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quinta-feira, 24 de outubro de 2024

ENTRE VISLUMBRES E LETRAS - UM LEITOR SATISFEITO


O silêncio é útil para que o poeta grite. Pelo menos é com esta técnica que a poeta Josimey Costa faz uso para temperar seus escritos.

Fiz a leitura de "Entre vislumbres e letras", livro de Josimey Costa. Imagens e palavras, dois elementos que se associam em um belo trabalho poético. O leitor lê a figura, que em si derrama mil palavras, e a poeta exprime numa única estrofe o que para ela a cena transmite.

As estrofes nos dão frases grávidas de filosofia, de vivência, que por sua vez nos fazem conhecer a profundidade da poética nascida na pena de Josimey Costa.

Ao terminar a leitura eu fiquei pensando: "e agora? Todas as vezes que eu olhar um quadro, uma paisagem, perguntarei que poema escreveria Josimey aqui"

A lição que me deu é que a poesia sempre permanece em nosso olhar. Faça-se poeta "entre vislumbres e letras".

Gostei de tudo, mas o que me tocou de forma intensa foi o poema da página 91 - "a saudade me olha na parede..." Ele tem a mesma sonoridade do verso de Drummond: "...Itabira é apenas uma fotografia na parede, mas como dói".


Francisco Martins

segunda-feira, 24 de junho de 2024

UM CLÁSSICO DE VICTOR HUGO GANHA RELEITURA EM CORDEL



Escrito por Victor Hugo, e publicado em 1862, na França, o livro "Os Miseráveis" registra o grito dos pobres na sociedade francesa do século XIX.  Não demorou para se tornar um clássico da literatura mundial.

Li "Os Miseráveis" nos anos 90 e confesso que ainda não assisti o filme. Gosto mais de criar as próprias cenas na leitura, embora saiba que a sétima arte é formidável.

Hoje eu quero focar meu olhar de crítico para um recente trabalho, do autor Gilberto Cardoso, "Os Miseráveis - em cordel".

Vinte e quatro capítulos formam o livro, todo escrito em estrofes com sete pés (ABCBDDB). Um trabalho construído no tempo da Pandemia do Corona Vírus, que exigiu muito do autor, mas o resultado foi digno de aplausos.

Convido os professores da língua portuguesa, e principalmente os que trabalham com Literatura no RN, a tomarem conhecimento dessa obra escrita por Gilberto Cardoso.

Apresentá-la aos alunos do Ensino Médio é atingir o alvo com várias setas, de forma simultânea. Vejamos:

1º) O professor estará cumprindo o que determina a Lei nº 11.231, de 4 de agosto de 2022, que inclui a Literatura Potiguar nas Escolas da rede estadual de ensino e particular.

2º) A escola incentiva o fomento à literatura de cordel (Lei nº 10.950, de 13 de julho de 2021).

3º) Incentiva a Cultura da Leitura e da Escrita ( Lei nº 10.690, de 11 de fevereiro de 2020).

4º) O leitor tem a oportunidade de conhecer a releitura de um clássico francês, no gênero de cordel.

Esse é o tipo de cordelivro que nasceu para somar e fazer parte de um conjunto de obras congêneres, que contam histórias clássicas, nesse gênero de poesia, o cordel.

Gilberto Cardoso construiu 539 estrofes, totalizando 3.773 versos. Tendo a capacidade de escrever e recontar "Os Miseráveis", sem levar ao leitor a sensação de cansaço.  Breve irei assistir o filme e então poderei dizer: li o livro, o cordel e vi o filme. Louvo o autor e poeta cordelista, Gilberto Cardoso.Parabéns!

Mané Beradeiro - 24 de junho de 2024



 


quinta-feira, 21 de setembro de 2023

COMENTANDO MINHAS LEITURAS - A INCRÍVEL HISTÓRIA DE JOÃO DE SOUZA ... 16º/2023

 

Tony de Sousa, escritor natural do Rio Grande do Norte, residente em São Paulo, escreveu vários livros e o primeiro dele que li, por sinal foi ontem à noite, tem como título: "A Incrivel História de João de Souza, Vaqueiro da Paraíba, na Terra da Garoa",  lançado em 2020, pela editora Matarazzo, São Paulo. Julgando o livro pela capa fiz um pre-juízo de que se tratava de alguma ficção  no eixo Nordeste -Sudeste. Puro engano! Trata-se um ensaio biográfico, do seu tio João de Souza.


O livro é narrado na primeira pessoa e escrito de tal forma que o leitor tem a sensação de que está ouvindo o próprio João de Souza nos contar as histórias nele presente. João, um nome tão comum no seio das famílias nordestinas e que ao mesmo tempo carrega consigo a indelével marca  de homens que souberam fazer o mundo melhor. Esse João não foi diferente. É um herói, um vencedor, sua guerra durou toda a sua existência. Venceu a si próprio para poder derrotar as circunstâncias adversas aos seus objetivos. Nem quero citar aqui para não diminuir a vontade do leitor de ler.

João de Souza é sem dúvida um bom livro. Parabéns a Tony de Sousa por ter escrito esse texto biográfico e enriquecido o baú da literatura brasileira.

terça-feira, 12 de julho de 2022

COMENTANDO MINHAS LEITURAS: "A CIDADE EM CHAMAS" - CHAMOU MINHA ATENÇÃO!

Diz o povo em seu saber
Que fogo ladeira acima
A água ladeira abaixo
são coisas que não anima
Por isso meu camarada
Não passe nesta estrada
Nem queira sentir o clima

Isso é coisa pra Bombeiro
Que sabe bem o que faz
A ele nosso louvor
Que da dor nos dá a paz
É anjo aqui na terra
A verdade que encerra
Em espírito tão audaz"

Mané Beradeiro.

Flademir Gonçalves Dantas, guardem bem esse nome, ele tem muita coisa a nos dar no campo da literatura de pesquisa. Quem é ele?  É um homem que tem 40 anos, casado, pai de dois filhos, estudou em escolas públicas, prestou concurso para  soldado no Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande Norte (2002), graduou-se em  História e Direito e é Mestre em História. Atualmente é 3º Sargento Bombeiro Militar.


Li recentemente o seu  livro " A Cidade em Chamas: O serviço de extinção de incêndios em Natal/RN (1917-1955). Fui ao lançamento que aconteceu no dia 9 de junho deste ano, na sede do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, do qual ele faz parte. A dedicatória veio assim: "Ao amigo Martins Neto, dedico esse livro para ser lido com capa, capacete e cilindro de ar respirável, pois as chamas do passado ainda queimam ."



Há livros que você ler e esquece. Há aqueles que são lidos e ficam por algum tempo em nossa memória e existem os que têm o poder de nos cativar. O livro "A Cidade em chamas ..." vai ficar na minha biblioteca por muitos anos. Primeiro porque é fruto de uma pesquisa árdua ( e quem é pesquisador sabe bem o que isso representa), segundo: ele traz um resgate  valioso e inédito na lacuna da História do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Norte. Some-se a isso, que através dele mergulhamos numa Natal  dos séculos XIX e XX com suas fragilidades na  inexistência e depois na estrutura de uma corporação dos bombeiros.  Enquanto o fogo queima, Flademir Dantas vai tirando das cinzas o calor da história e monta um painel repleto de cenas que Natal viveu.


Não pretendo tirar o sabor do mel que Flademir tem guardado nas páginas do seu livro aos leitores, mas posso reavivar a chama da curiosidade e dizer que vale a pena tê-lo. O projeto gráfico é muito bom. Capa bonita, diagramação bem feita, revisão  textual excelente, papel pólen no miolo ( que não cansa a vista), muitas fotografias, etc. O próprio autor promete que esse é a primeira parte de uma trilogia: " Esse é o primeiro volume de uma trilogia que almeja rascunhar a centenária História do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Norte ...". Parabenizo o autor, pois um trabalho deste nível fica para sempre! 

Aguardamos ansiosos os outros livros.


Francisco Martins
12 de julho de 2022





quinta-feira, 26 de maio de 2022

PEDRO COELHO - OLHAR MINERAL

 


    Eulália Duarte Barros, escritora, Conselheira do Conselho Estadual de Cultura do RN e Acadêmica da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras nos presenteia com mais uma obra: "Pedro Coelho - Olhar Mineral".
   Um livro que começa se abrindo para o leitor com imagens fotográficas que retratam o homenageado com família e amigos. Clichês em preto e branco que formam páginas do álbum da vida.
    Passam-se algumas folhas e o ledor vai esbarrar num poema de Zila Mamede, dedicado a Pedro Coelho, que traz o subtítulo do livro.
  Tem razão Ângela Almeida quando escreve: " o que poderia ser simples tornou-se complexo". E o leitor não veja isso como uma pedra literária criada pela autora, mas, sim, por causa das possibilidades  de prismas que o livro nos oferece.
    Eulália Barros passa a ser a própria voz da "Casa da Seridó". A personalidade da casa é o reflexo do próprio Pedro, caridoso e até certo ponto, senhor das dores, coração flamejante.
   A ficha catalográfica teima em querer que o leitor acredite ser esse um livro de memória, mas não é. Sua beleza, suas ilustrações me levam a afirmar: não, não é memória. Ele vai muito mais além, é prosa poética, é cântico de louvor é canção de amizade. 

Francisco Martins.



segunda-feira, 25 de abril de 2022

CORDELISTAS CONTEMPORÂNEOS -UM REGISTRO EM 2022 - PARTE I

 Imaginem o mundo sem Zeca Pereira, como seria pobre. Alguém poderá pensar: "mas ele não é tão universal assim. É apenas uma gota no oceano da humanidade". Sim, mas sem a existência dele, esse oceano estaria incompleto. Há homens que não gritam e são ouvidos a milhares de quilômetros da sua localidade. Zeca Pereira é um deles. 


José Pereira dos Anjos - Zeca Pereira

"Do meu sangue fiz a tinta,
Dos cabelos um pincel,
Da palma da mão esquerda
Uma folha de papel
Pra escrever com a direita
Tudo que devo ao cordel"
(ZECA PEREIRA, 2020, P. 413)

Inicio essa resenha enaltecendo o editor, folheteiro, poeta cordelista Zeca Pereira para fazer justiça ao seu trabalho a favor do cordel brasileiro. No roçado da Nordestina Editora, que começou a existir em março de 2016,  já desabrocharam produções literárias que honram as estantes das cordeltecas e dos poetas e pesquisadores que prezam por bons livros. Vejamos alguns:

Cordelistas Contemporâneos - 2017

Além do Cordel - antologia versátil - 2017

O Baú do Medo - coletânea de cordéis de suspense e terror. - 2019

Anuário do Cordel Brasileiro - 2019

O ABC do Cordel, além de Rima, Métrica e Oração - 2020 (manual para quem deseja escrever cordel)

Dicionário Biobibliográfico dos Cordelistas Contemporâneos, - com pequenas biografias de 204 poetas - 2020

Nova Antologia de Cordelistas Baianos - com  30 poetas - 2021

Cordelistas Contemporâneos - 2022

Some-se a isso a grande quantidade de folhetos que a editora lança  constantemente, quer sejam dos cordelistas atuais ou as obras clássicas desse gênero literário. Venho hoje tratar sobre o mais recente trabalho da Nordestina Editora que tem o título "Cordelistas Contemporâneos - Coletânea 2022",  nele temos a oportunidade de conhecermos um pouco do quem vem sendo produzido em cordel  em cinco regiões brasileiras.


A antologia se apresenta  da seguinte forma, no tocante a participação dos  poetas e das poetas cordelistas: ao todo foram 49 participantes, sendo 13 mulheres (27%) e  36 homens (73%).



Quando analiso a faixa etária dos participantes a situação é a seguinte:





O cordel continua encantando todas as idades.  De 32 a 80 anos vamos encontrar nesse livro, pessoas escrevendo sobre os mais diversos assuntos.

Apenas 11 estados se fazem presentes nessa antologia. Devo entretanto adiantar que isso não significa que os poetas são naturais destes estados, com raríssimas exceções,  para os estados de São Paulo, que tem o poeta  Márcio Fabiano e Rio Grande do Sul, com José Heitor Fonseca e os poetas do Pará ( AroDinei Gaia,  Flávio Barjes e Niro Carper). Os demais, todos são nordestinos, poetas que vivem em outras  locais  deste extenso Brasil, longe do seu berço. Esse quadro corrobora que  o  nordestino é inegavelmente o maior semeador e sustentador dessa literatura.



Se foco a participação por Regiões do Brasil o quadro fica assim:






Percebam que existem verdadeiros poetas quixotescos, que sozinhos trazem a presença do cordel nesse livro. Refiro-me a Aurineide Alencar (Centro-Oeste) e a José Heitor Fonseca (Sul). A eles, nossos aplausos, pela coragem e determinação de continuarem levando a literatura do cordel brasileiro.

Há um outro fator que é muito importante levarmos em conta. Trata-se do nível de estudo alcançado pelos poetas. Se outrora, os poetas populares, quer sejam cantadores de violas, repentistas e cordelistas eram tidos  na categoria de homens e mulheres não letrados, hoje a situação é totalmente diferente. Percebam que aqui, dos 49 poetas que compõem a antologia, 33 são graduados e 16  estão entre aqueles  que não informaram ou não  têm um curso superior. Entre os graduados,  mais da maioria buscou especialização e  pós-graduação. Isso não significa que essa turma é maior em qualidade poética que aquela dos 16 não graduados. Não vai ser o nível de formação que fará o poeta. Lembremo-nos de Paulo Freire: "Não há saber mais ou saber menos, há saberes diferentes".




Uma coisa é certa, quanto mais subimos na escala do conhecimento, maior se torna a responsabilidade naquilo que produzimos, e isso se aplica ao cordel. 

Feitas as considerações acima, é chegada a hora de avaliarmos a produção literária. 


"Os assuntos são infinitos.
Todos os motivos políticos,
locais e nacionais fazem
nascer dezenas de folhetos"
(CASCUDO, 1953, P.11)

E passados 69 anos depois que Cascudo escreveu "Cinco Livros do Povo", no qual ele vai se debruçar sobre a literatura popular, hoje conhecida como cordel,  nossos poetas continuam a escrever sobre os mais variados assuntos.  Vou resenhar sobre cada texto e estarei publicando por aqui, na segunda e última parte desta postagem. Aguardem.

Sem perder o rumo e o prumo ...


Mané Beradeiro
25 de abril 2022
Parnamirim-RN



Fontes consultadas:

Dicionário Biobibliográfico dos Cordelistas Contemporâneos -  Zeca Pereira - Org. Barreiras-BA: Nordestina Editora, 2020.
 
Cinco Livros do Povo. Luis da Câmara Cascudo. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1953.




segunda-feira, 21 de março de 2022

UM OLHAR SOBRE A COLEÇÃO DEZ MULHERES POTIGUARES - CORDEL

 



A Casa do Cordel, pelo quinto ano consecutivo, concretizou mais uma edição da Coleção Dez Mulheres Potiguares, que é um projeto voltado a homenagear as mulheres, através do gênero de cordel, onde as autoras escrevem sobre outras. Tenho acompanhado todas as edições, na qualidade de leitor e principalmente como crítico do cordel brasileiro, e até onde sei, o único do Rio Grande do Norte, que tem a coragem de escrever sobre esse gênero e tornar pública a opinião. É bem verdade que há aqueles que falam, mas não escrevem. São palavras soltas ao sabor do vento. As minhas, optei por gravá-las na pedra.

Tal atitude tem seu preço, e acreditem, nem sempre é saboroso como o mel, e isso se dá pelo fato de que o autor ou autora, objeto da crítica, às vezes não aceita ver seu cordel ser analisado de forma tão criteriosa. O que eu quero na verdade é mostrar o zelo que devemos ter por essa poesia. Se há regras que tenhamos a preocupação de segui-las; se há sugestões para melhorar a produção, que tenhamos a humildade de acatá-las. Eu mesmo sou um poeta cordelista que cresci em minha trajetória por ter vontade e disciplina. Muitos erros cometi nos primeiros folhetos, mas não me amarrei a eles. Como dizia Rafael Negreiros: “Não sou estátua para não mudar de posição”.

Feitas tais considerações é hora de apresentar o que vi na quinta edição da coleção “Dez Mulheres Potiguares”, As poetas cordelistas foram (por ordem alfabética):

1)    Célia Melo (Bombom) - Ana Paula campos: Mulher de todas as tribos

2)     Fátima Régis - Titina Medeiros: A arte e a resistência de uma atriz potiguar

3)    Geralda Efigênia - Eliane Amorim das Virgens Oliveira: Primeira desembargadora do RN

4)    Gorete Macêdo - Maria de Lourdes Alves Leite: Pioneira na Justiça do Trabalho Potiguar

5)    Járdia Maia - Lindalva Torquato Fernandes: Da Política no Sertão para a justiça no TCE - Ministra TCE

6)    Jussiara Soares - Áurea de Gois: A poetisa de Extremoz

7)    Rita Cruz - Daluzinha Avliz: A Contadora de Histórias

8)    Rosa Régis - Dona nenén: A sua arte deu cores ao galo de São Gonçalo

9)    Sírlia Lima - Wilma de Faria: Uma rosa vermelha e uma líder guerreira

10) Vani Fragosa - Fátima Bezerra: A esperança fazendo a história.

        Li e reli várias vezes os dez folhetos - vou apresentar um quadro geral sobre as observações, caso alguma autora deseje saber a análise que foi feita sobre o seu poema, posso enviar pelo e-mail.  Como é do conhecimento de todos, o gênero do cordel possui entre suas características, três que são inegociáveis: métrica - rima - oração. Tratarei disso à luz da Tabela Beradeiriana, que vai nos mostrar a eficiência poética do conjunto dos textos analisados. Nove folhetos têm 32 estrofes e apenas um tem 31 estrofes, em sextilhas, com versos heptassílabos (pelo menos deveriam ser), isto é, sete sílabas poéticas. Assim sendo, considerei para fim da aplicação da Tabela Beradeiriana, que a coleção teria um único texto com 319 estrofes, 1914 versos, dos quais 957 devem ser rimados e ter boa oração. 

 O Resultado foi este:

MÉTRICA: 97, 87%

RIMA = 99,37%

ORAÇÃO = 95,65%

 A média geral do Índice de Aproveitamento Poético dessa coleção foi de 96,63%. Algumas participantes obtiveram o IAP de  100 %, e outras menos, mais nenhuma ficou abaixo  de 92%. O que é digno de aplausos.

Quais ensinamentos podemos tirar dessa análise crítica?

 1º) É preciso sempre ter a preocupação de mandar revisar o texto poético, antes de   entregá-lo para a impressão final.

2º) Há excelentes poetas cordelistas no RN mas existem aquelas que ainda precisam solidificar seus poemas.

3º) A Casa do Cordel, instituição que tem prestado relevante serviço ao Cordel  Brasileiro, não pode achar que um trabalho com dez poetas participantes, não careça passar pelo crivo de um Conselho Editorial. Se isso tivesse acontecido, com certeza o IAP seria muito maior.

4º) É mister promover um curso de formação sobre métrica, rima e oração, para que possamos dessa maneira capacitar os poetas (homens e mulheres) que têm dificuldade no assunto.

 Outras observações são importantes que se façam, são elas:

 1º) Há uma carência grande da presença de imagens poéticas nos folhetos. É preciso que o poeta saia da linguagem comum e traga ao seu texto elementos que causem ao leitor emoções, devaneios e vontade de continuar lendo outros poemas desse autor.

2º) Tente na construção do verso dizer o que pretende, sem causar ruptura na sonoridade.

                     Exemplos:

               “ Em Brasília adentrou na

                 Câmara dos Deputados”

 

               “ Foi na Faculdade de Nova

                 Friburgo estudar”

 

3º) Mantenha-se fiel ao tema que se propôs poetizar. É frustrante o leitor perceber que o autor não tratou sobre o que diz o título do cordel. Nesta coleção “Dez Mulheres Potiguares - 5ª edição” dois folhetos apresentam isso:          

 Daluzinha Avlis: A Contadora de Histórias - Não há uma única estrofe que trate sobre as atividades da Daluzinha, no ofício de contadora de histórias e o registro da Maratona de Histórias, algo tão singular criado por ela.

 Lindalva Torquato Fernandes - Da Política no sertão para a justiça no TCE - Ministra do TCE - Também aqui não encontramos nada que diga respeito à presença da homenageada no Tribunal de Contas do Estado - TCE.

 Finalmente há coisas boas a serem ditas sobre a coleção em pauta:

As cordelistas têm um bom domínio da rima e oração.

As mulheres que foram temas dos poemas revelam a importância da luta da mulher na cultura e história potiguar

O Cordel Brasileiro, escrito por mulheres, ganha cada vez mais espaço e conquista leitores

As artistas xilogravuristas ( Célia Albuquerque, Cecília Guimarães, Letícia Paregas e Kimberly) fizeram um trabalho louvável.

. O Conselho Estadual de Cultura do Rio Grande do Norte, em sua sessão plenária, de terça-feira pp, aprovou voto de congratulação pelo conjunto da obra. A proposição foi feita pela Conselheira Sônia Maria Ferreira Faustino e o voto será enviado brevemente à Casa do Cordel, as poetas participantes e à Professora Doutora em Literatura Comparada (UFRN), do Instituto Kennedy e da Rede Pública de Natal - Aparecida Rego, que escreveu a apresentação dessa coleção.

Mané Beradeiro, em 21 de março de 2022.


 A imagem que ilustra o artigo foi tirada do seguinte  endereço: https://www.soumaisrn.com.br/2022/03/08/coletanea-de-cordeis-homenageia-mulheres-que-fizeram-historia-no-rn-neste-8-de-marco/  Visualizada em 21 de março  de 2022.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

COMENTANDO MINHAS LEITURAS: PUSSANGA - MOLDURA DO BRASIL AMAZÔNICO

 "Pussanga" é o título de um dos livros de Peregrino Jr, escritor potiguar, que foi membro e Presidente da Academia Brasileira de Letras-ABL e da Academia Norte-rio-grandense de Letras, além de outras instituições. As histórias de "Pussanga" são lendas, superstições, costumes, ofícios laborais do homem que vivia  na Amazônia, no segundo decênio do  século XX.

Peregrino Jr

O livro foi premiado em 1929 pela ABL e recebeu tradução para vários idiomas. "Pussanga" é sinônimo de medicamento caseiro, conforme vemos no conto de abertura Garrafada Indígena: "nessa pussanga, tem infusão de muyrakitan".

Escrevo sobre livros antigos porque muitos leitores sequer sabem da existência deles. E é sempre bom lembrar que livro novo é todo aquele que ainda não foi lido. Em "Pussanga, Peregrino Jr nos leva a Belém (PA) onde vamos encontrar José Caruana e Vicente Dória, numa tentativa de sociedade comercial. Isso no primeiro conto já citado acima. Na sequência, em Areia Gulosa temos Antonio e Josino, o primeiro, nordestino de Catolé do Rocha (PB), o outro de Óbidos (PA). O conto tem como local a fazenda "Boa Esperança", do Coronel Zé Júlio. Ali veremos a força do trabalho e a ingratidão de uma mulher, bem como a prática da entrega de terra para cultivo em troca de uma percentagem (10%) ao proprietário.

Quando o leitor correr os olhos pelo conto "Carimbó" vai encontrar o nonagenário Zé Vicente, escravo que sabe muito sobre a presença do negro no Amazonas. Através dele conheceremos o Quilombo de Trombetas e a sua organização política, econômica e cultural.  " No ritmo do Carimbó dançando a dança negra os negros velhos recordam as senzalas tristes".

Geralmente os escritores têm uma história dedicada à beleza da mulher. Peregrino Jr não fugiu a  regra e deu formosura e curvas a "Feitiço", o nome pelo qual era conhecida a linda criada do Coronel  Rodopiano. A cabocla descrita por Peregrino Jr é sem sombra de dúvida o protótipo literário do que mais tarde iremos conhecer em "Dona Flor", personagem de Jorge Amado. "Tinha bom cheiro de carne morena, mas nela havia também a maldição". Qual seria essa maldição? Vale a pena conhecer Feitiço, um conto que mostra a saga de uma jovem mulher, lutando pela vida, numa rota de sobrevivência que se passa entre Belém(PA) até o Rio de Janeiro.

No centro do livro temos o conto "O Putirum dos Espectros"  no qual o autor vai mostrar a forma de sobrevivência de uma família pobre, através da prática da barganha. No sexto conto "O Sobejo da Cobra Grande" temos um jogo de ciúmes entre Leôncio e Luizinha, adolescentes. Ele capaz de realizar grandes gestos de coragem por amor a ela.

"Recordações da Madeira- Marmoré" é o único texto nesse livro, no qual a narrativa está na primeira pessoa. Pode ser um conto, mas há traços de ser uma crônica. O autor relata sua estada de três meses em Guajará-Mirim, fronteira com a Bolívia.

No oitavo conto, o leitor mais uma vez terá um encontro com a cultura machista que imperava naquela região, fazendo da mulher um mero instrumento, um objeto de prazer. "Ladrão de mulheres" trata disso e muito mais. Já no "O Espritado" a temática é a crença de que não se deve fazer esforço laboral nos dias grandes da Semana Santa. Zeferino foi caçar e  "ficou possuído de uma mau espírito! Sabe como é? Espritado, patrão".

E a viagem vai terminar no décimo conto "A Fogueira de Guajará". Nele tudo acontece num ambiente de festa junina, em Guajará, reinado do Coronel Antonio Gomes, rico e solteirão que tem como filosofia: " Não se deve fazer a vida pior do que ela é". Que pode uma curiboca fazer na vida de um cinquentão? Deixarei para o leitor buscar a resposta.

E assim fica resenhado "Pussanga", livro de Peregrino Jr, lançado em 1929 quando ele tinha 31 anos. A segunda edição veio em 1945 e a terceira em 1948. Peregrino Jr nasceu em Natal no dia 12 de março de 1898 e faleceu aos 85 anos, no dia 23 de outubro de 1983.

Francisco Martins
18 outubro 2021





terça-feira, 5 de outubro de 2021

COMENTANDO MINHAS LEITURAS: NA BODEGA DE DONA MARGARETH

 

"As Bodegas da Rua do Patu e outras histórias" é o segundo livro de Margareth Pereira, desta vez no estilo de contos e crônicas. Lançado em 2018, tem o selo da Editora CJA e em suas 71 páginas há 17 histórias que nos chamam à reflexão da vida.

A prefaciadora, Professora Doutora Cláudia Santa Rosa, escreve: "Há livros que a gente se apega, identifica cheiro, cor, gosto ...Em seus escritos, Margareth deixa todas as pistas de um vasto repertório, forjado nas memórias de várias épocas".

E foi com este norte que eu entrei nos escritos da autora Margareth Pereira. A linha do desenvolvimento exposta por ela contém vários cenários, alguns têm a geografia bem definida (Ceará-Mirim), e outros, não revelada.

Margareth Pereira

Margareth Pereira nos põe diante de uma grande tela, em branco. Deixa ao nosso alcance tintas variadas e pinceis de modelos diferentes. Com sua escrita, sua vivência e criatividade nos convida a pintar nessa tela as imagens das histórias.

É bem verdade que as ilustrações de Júlio Siqueira já fazem parte do trabalho, mas não custa fazermos a nossa também.

Os contos e as crônicas pegam o tempo e o  ontem e o hoje se mesclam. Margareth Pereira nos transporta à rusticidade dos balcões das bodegas, faz a gente ter encontros com crianças vestidas de solidão, reforça a máxima de que "o amor não passa", nos surpreende com o final do  conto  "Entalo", traça analogias do comportamento humano com alguns animais, rega sementes de amor em corações adolescentes, indaga o porquê daquela vida sem cor e sem sabor e escreve outras histórias.

Tudo isso encontrei na Bodega de Dona Margareth. Vá lá você também!

Francisco Martins
05 de outubro 2021


sexta-feira, 13 de agosto de 2021

O CIRCO CHEGOU






O poeta Diógenes da Cunha Lima trouxe a beleza do circo para dentro de um livro. Cabe ao leitor dá nome a esta casa de espetáculo. Algumas personagens foram traçadas com a arte de Iaperi Araújo, que ilustrou o livro. Coube a Ivan Lira de Carvalho chamar a atenção do público, escrevendo o texto das orelhas. Lá dentro, antes da abertura do show, Diógenes, Iaperi e Racine Santos falam da importância do circo. Após essa breve apresentação, o ledor chega à pagina 15 onde as luzes dos poemas começam a cintilar e vão brilhar até o final do espetáculo. Vá ao circo. Ah, antes que eu esqueça, ao meu eu dei o nome de Baobá Circo.


Francisco Martins, que também é o Palhaço Leiturino


11 de agosto 2021

quarta-feira, 21 de julho de 2021

BIBLIOTECA NACIONAL DIVULGA EDITAL PARA O PRÊMIO LITERÁRIO BN 2021

Há mais de 20 anos, a Fundação Biblioteca Nacional realiza o Prêmio Literário Biblioteca Nacional.

Neste ano, o Edital prevê oito categorias de premiação:

  • Poesia – Prêmio Alphonsus de Guimaraens
  • Romance – Prêmio Machado de Assis
  • Conto – Prêmio Clarice Lispector
  • Tradução – Prêmio Paulo Rónai
  • Ensaio Social – Prêmio Sérgio Buarque de Holanda
  • Ensaio Literário – Prêmio Mario de Andrade
  • Literatura Infantil – Prêmio Sylvia Orthof
  • Literatura Juvenil – Prêmio Glória Pondé. 

    Excepcionalmente este ano, assim como em 2020, o Edital não incluirá a categoria Projeto Gráfico - Prêmio Aloísio Magalhães, pois a logística de recebimento e encaminhamento dos exemplares à comissão julgadora mostrou-se inviável diante do fechamento da Biblioteca e do regime de trabalho remoto instituído como medida de contenção do Coronavírus.

    Para participar, as obras devem preencher as seguintes condições:

  • estar em primeira edição;
  • terem sido publicadas no período de 1º de maio de 2020 a 30 de abril de 2021;
  • terem sido escritas em língua portuguesa;
  • terem sido publicadas por editoras brasileiras;
  • estar em conformidade com a Lei do Depósito Legal (Lei nº 10.994, de 14 de dezembro de 2004);
  • possuir número de registro ISBN (International Standard Book Number) válido no Brasil;          As inscrições devem ser feitas exclusivamente por meio da plataforma Prêmio Literário Biblioteca Nacional, de 07 de julho a 20 de agosto. Leia o edital completo no link https://www.bn.gov.br/edital/2021/edital-publico-premio-literario-biblioteca-nacional-2021

domingo, 18 de abril de 2021

O HEREGE DE SOANA – Gerhart Hauptmann

 Quinta e sexta últimas, li  "O Herege de Soana", do escritor alemão Gerhart Hauptmann. Uma novela encantadora, quem tem como cenário uma pequena cidade. Ia escrever a resenha, quando me deparei com o texto abaixo e preferi trazê-lo ao meu blog e compartilhar com vocês. Ele está publicado em Comunidade Resenhas Literárias e tem a autoria de Fabio Shiva.
 
 
Gerhart Hauptmann

 
"Quem seria a enigmática figura que o povo de Soana chamava simplesmente de “o herege”? Vivendo nas montanhas em meio a cabras e bodes, vestido com peles e tocando sua flauta de Pã, um homem que deixava transparecer inteligência e erudição, apesar de seu humilde ofício de pastor.

Ao travar contato com o Herege de Soana, o narrador recebe das mãos dele um manuscrito com a história do padre Francisco Vela, tido como santo pelo povo. Só que o padre acaba se apaixonando pela bela Ágata, filha natural de um casamento incestuoso.

Em linhas gerais, essa é a trama de “O Herege de Soana”, uma narrativa dentro da outra que é sobretudo um romance de ideias. O autor segue uma forte influência naturalista, o que fica patente nas apaixonadas descrições da natureza e também de alguns personagens. Mas há muito mais que isso nesse livro.

Hauptmann é um hábil crítico do cristianismo enquanto instituição, muitas vezes engessado por dogmas e rituais que pouco ou nada tem a ver com o Cristo. Mas não é o ateísmo vazio que o autor opõe ao cristianismo mofado, e sim uma vivência da divindade através do contato com a natureza e, principalmente, do amor. Tive a impressão de que ele propõe um retorno ao paganismo como forma de retomar a ponte entre o homem e Deus.

Trata-se de um livro sutil e rebuscado, escrito no início do século passado. Me evocou bastante Hermann Hesse, não só pelos cenários e pela nacionalidade, como pelo estilo e modo de conduzir a história.

Um item curioso foi o narrador da história ser tratado na terceira pessoa. Nunca havia visto esse recurso antes.

Gerhart Hauptmann ganhou o prêmio Nobel de Literatura de 1912."
 
Quem mais poderia acrescentar?   Talvez seja importante  saber que quando ele ganhou o prêmio Nobel de Literatura, a novela  "O Herege de Soana" ainda não estava publicada. Ela foi lançada em 1918. Quem desejar ler a novela pode adquiri-la em vários sites da internet, com preços módicos. Outrossim, gostaria de lembrar que esse escritor, em seu leito de morte, pediu para que fosse lido o texto bíblico da Segunda Carta de Paulo aos Coríntios  (II  Cor. 12, 2 a 4), que registra a presença de um homem ao paraíso e que ouviu palavras inefáveis.
 
Em suma, na boa expressão latina: Sursum Corda (Erguei os Corações) e vinde conhecer "O Herege de Soana".
 
Francisco Martins
18 de abril de 2021
E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe)
Foi arrebatado ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar.

2 Coríntios 12:3,4
E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe)
Foi arrebatado ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar.

2 Coríntios 12:3,4
E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe)
Foi arrebatado ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar.

2 Coríntios 12:3,4

 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

UMA VISITA AO PAÍS DE SÃO SARUÊ

Foi o poeta Manoel Camilo dos Santos (1905-1987),  quem escreveu o poema "Viagem a São Saruê" ( Campina Grande - PB 1956)São 212 versos distribuídos em 32 estrofes  no formato de sextilhas (esquema de rima xaxaxa) e 2 estrofes decassílabas (esquema de rima abbaaccddc). 

A história de São Saruê chegou até o poeta Manoel Camilo dos Santos através da oralidade, conforme ele mesmo declarou a Orígenes Lessa, que quando criança ouviu muitas vezes o adágio popular: " Só em São Saruê, onde feijão brota sem chover".  Ainda chegou a  afirmar: " -Um folhetinho à-toa que eu fiz fácil, fácil..."

 
Eu que desde pequenino
Sempre ouvia falar
Nesse tal "São Saruê"
Destinei-me a viajar
Com ordem do pensamento
Fui conhecer o lugar 
 
Para chegar em São Saruê é preciso acordar cedo e embarcar no carro da brisa. O viajante vai trocar de carro três vezes até chegar em seu destino, quando finalmente seus olhos poderão contemplar o mitológico lugar ...

Mas adiante uma cidade
Como nunca vi igual
Toda coberta de ouro
E forrada de cristal
Ali não existe pobre
É tudo rico em geral.
 
Realmente a descrição do poeta, sobre a natureza paradisíaca presente em São Saruê é inesquecível. E como no Éden existia um rio, aqui também há.

Lá tem um rio chamado
O banho da mocidade
Onde um velho de cem anos
Tomando banho à vontade
Quando sai fora parece
ter 20 anos de idade.
 
 Manoel Camilo dos Santos "viveu" alguns dias naquela cidade/país e não se  negava ensinar a estrada que nos levava até lá, com uma condição, a saber: " ...Posso ensinar o caminho/ Porém só ensino a quem/ Me  comprar um folhetinho".
 
O certo é que  São Saruê não ficou apenas  em um "folhetinho" como assim classificou seu autor.  Veríssimo de Melo escreveu "Pasárgada e São Saruê" (1959), texto que mostra a sensível afinidade entre os poemas de Manuel Bandeira e Manoel Camilo. 
 
O cineasta Vladimir Carvalho, em 1966 começou as filmagens do documentário "O País de São Saruê", que embora tenha ficado pronto em 1971, foi censurado e somente em 1979  o público pode assisti-lo.  
 

Trata-se de um documentário sobre o homem e o sertão nordestino, mas precisamente na região dos Rio do Peixe e Piranhas, Souza - PB (seca, folclore, religiosidade, agricultura,José Gadelha; Charles Foster (dos Voluntários da Paz); Os garimpeiros (Pedro Alma e Zeca Inocêncio); o Prefeito de Souza -  Antonio Mariz ; Catolé do Rocha) Para assistir o filme clique aqui: O País de São Saruê
 
Foi também na década de 70, que o escritor  Umberto Peregrino (1911 -2003), um potiguar, apaixonado pela cultura popular, criou no Rio de Janeiro a Casa de Cultura São Saruê. Camilo responde porque a casa recebeu esse nome:
 (...)
O nome São Saruê
Porque foi que ele deu
A sua belíssima casa
Disse que foi porque leu
Um folheto de renome
Que tinha este mesmo nome
E cujo folheto é meu
 
Mais tarde tornou-se, por doação,  a sede da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, mas isso é assunto para outra postagem.
 
O escritor Orígenes Lessa também pegou carona no tema e escreveu em 1983 um livro infantojuvenil, tendo como base o texto de Camilo,  o título é "Aventura em São Saruê" (Rio de Janeiro/ Nórdica).  O belo dessa prosa é que Orígenes Lessa não apenas retrata a geografia, os costumes e tudo que há em São Saruê, como também transporta o poeta  para dentro do livro, com a personagem Camilo, que vai falar para Pedrinho sobre esse lugar encantador e paradisíaco. Uma justa homenagem ao poeta.

 
O folheto foi traduzido para o francês, pela Professora Idelete Muzart F. dos Santos, e consta na obra "Les Imaginaires, Paris, Union Generale d'Editions, 1979, páginas 224 a 231". Há 65 anos faz a alegria do leitor. Por isso mesmo consta no Canon dos  clássicos do cordel brasileiro. 
 
Em 1988 , a X-9,  Escola de Samba (Santos-SP),  ficou como Vice-campeã do Grupo I, tendo como enredo  "Viagem ao País de São Saruê".

Eis aí um pouco do muito que foi feito a partir do folheto "Viagem a São Saruê". E para concluir eu digo:

Passou a perna de pinto
Passou a perna de pato
Quem souber de mais história
Que nos apresente o fato
Pois o mundo é muito grande
Não se tem um só relato
 
Mané Beradeiro
Parnamirim-RN, 17 de fevereiro de 2021.
 


Fontes:

Literatura Popular em Verso - Catálogo - Tomo I, p. 72 -  Ministério da Educação e Cultura - Casa Rui Barbosa,  1961.

_____________________ - Antologia - Tomo I - p. 555 a 559 - Ministério da Educação e Cultura - Casa Rui Barbosa, 1964.

Amor, História e Luta - Antologia - Márcia Abreu, org. São Paulo/SP. Salamandra, 2005, p. 119. 

Pasárgada e São Saruê" - Veríssimo de Melo, in: Revista Leitura,  nº 21, Ano XVII, Rio de Janeiro,  março ano 1959, página 23. 

Camilo, de São Saruê, conta em versos sua própria vida -  José Nêumanne Pinto - Jornal  do Brasil - Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 1980

Casa da Cultura São Saruê. S.d; S.l; S.ed. 

Site da Fundação Casa de Rui Barbosa



segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

A POÉTICA DE MADALENA CASTRO NO CORDEL BRASILEIRO

Eu não tinha lido nada de Madalena Castro, poetisa pernambucana, até que recentemente a descobri no livro “82 Anos  de Publicações Femininas na Literatura de Cordel”. Percebi que Madalena Castro é uma poetisa que prima pelo seu texto poético, não o deixa sair do ninho sem antes surgir a plumagem e ter ensaiado as primeiras notas do seu cântico. Só então, depois disso, Madalena Castro permite que seus poemas batam asas e ganhem o mundo.

 

Madalena Castro ( foto do Facebook da poeta)

Os poemas criados por Madalena Castro têm sempre algo a nos ensinar. É assim com a aventura vivida pelo jovem Ademar em um carnaval de Olinda, onde o leitor vai perceber que nem tudo que brilha é ouro.  E o rosário de Mané? (Que não é este que escreve) Um texto cheio de sofrimento e infidelidade, onde Madalena narra a história de um esposo traído e remoído, mas que tem a esperança plantada em seu coração. Um quadro cheio de imagens onde a arte imita a vida. Na linha da cidadania, a poetisa apresenta sua forma de pensar, no tocante a presença feminina, que luta muito mais do que os homens e enfrenta dificuldades gigantescas para ocupar seu espaço na sociedade. A poeta traz um eu lírico que sabe da sua importância histórica:

“Dia da mulher pra mim

Deverá ser todo dia

Pois se não fosse a mulher

Filho não existiria

Também, homem sem mulher ...

Não deve ter alegria”

E sente-se injustiçada pela ação dos homens que roubam, fazendo da corrupção o maior mal desta nação. Nesse pensamento, a poeta convida a todos a fazerem parte dessa luta:

“Com esta vassoura, eu varro

Da nossa linda nação

Os bandidos, mal feitores,

Gente de mau coração

No meu pensamento, eu varro

Do Brasil qualquer ladrão”

 Quando lemos “A discussão do freguês com o macaco e o louro”, onde humanos e bichos dominam a mesma linguagem, percebemos que muito mais do que gracejo, a autora deixa também a mensagem de ninguém deve ser explorado neste Brasil, nem mesmo os animais.

 

Ela conhece as estradas do cordel brasileiro e nessa trilha nos apresenta muito mais do que o constante existente nos folhetos (sextilhas e septilhas), dominando também o quadrão mineiro, como por exemplo,  “A peleja da Cobra Jararaca com o Jacaré”

                                                                Tenho Deus no coração

                                                               Sempre faço uma oração

                                                               Na hora da precisão

                                                               Quando encontro um forasteiro

                                                               Que quer me prejudicar

                                                               Com conversa, me enrolar

                                                               Querendo me derrubar

                                                               Cantando quadrão mineiro

O Quadrão Mineiro é escrito com estrofes de oito versos, com sete sílabas poéticas, onde os três primeiros versos rimas entre si, o quarto rima com o oitavo (devendo terminar em EIRO). O quinto verso rima com o sétimo.

 Quando adentra na construção de décimas, a poeta se junta com Ocione Soares (Joselândia-MA), que reside em Caucaia-CE e tendo como base o mote “Só me derruba quem por um sapo na minha frente”, Madalena e Ocione pelejam numa forma gostosa de ser lida, onde as estrofes trazem beleza e riqueza de imagens poéticas. 


  As pelejas são molduras  que ostentam as telas nas quais os  autores pintam as qualidades do eu lírico que fazem parte da pugna poética. Vejamos duas estrofes, respectivamente de Ocione e Madalena:

 “Faço bomba de argila

Pego cobra dou um nó

Eu já derrotei Popó

Amansei onça e gorila

Minha mente não vacila

Minha unha é um tridente

Um titular sem suplente

No verso seu professor

Só me derruba quem pôr

Um sapo na minha frente”.

 

“Sou igual um furacão

Da guerra sou o fuzil

Sou a praga no Brasil

Destruindo a plantação

Sou a seca do sertão

Que derrota toda enchente

Sou a bomba no oriente

Queimando o detonador

Só me derruba quem pôr

Um sapo na minha frente”.

Por fim, a poeta Madalena Castro também tem em sua bibliografia, o cordel “A história da boneca Abayomi”, no qual ela nos conta como surgiu essa boneca, nascida dentro dos navios negreiros e a sua importância  às crianças escravas. Vale a pena conhecer este folheto.

 “A Palavra Abayomi

É símbolo de tradição

De encontro precioso

A significação

Da negra, é resistência

E também afirmação”

A produção de Madalena Castro não se atém apenas a estes oito títulos apresentados aqui, isso é a ponta do queijo de coalho que eu consegui adquirir,  na verdade, a peça inteira vem com muito mais.  Conheça Madalena Castro, uma das grandes cordelistas brasileiras.

 Ultimo esta resenha lembrando aos leitores e poetas cordelistas, que o Cordel Brasileiro tem crescido bastante em todas as regiões do país. A prova disso é que recentemente foi publicado pela Nordestina Editora “O Dicionário Biobibliográfico dos Cordelistas Contemporâneos”, do qual Madalena Castro é verbete. Daí a importância do trabalho de um crítico literário, que tem a função de mostrar a produção poética que ora é feita pelos cordelistas. Nem sempre o crítico é compreendido, mas sigo em frente. Os anos vindouros dirão se o que escrevi valeu ou não. Por enquanto, sem medo de batráquios, sigo na árdua missão de horas ser agraciado por alguns e noutras ser chicoteado.

 

Mané Beradeiro

28 de dezembro de 2020

  

FONTES:

 

CASTRO, Madalena. O azar de Ademar no carnaval de Olinda.  S/L. Pantera Cordelaria, 2013.

_________________ A discussão do freguês com o macaco e o louro. 2ª Ed. S/L. Pantera Cordelaria, 2017

________________.  O corno e o soldado. S/L. Pantera Cordelaria, 2017.

 ________________.  A história da boneca Abayomi. Paulista/PE. Pantera Cordelaria, 2017.

 ________________ A Peleja da Cobra Jararaca com o Jacaré.  Paulista/PE. Pantera Cordelaria, 2019.

________________. A peleja da Cobra Jararaca com a Cobra de Cipó.  Paulista/PE. Pantera Cordelaria, 2019

________________. A Guerreira do dia-a-dia/ A Revolta da mulher da vassoura. Paulista/PE. Pantera Cordelaria, s/d.

 _________________. Só me derruba quem pôr um sapo na minha frente.  Fortaleza/CE. Edições Rimais,  setembro 2020. (Em parceria com Ocione Soares).