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quarta-feira, 23 de outubro de 2024

A BODEGA DO SEU RAIMUNDO GALDINO

Um exemplo de bodega nordestina

Nas décadas de 1950 e 1960, a bodega do Seu Raimundo Galdino, localizada ao lado da igreja de São Francisco, do distrito de Caracará, município de Sobral-CE, a quatro quilômetros da propriedade do meu avô (Fazenda Aracati) era muito sortida e a única existente naquela vila. Ocupava a sala da frente da residência de seu proprietário. Não fechava para o almoço e funcionava de maneira ininterrupta, das cinco horas da manhã até às oito horas da noite. Funcionava inclusive nos domingos e feriados. Às vezes, abria de madrugada, quando algum freguês batia em sua porta, solicitando a compra de medicamentos para dor de dente, diarreia, dor de cabeça, vômito, febre ou azia, ocasião em que o Seu Raimundo Galdino oferecia as poucas opções do seu estoque de medicamentos populares (Cibalena, Cibazol, Melhoral, Sonrisal, Elixir Paregórico, Óleo de Rícino, Pílulas de Vida do Dr. Ross, Pílulas de Matos, Mercúrio Cromo e mais uns poucos outros remédios).

A frente do prédio era de duas portas e tinha um alpendre com um banco de carnaubeira deitada, sobre duas forquilhas de aroeira fincadas no chão. Embora a construção fosse de taipa, o piso era de cimento vermelho e a coberta de telhas artesanais, com uma calha de estirpe de carnaubeira no beiral do alpendre, formando uma bica, onde, no período das chuvas, a meninada tomava banho. Nos fundos da bodega, ao lado das prateleiras de madeira, havia uma porta, que se comunicava com a residência do proprietário. No oitão da bodega tinha uma vara de bambu, bem alta, com uma antena de rádio na extremidade. No interior da bodega, sobre uma pequena mesa de pau-branco, estava um rádio Philips a válvula, ligado a uma bateria de caminhão, que só pegava na frequência AM (ondas médias e curtas), pois ainda não existia FM. O rádio da bodega funcionava o dia todo, com muito chiado, retransmitindo a programação da Rádio Iracema de Sobral. Só era desligado à noite, quando começava a Hora do Brasil.
O balcão de madeira, revestido com folhas de zinco, exibia algumas moedas antigas furadas (pataca, cruzado e vintém), fixadas por pregos na parte de cima do balcão. Na extremidade do balcão, uma passagem com dobradiças de couro, que permitia levantar o tampo do balcão, quando o bodegueiro necessitava sair, para pegar algum produto pendurado nos caibros do espaço externo. A balança de pratos, o cutelo de cortar fumo de rolo, a guilhotina de partir rapadura, o rolo de papel de embrulho e a gamela com toicinho de porco salgado (sal preso) ficavam sobre o balcão. A pobreza regional era tão grande que a rapadura podia ser vendida em pedaços. Era comercializada por unidade, por banda (meia rapadura) ou ainda por pedaço de um quarto de rapadura. A lata de querosene (da marca Jacaré), com a bombinha de zinco, para bombear o querosene, acoplada a ela, localizava-se sobre um estrado de madeira no canto da parede.
Os gêneros alimentícios podiam ser comercializados no peso ou no volume. No litro eram vendidos farinha de mandioca, milho, feijão-de-corda e arroz-vermelho em casca. O litro era feito de madeira e tinha o formato quadrado. O produto era colocado dentro do litro, com o auxílio de um casco de cágado. O toicinho, a linguiça caseira, a carne de sol, a tripa de porco salgada, as carnes verdes (de bode, ovelha ou de porco), a banha de porco, o açúcar, o sal grosso, o café em grão, a goma de mandioca e outros alimentos eram vendidos por quilo. Comprava-se o sal grosso na bodega e em casa triturava-se no pilão, pois naquela época não existia sal moído. Seu Raimundo Galdino tinha muita prática de embrulhar com papel de embrulho, usando os dedos, os produtos vendidos, pois os gêneros alimentícios não eram acondicionados em pacotes, tudo vinha à granel. Para o querosene tinha medidas apropriadas, feitas de zinco, que depois de cheias eram despejadas na garrafa do freguês, usando um funil de zinco. Cada família tinha sua garrafa de comprar querosene, a qual era transportada pendurada no dedo indicador do freguês, pois a mesma tinha um barbante amarrado no gogó, que terminava em laço, para pendurá-la no dedo. A manteiga de garrafa, o óleo de coco, o mel de abelha (jandaíra ou mandaçaia) e o mel de engenho eram comercializados em garrafas de 600 ml. A bodega vendia de um tudo, pois na vila não existiam lojas nem farmácias. Além de alimentos, lá se comprava ferragens (enxadas, pás, machados, facas, lamparinas, ralo de flandres para ralar milho verde, facões, pregos e arame farpado); remédios populares; aviamentos (elásticos, cianinhas, bicos, linhas, agulhas, botões etc); aspiral para repelir muriçocas; sabão da terra; sabonetes; creme dental; chinelas de rabicho de sola e de pneu (tiras de couro e solado de pneu de automóvel); louças de barro (panelas, potes, quartinhas etc); cestos de cipó; artigos feitos com palha de carnaubeira (chapéus, bolsas, esteiras, urus, vassouras, surrões e outros); urupemas; abanos; cuias; cuités; gamelas; cochos e outros utensílios domésticos.
Parede e meia à bodega, morava Seu João Enfermeiro, um profissional da área da saúde que tinha muita habilidade e prática para curar as enfermidades dos habitantes daquela comunidade rural. Era um misto de enfermeiro, farmacêutico, dentista e de médico. Ele encanava braço, arrancava dente, aplicava injeção no músculo (não aplicava injeção na veia), costurava, com linha zero e agulha grande de coser tecidos, facadas e outros ferimentos. Ele também vendia meizinhas (raizes, folhas e outras partes de plantas medicinais, sebo de carneiro capado e banhas de animais, como banha de tejo, de raposa, de cobra cascavel, de galinha, de traíra, de cágado e de jia). A mulher do bodegueiro, Dona Ciça, era parteira e rezadeira, pois curava quebranto, espinhela caída, mau olhado, moleira caída e outras doenças de menino. Ela também curava, no rasto, bicheiras dos animais, com suas rezas.
Uma coisa que me chamava a atenção era a convivência pacífica de três animais que ficavam soltos, o dia todo, dentro da bodega, sem brigas. Uma gralha cancão para comer baratas, um gato para pegar ratos e um cachorro de estimação e guarda. Interessante que o gato e o cachorro eram adestrados para não comerem as carnes, toicinho e linguiça da bodega. Eles só se alimentavam em horário certo e dentro da casa do bodegueiro, nunca no interior da bodega. Também, o gato não perseguia o cancão.
A bodega do Seu Raimundo Galdino vendia doses de cachaça no pé do balcão, com tira- gosto de queijo de coalho. A cachaça vinha da Serra da Meruoca, em ancoretas feitas de imburana, sobre lombos de animais.
Seu Raimundo Galdino era um senhor de muito respeito, imprimia em sua bodega um ambiente familiar, onde mulheres e crianças faziam compras com segurança. Embora fosse um estabelecimento comercial de muita ordem e seriedade, não deixava de ser também o local onde as notícias e as fofocas chegassem em primeira mão. As novidades, como doenças, queda de cavalo, chifrada de touro brabo, coice de vaca, coice de burro ou de cavalo sofrido por algum membro da comunidade, primeiramente, eram noticiadas, de boca em boca, a partir do bodegueiro. Ele tinha prazer em comunicar, em primeiríssima mão, as novidades locais e as notícias que captava pelo rádio. Quando alguma mocinha da vila engravidava, também ele era o primeiro a saber, pois seu vizinho, João Enfermeiro vendia Cabacinha e Babosa para fazer chá para abortar e ele não se continha em não contar para o seu vizinho e compadre Raimundo Galdino, o segredo precioso de quem comprava estas ervas. O bodegueiro sabia a vida de todos os habitantes da vila Caracará e vizinhanças.
Quase todas as compras neste ponto comercial eram feitas fiado, na caderneta, para serem pagas, semanalmente, no sábado à tarde, embora um cartaz pregado na parede anunciasse: FIADO SÓ AMANHÃ.
As bodegas sertanejas eram parecidas uma com a outra, de modo que mudava apenas a qualidade e a variedade dos produtos, sendo algumas mais sortidas e outras mais simples.


Benedito Vasconcelos Mendes

Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor. Professor Aposentado da UFERSA e da UERN. Sócio Efetivo da ANRL e da AMOL.

segunda-feira, 29 de julho de 2024

A VINGANÇA FANTASIADA NA RUA DO PATU

 

Gláucio Tavares

 
Na cara de homem não se bate. Homem se mata! Certificou a vítima ao seu algoz ao ser esbofeteada, ainda prometendo a si que não tiraria a sua barba enquanto não matasse o vil ofensor.

No Carnaval de anos após o dia da agressão, fantasiado de caçador dos Caboclinhos, com espingarda em punho, quando a barba já escondia completamente o rosto, a vítima concretizou a sua vingança na Rua do Patu, em Ceará-Mirim, nos anos de 1950.
 
Atualmente em Ceará-Mirim no cruzamento entre a Rua Mussolino China, mais conhecida como a Rua do Sindicato Rural e a Rua Euclides Cavalcante, aquela que desce da Rua do SAAE até o Mercado da Fruta, encontra-se uma movelaria. Neste local, nos interessa lembrar que há cerca de oitenta anos era instalada a Bodega de João Granjeiro, na qual antes das variedades corria extenso balcão, cuja extremidade continha o recanto do consumo de cachaças, vinhos e conhaques, como de costumes nas bodegas daquela época.
 
Um dos frequentadores da mencionada mercearia era Antônio Mulato, cujo ofício, naquele tempo em que não havia sistema de abastecimento de água encanada, era botador de água, com a missão diária de encher barricas no olheiro situado às margens do Rio dos Homens, arrumar as pipas no lombo dos burros, subir a ladeira pela Rua do Burros, depois apelidada de Rua do Bacurau, certamente por conta da marcante campanha do ex-governador Aluísio Alves em 1960, e distribuir água pela cidade. Afora ser conhecido por tal serventia, Antônio Mulato tinha por marca a valentia e a insolência. Era do tipo que não levava desaforo para casa.
 
Como nas mercearias da época, na Bodega de João Granjeiro havia um caderno para anotar as compras feitas com promessa de pagamento adiante. Entre essas anotações estava o nome de Antônio Mulato, que certa feita estava bem atrasado com os seus compromissos creditícios, sendo pertinente para o comerciante frustrar novas compras a míngua de pagamento das antecedentes registradas no caderno dos fiados. Nestas circunstâncias de velhacaria, Antônio Mulato chegou na Bodega de João Granjeiro e requisitou uma dose de cachaça. Contudo, não olvidando da dívida em demora, o bodegueiro negou a pinga, condicionando: “para beber aqui ou você paga a dose ou paga a conta.”
 
Neste ensejo, Antônio Mulato recebeu a rejeição do seu pedido de beber cachaça fiado como grave ofensa e de pronto, desferiu um tapa no rosto de João Granjeiro, que imediatamente teve todas as veredas neuronais atiçadas pelo bofete, articulando-se os humores do corpo de forma a produzir e elevar os sentimentos de ira, de indignação e de fúria ardente. Diagnostica-se que o sangue ferveu, mas que, no entanto, teve por travão de um embate corpo a corpo com ofensor o temor do histórico de brigas e desacatos do corpanzil de Antônio Mulato. Mesmo assim, o ultrajado comerciante, ainda atordoado, num impulso de valentia, advertiu: na cara de homem não se bate. Homem se mata!
 
Na ocasião da confusão, havia outras pessoas presentes na mercearia e na calçada da venda, vindo a intervir a turma do deixa disso, levando Antônio Mulato para fora da bodega e para mais além. Do lado de dentro da mercearia, a injusta agressão deflagrou sentimentos abjetos em João Granjeiro. A dor física era imperceptível, mas a dor moral era excruciante e persistente. Ao se ver no espelho após o insulto, com o rosto avermelhado, a vergonha de ter a sua reputação enxovalhada levou a uma promessa insólita: “de agora em diante, só vou tirar a barba quando matar Antônio Mulato”, sentenciou João Granjeiro.
 
Solidariedade de muitos vieram em conforto à vítima, que, no entanto, mantinha incólume a cólera, eis que o tapa na cara constitui especial falta de respeito e violou profundamente a dignidade. Decerto, a mãozada no rosto feriu mais do que mil chutes e bofetes em outras partes do corpo. Quando desses trágicos episódios, normalmente a vítima não se recorda da nobre lição de Jesus Cristo talhada no Livro do apóstolo Mateus: “Se alguém lhe der um tapa na face, ofereça o outro lado para ele bater também.” João Granjeiro não atentou para tal ensinamento e nem o passar do tempo aplacou o seu enfurecimento: a vingança é um dos sentimentos mais poderosos.
 
Passados anos do fatídico dia, os fios da barba de João Granjeiro já estavam enormes. Maior do que a barba só o persistente desejo de vingança, que somente não fora consolidada ainda porque lhe era desfavorável um confronto direto com Antônio Mulato, que além da compleição física avantajada, era acostumado a brigas e querelas, nas quais sempre levava vantagem. Desta feita, era preciso para o sucesso da vindita, quem sabe uma emboscada, ardil ou um disfarce?
 
Se aproximava o Carnaval de um daqueles anos da década de 1950, quando haveria a apresentação dos Caboclinhos, caracterizado pela encenação de vigorosas coreografias em ritmo marcado pelo estalido das preacas, espécie de arco e flecha de madeira. Na dança folclórica, grupos fantasiados de índios que, com vistosos cocares, adornos de pena na cinta e nos tornozelos, colares, representam cenas de caça e combate, os nativos revoltam-se contra um caçador, matando-o ao final da exibição. A vítima vislumbrou nesta particularidade carnavalesca a oportunidade de sair armado pelas ruas, sem chamar atenção. Para tanto, a vítima cuidou em adquirir uma fantasia de caçador. Logo, estavam prontos o macacão, o chapéu, o suporte do carregador, o alforje e a espingarda.
 
Os preparativos da vingança ainda estavam incompletos, eis que faltava municiar a espingarda, razão pela qual a vítima ressentida foi até a Rua do Patu, nas proximidades do SAAE, na Oficina de Zé da Luz, onde adquiriu pequenos fragmentos de ferro, perguntando ao oficineiro se três bolotas de ferro eram suficientes para matar um veado quando arremessadas por uma espingarda de soca. A reposta foi positiva.
Tudo estava pronto para a vindita. Chegou o Carnaval.
 
Os Caboclinhos apresentavam-se no final da tarde da Rua do Patu, nas proximidades do Bar de Dona Alice, em frente a Escola General João Varela. Na tradicional coreografia folclórica, os índios investem contra um caçador que invade o paraíso dos nativos.
O disfarce de caçador coube a João Granjeiro vestir, depois de carregar cuidadosamente a espingarda de soca, com a pólvora, a limalha, dentre as quais se arrumou as bolotas de ferro. Na fantasia de carnaval, agregava-se a longa barba esculpida pela promessa de vingança e um certo tropeço aqui e acolá a fingir uma embriaguez, com aptidão de afastar desconfianças acerca do intuito vingativo. E de fato ninguém imaginou que João Granjeiro subia na Rua do Patu a procura do seu algoz, ao meio das festividades carnavalesca.
 
Imbuído da ideia de dente por dente e olho por olho, o caçador tal como uma águia faminta, com visão aguçada pelo desejo de vingança, avistou de longe a sua caça, que se encontrava festejando o Carnaval, tomando uns bons bocados no Bar de Dona Alice, onde depois se instalou a Lanchonete de Dona Santa e atualmente é uma açaiteria, na esquina do encontro entre a Rua do Patu e a Rua Manoel Marques, mais conhecida como a Rua do Enéas. Numa das mesas do bar estava Antônio Mulato, já flertando com estado de embriaguez, contemplando o Carnaval. Ao perceber a distração da presa, uma certa altivez cresceu em João Granjeiro, que teve a perspicácia de passar direto pelo outro lado da rua, a procura da melhor posição para abater a infame caça. Arrodeou a presa, cruzou a rua entre o vai e vem dos foliões, aproximou-se do bar, rente a parede exterior do prédio, esperou Antônio Mulato dirigir toda atenção às alegorias carnavalescas em desfile na rua, quando então aprumou a espingarda e atirou, atingindo de cheio o odiado inimigo.
 
As bolotas de ferro e demais detritos deflagrados da arma de fogo rasgaram à queima-roupa o corpanzil de Antônio Mulato, causando-lhe imediata hemorragia e concomitantemente o despertar da fúria, quando olhou no olho do atirador, reconhecendo João Granjeiro ainda que na escondedura de caçador com o rosto encoberto pela longa barba. Antônio Mulato, muito ferido, ainda conseguiu levantar-se e correr, deixando um rastro de sangue, na perseguição do atirador. João Granjeiro partiu primeiro, imaginando que as bolotas de ferro não teriam sido suficientes para abater Mulato, que, por sua vez, no ínterim do encalce de João Granjeiro, foi faltando-lhe oxigênio e força à proporção que deixava porções de sangue no caminho, até que João Granjeiro, em sua aflita fuga, deixou cair a espingarda, que fez Antônio Mulato tropeçar e cair pela derradeira vez na vida a demonstrar que a vingança suplantou a valentia nas proximidades da Oficina de Zé da Luz, de onde se adquiriu as mortíferas bolotas de ferro.
 
Esta história foi-me contada pelo senhor Augusto Cavaco em um dos dias do Carnaval de 2022 na Praia de Jacumã. Adverte-se que boa parte deste conto é mera ficção, obra de criação literária.

Gláucio Tavares Costa é Assessor Jurídico do TJRN, mestrando em Direito pela Universidad Europea del Atlántico, graduado em Farmácia pela UFRN e cronista.

terça-feira, 30 de maio de 2023

A ONÇA DO RIO PARDO (MEMÓRIAS DA MINHA INFÂNCIA)...


Eu devia ter treze anos. Minha irmã mais velha sempre nos levava à fazenda do seu sogro, onde passávamos o fim de semana. A propriedade dista 90 quilômetros da cidade, de maneira que percorremos longa distância sem ver uma única casa. É mato dos dois lados da estrada de terra. Alguns trechos formavam túnel de árvores nativas quilômetros a fio, de maneira que era comum nos depararmos eventualmente com manadas de pacas, antas, capivaras, Caititu (porco do mato), veados, seriemas, tamanduás, jaguatirica, anta, cutia e todo tipo de fauna daquela região.

Obviamente que havia onças-pintadas, mas essas não percorriam locais com barulho, de maneira que só se viam os seus rastros pela estrada ao amanhecer, acaso o motorista descesse do carro. Nas praias dos rios se veem pegadas em abundância.

A fazenda era cortada pelo imenso e caudaloso rio Pardo, que fazia uma curva sinuosa a uns trezentos metros dali. Raros homens adultos empreendiam atravessar esse manancial a nado.

A sede da fazenda guardava um silêncio que nunca mais experimentei. Seus únicos sons são proporcionados pelos pássaros e a bicharada que, de vez em quando, rosna na mata. Durante a noite as matas, campinas e pastos são pincelados de luzinhas vagantes que na verdade são olhos.

Como a própria cidade onde morávamos era emoldurada de matas e rios, não era de estranhar o seu aspecto bucólico, mas vivíamos a experiência interessante do silêncio pleno, luz e geladeira a gás. E sem o lampião, tudo era breu. Ficávamos sentados nos bancos da varanda do casarão, conversando e olhando para aquela placa do horizonte invisível, preto, rompido pelo azul escuro do céu, furado de pontinhos reluzentes. Nunca vi céu mais lindo.

Durante o dia, eu e minha irmã costumávamos percorrer a fazenda, apreciando tudo. A começar por um pequeno rio que ficava atrás do casarão. Rasinho e com nuvens de lambaris.Andávamos no mato à cata de marolo, goivira, ingá e outras frutas do mato, deliciosas e inesquecíveis.

Nesses passeios silvestres gostávamos de correr dentro dos túneis que as capivaras e antas constroem. São caminhos redondos, esculpidos naturalmente pelo vai e vem desses animais dentro dos arbustos altos. Quase um labirinto. Andar por essas tocas era diferente de rasgar o mato à mão para avançá-lo, portanto sentíamos a desenvoltura dos bichos, como se o fôssemos.

Recordo-me de uma experiência com uma onça, certa vez, quando passeava sozinho nesses labirintos misteriosos, mas atraentes. Assim que deixei o túnel, dei-me com as margens do assustador rio Pardo. As águas caudalosas emitem um som único e indescritível. As copas gigantes das árvores parecem seres fantásticos quando sombreiam as águas. É uma presença indescritível de algo que só se sente estando ali.

Na outra margem do rio uma multidão de ariranhas entrava e saia de suas tocas no barranco ribeirinho. Mais adiante, numa pequena enseada, dezenas de capivaras tomavam sol na prainha de areias alvas. Pareciam contemplar o silêncio daquele paraíso. São impressionantes as delícias da natureza. Elas proporcionam um misto de medo e envolvimento irresponsável naquelas peles, naqueles couros, seduzindo-nos.

Eis que nesse estado de natureza olho para a mata ribeirinha e dou-me com a visão de uma onça pintada sobre o braço de imensa ingazeira. Deitada despreocupada e elegantemente. Um portentoso exemplar. Tal e qual essa bela espécie da fotografia aqui postada. Logicamente que não era essa, mas exatamente igual. Havia entre nós a distância da largura de duas BR, de maneira que ela poderia ter-me tornado sua refeição num disparo de segundos. Se eu entrasse na água, elas são excelentes nadadoras. Se eu subisse numa árvore, elas são exímias escaladoras. Correr seria em vão.

Fiquei como um toco, fincado ali sem movimento. Logo aquele ser de beleza extraordinária saltou na água e deu na outra margem, num nado impressionante. As capivaras irromperam dali, desaparecendo como se entrassem nas árvores. Fiquei observando, almejando vê-la novamente, mas a mata era muito fechada. Então disparei para a sede da fazenda. Coração ameaçando sair pela boca.

Doido é quem quer amizade com onça. Para mim, animais silvestres pertencem às matas, devem ser louvados e nada mais. Eles estão no espaço deles. Sempre tive aversão a quem fere qualquer animal. Mas, por falar em onça, as pegadas da onça-pintada assustam. São grandes e carimbam pesadamente o chão. A pata dianteira é bem maior que a traseira. A dianteira tem uns 12 cm de comprimento e uns 13 cm de largura. A pata da pegada traseira tem uns 11 cm de comprimento a 10 cm de largura, com almofada grande e arredondada. Os dedos são arredondados e sem marcas das unhas.

À noite, durante as conversas de lampião, meu cunhado disse que ela estava alimentada, e jamais me faria mal. Ou talvez estivesse interessada na manada de capivaras do outro lado do rio. Talvez ela dormisse naquele momento e minha presença a despertou.

As onças sentem cheiro numa profusão incomparável. São iguais aos indígenas que adivinham alguém chegando de longe. Ele orientou que eu não fosse mais por ali sem companhia. A peonada dali só anda de faca e arma de fogo. As onças se afastam ao menor barulho. Jamais se aproximam de lugar com ronco de motores ou converseiro. Assim também são as sucuris.

Pois bem, essa é a história de uma onça que estava em paz em seu habitat, eu a perturbei, e ela, por alguma razão, me poupou, Seguem outras imagens. Elas, no caso, são imagens reais do rio Pardo contornando a cidade em que nasci. Essas matas tiveram parte comigo. Esse rio conheceu a minha infância. Quantas vezes saltei de sua velha ponte de madeira e nadei até a margem como que acabara de experimentar o feito de um heroi…


AUTOR: Luiz Carlos

quinta-feira, 9 de março de 2023

A BENGALA DE JOSÉ MELQUÍADES


Professor José Melquíades ladeado pelo Padre Amorim e Valério Mesquita

JOSÉ MELQUÍADES DE MACÊDO - (Macaíba/RN, 1925 – Natal/RN, 2001)

José Melquíades de Macêdo, nasceu em Igreja Nova distrito de Macaíba em 29 de outubro de 1925, filho Antônio Melquíades de Macêdo e Arminda de Oliveira Macêdo (além de José, o casal teve mais três filhos, Irineu, Iracema e Julieta). Casado com Gizelda Paraguassú de Macêdo com quem teve oito filhos. Foi funcionário público, advogado, professor, escritor. Pertenceu a Academia Norte Riograndense de Letras, ao Instituto Histórico e Geográfico do RN e ao quadro da loja maçônica Bartolomeu Fagundes.


 No campo das minhas pesquisas, eis que encontro o texto abaixo, que foi publicado na revista O GALO, edição setembro 2000, ano XII, p. 14. Vale a pena a leitura.

O reconhecimento da "nobre" bengala de José Melquíades
    Humberto Guerra, mais conhecido por "Perré", é de família tradicional potiguar. Durante seus primeiros anos de atividade pública, nos anos 70, foi assessor de gabinete do deputado federal Grimaldi Ribeiro. Disputou também a vaga de vereador pela Câmara Municipal de Natal, não obtendo sucesso.
    Decepcionado com a política, resolveu procurar novos horizontes, escolhendo a cidade de São Paulo, onde morou por quase 30 anos, trabalhando na CESP, Companhia de Eletricidade de São Paulo. Com o passar do tempo e vendo aproximar-se os 60 anos, passou a se preocupar com o futuro. Em consequência disso, começou a imaginar que se aproximava o dia em que iria necessitar de apoiar-se numa bengala. Por precaução, adquiriu um estoque de oito delas. Não sem antes testá-las sob o peso do seu corpo.
    Vendo a dificuldade do professor José Melquíades em se locomover, resolveu presenteá-lo com uma das suas bengalas preferidas, de cepa paulista e registrada.
O professor Melquíades agradece a seguir:

Foi no dia vinte e três
De setembro, em Lourival,
Um recanto de Natal
Onde há festa todo mês.
Perré, como bom freguês,
Tudo sabe e não se cala;
Trouxe de São Paulo a mala
E dentro dela o seu bastão
E me deu de coração
Uma fornida bengala.

Presente de Humberto Guerra,
esta bengala de luxo,
Nela peguei o repuxo,
Subo morro, subo serra
Com firmeza, aqui na terra.
Apoiado no bastão
Dispensei o corrimão;
Agora não perco festa,
Um cachorro da molesta
Segurando o pau na mão.

De José Melquíades para Humberto Guerra (Perré)
Natal, Bar do Lourival, sábado, 23 de setembro de 2000

Crédito da foto:https://www.gazetadeparnamirim.com.br/noticia/555/o-profesor-jose-melquiades-de-macedo

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

A MULHER SEM SORTE


 Numa certa manhã, de um dia  e ano que não gravei as datas, eu e minha esposa estávamos numa clínica no bairro de Tirol, onde seríamos atendidos  por um cardiologista. Naquele mesmo local também se encontrava meu amigo João Batista Pinheiro Cabral. Escutei quando a recepcionista anunciou o seu nome para fazer um exame.  Quando ela saiu do consultório, dirigi-me até ele e como sempre, foi aquela alegria! Sorriso largo, sentimento gostoso de uma amizade. Chamei Sandra e a apresentei:

-Doutor João Batista, esta é Sandra, minha mulher!

Ele a olhou.  E como não podia deixar de fazer, aproveitou a oportunidade para fazer uma das suas peraltices, pois naquele homem sempre prevalecia o humor e o espírito de um menino peralta.

-Muito prazer  em conhecê-la. Deixe-me dizer que a senhora é a SEM SORTE e ele é o CONSORTE.

Os trocadilhos de João Batista deixava a vida mais alegre!



O consorte e a sem sorte

Francisco Martins
16 fevereiro 2023

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

RAIVA PARA CACHORRO

 


MARCO DE ALMEIDA EMERENCIANO,  Acadêmico da ACLA - Pedro Simões Neto (memerenciano@yahoo.es)

O enredo da crônica de hoje tem notas surrealistas, parecidas aos traços do pintor Salvador Dali, para não me distanciar da Espanha. O protagonista da história é um simpático cachorro da raça ‘pequinês’, daqueles antigos, que quase não se vê nos dias de hoje. Atendia pelo nome ‘pope’, criado com todas as regalias na casa do casal Dr. João Barreto de Medeiros (in memorian) – um dos mais ilustres advogados que o estado conheceu – e de dona Tatá Barreto, cuja simpatia e educação transcendem os limites do imaginário.

O cenário é a cidade de Natal de trinta e cinco anos atrás. Pacata, mansa e sem pressa. Éramos todos pré-adolescentes, entre doze e treze anos. Vivíamos em função dos estudos no colégio Santo Antonio Marista, pelas manhãs. Estudar ali era motivo de orgulho e alegria. Ainda é até hoje. A formação religiosa também atraia. A educação era rigorosa desde os tempos dos irmãos Arthur, Welington e Kerginaldo.

Durante a tarde, alguma atividade extra-escolar, cumprimento dos deveres de casa e brincadeiras nos canteiros das espaçosas ruas Mossoró, Campos Sales, Açu e Rodrigues Alves. Ainda eram de paralelepípedo. Asfalto somente na Hermes da Fonseca, conhecida como ‘a pista’.

A ‘parada’ do dia sete de setembro era esperada ansiosamente. Movimentava toda a cidade. Acontecia na Prudente de Morais, como hoje em dia. A data cívica convertia-se em evento lúdico também, dado a carência de atividades na província. Ponta Negra era uma viagem, típica praia de veraneio. No caminho existia o zoológico de Natal, com poucas espécies. Entretanto era divertido.

Mas voltando ao assunto que nos ocupa, estudávamos todos na mesma classe: eu, Manoca (João Barreto de Medeiros Filho), Beto Costa (Herbert Costa Gomes), Boca (Roberto Alexandre Neves Fernandes) e Vovô (Carlos Magno do Nascimento). Numa tarde ensolarada nos dirigimos até a casa de Manoca para realização de um trabalho em grupo e a ele dedicamos o turno vespertino. Em um determinado momento fomos até a cozinha para fazer um lanche, gentilmente preparado para repor as energias. Naquele momento o protagonista ‘pope’ também fazia uma ‘boquinha’, tranqüilamente, em um recipiente posto no chão. Ao passar ao lado do simpático animal, eis que ele se assusta e avança no meu pé deixando a marca dos seus afiados caninos. A verdade é que os seus dentes provocaram um pequeno ferimento, com sangue.

O fato deixou-me apreensivo e nervoso. Recordo que Tiago (Xisto Tiago de Medeiros), irmão mais velho de Manoca, havia chegado em casa. Nos dirigimos todos à casa de Boca, na esquina da Campos Sales com a Açu. A idéia era que seu pai, o Dr. Almino Fernandes, visse o pequeno ferimento e dissesse alguma coisa. Pois bem, lembro-me de suas palavras, em voz mansa: - “não se preocupe, meu filho, o cachorro é da casa de Barretinho, bem criado e cuidado. Vamos observar a evolução do quadro”, sentenciou.

Para minha surpresa – ou desespero – o animal foi a óbito no dia seguinte. Por isso, tive que tomar dezesseis aplicações de injeção, na barriga. Me explicaram que eram catorze obrigatórias mais duas de reforço. Isso tudo no Hospital Giselda Trigueiro. Meu pai, pacientemente, me acompanhava todos os dias, de domingo a domingo, sem intervalos.

Tudo foi motivo de muita brincadeira entre os amigos e, até hoje, quando chego a alguma casa cujos proprietários criam cachorro digo: “pode deixar ele vir, não tenho medo! O último que me mordeu morreu”. Moral da história: passei raiva para cachorro. Será?

NOTA: Esta crônica foi publicada originalmente no periódico JH em 2012.


terça-feira, 23 de agosto de 2022

IRACEMA QUE NÃO SAIU DE DENTRO DE MIM

 Há sentimentos no homem que ninguém consegue explicar. Eles vivem dentro de nós por muitos anos, às vezes quieto, outras, aguçadas, mas estão lá. Não sei dizer a razão pela qual hoje, 23 de agosto de 2022, bateu uma vontade imensa de estar na terra onde nasci, em Iracema-CE. O estranho é que eu não tenho nenhum elo com as pessoas daquela cidade. Não existe sequer um familiar meu morando naquele município. Mesmo assim a tarde de hoje me trouxe saudades de Iracema.

Sim, saudades! Pois quando eu tinha 27 anos eu finalmente pude ir conhecer o local onde nasci. Isso foi em 1992, já correram 30 anos daquela minha visita. Lembro da viagem aventureira, da caminhada que fiz de Ema até a Fazenda Cacimbas ( meu berço). Voltarei, quero sentir o meu povo, minha gente, embora saiba que por eles eu sou totalmente desconhecido. Ninguém sabe quem é Francisco Martins, tampouco o cordelista Mané Beradeiro.

Que importa? Iracema é para mim um lugar sagrado. A terra que me abraçou naquela longínqua data em que nasci (06.07.1964).  Saí de Iracema com dois anos de idade, mas a terra natal nunca saiu de mim.

Quero rever Iracema, desta vez com um olhar poético.  Abaixo imagens da primeira viagem em 1992. 

A casa onde eu nasci - Fazenda Cacimba

A paisagem  do meu berço

O açude onde tomei meu primeiro banho



domingo, 31 de julho de 2022

CRÔNICA DE UMA VIAGEM AO BREJO PARAIBANO - PARTE III - AREIA - FINAL

 Qual a melhor distância entre dois pontos? Inegavelmente é uma linha reta. Quanto tempo se leva entre o ponto Bananeiras ao ponto Areia? Aí as respostas são diversas. Por onde iremos, como iremos, em qual velocidade, etc. No nosso passeio, o trajeto entre esses dois pontos que deveria ser menos de 30 minutos, durou mais de 1:30h. A culpa não foi das estradas, que volto a afirmar que são ótimas. O que aconteceu foi que ao pararmos no Posto Santa Fé, que fica defronte ao Santuário do Padre Ibiapina, tivemos um problema. Desliguei o carro para abastecer e depois ele não quis mais pegar. Tentei várias vezes e ligar.

Estávamos no município de Solânea, já na divisa com Arara. Qual seria a causa? Elétrica, mecânica? Não tínhamos certeza nem sabíamos afirmar. Ainda bem que neste mundo tem gente de bem, um rapaz do posto acionou um mecânico para nos socorrer. Esperamos ... 40 minutos e só depois ele nos disse que não podia vir nos socorrer.  E agora? Não conhecíamos ninguém naquela região.  Outra pessoa se sensibilizou com nossa situação e foi até ao centro de Arara buscar socorro. Ninguém disponível, todos os mecânicos de Arara estavam ocupados naquela manhã de sábado. 

 A situação nos deixou tão tenso que sequer tiramos fotos desse momento.  Finalmente apareceu o proprietário do Posto Santa Fé. Ladeou seu carro próximo ao nosso, colocou uns cabos interligando as baterias e o carro pegou sem precisar fazer outra tentativa. Confirmado o problema: bateria descarregada. Agradecemos imensamente e voltamos à estrada em direção a Areia.

Não demoramos a chegar em Areia. Almoçamos no Restaurante Rural  Vô Maria, bastante conhecido naquela cidade e depois fomos ao Engenho Triunfo, um espetáculo à parte, com sua beleza floral, recepção e a natureza cercando-o de carinho.

Restaurante Vô Maria - foto da internet


Engenho Triunfo - foto acervo do autor


Engenho Triunfo - foto acervo do autor.

Retornamos sem nenhum problema.

terça-feira, 19 de julho de 2022

CRÔNICA DE UMA VIAGEM AO BREJO PARAIBANO - BANANEIRAS - AREIA - PARTE II

 Em 1936 o poeta Manuel Bandeira lança o livro "Estrela da Manhã" e dentro dele há um dos mais conhecidos poemas brasileiros: "Trem de Ferro". Quem nunca ouviu ou leu  a sonoridade dos versos que lembram um trem em movimento: "Café com pão/ Café com pão/ Café com pão/ Virge Maria que foi isto maquinista? ..."

É com a imagem desse trem da infância que eu trago ao leitor a continuidade da crônica de viagem ao Brejo Paraibano.  A Estação Bananeiras fica em uma parte alta da cidade, aliás, lá tudo ou é no alto ou no baixo, dificilmente no plano. Bananeiras tem um relevo que oscila literalmente entre vales profundos e estreitos dissecados. E isso é encantador! Ali bem próximo da Estação fica o túnel.


A passagem foi aberta em 1922 e os trilhos colados em 1925. O local é conhecido como Túnel da Serra da Viração, e foi feito durante o Governo de Solon de Lucena. Faz muito tempo que não passa nenhum trem por ali, até os trilhos foram extraídos e hoje, a passagem é uma estrada rodoviária.

Bananeiras é cidade
Que dá gosto conhecer
Cada rua tem uma ladeira
Que faz a gente tremer
O frio é bem gostoso
Um bom vinho vou beber
(Mané Beradeiro)

Na noite de sexta-feira, quando chegamos ao apartamento, a lua nos saudava desejando um bom descanso. Antes, bebemos um vinho tinto, tendo queijo, pão e  pasta de trutas defumadas com azeitonas verdes. Na condição de poeta escrevi:


Vejo a lua da janela
Tão fria e solitária
Como quem busca na vida
Ser mais que celibatária
Inda é musa do poeta
De alma milionária
(Mané Beradeiro)

No outro dia, saímos por volta de 9 horas com destino  a Areia, distante 46 km de Bananeiras. Pedimos uma sugestão a Yvana e a mesma nos disse que o melhor trajeto era ir por Solânea.
Nos despedimos de Yvana, que nos alugou o apartamento (veja o espaço clicando aqui:Apartamento em Bananeiras)



E o "trem de ferro" correu com destino a Areia...

...Vou depressa/ Vou correndo/Vou na toda/ Que só levo/ Pouca gente/Pouca gente/ Pouca gente"

Espero vocês na estação de Areia-PB, quando terminaremos a viagem!

Francisco Martins
19 julho 2022







segunda-feira, 18 de julho de 2022

CRÔNICA DE UMA VIAGEM AO BREJO PARAIBANO - BANANEIRAS - PARTE I

 Sexta e sábado passados eu  e minha esposa voltamos ao Brejo Paraibano, para rever as cidades de Bananeiras e Areia. Dessa vez fomos em nosso carro, acompanhados de Clovis e Conceição, pais de Sandra. Viagem de 552 km, compreendidos no trajeto Parnamirim- Ceará-Mirim- Areia  (ida e volta). 

Viajar é oxigenar a alma, é jogar sal na vida que às vezes se apresenta tão insípida e carece desses momentos. E quando fazemos isso em família os momentos são melhores e inesquecíveis. Nossa primeira parada foi em Tangará, onde tomamos café degustando os famosos pastéis daquela cidade, que se tornaram patrimônio imaterial do Rio Grande do Norte.

Logos após o desjejum seguimos pela RN 093 que liga Tangará  até a cidade de Passa e Fica. O trecho que compreende o percurso da entrada de Lagoa Dantas até Passa e Fica está insuportável. Muitos buracos na estrada, praticamente sem asfalto. Lamentável, pois é uma RN importante para o turismo local.

Tão logo entramos no estado da Paraíba, a rodovia estadual PB-099 nos recebeu  com a dignidade que merecem os que trafegam na qualidade de viajantes. Excelente pista, sem problemas no asfalto. As demais que as seguiram também assim estavam. A malha rodoviária da Paraíba já é conhecida pela sua qualidade suprema. Junte-se a isso o preço da gasolina que é bem mais barato que aqui no RN. Encontramos o preço do litro de até R$ 6,08 (seis reais e oito centavos).

Finalmente chegamos na linda cidade de Bananeiras. Às 12 h a temperatura era amena. Almoçamos no Divino Casarão, onde fomos bem servidos com uma moqueca de pescada branca.

Sandra, no Divino Casarão, Bananeiras-PB

Os bananeirenses são bem hospitaleiros e receptivos. Alegres, puxadores de uma boa prosa. Ainda pegamos a Praça  Epitácio Pessoa, centro, totalmente  ornamentada com tema junino. Visitamos a Estação Bananeiras, o túnel  do Trem e caminhamos pelas ruas conhecendo pontos comerciais e vendo o artesanato local.


Por enquanto eu fico por aqui. Depois continuo o relato dessa viagem.


Francisco Martins

18 julho 2022







segunda-feira, 27 de junho de 2022

SELMA JUSTINO - UMA ESCRITORA QUE BROTA NA MADRUGADA

Hoje, tenho a alegria de apresentar àqueles que visitam o meu blog, a escritora e poeta SELMA JUSTINO. Eu a conheci quando ela era criança, convivemos na mesma terra da infância, a Fazenda Santa Maria.  Seu cardápio literário contém crônicas, memórias, poemas, tudo guardado com carinho no baú da alma.  


Selma Justino ainda não tem livro publicado, mas não é por falta de produção textual.  Para apresentar Selma Justino aos meus leitores eu escolhi este texto: "Silêncio na Madrugada", uma crônica vestida de poesia. Ela tem o Ensino Médio e mora no sítio Maria Alves, no distrito de Tamanduá, município de Ceará-Mirim. Já trabalhou como professora, mas atualmente cuida do lar, o que significa que trabalha muito mais.

SILÊNCIO NA MADRUGADA

 No silêncio da madrugada, onde toda inspiração vem, onde nos sentimos livres, nossos pensamentos vagueiam e se complementam na mais perfeita sintonia. É no silêncio que nos sentimos livres , é no silêncio que sentimos as batidas suaves do nosso coração, é no silêncio que tudo se faz, esse silêncio me traz paz, liberdade, no silêncio que consigo ver tudo com leveza.

 É no silêncio que consigo me conectar com o meu eu, e sei quem sou, onde estou e aonde quero chegar, é no silêncio dessa madrugada fria que consigo sentir também o vazio que alguém deixou e que minhas artérias congelam e posso sentir o arrepio no meu corpo ao lembrar do passado, um passado não tão distante, mais um passado que não volta....é nesse silêncio, frio...que busco no presente os melhores momentos da minha vida....é nesse silêncio frio que não sei o que será o meu futuro....mais sei que meu futuro terá um enigma a ser desvendado ....na mesma intensidade que sinto o silêncio frio, também sinto meu coração que antes quente...também esfriando...antes querendo dominar meus pensamentos ficando quieto...na mais perfeita compreensão falando para o meu cérebro...consigo neste momento te entender....e  eu no meu silêncio frio .....também consegui entender.


Selma Justino terá outras postagens em meu blog. Aguardemos!

Francisco Martins
27 de junho 2022