) Eider Furtado de Mendonça - 6,2
8) Elmo Pignataro - 6,3
9) Emilson Santos Lima - 5,2
10) Enélio Petrovich - 5,4
11) Ernani Alves da Sulveira - 7,2
12) Francisco Berilo Wanderley - 5,5
13) Francisco Dantas Guedes - 6,2
14) Francisco de Assis Teixeira - 7,4
15) George Geneide Erbano Pereira - 5,4
16) Tenório de Noronha - 7,3
17) Geraldo Guedes  Dantas - 5,1
18) Geraldo Macedo - 5,1
19) Ivan Maciel de Andrade - 6,3
20) Ivone Mesquita - 6,3
21) Jaime Revoredo - 5,2
22) Jaime Hipólito Dantas - 6,3
23) Jaldir Santos Lima - 5,7
24) João Damasceno Oliveira - 7,0
25) José França Monte - 5,2
26) Luciano Alves Nóbrega - 5,4
27) Nildo João Matias Alff - 5,5
28) Pedro Cortez de Amorim - 7,9
29) Pedro Martins Mendes - 7,0
30) Reginaldo Teófilo - 5,4
31) Rinaldo Lisboa Calheiros - 5,5
32) Terezinha Almeida Galvão - 6,0
33) Zélia Madruga - 6,0
34) Zila  da Costa Mamede - 6,7

Ao compararmos as duas listagens percebemos que 46,66% da primeira lista tiveram êxito, foram as vitoriosas. É importante lembrar esses nomes e trazer ao público. Das mulheres acima eu convivi com Anna Maria Cascudo e conheço, sem ter laços de amizade, Zélia Madruga.
Anna Maria Cascudo em 1959


Francisco Martins
04 de março 2020


Fontes:
O Poti - Edição nº 164, de 19 fevereiro de 1955.
______ - Edição nº  169, de 27 fevereiro 1955.
______ - Edição nº 170, de 1 março 1955. 
A República -  14 de outubro de 1959.



segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

PERO MENDES DE GOUVEIA



Pouca gente sabe quem foi PERO MENDES DE GOUVEIA.  Agora quem nunca ouviu falar vai saber um pouco sobre ele. Um militar que comandava o  Forte dos Reis Magos no longínquo ano de 1633. Já se foram  386 anos.
Que ato heróico fez este homem para merecer um registro em nossa história?  
Ele enfrentou com 80 soldados, no período de 8 a 12 dezembro, dentro do Forte dos Reis Magos, a tropa de 800 soldados que atacavam  por mar e terra. Era a invasão holandesa comanda pelo Coronel Baltazar Bijma. Foi ferido no combate,  "mesmo assim, Pero Mendes de Gouveia teve forças para erguer-se e protestar contra a entrega dos Santos Reis Magos" (CASCUDO, 1977). O Comandante faleceu entre Itamaracá a Goiana/PE, cerca de 13 a 14 depois desta batalha.






Referências

CASCUDO, Câmara. O Livro das Velhas Figuras - Volume III. Natal/RN.IHGRN, 1977.p. 64 e 65.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

PROFESSOR LUIS CARLOS FREIRE LEVANTA A VOZ PELO SAGRADO E HISTÓRICO DE NÍSIA FLORESTA

 Por Luis Carlos Freire

 

TÚMULO DE NÍSIA FLORESTA: ABANDONADO E SUFOCADO... IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DO Ó DESCARACTERIZADA... AS AUTORIDADES PRECISAM CUIDAR DESSE E DE OUTROS PATRIMÔNIOS ENQUANTO É TEMPO. 

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Professor Luis Carlos , na sessão de terça-feira p.p, no Conselho Estadual de Cultura do RN
Hoje, talvez, ALGUMAS pessoas não entenderão o meu gesto, mas importa-me a certeza de estar no caminho certo e fazendo o papel que pertence a milhares de omissos. Não sou contra pessoas. Sou contra atos imperdoáveis que precisam ser interditados a bem da História e da Memória, e refletidos nas escolas e em todos os ambientes de Cultura. Sou contra a ignorância ditando hábitos e passando por cima da verdade e da História. Estamos diante de crimes contra patrimônios históricos de valores incalculáveis, dilapidados em nome de uma modernidade inadmissível, assistida em silêncio porque equivocados, de fato, acham bonito o gesso, o vidro, a lage cheirando a cimento, o porcelanato etc. E a história que se exploda, pois"a história fede e é feia", diriam...
 SOBRE O TÚMULO E MONUMENTO À NÍSIA FLORESTA - A julgar pelo abandono em que se encontra, e um prédio construído ao lado do túmulo e monumento à Nísia Floresta, brevemente é possível o vermos emoldurado por outras construções que impedirão totalmente sua visibilidade. Seria essa a intenção?
Ontem, apresentei denúncia escrita e verbal, conforme os registros neste post, junto ao Conselho Estadual de Cultura e também a encaminhei ao Dr. Diógenes da Cunha Lima, Presidente da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras. Todos estão estarrecido com essa e outra denúncia que o leitor constatará abaixo.

É intolerável e equivocado assistirmos depredações ao Patrimônio Histórico em silêncio. A sociedade, salvas raras exceções (pelo menos apenas uma professora e uma escritora entraram em contato comigo sobre isso) assiste a tudo silenciosamente. Depredar o Patrimônio Histórico não é riscá-lo ou pichá-lo. Antes fosse somente isso. Depredar é descaracterizar, substituindo um material por outro sem relação alguma com as características originais. Depredar também é abandonar, é deixar que o povo faça o que bem entender, como a sufocação que se encontra o túmulo de Nísia Floresta.
Quem percebe e se preocupa com os crimes e dilapidações feitas aos monumentos antigos e ao patrimônio histórico, DENUNCIA SEM MEDO.

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Cabe às autoridades o perpétuo zelo a tais elementos, cuidando para que não sofram danos ou sejam destruídos. Diante dos altos custos de se ter que refazer um bem danificado ou destruído, muito melhor é cuidar de sua manutenção e evitar que receba qualquer interferência. Cabe às autoridade buscar apoios e parcerias em nível estadual e federal, antes, e não quando os patrimônios estiverem descaracterizados ou destruídos. Fica mais caro.

Chega a impressionar um terreno tão gigantesco como esse ao lado do túmulo de Nísia Floresta, acharem de construir um sobrado a poucos centímetros do mesmo. Está-se diante de um dos maiores monumentos da História do Brasil. Vêm turistas do mundo inteiro visitá-lo. Mas hoje mal dá para se fazer uma fotografia, pois as construções ao lado, que antes já o poluíam, hoje o sufocam.Não é correto se deixar o túmulo e o monumento chegar a tal ponto. Está quase abandonado. Não se pode permitir o estado atual de sufocamento desse importante conjunto histórico.

 As autoridades devem buscar parcerias de todas as formas, urgentemente, para adquirir a área vizinha ao túmulo e monumento, numa perspectiva que atenda a estacionamento e estrutura logística em termos turísticos. Em últimos casos pratica-se a desapropriação e indenização aos proprietários, os quais, com certeza, não se oporão à primeira proposta.
Normalmente, quando faço denúncias, o faço por minha formação educacional e exercício de minha cidadania. Não o faço por heroísmo ou como forma de “peitar” pessoas, como alguns assim o proclamam, ignorantemente. E quando essas denúncias vêm a público logo aparecem oportunistas cheios de iniciativas “anteriormente feitas” (verdadeiros fake news criados de última hora para não assumir a omissão). Mas quais autoridades locais denunciaram? Onde estão os documentos de comprovação? Os meus estão em diversos órgãos do estado e da justiça, e podem ser conferidos, inclusive minha denúncia foi publicada na Tribuna do Norte recentemente, a pedido do jornalista Woden Madruga.Não foi eu que a encaminhei. Ele leu através de um dos maiores historiadores do Estado, Professor Doutor Cláudio Galvão, aposentado da UFRN, amigo pessoal, para o qual enviei a denúncia. O que Woden fez foi pedir a minha autorização, assim como Vicente Serejo também, chocados com a situação do túmulo e da Igreja Matriz de Nossa senhora do Ó. Quem não se choca?

 IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DO Ó - Estamos diante de um fato grave. Em 2009 denunciei à Fundação José Augusto e Arquidiocese a construção de um altar e nicho na nave direita. Coisa tosca e inadmissível. Repeti a denúncia, 2014: veja o link
http://nisiaflorestaporluiscarlosfreire.blogspot.com/2014/11/igreja-matriz-de-nisia-floresta-sofre.html
Mas no caso acima foi sobre a retirada do telhado e madeiramento com AS IMAGENS DE VALOR INCALCULÁVEL TODAS EXPOSTAS, como se comprova no link acima. Após a denúncia, mandaram retirar as imagens dois dias depois, e um nisiaflorestense disse que meu texto era mentiroso, apresentando fotos com os nichos vazios. A sorte foi eu ter fotografado antes, pois eu não seria louco de manipular imagens.
Em 2019, neste ano, fiz novas denúncias, após ter ido a um enterro em Nísia Floresta, quando fiquei sem acreditar no que vi na Matriz de Nossa Senhora do Ó. Foi tudo ao contrário do que um engenheiro me alegou em 2014, quando fiz a denúncia, e o mesmo, cujo nome não me recordo, me ligou dizendo que estavam refazendo todos os projetos, cujas obras se dariam na perspectiva de restauração com total respeito às características originais da Matriz. Restou-me acreditar, portanto eu pensava que as obras se seguiram com respeito ao Patrimônio Histórico. Só fui perceber durante o enterro. Dessa última vez também fiz a denúncia junto ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Conselho Estadual de Cultura, Arquidiocese de Natal, Conselho Regional de Arquitetura, Centro de Documentação Eloy de Sousa, Ministério Público e IPHAN, inclusive pedi o tombamento para que não continuem assassinando a história.

 É inacreditável olhar o teto do altar-mor da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó, em Nísia Floresta e enxergar um crime contra a arquitetura barroca original. Nos meus estudos sobre o assunto, desde os tempos universitários, e posteriormente o contato com especialistas de Ouro Preto e Rio de Janeiro, aprendi que a intenção arquitetônico/sacra da Matriz de Papari foi revestir todo o altar-mor de alvura, de plenitude da cor branca, pois é ali que se encontra o Sacrário. Há intenção de se dar uma conotação celestial, de "céu", de santidade, a partir da própria arquitetura. Mas, INACREDITAVELMENTE, destruíram o estuque original, e com ele foram-se os desenhos em alto e baixo relevos, em perfeita harmonia com todos os demais elementos da Igreja Matriz. Mataram o Barroco. Mataram a História. Não desaprovo a necessidade de ter sido necessário reformar a tela que segurava a cúpula/estuque/forro. Certamente corria o risco de desabar. Mas, se carecia de restauração, que fosse refeito em respeito às características originais. Isso também é restaurar. Vejam, abaixom, a fotografia antes da descaracterização e vá até a igreja conferir a barbaridade feita. É um choque. A madeira preta matou a beleza arquitetônica do templo e da própria intenção de transmitir a plenitude celestial ao altar-mor. Veja, abaixo:

 Em 2008 o reboco desse estuque desabou. Foi um estrondo na Matriz. Eu tinha fotografias e desenhei em tamanho natural todos os altos e baixos relevos, os quais foram moldados novamente em cimento pelo filho da Dona Moça (do Monte Hermínio) Finalizando, é deplorável. Confesso que não tenho palavras para externar minha repulsa às barbaridades que tenho visto acontecer nessa Igreja Matriz e ao Túmulo e Monumento à Nísia Floresta. O assunto é patrimônio histórico. Não estamos falando de uma casinha de palha lá no sítio do seu Pedro. É uma igreja de quase 300 anos, cujas pedras foram trazidas sob carros de boi, de Morrinhos, cuja argamassa era cal, barro e óleo de baleia. Arrancaram todo o assoalho das duas naves. Aquilo era intocável. É arquitetura de época. Se precisasse de substituição da madeira, que fosse substituído por madeira. Lembro-me que tudo é madeira nobre. Madeira de lei. Não estavam estragadas. Mas suponhamos que suas pontas estivessem avariadas, que fosse cortada e se anexasse pedaços novos, da mesma madeira.  Mas colocaram laje. Onde estão essas madeiras. Estão bem guardadas. Elas são peças de valor museológico sem preço. É patrimônio do município de Nísia Floresta. O mesmo foi feito à sacristia. Isso é descaracterização pura e simples. Fica meu registro público de que jamais aceitei isso e sempre protestei. É o que posso fazer. É o que todos deviam fazer. E você, o que tem feito?
Algumas pessoas não entendem a minha denúncia e se valem de colocações ingênuas ou equivocadas. Mas como pessoa civilizada - que estudou profundamente História da Arte, que estuda Restauração de Edificações Históricas, e tem um testemunho de 27 anos de luta em prol da defesa da história e da memória do patrimônio material e imaterial de Nísia Floresta e região - não me importo e seguirei o meu trabalho. O qual também deveria ser teu.
Veja, abaixo, imagens que falam por si: Como se desce de um telhado uma linha gigantesca de madeira, de quase trezentos anos, quase em perfeito estado de conservação, sem proteger o ladrilho-hidráulico? Como se destelha uma igreja de quase 300 anos, sem tirar de dentro delas imagens originais de mais de 200 anos? Só espero que essas linhas estejam muito bem guardadas, pois são peças museológicas de valor incalculável. Observe que é uma árvore inteira. Imagine seu tamanho e quantos anos ela trazia quando foi arrancada das imediações de Papari. Espero que todo esse madeiramento, tão valioso quando os demais tesouros internos da Matriz, estejam muito bem guardados para que possamos criar o Museu da cidade e alojar esses materiais, pois pertencem ao povo e são históricos.
Finalizo, lembrando que a igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó, enquanto elemento arquitetônico e religioso, e o túmulo de Nísia Floresta, e outros elementos históricos dali, pertence ao povo. As autoridades estão de passagem mas o povo fica, portanto o povo não pode tolerar tamanho crime contra a história.

 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

LUÍS CARLOS LINS WANDERLEY NÃO FOI O PRIMEIRO CRONISTA DE CEARÁ-MIRIM

A História esconde segredos. Descobri-los é tarefa daqueles que gostam de pesquisar, que mergulham nos livros, em periódicos antigos, em escavações e outros meios.  Hoje é dia de anunciar que  LUIS CARLOS LINS WANDERLEY não terá mais o título de primeiro cronista da História de Ceará-Mirim.
Luís Carlos Lins Wanderley - quadro da galeria de patronos da ANRL 


Em agosto de 1882, o Bispo Dom José Pereira da Silva Barros, de Olinda-PE, esteve visitando o Rio Grande do Norte e o Dr. Luís Carlos Lins Wanderley, primeiro potiguar a se doutorar em medicina, foi convidado a fazer parte da comitiva, estando com o prelado em todas as paróquias que Dom José Pereira visitou, e entre estas a cidade de Ceará-Mirim. O olhar e as anotações do também jornalista Luís Carlos Lins Wanderley transformaram-se no livro " Visita Episcopal do Exmo. e Revdmo. Sr. D. José Pereira da Silva Barros a algumas paróquias do Rio Grande do Norte"(1887).

A memorialista Madalena Antunes, autora de "Oiteiro - memórias  de uma Sinhá-Moça"(1958) transcreve o texto escrito por Luís Carlos Lins Wanderley, no capítulo "A visita de D. José", o que comprova quanto foi marcante aquela estada de um Bispo, na cidade de Ceará-Mirim, cerca de 137 anos passados.
Madalena Antunes - memorialista






Este fato passou despercebidos pelos historiadores Rocha Pombo e Câmara Cascudo, que não registraram em nenhum momento a visita de Dom José pelo Rio Grande do Norte nos seus respectivos  livros: "História do Estado do Rio Grande do Norte" (1922) e "História do Rio Grande do Norte" (1984, 2ª edição). Cascudos lembrou de  citar no livro  "História da Cidade do Natal" (1980, p.444), afirmando que ele esteve em Natal em 8 de agosto de 1882.  O certo é que  por mais de um século e três décadas o nome do Dr. Luís Carlos Lins Wanderley foi detentor do título de primeiro cronista da cidade de Ceará-Mirim por causa do seu trabalho de relato junto ao Bispo  Dom José.

Francisco Martins tomando posse no IHGRN
Para se fazer justiça, o pesquisador Francisco Martins, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e da Academia Cearamirinense de Letras e Artes - ACLA - Pedro Simões Neto encontrou neste mês de fevereiro de 2019, um texto no jornal  "O Dois de Dezembro", periódico político e noticioso, datado de 10 de fevereiro de 1860, portanto 22 anos antes da visita episcopal, que muda essa história.. A crônica tem como título:  "VIAGEM OFICIAL DO EXMO. SR. DR. JUNQUEIRA À VILA DO CEARÁ-MIRIM". Dr. Junqueira citado na crônica era o Presidente da  Província do Rio Grande do Norte,  João José Junqueira que governou de 4 de outubro de 1859 a 28 de abril de 1860. Ele fazia parte do Partido Conservador.
Brasão do Partido Conservador

 A importância desta crônica para a História de Ceará-Mirim é de uma valor considerável. A visita do Dr. Junqueira começa a ser feita no dia 31 de dezembro de 1859, às 17 horas,  saindo a cavalo de Natal com destino à Vila de Ceará-Mirim, via Extremoz,  com a sua comitiva composta pelo chefe da polícia,  um ajudante de ordem,  um oficial da secretaria de policia, do guarda-mor da alfândega, e dois deputados provinciais.
Diz o cronista: "Na altura do Jorge, uma légua antes de chegar à vila foi S. Exc. recebido pelo comandante superior Manoel Varela do Nascimento, e mais um número crescido de cavaleiros que, juntos aos do Sr. Leopoldo, pode-se dizer, formavam um esquadrão completo de cavalaria".
O Leopoldo citado acima é  Manoel Leopoldo Raposo da Câmara que foi ao encontro do Dr. Junqueira, uma légua antes de Extremoz, oferecendo sua casa para a estada do Governo Provincial.
Dr. Junqueira visita os alicerces da construção da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, fazendo doação de dois contos de reis para a obra do templo. Vai aos  engenhos Carnaubal  e Cumbe.
A visita termina na tarde do dia 3 de janeiro de 1860, quando pelas 17 hs volta para Natal. Quem foi o autor desta crônica? Eis um enigma  a ser decifrado. O cronista, habilidoso e de pena ágil, não quis assinar com o seu nome verdadeiro, fez uso de um pseudônimo:  O ROCEIRO DA CAPELA.

Brevemente, ainda neste semestre, o pesquisador Francisco Martins estará lançando uma plaqueta com ambas as visitas.

 
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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

A MORTE DE HILÁRIO NEVES

"A morte é quem redime tudo, é quem perdoa tudo, é quem alivia tudo"
Edgar Barbosa


Amanheci com uma vontade de visitar o túmulo de Hilário Neves, afinal, hoje, dia 7 de fevereiro faz exatamente 118 anos do seu falecimento. Faleceu jovem, aos 24 anos, 4 meses e 26 dias, na madrugada daquele ano de 1901, em sua residência na Rua Nova, hoje a Avenida Rio Branco, em Natal-RN. A cidade não deu conta do seu falecimento, até porque poucas pessoas sabiam quem era Hilário Neves.
Morreu poeta, seus versos retratam o desejo de viver, mas no início do século XX, a "Dama de Branco" era insaciável. Jogava seus dardos quem atingia os pulmões, e aos poucos matavam a pessoa. Foi assim que a tuberculose vitimou Hilário Neves. Mas quem foi mesmo Hilário Neves?
Quando seus irmãos anunciaram o falecimento com o nome verdadeiro, aí sim, a cena mudou. Houve choro, lamentação, colheram-se flores, e imediatamente foram chegando as pessoas para se despedirem daquela que  desde cedo trazia na alma a cor da  morte: Auta de Souza. Sim, a poeta tinha entre tantos outros pseudônimos o nome de Hilário Neves.

Francisco Martins
07 de fevereiro 2019

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

GINGA COM TAPIOCA


Dona Zilda chegou para Carlinhos e mostrou  a Lei nº 10.481, publicado no Diário Oficial do Estado  do Rio Grande do Norte que considera como Patrimônio Cultural Imaterial a iguaria "GINGA COM TAPIOCA".
Carlinhos leu e ficou pensativo. Balançava a cabeça, calado, ora pra frente, ora pros lados, até que Dona Zilda perguntou:
-O que foi Carlinhos, não gostou da Lei da Governadora Fátima Bezerra?
-Estou aqui pensando o quanto esta Lei é importante para o Rio Grande do Norte.  Temos mais de 400 anos de existência e nunca nenhum governo se preocupou com a tal  da ginga com tapioca. Tenho cá pra mim  que agora ela vai atualizar o pagamento da folha do estado vendendo ginga para os gringos. A arrecadação vai subir como um foguete! Anote aí.

Francisco Martins
01 de fevereiro 2019