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segunda-feira, 28 de outubro de 2024

BENS TOMBADOS PELO GOVERNO DO ESTADO - PARTE III

 



Igreja Matriz de N. S. da Apresentação - NATAL - DOE-30/07/1992

Antiga sede da Ordem dos Advogados do Brasil - NATAL - DOE-30/07/1992

Prédio Hospital Varela Santiago - NATAL - DOE-30/07/1992

Associação Comercial de Natal - NATAL - DOE-24/09/1992


Casa Grande do Engenho Verde Nasce - CEARÁ MIRIM - DOE-18/11/1992 ( foi literalmente demolida)


Casa do Estudante de Natal - NATAL - DOE-25/11/1993

Capela de N.S. da Soledade - NATAL - DOE-11/11/1997

Capela de São José - MACAÍBA - DOE-11/11/1997

Escola Estadual Barão de Mipibu - SÃO JOSÉ DE MIPIBU - DOE-01/10/1998

Casa Velha - LAGOA DE VELHOS - DOE-29/10/1998

Antigo Liceu Industrial, avenida Rio Branco - NATAL - DOE-11/05/1999

Antigo Prédio da Escola Doméstica de Natal, bairro Ribeira - NATAL - DOE-11/05/1999

Maternidade Escola Januário Cicco - NATAL - DOE-07/07/1999

Casa de Luís de Barros - NATAL - DOE- 22/09/1999

Residência do Mons. Expedito Sobral de Medeiros - SÃO PAULO DO POTENGI - DOE-12/09/2000

Casarão Nº 22 - Majestic - NATAL - DOE-09/12/2000

Casa de Alzira Soriano - JARDIM DE ANGICOS - DOE-14/03/2001

Igreja N.S. da Conceição - GUAMARÉ - DOE-28/06/2001

Casa onde nasceu Café Filho - NATAL - DOE-28/06/2001

Casa Grande da Fazenda Sabe Muito - CARAÚBAS - DOE-30/07/2002

segunda-feira, 29 de julho de 2024

A VINGANÇA FANTASIADA NA RUA DO PATU

 

Gláucio Tavares

 
Na cara de homem não se bate. Homem se mata! Certificou a vítima ao seu algoz ao ser esbofeteada, ainda prometendo a si que não tiraria a sua barba enquanto não matasse o vil ofensor.

No Carnaval de anos após o dia da agressão, fantasiado de caçador dos Caboclinhos, com espingarda em punho, quando a barba já escondia completamente o rosto, a vítima concretizou a sua vingança na Rua do Patu, em Ceará-Mirim, nos anos de 1950.
 
Atualmente em Ceará-Mirim no cruzamento entre a Rua Mussolino China, mais conhecida como a Rua do Sindicato Rural e a Rua Euclides Cavalcante, aquela que desce da Rua do SAAE até o Mercado da Fruta, encontra-se uma movelaria. Neste local, nos interessa lembrar que há cerca de oitenta anos era instalada a Bodega de João Granjeiro, na qual antes das variedades corria extenso balcão, cuja extremidade continha o recanto do consumo de cachaças, vinhos e conhaques, como de costumes nas bodegas daquela época.
 
Um dos frequentadores da mencionada mercearia era Antônio Mulato, cujo ofício, naquele tempo em que não havia sistema de abastecimento de água encanada, era botador de água, com a missão diária de encher barricas no olheiro situado às margens do Rio dos Homens, arrumar as pipas no lombo dos burros, subir a ladeira pela Rua do Burros, depois apelidada de Rua do Bacurau, certamente por conta da marcante campanha do ex-governador Aluísio Alves em 1960, e distribuir água pela cidade. Afora ser conhecido por tal serventia, Antônio Mulato tinha por marca a valentia e a insolência. Era do tipo que não levava desaforo para casa.
 
Como nas mercearias da época, na Bodega de João Granjeiro havia um caderno para anotar as compras feitas com promessa de pagamento adiante. Entre essas anotações estava o nome de Antônio Mulato, que certa feita estava bem atrasado com os seus compromissos creditícios, sendo pertinente para o comerciante frustrar novas compras a míngua de pagamento das antecedentes registradas no caderno dos fiados. Nestas circunstâncias de velhacaria, Antônio Mulato chegou na Bodega de João Granjeiro e requisitou uma dose de cachaça. Contudo, não olvidando da dívida em demora, o bodegueiro negou a pinga, condicionando: “para beber aqui ou você paga a dose ou paga a conta.”
 
Neste ensejo, Antônio Mulato recebeu a rejeição do seu pedido de beber cachaça fiado como grave ofensa e de pronto, desferiu um tapa no rosto de João Granjeiro, que imediatamente teve todas as veredas neuronais atiçadas pelo bofete, articulando-se os humores do corpo de forma a produzir e elevar os sentimentos de ira, de indignação e de fúria ardente. Diagnostica-se que o sangue ferveu, mas que, no entanto, teve por travão de um embate corpo a corpo com ofensor o temor do histórico de brigas e desacatos do corpanzil de Antônio Mulato. Mesmo assim, o ultrajado comerciante, ainda atordoado, num impulso de valentia, advertiu: na cara de homem não se bate. Homem se mata!
 
Na ocasião da confusão, havia outras pessoas presentes na mercearia e na calçada da venda, vindo a intervir a turma do deixa disso, levando Antônio Mulato para fora da bodega e para mais além. Do lado de dentro da mercearia, a injusta agressão deflagrou sentimentos abjetos em João Granjeiro. A dor física era imperceptível, mas a dor moral era excruciante e persistente. Ao se ver no espelho após o insulto, com o rosto avermelhado, a vergonha de ter a sua reputação enxovalhada levou a uma promessa insólita: “de agora em diante, só vou tirar a barba quando matar Antônio Mulato”, sentenciou João Granjeiro.
 
Solidariedade de muitos vieram em conforto à vítima, que, no entanto, mantinha incólume a cólera, eis que o tapa na cara constitui especial falta de respeito e violou profundamente a dignidade. Decerto, a mãozada no rosto feriu mais do que mil chutes e bofetes em outras partes do corpo. Quando desses trágicos episódios, normalmente a vítima não se recorda da nobre lição de Jesus Cristo talhada no Livro do apóstolo Mateus: “Se alguém lhe der um tapa na face, ofereça o outro lado para ele bater também.” João Granjeiro não atentou para tal ensinamento e nem o passar do tempo aplacou o seu enfurecimento: a vingança é um dos sentimentos mais poderosos.
 
Passados anos do fatídico dia, os fios da barba de João Granjeiro já estavam enormes. Maior do que a barba só o persistente desejo de vingança, que somente não fora consolidada ainda porque lhe era desfavorável um confronto direto com Antônio Mulato, que além da compleição física avantajada, era acostumado a brigas e querelas, nas quais sempre levava vantagem. Desta feita, era preciso para o sucesso da vindita, quem sabe uma emboscada, ardil ou um disfarce?
 
Se aproximava o Carnaval de um daqueles anos da década de 1950, quando haveria a apresentação dos Caboclinhos, caracterizado pela encenação de vigorosas coreografias em ritmo marcado pelo estalido das preacas, espécie de arco e flecha de madeira. Na dança folclórica, grupos fantasiados de índios que, com vistosos cocares, adornos de pena na cinta e nos tornozelos, colares, representam cenas de caça e combate, os nativos revoltam-se contra um caçador, matando-o ao final da exibição. A vítima vislumbrou nesta particularidade carnavalesca a oportunidade de sair armado pelas ruas, sem chamar atenção. Para tanto, a vítima cuidou em adquirir uma fantasia de caçador. Logo, estavam prontos o macacão, o chapéu, o suporte do carregador, o alforje e a espingarda.
 
Os preparativos da vingança ainda estavam incompletos, eis que faltava municiar a espingarda, razão pela qual a vítima ressentida foi até a Rua do Patu, nas proximidades do SAAE, na Oficina de Zé da Luz, onde adquiriu pequenos fragmentos de ferro, perguntando ao oficineiro se três bolotas de ferro eram suficientes para matar um veado quando arremessadas por uma espingarda de soca. A reposta foi positiva.
Tudo estava pronto para a vindita. Chegou o Carnaval.
 
Os Caboclinhos apresentavam-se no final da tarde da Rua do Patu, nas proximidades do Bar de Dona Alice, em frente a Escola General João Varela. Na tradicional coreografia folclórica, os índios investem contra um caçador que invade o paraíso dos nativos.
O disfarce de caçador coube a João Granjeiro vestir, depois de carregar cuidadosamente a espingarda de soca, com a pólvora, a limalha, dentre as quais se arrumou as bolotas de ferro. Na fantasia de carnaval, agregava-se a longa barba esculpida pela promessa de vingança e um certo tropeço aqui e acolá a fingir uma embriaguez, com aptidão de afastar desconfianças acerca do intuito vingativo. E de fato ninguém imaginou que João Granjeiro subia na Rua do Patu a procura do seu algoz, ao meio das festividades carnavalesca.
 
Imbuído da ideia de dente por dente e olho por olho, o caçador tal como uma águia faminta, com visão aguçada pelo desejo de vingança, avistou de longe a sua caça, que se encontrava festejando o Carnaval, tomando uns bons bocados no Bar de Dona Alice, onde depois se instalou a Lanchonete de Dona Santa e atualmente é uma açaiteria, na esquina do encontro entre a Rua do Patu e a Rua Manoel Marques, mais conhecida como a Rua do Enéas. Numa das mesas do bar estava Antônio Mulato, já flertando com estado de embriaguez, contemplando o Carnaval. Ao perceber a distração da presa, uma certa altivez cresceu em João Granjeiro, que teve a perspicácia de passar direto pelo outro lado da rua, a procura da melhor posição para abater a infame caça. Arrodeou a presa, cruzou a rua entre o vai e vem dos foliões, aproximou-se do bar, rente a parede exterior do prédio, esperou Antônio Mulato dirigir toda atenção às alegorias carnavalescas em desfile na rua, quando então aprumou a espingarda e atirou, atingindo de cheio o odiado inimigo.
 
As bolotas de ferro e demais detritos deflagrados da arma de fogo rasgaram à queima-roupa o corpanzil de Antônio Mulato, causando-lhe imediata hemorragia e concomitantemente o despertar da fúria, quando olhou no olho do atirador, reconhecendo João Granjeiro ainda que na escondedura de caçador com o rosto encoberto pela longa barba. Antônio Mulato, muito ferido, ainda conseguiu levantar-se e correr, deixando um rastro de sangue, na perseguição do atirador. João Granjeiro partiu primeiro, imaginando que as bolotas de ferro não teriam sido suficientes para abater Mulato, que, por sua vez, no ínterim do encalce de João Granjeiro, foi faltando-lhe oxigênio e força à proporção que deixava porções de sangue no caminho, até que João Granjeiro, em sua aflita fuga, deixou cair a espingarda, que fez Antônio Mulato tropeçar e cair pela derradeira vez na vida a demonstrar que a vingança suplantou a valentia nas proximidades da Oficina de Zé da Luz, de onde se adquiriu as mortíferas bolotas de ferro.
 
Esta história foi-me contada pelo senhor Augusto Cavaco em um dos dias do Carnaval de 2022 na Praia de Jacumã. Adverte-se que boa parte deste conto é mera ficção, obra de criação literária.

Gláucio Tavares Costa é Assessor Jurídico do TJRN, mestrando em Direito pela Universidad Europea del Atlántico, graduado em Farmácia pela UFRN e cronista.

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

MANÉ BERADEIRO LANÇA CORDEL SOBRE CLOVIS PIMENTEL

 


Clovis Pimentel é este senhor que ilustra a capa do meu mais novo folheto. Octagenário que caminha para os noventa cheio de vigor, com saúde e bota muito cabra para correr quando se trata de trabalho braçal. É um pequeno grande homem, que tem o hábito de descansar carregando pedras.
Escrevi para ele este poema em cordel, no qual em 36  estrofes, formadas em sextilhas, ao longo de 12 páginas, exalto fatos da biografia dele. É claro que dei uma pitadas de gracejo, quando tomei conhecimento de algumas histórias que ele aprontou. Tudo para deixar o poema agradável.

"DA HERANÇA DESSE HOMEM
O LEGADO MAIS SAGRADO:
CARÁTER E HONRADEZ
PATRIMÔNIO CONSAGRADO
TRANSMITIDO À FAMÍLIA
SEU TESOURO TÃO AMADO"

Vida longa a Clovis Pimentel e que o mundo posso ver nascer muita gente assim tão boa e que esta terra ser melhor.

Mané Beradeiro

Obs: o folheto pode ser pedido pelo  whatsaap (84) 8719-4534 e tem o preço de R$ 5,00.

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

UMA GRANDE AQUISIÇÃO: OITEIRO - PRIMEIRA EDIÇÃO

 

Hoje eu consegui adquirir a primeira edição do livro "Oiteiro", de Madalena Pereira. Fazia tempo que procurava ter essa oportunidade. É um livro raro, do qual só existe duas edições, a primeira, da capa acima (1958) e a segunda, de 2003, que já tem 20 anos.



MIGUEL NETO REALIZA EXPOSIÇÃO EM CEARÁ-MIRIM


 

segunda-feira, 24 de julho de 2023

MANÉ BERADEIRO PARTICIPA DE EVENTO DA ACLA NA MANHÃ DO DIA 25 DE JULHO

 Amanhã, 25 de Julho, o poeta Mané Beradeiro (Francisco Martins) tem apresentação  dentro da programação   que a Academia Ceará-mirinense de Letras e Artes-ACLA-Pedro Simões Neto vai realizar,  por ocasião da Semana do Município.


O poeta vai declamar o cordel  "Guaporé - uma solidão restaurada" (novembro 2021).





BIBLIOTECA PACHECO DANTAS E ACLA REALIZAM EXPOSIÇÃO SOBRE AUTORES DE CEARÁ-MIRIM


 A Biblioteca Pública Municipal  Dr. José Pacheco Dantas e a Academia ceará-mirinense de Letras e Artes - ACLA- Pedro Simões Neto realizam de 31 de julho a 11 de Agosto, uma exposição de livros, onde os autores são naturais de Ceará-Mirim ou escreveram sobre a cidade.


O acervo da exposição cobre todos os gêneros: contos, biografias, ensaios, poesias, crônicas, etc. A  abertura vai acontecer dia 31 de Julho, sempre das 8 às 20 h, de segunda a sexta-feira. Nesta primeira etapa que vai até o dia 4 de Agosto, os autores agraciados são:

Adelle de Oliveira

Anete Varela

Armando Holanda

Francisca Lopes (ACLA)

Francisco Martins (ACLA)

Franklin Jorge

Guilherme Luiz Barbosa de Queiroz

Helicarla Morais

Hélio Dantas

Iran Costa (ACLA)

Izulamar Bezerra

Janilson  Dias de Oliveira (ACLA)

Jeane Araújo (ACLA)

Joventina Simões (ACLA)

Júlio Gomes de Sena

Leda Varela (ACLA)

Madalena Antunes

Margareth Pereira (ACLA)

Maria da Conceição Cruz Spineli (ACLA)

Maria das Graças Barbalho B. Teixeira (ACLA)

Maria Heloísa Brandão (ACLA)

Maria Lúcia de Oliveira Brandão 

Meira Pires

Mucio Vicente (ACLA)

Nilo Pereira

Pedro Simões  (ACLA)

Rodolfo Garcia

Ruy Lima

Vera Lúcia de Lima Barreto




quarta-feira, 5 de outubro de 2022

MANÉ BERADEIRO FALA SOBRE CORDEL PARA ALUNOS DO CEEP RUY PEREIRA

 


Na manhã de hoje, quarta-feira, 5 de outubro, o poeta Mané Beradeiro vai ter um encontro com alguns alunos do CEEP- Ruy Antunes Pereira, em Ceará-Mirim, onde a pauta será o Cordel Brasileiro. Os alunos estão trabalhando na construção de um projeto de cordel, com ilustração de xilogravura, sob a coordenação do Professor Gibson Machado. O encontro vai ter início às 10h 30m.

terça-feira, 4 de outubro de 2022

DOIS LIVROS CARTONEROS DE MANÉ BERADEIRO

 O escritor e  editor de livros cartoneros, Francisco Martins,  publicou neste mês de setembro de 2022   dois títulos: " Canção do Canavial" ( 2a edição) e "O amor em 4 patas"(1a edição). Ambos no gênero de cordel, que ele assina com o nome de Mané Beradeiro.






A história dos livros cartoneros com Francisco Martins teve início em 2015, mais precisamente em 27 de maio, quando houve o lançamento do livro " As mulheres de Jesus", edição com 50 exemplares, todas com capas diferentes. É um texto em cordel, escrito por Mané Beradeiro e o primeiro livro cartonero do Rio Grande do Norte, com o selo da editora Carolina Cartonera.


Daquele ano em diante ele não mais parou de confeccionar livros cartoneros. Fazia os seus e também  realizou em algumas escolas de Parnamirim-RN, oficinas de livros cartoneros com crianças e jovens, que produzirem os livros e passaram a tomar conhecimento sobre toda a cadeia do processo.


Canção do Canavial, 36 páginas, capa dura revestida em tecido, título bordado. Preço R$ 25,00

O Amor em 4 patas, 12 paginas, capa dura revestida em tecido. R$ 7,00.



terça-feira, 5 de julho de 2022

UMA IMAGEM DE CEARÁ-MIRIM EM 1900

 Somente quem é apaixonado por pesquisa é capaz de compreender a alegria que se sente quando nos deparamos com algo assim. Estava eu pesquisando a Revista Semanal, que começou a circular em 20 de maio de 1900, na cidade do Rio de Janeiro, quando encontro na edição de nº 63, de 28 de julho de 1901, esta fotografia. Pena  que não há nenhuma reportagem sobre o evento, apenas pequeno texto informando que era a subida do sino grande na  Matriz de Ceará-Mirim  no ano de 1900. 


Francisco Martins


quarta-feira, 18 de maio de 2022

UM DOS PRECURSORES DO CORDEL BRASILEIRO É CEARÁ-MIRINENSE.

     Provavelmente você nunca ouviu falar no poeta João Santana, mais conhecido por Santaninha. Ele viveu durante a época do Império. O véu que pairava sobre Santaninha foi retirado pelos pesquisadores Arievaldo Vianna e Stélio Torquato, dois cearenses que fizeram um excelente trabalho de pesquisa e cujo fruto foi o livro abaixo:


É um livro que deve fazer parte das estantes que guardam o bom acervo sobre a história da Literatura do Cordel Brasileiro. Esse livro foi lançado em 2017.  Cinco anos depois, o poeta e pesquisador Mané Beradeiro, traz à lume um texto inédito, de Rômulo Wanderley, que não chegou a ser conhecido pelos pesquisadores Arievaldo Vianna e Stélio Torquato. 

A importância do texto abaixo é porque faz justiça  a imprensa potiguar, no tocante ao que afirmam os pesquisadores acima citados.

Na página 7 escrevem: " Não há também sequer uma nota nos jornais norte-rio-grandenses consultados na hemeroteca da Biblioteca Nacional no período de 1870 a 1890, à respeito das atividades de Santaninha.."

Se realmente há um período de silêncio na imprensa local sobre o poeta Santaninha, é chegada a hora de anunciar que no Jornal "A República",  edição do dia 31 de dezembro de 1939, o jornalista escreveu a crônica:

MORREU, QUANDO IA RECEBER A COROA DE POETA ...

"João Santana era um poeta negro, que não cantava, como outro qualquer e teria feito, os extensos canaviais da sua terra - o Ceará-Mirim. Moço ainda viajou para o Sul, ambicioso de um céu mais amplo, onde sua imaginação pudesse voar mais alto. Porém, versejou mesmo quase terra-a-terra, como lhe permitia a cultura rasteira. O espaço tinha latitudes e alturas imensuráveis, mas as asas de pássaro não passaram de Remígio. Defeito, talvez dele próprio.

    Nas letras potiguares parece que João Santana é um desconhecido. Não porque tenha sido pequeno ou simplesmente um poeta popular. Os rimadores do povo e para o povo viveram em todas as épocas e chegaram até nós. Mesmo na sua rima barbara possuem um quê de encantador, de mavioso, de original. Aí tivemos o Fabião das Queimadas, conhecido de todos os de ontem e citado por alguns de hoje. É verdade  que o vate de que agora falo está num plano inferior ao nosso amigo Fabião. Mas se de fato existiu, devia não ser esquecido. Quem é vivo também aparece, diz o provérbio. E quem é morto também é lembrado.

    Sebastiana da Quixabeirinha é quem me dá notícias de João Santana. Diz-me que foi um rapaz nascido em Pau Ferro, no município de Ceará-Mirim, na segunda metade do século passado. Viajou para o Sul, como escrevi acima, e, vaidoso de ser poeta, veio rever a família. Porém, quando embarcou de novo para a Côrte, - asseverava-me a velha, com uma convicção da qual eu procurava não duvidar - morreu assassinado em caminho.

    - Por que? perguntei admirado.

    E Sebastiana cada vez mais séria.

    - Por inveja. Ele ia receber a coroa de poeta.

  Um livro de versos chegou ele a publicar, livro que andou de mão em mão versos que ficaram na memória dos seus contemporâneos. Muitas sexagenárias de hoje ainda se recordam de algumas estrofes do medo de Pau Ferro. Naqueles tempos sisudos em que o Carnaval já deixava saudade na mocinha de longas tranças e vestido balão. João Santana não perdia o motivo, embora perdesse a rima: 

    - Se fores para a cidade e vir meu jovem por lá...

    - Sinhazinha não conheço...

    - Na face tem um sinal que eu fiz com um limão nas festas do Carnaval.

    As Sinhazinhas, que no século XIX mal apareciam a janela, bendiziam a chegada de Momo, dias bons em que ninguém tem o direito de ser puritano. Jogavam limão nos namorados, limão de cheiro nos namorados, limão de cheiro. Os ingênuos percursores das lança-perfumes.

    Uma das poesias mais interessantes do livro de João Santana é aquela em que ele conta um escândalo de certa fidalga da Côrte, que por um descuido desses naturais a todos os que amam, viu nascer um garoto da "Cor de azeviche", como diria mais tarde o sambista brasileiro. E, na hora suprema, apelou para a sage-femme a ver se esta encontrava, pelas ruas escuras do Rio de 1880, um menino branco que assumisse, no berço rico, o lugar que o preto iria desonrar.  Inicialmente explica o nosso satirista:

"Neste ano de 80
Quem mais faz menos alcança.
Deu-se três casos na Côrte 
Que o povo traz na lembrança:
- O imposto e o russinho,
 e o outro - o pai da criança."

E arremata ironizando a fidalguia:

"- Pegue este conto de réis.
Vigie se um branco me alcança.
Faça a troca, mas não diga
Quem é o pai da criança.
Foi a parteira com tudo.
Ficou a mãe na esperança .
Nem parteira, nem dinheiro.
Nem o pai, nem a criança."

    O plano da mulher criminosa (naquele tempo julgaram-na criminosa!) foi malogrado pela cobiça da assistente, que desejou apoderar-se do conto de réis. E a viagem de João Santana também malogrou-se. Os seus rivais mataram-no segundo acredita Sebastiana para impedir que ele colocasse a cabeça encarapitada a coroa gloriosa que Camões só mereceu depois de morto."

 ***

No texto de Rômulo Wanderley, ele identifica o berço do poeta o lugar por nome de Pau Ferro, município de Ceará-Mirim-RN. Por outro lado, Vianna e Torquato dizem ter ele nascido em Touros, também no Rio Grande do Norte, no distante ano de 1827. Mas em qual  município nasceu o poeta? Vejamos:

Pau Ferro é a denominação toponímia da atual cidade de Pureza. Touros no ano do nascimento de Santaninha fazia parte do município de  Ceará-Mirim. O mesmo só foi desmembrado em 11 de abril de 1833.


Mané Beradeiro

18 de maio de 2022


 





                           

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

OS NOVE NOMES DE CEARÁ-MIRIM QUE NATAL NÃO ESQUECEU NO ANO 2000

Augusto Leopoldo Raposo da Câmara (1856 -1941)

Edgar Ferreira Barbosa (1909-1976)

Eduardo Medeiros ( 1886-1961) 

Jayme Leopoldo Raposo Adour da Câmara (1898-1964)

Inácio Meira Pires (1928-1982)

Nilo de Oliveira Pereira ( 1909-1992)

Rodolfo Augusto de Amorim Garcia (1873-1949)

João da Fonseca Varela (1850-1931)

Wilson Correa Dantas Cavalcanti (1920-1998)

Esses nove nomes, de homens ilustres,  todos nascidos em Ceará-Mirim-RN, têm sua participação no livro 400 nomes de Natal, ano 2000, que foi organizado por Rejane Cardoso, na gestão da Prefeita de Natal, Wilma de Faria. Cada nome tem um pequeno ensaio biográfico.




segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

ONDE ESTÃO OS LIVROS ENCANTADOS DE CÂMARA CASCUDO?

Há livros que foram escritos e nunca publicados. Na história da literatura do Rio Grande do Norte quero trazer hoje, ao conhecimento dos meus leitores, dois títulos de Câmara Cascudo que se perderam. São eles: "História de Ceará-Mirim" e História de Cerro Corá.

Câmara Cascudo
Sobre  "História de Ceará-Mirim" é fato que o livro foi lido pelo escritor Nilo Pereira, em sua versão original. É ele mesmo quem confirma: "A História do Ceará-Mirim foi escrita por Luís da Câmara Cascudo. Os originais - não sei porque - permanecem inéditos. Já os li." (Imagens do Ceará-Mirim - Natal/RN, Fundação José Augusto, 1977, p.15).

No tocante ao livro "História de Cerro Corá", o assunto ganhou até espaço no jornal "Tribuna do Norte"  onde ficamos sabendo que foi o terceiro a ser escrito sobre as cidades do Rio Grande do Norte e o décimo oitavo sobre o Estado do Rio Grade do Norte. A pesquisa foi encomendada pelo Prefeito  Sérvulo Pereira. 

Tomara que um dia possam ser encontrados esses trabalhos, assim como foi  achado "A Casa de Cunhaú".

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

MANÉ BERADEIRO É PRESENÇA NA FEIRA LITERÁRIA DE CEARÁ-MIRIM

 Está acontecendo desde hoje à tarde, em Ceará-Mirim, a 1ª edição do Festival Literário. A abertura foi feita às 16 h, com apresentações da Banda de Música Tenente Djalma Ribeiro, da poeta cordelista Vera Lúcia Barreto,  apresentação musical de Juarez Lima, aluno da Escola Municipal Antonio Ferreira e em seguida a fala do Prefeito Júlio César.

Amanhã, sexta-feira, dia 17 de dezembro, a programação será intensa, com apresentações culturais de alunos, oficinas de literatura, mesas redondas com as participações de Drika Duarte, Aracelly Sobreira, etc. O poeta Mané Beradeiro também terá seu momento,  quando se apresentará para as crianças com suas histórias e bonecos.

terça-feira, 30 de novembro de 2021

UMA CRÔNICA DE THADEU VILLAR DE LEMOS SOBRE CEARÁ-MIRIM DE ANTIGAMENTE

 

CEARÁ-MIRIM

 

Estive em Ceará-Mirim, no restrito tempo de minha última estadia em Natal. Não fui reconhecido, e, incógnito andei por toda a cidade. Foi melhor assim. Ali, absorvendo o cheiro da garapa cozida, vindo dos “banguês” que se sucediam ao longo dos canaviais que enfeitavam com a sua folhagem verde o grande vale, vivi os melhores dias da minha infância, entre os 7 e os 14 anos de idade.

Visitei todos aqueles recantos da cidade, inclusive os locais onde, há cinquenta e cinco anos passados, existiam os botecos que vendiam caldo de cana, cocada e grude de goma fresca.

Nada mais existe do tempo da minha infância; o progresso acabou com tudo.

Estive no mercado público, onde procurei recompor na memória aqueles locais pitorescos que tantas alegrias me causaram. Durante muito tempo contemplei o sobrado dos Antunes, a mais imponente residência dos velhos tempos, tendo na parte térrea o depósito do velho José Antunes para a venda de açúcar bruto, rapadura, aguardente de cana, banana e outros produtos. Na casa vizinha, estava a residência e a funilaria do velho Sena que rivalizava, na sua arte, com “seu” Moisés, instalado na rua São José.

Passei pela casa onde morava D. Ana Sobral. Aí eu gostava de ir brincar à sombra das grandes mangueiras. Bem em frente, existiam os alicerces de uma casa inacabada onde a cega Maria Fôlha vivia, escandalizando a cidade com o seu palavreado pornográfico, especialmente, quando bebia. Não estando embriagada, momentos raros da sua vida, Maria Fôlha perambulava pelas ruas, gritando ininterruptamente: “Menino?!... Ou menino”?!... Certa vez foi mexer com essa figura popular da cidade, e recebi sobre o ombro uma forte bordoada do bastão que a mesma usava para se manter de pé.

João Cego era outra figura popular da cidade. Morava em um quartinho de taipa erguido em um terreno baldio, quase em frente à residência de Luiz Ferreira da Silva, na rua São José. Andava em todas as ruas, sozinho tendo como guia uma varinha de marmeleiro bravo. Conhecia todo mundo inclusive as crianças, pelo timbre de voz.

Uma das coisas tradicionais do meu tempo, em Ceará-Mirim, eram as batalhas de busca-pé no dia de São João. Geralmente elas tinham como palco a rua São José. Às 7 horas da noite, fechavam as portas e janelas das residências,e todo mundo já sabia que, depois daquela hora, ninguém poderia passar por ali. Postavam-se os dois grupos nas duas extremidades da rua, e avançavam um contra o outro com os raios luminosos desprendidos, com violência, das bases de bambú que mediam 30 e 40 centímetros de comprimento. De muito longe via-se o clarão da batalha. Os busca-pés eram preparados com muita limalha e salitre para que produzissem maior luminosidade. A luta se prolongava por mais de três horas, até que um dos lados fosse vencido, pelo esgotamento da munição. Depois disso, havia a festa da vitória em que tomavam parte os dois grupos contendores. Passados os dias de São João e São Pedro, chegava boa hora dos caiadores porque todas as frentes das casas da rua São José estavam riscadas pelo carvão desprendido das chamas das armas de combates. E o que é mais curioso em tudo isso é que nenhum proprietário reclamava a sujeira em que ficavam as fachadas das suas residências.

Outra brincadeira tradicional de Ceará Mirim era a dos “papagaios”, que antecedia as festas de Natal. O “papagaio” ou “coruja” do norte, é a “pipa”, no sul. Os rapazes faziam “Papagaios” de mais de dois metros quadrados, colocando nos mesmos uma cauda de dez metros, aproximadamente. Alavam os bichos a favor do vento aguentados em cordas de fibra de gravatá. Para sustentar o monstro no ar, em grande altura, eram necessários três homens que movimentavam a corda de sustentação, cuja extremidade se encontrava presa a um tronco de madeira, previamente fincado no chão para esse fim. No dia em que o “Papagaio” teria de ser empinado, ninguém deixava de ir assistir ao espetáculo. Por mais de uma vez vimos a corda se soltar do tronco e o “papagaio” arrastar os três homens, forçando estes a se desprenderem da corda. Três ou quatro dias depois, o monstro era localizado no canavial do vale, a muitos quilômetros de distância. Pedroca, o chefe da brincadeira ia buscá-lo.

Havia no Ceará-Mirim o uso de locação de cavalos selados para quem quisesse cavalgar na cidade ou viajar. Não tínhamos automóveis nesse tempo, e o único transporte se fazia em costados de animais.

Eu gostava de cavalgar e os cavalos da minha preferência eram os do engenho “Porão”, bem pertinho da cidade, pertencente a José Ribeiro de Paiva, mais conhecido por seu Zuza. Pagava-se de aluguel por meio dia 1$000, e por 24 horas, 2$000 - ou sejam, um milésimo e dois milésimos de cruzeiros respectivamente.

Mas, nem sempre eu tinha o dinheiro completo para o aluguel, e a vontade de cavalgar era grande.

-       Que fazia eu?...

Chegava no “Porão” e falava com seu Zuza pedindo que me alugasse um cavalo para dar duas voltinhas na cidade, por $500 (cinco décimos de um milésimo de cruzeiro). Seu Zuza atendia o meu pedido, porém recomendava que levasse o cavalo dentro de duas horas. Como era de praxe, eu pagava o aluguel, adiantado, ia ao cercado pegar o cavalo da minha preferência, trazia ao celeiro, punha os arreios, e saía. Mas só voltava à noite, quando seu Zuza já estava deitado. Abria a porteira, cuidadosamente para não fazer barulho, puxava o cavalo pelas rédeas até o celeiro, tirava os arreios e soltava o animal. Seu Zuza não desconfiava de nada porque o movimento de fregueses era muito grande. Acontece que, certo dia, alguém disse ao homem que eu andava nos seus cavalos o dia inteiro, galopando nas estradas dos engenhos até o começo da noite. Seu Zuza ficou de tocaia e me pegou com a boca na botija. Fez queixa a Papai e eu fui proibido de cavalgar.

Muitos anos depois, eu e Zuza éramos colegas da fiscalização do imposto de consumo, e ele relembrou o caso dos cavalos, adiantando aos ouvintes que eu entrava no engenho tão sorrateiramente, que nem acordava o bebê, seu filho Jorge, o hoje Monsenhor Jorge Ograyde.

Finalmente, muita coisa eu ainda poderia narrar sobre a minha infância em Ceará-Mirim, porém vamos parar por aqui.

 

Rebuscando Escarcelas

Thadeu Villar de Lemos 1970, p. 79 a 83.

CONVERSA SOBRE MADALENA ANTUNES NO COLÉGIO SANTA ÁGUEDA

 


Vai acontecer logo mais, às 9:30 h, uma mesa redonda tendo como tema Madalena Antunes, a maior memorialista do Rio Grande do Norte, autora  de "Oiteiro - Memórias de uma Sinhá-Moça". O evento acontece na cidade de Ceará-Mirim-RN, no Colégio Santa Águeda, com os alunos do Ensino Médio e a palestrante será a escritora Margareth Pereira.  Os alunos dos 6º e 7º ano também tiveram esse encontro, sendo palestrante a poeta Francisca Bezerra. Ambas pertencem a Academia Ceará-mirinense de Letras e Artes - ACLA - Pedro Simões Neto.


sábado, 27 de novembro de 2021

DOIS NOVOS CORDÉIS DE MANÉ BERADEIRO CHEGAM À PRAÇA LITERÁRIA

 Com esta postagem o blog chega a de número 3000. Uma marca significativa ao longo deste tempo de existência. Vamos a ela!


O poeta Mané Beradeiro disponibiliza para o público leitor, dois novos cordéis, que trazem o selo da editora informal Carolina Cartonera. São eles:  "Nas veredas de Veríssimo", que homenageia Veríssimo de Melo, que se vivo fosse teria completado 100 anos de vida. Já o cordel " Guaporé - uma saudade restaurada" é um poema sobre o casarão do Guaporé, em Ceará-Mirim, que foi o lar do Dr. Vicente Inácio Pereira, segundo médico do RN. Um importante marco da aristocracia canavieira.


Capa do cordel Nas veredas de Veríssimo

Miolo do cordel

Ambos são feitos de forma artesanal, por isso com tiragem pequenas. As capas são de papelão, revestidas em tecido.

Capa do cordel Guaporé

Miolo do cordel Guaporé

O casarão do Guaporé foi totalmente restaurada na década de 70, pela Fundação José Augusto, na gestão de Franco Jessielo e era Governador do Estado, o Dr. Tarcísio Maia.  Durante alguns anos funcionou ali o Museu Nilo Pereira que depois foi desativado.Hoje a situação é esta, de qualquer ângulo abandono e destruição.


 

 


 







Cada livro tem o preço de R$ 10,00 (dez reais), com tiragem de 100 exemplares e as reservas podem ser feitas através do telefone (84) 9.8719 4534.