sexta-feira, 22 de novembro de 2024
sábado, 16 de novembro de 2024
TRIBUTO A DIULINDA
terça-feira, 5 de novembro de 2024
A JUSTIÇA E A PAZ
O poema de minha autoria "A justiça e a paz", foi classificado e selecionado para a antologia do PRÊMIO OFF FLIP 2024 - Poesia.
A eterna voz de Deus na consciência de todos os povos.
A justiça não tem dono. É um bem universal.
A justiça não é urdida de intrigas, nem se prevalece de vantagens reais.
É independente. Não se banqueteia com poderosos
E, sem favoritismos, acolhe os fracos e desvalidos dos bens sociais.
A justiça não é vingativa. Pressupõe a inocência.
É equânime, mas não favorece jamais a impunidade,
Sendo, por isso, reconhecida a magnitude de sua dignidade.
A justiça é indulgente com o argueiro no olho do acusado,
Mas há de ser inexorável com a trave no olho dos que o condenam
Ruidosamente, fundados em controversas razões parciais.
A justiça é meridiana. Não permite nem faz sombras à verdade,
Mas é, nela, que se ilumina e se sustenta. Sua fala é a verdade
E diz, em plena claridade, do que é, que é; do que não é, que não é.
A justiça não está nos códigos, nem nas supremas leis,
Mas no imperativo do que deve ser feito e não procrastinado,
Realizando-se rigorosamente, no tempo preciso, o seu desígnio maior.
A justiça falha quando erra e erra quando tarda e é complacente,
Ou omissa até com as próprias falhas de consequências irreparáveis.
Justiça tardia e lassa não é justiça. É cumplicidade falaz.
A justiça não é perseguição, mas determinação;
Não é contingência, mas diligência em sua suprema função
De garantir uma sociedade justa e organizada que a todos compraz.
Ai dos traidores da justiça! dos que detêm e concentram o seu poder,
E, em seu nome, praticam a iniquidade, surdos à voz do Infinito Poder,
Porque a sua Lei é implacável, e a sua dosimetria é a eternidade!
Não é cega a justiça e não será jamais. Vê que é bom, tudo o que faz
E constrói, com o trabalho dos justos de boa vontade, o luminoso dia
Em que vem, para todos, ela mesma, a justiça abraçada com a paz!
quinta-feira, 24 de outubro de 2024
NÃO SEM ELE
Sem Ele, jamais!
Não viveria feliz se
Ele não fosse respirar.
NÃO SEM ELE,
Nenhum minuto,
Nenhum segundo
Nenhum pensar.
Não busco portais,
Pois Ele é o Caminho,
A verdade e a vida.
Hei de um dia partir
Terei meu momento assistido
NÃO SEM ELE.
Com Ele!
Nele, sempre!
Francisco Martins
24 de outubro de 2024
1 ano do segundo infarto
quarta-feira, 16 de outubro de 2024
POEMA DO DÍZIMO
Quero trazer à tua casa uma parte do meu tempo.
Quero dizer que é teu meu pensamento
Desejo afirmar sempre e incontáveis vezes que és Santo! Santo! Santo!
Senhor, ensina-me sobretudo a devolver, como sinal de eterna gratidão, os 10% de tudo que chegar em minhas mãos em moeda.
Sei que não precisas
Sei que não vai ser troca
Mas, sei, que fazendo de coração alegre, o dizimar vai soar como quem fala: DIZ AMAR!
Amar os missionários
Amar o irmão necessitado
Amar a Igreja que sofre.
Senhor, quando eu sou 10%, sinto que tu nunca deixastes de ser 100% provedor da minha vida.
Francisco Martins
14 de outubro 2024
quarta-feira, 2 de outubro de 2024
REVISTA BARBANTE PUBLICA OS MELHORES CORDÉIS DE MANÉ BERADEIRO
Receita de amizades em versos de cordel
segunda-feira, 2 de setembro de 2024
"RECEITA DA AMIZADE" FOI LANÇADO DIA 31 DE AGOSTO PASSADO
Sábado passado, à noite, por ocasião do Festival da Amizade que foi realizado pela IBCidade, no bairro de Neópolis, em Natal, o poeta Mané Beradeiro fez o lançamento do seu mais recente folheto de cordel "Receita de Amizade".
O cordel foi lido na íntegra para os participantes que ao final ovacionaram o poeta. Na segunda participação, Mané Beradeiro voltou ao palco, dessa vez com seu inseparável amigo Ananias, que presenteou o público com "Monólogo de Ananias"
segunda-feira, 5 de agosto de 2024
CAMINHADA POÉTICA
Chamo de CAMINHADA POÉTICA, aquele momento matinal que realizo todas as semanas, de segunda a quinta-feira, sempre no horário das 4h, com duração de 40 minutos, pelas ruas do bairro onde moro. É quando faço minha atividade física, com as ruas desertas, encontrando poucas pessoas nas ruas. Nessa caminhada aproveito para gravar um pequeno vídeo e distribuir pelas redes sociais. São textos poéticos, correlatos com a Palavra de Deus. Um convite à reflexão. Abaixo as duas publicações dessa edição de 2024.
segunda-feira, 24 de junho de 2024
UM CLÁSSICO DE VICTOR HUGO GANHA RELEITURA EM CORDEL
Escrito por Victor Hugo, e publicado em 1862, na França, o livro "Os Miseráveis" registra o grito dos pobres na sociedade francesa do século XIX. Não demorou para se tornar um clássico da literatura mundial.
Li "Os Miseráveis" nos anos 90 e confesso que ainda não assisti o filme. Gosto mais de criar as próprias cenas na leitura, embora saiba que a sétima arte é formidável.
Hoje eu quero focar meu olhar de crítico para um recente trabalho, do autor Gilberto Cardoso, "Os Miseráveis - em cordel".Vinte e quatro capítulos formam o livro, todo escrito em estrofes com sete pés (ABCBDDB). Um trabalho construído no tempo da Pandemia do Corona Vírus, que exigiu muito do autor, mas o resultado foi digno de aplausos.
Convido os professores da língua portuguesa, e principalmente os que trabalham com Literatura no RN, a tomarem conhecimento dessa obra escrita por Gilberto Cardoso.
Apresentá-la aos alunos do Ensino Médio é atingir o alvo com várias setas, de forma simultânea. Vejamos:
1º) O professor estará cumprindo o que determina a Lei nº 11.231, de 4 de agosto de 2022, que inclui a Literatura Potiguar nas Escolas da rede estadual de ensino e particular.
2º) A escola incentiva o fomento à literatura de cordel (Lei nº 10.950, de 13 de julho de 2021).
3º) Incentiva a Cultura da Leitura e da Escrita ( Lei nº 10.690, de 11 de fevereiro de 2020).
4º) O leitor tem a oportunidade de conhecer a releitura de um clássico francês, no gênero de cordel.
Esse é o tipo de cordelivro que nasceu para somar e fazer parte de um conjunto de obras congêneres, que contam histórias clássicas, nesse gênero de poesia, o cordel.
Gilberto Cardoso construiu 539 estrofes, totalizando 3.773 versos. Tendo a capacidade de escrever e recontar "Os Miseráveis", sem levar ao leitor a sensação de cansaço. Breve irei assistir o filme e então poderei dizer: li o livro, o cordel e vi o filme. Louvo o autor e poeta cordelista, Gilberto Cardoso.Parabéns!
Mané Beradeiro - 24 de junho de 2024
terça-feira, 26 de dezembro de 2023
UM NATAL DIFERENTE NO CORAÇÃO DE MUITA GENTE: JENNY AIRES PARTIU
Jenny Aires da Cunha, professora da rede municipal de Parnamirim-RN, trabalhava na Escola Jussier Santos, bairro de Santa Tereza, exercendo a função de Mediadora de Leitura. Era uma profissional dedicada. Cuidava da biblioteca escolar com tanto zelo que eu muitas vezes dizia para mim mesmo: "são poucas as que se entregam dessa forma".
Incontáveis vezes atendi os seus convites. Estive lá como Mané Beradeiro, Palhaço Leiturino e o escritor. Divulgava meus trabalhos, e também dos colegas. Vinha lutando contra um câncer e faleceu no dia 24 de dezembro. Dia seguinte seria seu aniversário, e hoje, 26, a escola tinha programado uma celebração. Tudo mudou! Tristeza, sentimentos de perda, saudades, etc. Eu fiquei com angústia por não ter podido ir ao velório e sepultamento, estava longe.
Ontem, quando regressava para casa escrevi este texto abaixo, uma singela homenagem àquela que tem lugar guardado na minha memória. Obrigado por tudo Jenny Aires.
Jenny está no céu.
Chegou ontem, anjos a receberam com festividade. Honrarias foram feitas. Paulo Apóstolo, o maior Mediador de Leitura do primeiro século cristão, foi o cicerone de Jenny.
Ela não sentia dores, não havia trevas. Tudo luz!
Ela agradeceu a recepção e presenteou anjos e santos com os cordeis de Mané Beradeiro, Acaci, Geraldo Tavares, Antonio Francisco. Distribuiu também livros de Paula Belmino, José de Castro, Salizete Freire.
O seu olhar foi longe e atravessou o terceiro Céu, aí então, alguém tocou em seu ombro e falou:
- Bem que eu disse: "Tudo vira outra história".
25 de dezembro de 2023
quinta-feira, 16 de novembro de 2023
DUAS PONTES E ALGO MAIS
Duas pontes no meu peito
Usaram massa mamária
Deixando coração perfeito.
Implantaram por precaução
De couro um matolão
Pendurado na porteira
Toda feita de aroeira
Em caminho bem dourado
Projetado e ornamentado
Pra quem tem o meu respeito.
Mané Beradeiro
sexta-feira, 27 de outubro de 2023
GRITO CORONÁRIO
segunda-feira, 28 de agosto de 2023
CASA GRANDE E SENZALA VAI SER TEMA DE CORDEL ESCRITO POR MANÉ BERADEIRO
O poeta Mané Beradeiro escolheu o tema de "Casa Grande e Senzala" para completar o 60 folheto de sua autoria. Por enquanto o título, ainda provisório é: "Casa Grande e Senzala- 90 anos". O folheto não vai narrar o que está escrito no livro, mas sim, sobre a história da construção desse ensaio, um dos mais importantes do Brasil. O autor está mergulhado nas pesquisas e pretende lançar em outubro de 2023. Aguardemos maiores detalhes.
quarta-feira, 23 de agosto de 2023
ÀQUELA JUÍZA
Uma senhora que nunca vi
Vestida de todo mal
Prejudicou minha vida
Agitou o emocional
Verbos intransitivos
Agarram-se em minh’alma:
Meu coração acelera
Seguro esse sofrer
Os dias tem sequidão
E dentro da minha dor
Coberta de injustiça
Espero o anoitecer
A aurora vai brotar
Não vacilo nessa fé
Minha conversa com Jó
Traz a força e esperança
De que Deus não erra a lança
Nada foge ao seu olhar
Nem juíza, nem sentença
Ele é a Excelência!
Verdadeira Sapiência,
Descanso nessa Ciência.
Francisco Martins
23/08/2023
UM CORDEL QUE TEM A HISTÓRIA DA COMISSÃO DO FOLCLORE
Josenira Fraga distribuiu na manhã de ontem, por ocasião de um evento no Instituto Ludovicus, em Natal, o folheto em cordel com o título: " 75 anos da Comissão do Folclore - 75 anos de muita cultura para o RN".
Parabenizo a autora por ter trazido às páginas do cordel brasileiro, esse poema biográfico que nos revela traços da história dessa instituição tão importante à cultura potiguar. A estrutura do folheto tem 24 estrofes em sextilhas, com rimas nos versos pares, o que comumente denominamos "xaxaxa".O cordel quando é bem escrito ele é harmonioso, o leitor é fisgado pela sonoridade das rimas e o movimento sincrônico dos versos. Esta sincronia é prejudicada quando o autor deixa escapar versos desmetrificados, que conhecemos no popular como "pé-quebrado".
Não sei o que aconteceu durante o processo de produção e editorial do folheto que agora analiso, parece-me e quero nisso crer, que foi impresso repentinamente, sem passar pelo crivo de um revisor. Sim! pois é notória a presença de alguns erros tanto na grafia de algumas palavras, algumas atribuídas à digitação, mas há uma parcela que é da inteira responsabilidade da autora, refiro-me à métrica. Encontrei 13 versos, que são elementos do conjunto "pé-quebrado".
A autora não começou a escrever cordel recentemente, ela está na nessa estrada deste 1979. Fica a dica para que em publicações futuras haja um olhar mais criterioso, dando espaço tão somente aos aplausos, pois criticar é deveras perigoso e nem sempre compreendido.
Mané Beradeiro
23 de agosto 2023
sexta-feira, 11 de agosto de 2023
sábado, 15 de julho de 2023
RIMA, MÉTRICA E ORAÇÃO: UMA CONVERSA ESCRITA SOBRE CORDEL
Em tempos remotos, nos primórdios da nossa literatura popular, mesmo que muitos versassem em composições mais simples, como por exemplo, em quadrinhas, percebe-se, quando vamos à literatura da época, que havia um cuidado desmedido com um elemento denominado métrica.
É certo que poderia ser que alguns sequer soubessem o que vinha a ser esse elemento, mas, automaticamente, ele aparecia pela sonoridade. Afinal, a poesia sempre andou em “par e passo” com a música.
Na cantoria, desde os trovadores medievais se percebeu que as frases postas para o recital ou para a cantiga careciam de uma “medida certa”. Quando faltava ou sobrava, isso interferia diretamente no compasso musical ou recitatório. Assim, ao longo dos anos, a poesia popular, as cantigas populares e principalmente a literatura popular em folhetos de cordão, ou para cordão, logo denominados com maior sonoridade de cordel, no mais português dos termos, foi se moldando a esse conjunto de regras, principalmente por se ter a necessidade de cantá-la em obediência a um compasso medido, mesmo que intuitivamente.
A literatura popular em folhetos de cordel é uma espécie de gêmea da cantoria nordestina (ou vice-versa), de forma que muitos cantadores foram ou são literatos dessa vertente, como muitos cordelistas também bebem, beberam ou beberão na fonte da cantoria. E ambas carecem de obediência às regras pré desen volvidas por esse ciclo evolutivo. Sem o rigor dessas regras, a poesia perde em encanto e qualidade, uma vez que em tudo que fazemos precisamos observar o regramento, que é matriz de toda ou qualquer invencionice humana.
Há de se admitir que a tarefa de escandir versos não é algo de fácil compreensão. Eu, por exemplo, por muito tempo não tive consciência desse regramento. Lia folhetos para cordel costumeiramente e absorvi a forma. Era, como é, algo que flui naturalmente na sonoridade. Mas, o mais desatento e desinformado dos leitores, logo percebe ou deixa perceber ao ouvinte, quando lê que algo está errado quando no texto lido há desmetrificação.
Como é desagradável ler poesia popular sem métrica.
Experimentamos dois exemplos rasteiros:
O Brasil está de luto,
O povo passando fome,
O emprego não existe,
A pátria perdeu o nome,
É muito certo o ditado:
Quem não trabalha, não come.
(Marcos Teixeira)
Ao ler essa estrofe setessilábica, o leitor desliza numa sonora lógica, logo cantante, sem empecilhos linguísticos ou dissonância rítmica.
Agora, experimentemos a mesma estrofe com uma desmetrificação proposital:
O Brasil está certamente de luto,
O povo passando fome.
O emprego não existe,
O nosso país perdeu o nome,
É muito certo o ditado,
Quem não trabalha não come.
(Marcos Teixeira).
A leitura ou a cantiga dessa estrofe com o acréscimo de sílabas nos primeiro e quarto versos, são suficientes para emaranhar a tônica dos versos na rítmica do leitor, percebe?
Tornou-se comum haver embate de escritores com pseudos escritores de literatura popular, principalmente da poética do Cordel, quanto a esse assunto. Enquanto alguns somos defensores das métrica e rimas corretamente aplicadas, há outros que, por desconhecerem ou desaperceberem essa gritante diferença, ignoram, desdenham e desusam a mais importante característica da literatura popular…
O cordelista potiguar Marciano Medeiros é um desses observadores contumazes da forma. Seus trabalhos são exemplos da perfeição técnica que reúnem o conjunto perfeito em harmonia: rima, métrica e oração. Esse é o tripé mágico da cantoria, como do cordel. Veja um exemplo na estrofe setessilábica em sextilha, de Marciano Medeiros:
No seu trabalho notório
Essa autêntica figura,
Gostava de poesia
Essa mensagem tão pura,
Escrevendo belos versos
Pra nossa literatura.
(Folheto: Diógenes da Cunha Lima nos trilhos da poesia – Marciano Medeiros)
São seis versos de sete sílabas poéticas compondo uma estrofe biográfica conforme propôs o autor.
Assim como em Marciano, que não é cantador, nos cordéis escritos por cantadores também, costumeiramente, se encontra a fidelidade formal defendida pelas regras dessa modalidade literária.
No caraubense José di Rosa Maria, exímio poeta das letras e da viola, achamos muita qualidade expressada e grafada em suas Obras, mesmo que aqui interesse apenas a forma. Vejamos:
Mesmo assim, meio confusa
Lembrou num certo momento,
De uma amiga que fez
Na sala de ensinamento,
Que residia sozinha
Num simples apartamento.
(Folheto: A Mãe do Filho do Lixo – José di Rosa Maria)
O exemplo acima repete a tônica do primeiro exemplo. Estrofe de seis versos em sete sílabas poéticas, com rimas rigorosamente dentro dos padrões predefinidos e sem repetição.
Parece-me que das minhas leituras habituais de literatura popular, extraio a seguinte observação: diferente da progressão natural de qualquer ciclo evolutivo, com o cordel ocorre uma espécie de contralógica, de tal forma que é nos trabalhos mais antigos onde encontramos maior fidelidade a essas regras.
Citaria muitos dos cordelistas contemporâneos e vários dos séculos XIX e XX, desde os notoriamente conhecidos, como Leandro Gomes de Barros e Manoel D’Almeida Filho em uma época, Patativa do Assaré e Antônio Teixeira em outra e Francisco Gabriel Ribeiro e Nando Poeta em dias atuais, todos como zelosos metrificadores em três momentos distintos desta literatura.
Os livretos de literatura popular em folhetos de cordel, ou mesmo essa modalidade literária impressa em livros, como é o exemplo de autores contemporâneos como Antônio Francisco e Marcos Teixeira, com os livros Dez Cordéis num Cordel Só e Uma Corda de Cordéis, respectivamente, a poesia ou o poema pode aparecer em forma diversa da sextilha, sendo comuns a décima setessilábica e a décima decassilábica, vindo essas modalidades certamente da Cantoria nordestina de viola.
Merecendo destaque em ambas as variações, o olhar atento dos escritores para a forma e a obediência às métrica, rima e oração.
Assim como citamos bons exemplos de observância à norma, é possível citar inúmeros autores que a ignoram. Outros que até desdenham quando são confrontados ou simplesmente advertidos quanto ao tema.
Fato é que, com o advento da democratização da arte gráfica pela expansão da informática e dos computadores, perdeu-se o controle editorial de certos impressos. O folheto de cordel talvez seja o que mais sofreu essa mudança. Hoje, é bem possível um autor escrever, compilar e ele mesmo editar e publicar um trabalho. Assim, não raros são os exemplos de inobservância da norma, desde gramática e ortografia, até rima, métrica e oração, no caso do cordel.
Posiciono-me na defesa de uma linha editorial. Principalmente nas Academias e organizações formais, pois assim, necessariamente, antes da publicação o material deverá ser submetido à revisão ortográfica e, principalmente, formal. Assim, evitando-se deficiências várias de múltiplos pontos de vista.
A temática pode ser “modernista”, mas essa pretensa escola literária tem que ser trabalhada pela ótica de suas regras. Não deve ser feita unicamente pela vontade do escritor, mas necessariamente pela absorção das técnicas, como ocorre com toda ou qualquer arte.
Tenho me deparado com coisas que me assustam, sendo repassadas como cordel. Textos esdrúxulos do ponto de vista estético e ortográfico, com rimas apenas fonéticas e às vezes “monotônicas”.
É comum que os observadores das regras se sintam retraídos em observar algo dissonante no trabalho de algum colega, mas isso não deve existir. Observador e observado devem fazer do momento da observação um exercício de aperfeiçoamento da técnica e solidarizarem-se numa troca profícua de saberes para maior valorização crítica do que se produz.
Sabemos da importância da mensagem, do passar a mensagem, mas entendemos que sem essa busca pela técnica não nos firmaremos tão cedo enquanto escola literária e, ainda, não conseguiremos ocupar espaço nas searas didática, acadêmica e editorial.
BIBLIOGRFIA
MOTA, Leonardo. Poesia e Linguagem no Sertão Cearense. A. J. de Castilho, Rio, 1921.
MEDEIROS, Marciano. Diógenes da Cunha Lima nos Trilhos da Poesia. Serra de São Bento, 2010.
ROSA MARIA, José di. O. A Mãe do filho do Lixo. Fundação Ving Tun Rosado. Mossoró. 2010.
Marcos Teixeira é poeta repentista, cordelista e escritor. Membro da Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel e da Comissão Norte-rio-grandense de Folclore. Autor de Uma Corda de Cordéis, O Dueto Ética e Moral à Luz da Filosofia, A Bomba da Salvação, O Julgamento do Machado, A Janela e outros...
Texto copiado de https://foque.com.br/rima-metrica-e-oracao-uma-conversa-escrita-sobre-cordel/
quinta-feira, 22 de junho de 2023
DA VEZ QUE MILTON SIQUEIRA ESCREVEU COMO POETA MATUTO
O Poeta Milton Siqueira (1911-1988) considerado um dos representantes da poesia marginal, escreveu também na linguagem sertaneja. A prova disso está no livro Emoções.
Truvuada
Ao colega José Praxedes, o maior poeta vaqueiro do nordeste
Chuva, relampo e truvão,
Essa noite foi bunito,
So se uvia a exprosão
Pulos artos infinito!
O pai da boa cuaiada
Tava brabo qui nem feria,
E sapecava as espada
Dos relampo nas esferia!
Cabra trimia de medo
Quando as luz alumiava
Sub os serrote e os penedo,
E os curisco os ceu riscava!
Os aniná dos pulero
E os outro dos currá,
Correro tudo ligero,
Pra mode se ocurtá!
Era grande a tempestade,
Paricia tiroteio
Ou metraia de verdade,
Ou o qui dizê nem seio!
Rezava a Nosso Sinhô,
De frieza intiriçado,
E trimendo de pavô!
Uma faisca caiu
Numa oitica veia,
Uma zuadão se uviu
Pru riba de nossas teia!
Pensei cum eu ca cum migo,
O mundão hoje se acaba,
Pru mode qui isso é castigo
Que sub os mortá disaba!
As ventania chiava
Como as cascavé zangada,
E as têia arrebentava
Numa fura indimonhada!
Pru toda parte curria
Um riacho invulumoso,
Os bucho dos rio inchia
Cumo dragão pavoroso!
Qui São Jiromo nas vala,
Pru toda sua bondade,
Rezava as muié na sala
Do meu vizinho e cumpade!
Os truvão arribombava
Cumo bomba de canhão,
Os relampo arrelampava
Como boca de vurcão!
Os chão tava qui nem papa,
Dave lama nos jueio,
Hoje aqui ninguem inscapa,
Tive no imo esse anseio!
Eu tinha me alevantado
E abrido a minha jinela,
Mode inspiá assustado
A frevura da panela!
O ceu simiava um pote
A chuvê chuva pra baxo,
E as terra era um caçote
Merguiando num riacho!
A tão danidas trumenta
Cuma essas do sertão,
Ninhuma corage infrenta,
Nem se fô Napulião!
Mondé
Ao Veríssimo de Melo e ao Câmara Cascudo
Fulô, eu não sou preá,
Mode caí im mondé...
Tu tem no peito, muié,
Um gato maracajá...
A tuarma é cascavé
Pricurando invenená
Meu coração a briá
Chêio de amô e de fé!
Num sou Adão, traidera,
Muié ruim, fuxiquera,
Mode cumê a mação!
És irismã da seipente,
Te finguindo dinucente,
Mode eu caí no arçapão!
FONTE: Milton Siqueira, Emoções. Rio Grande do Norte - 1950.