Neste dia 1 de janeiro de 2019 já estaremos sob a matuta administrativa de Jair Bolsonaro. Um governo diferente? Até onde? Eu estou na torcida para que seu governo seja próspero e que a nação brasileira cresça. Como tudo aqui puxa leitura e literatura, nada melhor do que termos este texto de Monteiro Lobato, publicado na década de 40, que trata sobre a ética na política.
Uma
nação é o conjunto organizado das criaturas humanas que habitam um
certo território. Para promover a ordem e a justiça essas criaturas
delegam poderes a certos indivíduos para a aplicação de uma coisa
chamada lei, a qual não passa da vontade coletiva aceita por consenso
unânime. Tais homens constituem o governo. O governo é, pois, um
delegado, uma criatura da Nação. Só esta é soberana, porque só esta é a
força e a verdade.
Quando
os delegados fogem aos seus deveres e voltam contra a Nação os
aparelhos defensivos que ela lhes entregou para salvaguardar a sua
soberania das agressões externas, esse governo deixa de ser governo.
Cessa de funcionar legalmente e – ou rei como Luís XVI, ou ministro, ou
presidente, ou congresso – deve ser incontinenti varrido por todos os
meios, a guilhotina como na França, ou a processo criminal como nas
repúblicas livres.
O
dever mais elementar dos delegados da Nação é aplicar sensatamente os
dinheiros públicos. O povo dá o imposto para receber em troca um certo
número de benefícios de caráter geral. Para fiscalizar esse emprego
existe a imprensa, plenário onde se ventila o abuso, o qual abuso,
competentemente autuado, sobe à Opinião Pública para o julgamento
supremo. Se a opinião pública, por vício incurável, não toma as
providências do caso, paciência. A imprensa não tem culpa disso. Seu
papel limita-se a esclarecer o público.
Assim,
todo jornalista, ou todo cidadão, tem o dever de agarrar pela gola os
funcionários relapsos, sejam reis ou ministros, e expor os seus crimes
na grande montra.
Referência
LOBATO, Monteiro. Mundo da lua e miscelânea. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1946, p. 106 e 107.