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terça-feira, 9 de abril de 2013

CENTENÁRIO DE VINICIUS DE MORAES - ENTREVISTA




Vamos ler hoje um diálogo de uma entrevista que foi feita Edla van Steen, com Vinícius de Morais, e que consta no livro “Viver & Escrever”, Volume 2, editora LPM, ano 1982.  A entrevista na íntegra consta nas páginas 27 a 37. Para a postagem selecionei algumas perguntas.

Como é que você escreve. Vinicius?
         Eu prefiro escrever a máquina. O fato do tipo aparecer bem caracterizado me concentra mais. Eu gosto de ver a coisa bonitinha na página. Não sou um escritor de forma fácil, que vai escrevendo emocionalmente. Por exemplo: mil poemas saem todos os dias, mas eu não anoto nada. Se for importante, o poema volta. A poesia é fruto da vida de cada um. Meu pensamento não é abstrato, está sempre relacionado à minha experiência de vida.
E o primeiro livro? Foi fácil editar?
         Caminho para a Distância saiu quando eu tinha dezenove anos. Paguei a edição para a Livraria Schimidt Editora, do poeta Augusto Frederico Schimidt. Quando a gente abre o primeiro livro impresso dá uma emoção danada, fiquei num entusiasmo tremendo, descobri que era escritor.
E a sua ida para a Inglaterra?
         Eu ganhei a primeira bolsa de estudos para a Inglaterra, dada pelo Conselho Britânico. Eu e o Marcelo Damy de Souza Santos, que é um físico muito importante. Fui para Oxford e ele para Cambridge. E descobri os poetas ingleses. Shahespeare ia ser minha tese de doutorado, que eu não pude fazer porque estourou a guerra. Casei com a Tati (Beatriz de Azevedo Melo) por procuração. Acontece que eu estava quase noivo da Antonia, quando conheci a Tati, que era noiva de outro cara. E foi aquela paixão desenfreada. As leis da universidade não permitiam mulher morando junto a ser casada ou maior de 25 anos. Então casei por procuração, porque eu tinha 23 para 24 anos, ainda . Assim ela podia morar comigo.
O que aconteceu quando estourou a guerra?
         Eu estava de férias em Paris. As tropas alemães avançavam de todo lado. Telegrafei para o Conselho Britânico pedindo orientação. A resposta foi: vá para onde puder, que a barra está pesada. Peguei minha mulher e fui para Portugal. Uma viagem dramática, atravessar a Espanha naquele ambiente de guerra, pessoas assaltando trens, sem comida, sem nada. Dois dias para ir de Paris a Lisboa. Um sufoco. Lá, encontrei o Oswald de Andrade, que estava casado com a Julieta Bárbara, professora de Pindamonhagaba, uma mulata muito bonita. Tinha acabado de sair o Serafim Ponte Grande. Em Portugal, no Estoril, escrevi o Soneto da Fidelidade. A viagem de volta foi outro sufoco, num navio chamado Angola e que fazia a primeira viagem para o Brasil. Um navio novo em folha. Duas semanas de viagem, num black-ou total, a Tati grávida...Cheguei ao Rio com uma crise de apendicite terrível, saí do navio direto para o hospital, o médido-assistente foi o Pedro Nava.
Nunca tentou o romance, Vinicius?
         Tentei, sim. Escrevi Antonia, quando eu estava apaixonado por aquela moça de São Paulo. Contava a história do nosso amor. Ficou anos jogado nos meus papéis. Uns quinze anos. Daí eu reli, um dia, achei tão ruim, que rasguei. Agora ando pensando em fazer uma nova tentativa....Não sei.
Você lê muito, Vinicius?
         Cada dia leio menos. O Rubem Braga é um cara que eu leio sempre, o Pedro Nava, que eu gosto de abrir ao acaso, e que me dá um grande prazer estético. Mas não leio com a garra que eu tinha antes, um livro atrás do outro.
O que é ser feliz?
         A coisa mais importante do ser humano é a busca da felicidade. Eu não sei bem o que é felicidade, mas deve ser um sentimento que brota dentro da gente em relação às coisas e às pessoas. Um sentimento bom.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

CENTENÁRIO DE VINÍCIUS DE MORAES - COTIDIANO Nº 2


Há dias que não sei o que me passa
eu abro o meu Neruda e apago o sol
misturo poesia com cachaça
e acabo discutindo futebol
mas não tem nada não
tenho o meu violão.

Acordo de manhã, pão com manteiga
e muito, muito sangue no jornal
aí a criançada toda chega
e eu chego a achar Herodes natural.
Mas não tem nada não
tenho meu violão.

Depois faço a loteca com a patroa
que sabe nosso dia vai chegar
e rio porque rico ri à toa
também não custa nada imaginar.
Mas não tem nada não
tenho meu violão.

Aos sábados em casa
tomo um porre e sonho
soluções fenomenais
mas quando o sono vem
e a noite morre
o dia conta histórias sem iguais.
Mas não tem nada não
tenho meu violão.

Às vezes  quero crer,
mas não consigo
é tudo uma total insensatez
e aí pergunto a Deus
escute, amigo
se foi pra desfazer
porque é que fez?

Após bacharela-se em Letras, o poeta Vinícius Moraes entra na Faculdade de Direito, em 1930 e três anos depois conclui o curso. Em 1933 publica seu primeiro livro: O CAMINHO PARA A DISTÂNCIA.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

CENTENÁRIO DE VINICIUS DE MORAES - A ROSA DESFOLHADA


Tento compor o nosso amor
dentro da tua ausência
toda loucura, todo martírio
de uma paixão imensa.

Teu toca-discos, nosso retrato
um tempo descuidado
tudo pesado, tudo partido
tudo no chão jogado.

E em cada canto, teu desencanto
tua melancolia
teu triste vulto, desesperado
ante o que eu te dizia.

E logo o espanto
e logo o insulto
o amor dilacerado
e logo o pranto ante a agonia
do fato consumado.

Silenciosa ficou a rosa
no chão despetada
que eu com meus dedos
tentei à medo reconstruir do nada,
o teu perfume, teus doces pelos,
a tua pele amada,
tudo desfeito, tudo perdido,
a rosa desfolhada.

Vinícius de Moraes nasceu em 19 de outubro de 1913. No ano de 1924 começou seu curso secundário no Colégio Santo Inácio, em 1927 já estava compondo com os irmãos Tapajoz e no ano seguinte compõe com eles LOURA OU MORENA e CANÇÃO DA NOITE. Em 1929 bacharela-se em Letras.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

CENTENÁRIO DE VINÍCIUS DE MORAES - MORENA FLOR

Se vivo fosse o poeta Vinícius de Moraes estaria celebrando este ano seu centenário de nascimento. Nascido em 19 de outubro de 1913, o poeta viveu 67 anos, até o dia 9 de julho de 1980, quando encantou-se o homem que consagrou suas décadas de vida ao amor e a mulher. Ao longo deste ano estarei postando algumas poesias suas por aqui, em homenagem ao grande poeta da literatura brasileira.

Morena flor
me dê um cheirinho,
cheirinho de amor,
depois também,
me dê todo esse denguinho
que só você tem.
Sem você o que ia ser de mim?
Eu ia ficar tão triste,
tudo ia ser tão ruim,
acontece que a Bahia fez
você todinha assim,
só prá mim