terça-feira, 31 de dezembro de 2019

CACIMBA DE SÃO TOMÉ - PRAÇA ANDRE DE ALBUQUERQUE




Praça André de Albuquerque. Em seu entorno nasceu a cidade do Natal. A primeira rua que era conhecida com o nome de Rua Grande, a primeira igreja que foi demolida pelos holandeses, o pelourinho, etc. O chão da praça é testemunha de muita história. Deram-lhe o nome de André de Albuquerque, o líder e mártir da Revolução de 1817. Esqueceram de fazer no berço de Natal uma homenagem ao fundador da cidade: Jerônimo de Albuquerque.

Quando a praça era um descampado, em 1906 foi aí que pela primeira vez os irmãos Pedroza trouxeram da Inglaterra uma bola de futebol e Natal assistiu a primeira pelada, registra Cascudo.

No berço da capital
Tem histórias de montão
Marco Zero de Natal
Porteira do coração
Quem por ela já passou
Vê a Praça em aflição.


Mané Beradeiro

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

SEM MEDO DE ESCREVER SOBRE O CORDEL BRASILEIRO COM TEMAS DE SUSPENSE E TERROR – PARTE I – COLEÇÃO A CABANA MALDITA



Existem vários quadros de classificações do cordel brasileiro. Alceu Maynard, Ariano Suassuna, Carlos Alberto Azevedo, Diégues Júnior, Cavalcanti  Proença, Roberto Câmara Benjamim, Orígenes Lessa, Raymond Cantel  são estudiosos  desta literatura e criadores  das classificações.
Entre estes, Orígenes Lessa (1903-1986) que classifica o cordel brasileiro em dois grandes conjuntos: temas permanentes e tipos passageiros ousou criar o campo de Sobrenatural, para poemas de terror e suspense.
O que tínhamos sobre este campo?
Talvez o que tenhamos de mais antigo neste assunto seja o texto de Leandro Gomes de Barros (1865-1918),” O Cachorro dos Mortos “, um poema dramático escrito provavelmente em 1906.
Alguns poetas  produziram textos que trazem cenas do sobrenatural. É preciso dizer, no entanto, que esses autores, nem sempre estavam preocupados em criar no leitor sentimentos de medo, suspense ou terror, a maioria deles desejava mesmo era que seu poema trouxesse prazer na leitura, por tal razão, as situações com os personagens e o sobrenatural ganhavam roupagem hilárias.
Vejamos alguns exemplos:

  Francisco Sales Arêda (1916-2005) integrante da segunda geração do cordel brasileiro, no folheto “A moça que dançou com uma caveira”.


 ...
Nisto chegou um rapaz
Falou na porta e entrou
Perguntou aqui se dança?
E logo se encostou
Pergentina disse ôba
Que lapa agora chegou!

João carbureto rasgou
Um samba na concertina
O desconhecido pegou
No braço de Pergentina
E gritou aduba o troço
Vamos se acabar menina

Quando deram duas voltas
Ele foi mudando de cor
Ficou um esqueleto preto
Fazendo um triste rancor
Criou chifre, peia e cauda
Como um dragão traidor

Tão logo começa a mutação do mundo real para o sobrenatural, o autor propositalmente prossegue seu poema relatando nas estrofes posteriores, de forma cômica, como o público presente no baile reagiu à caracterização diabólica.

Nesta hora o povo todo
Fez a maior arrelia
Apagou-se o candeeiro
E Cosme Preto dizia
Estamos com o cão de testa
Credo em Cruz Ave Maria

        Somente após a construção de nove estrofes cômicas é que o autor retorna à situação de Pergentina:

E Pergentina na sala
Ainda estava agarrada
A caveira lhe arrochando
E ela já desmaiada
A caveira beliscando
Mordendo e dando patada

Arêda não tem como já disse a intenção de escrever o cordel todo no clima de terror e medo.  E assim ele conclui:

Quando o dia amanheceu
Que foram ver Pergentina
Ela ainda estava muda
E quase morta a menina
Só fedia a alcatrão
Com sebo podre e urina.

  Joaquim Batista de Sena (1912-1993) – “História do Príncipe João Corajoso e a Princesa do Reino não vai ninguém” (157 estrofes, sextilhas, 1975)
 Feita esta introdução quero trazer aos leitores que está em formação a primeira coleção do cordel brasileiro feita especialmente com o tema de suspense e terror, já com alguns folhetos publicados, que tem como título “ A Cabana Maldita”. Vamos  conhecê-la!


Coleção A Cabana Maldita


 “O pacto maligno” é a história que abre a coleção A Cabana Maldita, uma série de folhetos totalmente voltada para o suspense e o terror, sempre tendo como constante um lugar fictício, por nome Fazenda Portal Grande, no Rio Grande do Sul.

Foi no Rio Grande do Sul,
Num ano de inverno forte,
Quando o velho bruxo fez
Sua cabana no norte,
Onde seus pactos malignos
À muito trouxe má sorte.
(Parte I)

A coleção é a primeira do gênero de suspense no cordel brasileiro, tendo até esta data, cinco folhetos publicados pela Nordestina Editora e 1 inédito. Trabalho digno de aplauso, porque envolve várias pessoas: poetas, diagramadores, revisores, capistas, etc.


  Os poetas Zeca Pereira e José Heitor Fonseca continuam juntos e são deles “O alambrador”, folheto que dá continuidade à saga.

Na fazenda Portal Grande,
A cerca estava caindo;
Os mourões apodrecendo,
O gado todo fugindo,
Há anos sem ter reparo
O tempo só destruindo.
(Parte II)

As histórias atestam a boa escolha do título da coleção. Estão realmente bem escritas, tendo capas e ilustrações que condizem com as estrofes e seguem em todos os folhetos um ritmo monocromático. Chamo a atenção do editor Zeca Pereira para que dê mais visibilidade aos capistas.  A parte III  quase que não se consegue ler a assinatura de Flavio Barjes  e fiquei sem saber o diagramador.

Terceiro conto de horror
Neste cordel apresento,
É a história duma noiva
Na hora do casamento
Que se viu abandonada
E chorou de sofrimento
(Parte III)

O poeta Niro Carper entra na geografia do medo e traz Mariana “A noiva”, numa formação construída também com Zeca Pereira, poeta que já conhece todos os cômodos da cabana maldita. É possível que neste texto, os autores tenham se influenciados com imagens da  “Noiva Cadáver”. Caso isso tenha acontecido, nenhum prejuízo há, só comprova que sempre produzimos  alicerçados em outras leituras.

...
Quero deixar um conselho
Para quem é indeciso:
-Não penda para a cabana,
Por favor tenha juízo.
(Parte IV)
 
Quando começar a leitura do folheto “A hospedaria da morte”, o leitor estará adentrando na cabana maldita, sendo ciceroneado  pelo poeta José Nascimento, que até agora escreveu a maior narrativa desta saga.
   


Eu não sei se é mentira
Do povo da região,
Muitas pessoas afirmam
Que já viram assombração,
....
(Parte V)

 Munidos com isqueiro e lampião, a gente vai tentar dormir na cabana. Será que conseguiremos?  O poeta Flávio Barjes nos recepciona com “O jantar repugnante”.  Sobre o enredo não irei descrever, apenas aguço a curiosidade, pois vale a pena ler. Até aqui 22 pessoas já foram vitimadas na cabana. Quanto mistério existe ali? Cabe aos amantes do cordel tentar descobrir, mas advirto ao leitor que ainda não conhece os poemas, que tenha por perto um bom suco de maracujá e se sofrer de insônia, não se aventure.
 

O tropeiro”  é a VI Parte dessa coleção. Esta ainda se encontra no prelo, mas graças ao Editor Zeca Pereira, que me adiantou o texto,  posso assegurar que os autores são José Heitor e Niro Carper. A capa é de Flávio Barjes. A diagramação está muito bem feita, contém até ilustrações. Com relação ao enredo eu fiquei com aquele gostinho de leitor faminto, bem que poderiam os autores terem escritos mais estrofes. 

A Coleção A Cabana Maldita é uma bela colcha de retalhos,   cada folheto que chega traz a sua contribuição e enriquece a saga. Os autores estão conseguindo atender o objetivo de levar suspense e terror ao leitor. 

 6  poetas( por enquanto) oriundos dos estados da Bahia,  Rio Grande do Sul, Pará e Alagoas são autores desta saga.
.
O pacto maligno –  Parte I - 32 estrofes/ sextilhas – 100% de rimas perfeitas – 10 vítimas – Nota 5

O alambrador – parte II – 32 estrofes/sextilhas – 100% de rimas perfeitas – 2 vítimas – Nota 5

A noiva – parte III – 32 estrofes/sextilhas – 100% de rimas perfeitas – 7 vítimas – Nota 5

A hospedaria da morte – parte IV – 36 estrofes/sextilhas – 99,53% de rimas perfeitas – 1 vítima – Nota 5

O jantar repugnante – parte V – 32 estrofes/sextilhas – 100% de rimas perfeitas – 1 vítima. – Nota 5

O tropeiro – parte VI -  32 estrofes/sextilhas – 96,87% de rimas perfeitas – 1 vítima. (Este folheto ainda está inédito. Será publicado em 2020) - Nota 4,5

O projeto da coleção A Cabana Maldita pretende publicar 10 folhetos no total.

Parabenizo a todos que participam deste projeto.  Ganham eles pelos poemas produzidos e muito mais ganhamos nós, os leitores, pela grandeza que fica no cordel brasileiro. Avante! Em 2020 trarei a resenha sobre "O Baú do Medo".

Mané Beradeiro
30 de dezembro 2019
Última resenha do ano.

FAROFA DE GRÃO DE BICO





Grão de bico é coisa boa
Pra quem quer emagrecer
Com ele eu fiz farofa
A receita vou ceder
Pois já perdi foi 6 quilos
É possível perceber.

Ingredientes:

Grãos de bico cozinhados ( 3 colheres de sopa)
Cebola branca fatiada em tirinhas (1 tamanho média)
Requeijão cremoso light ( 1 colher de sopa)
Banha de porco ( 2 colheres de sopa)
Azeite de oliva
Ovo cozido ( 1 un)
Farinha de mandioca

Modo de fazer:

Ponha numa panela a banha e quando ela derreter acrescente a cebola, refogue bem. Depois acrescente os grãos de bico e deixe  por alguns minutos. Abaixe o fogo e ponha o requeijão. Quando ele derreter, desligue e regue com azeite. Espere esfriar um pouco e ponha azeite a seu gosto e a farinha.  Ponha o ovo em pedaços e mexa bem!

Mané Beradeiro
30 dezembro 2019

PEQUENAS AULAS GRANDE LIÇÕES COM A PROFESSORA CEIÇA PAIVA

HORA DE APRENDER PORTUGUÊS.

Quando usar MIM ou ME?
MIM vem sempre acompanhado de preposição;
ME vem sempre acompanhado de verbo:
. Passe para MIM essa caneta. (Mim, vem acompanhado da preposição 'para')
. Você gosta de MIM, o quanto gosta dela? (Mim, vem acompanhado da preposição 'de')
. Vim te ver, pois ME preocupei com você. (Me, vem acompanhado do verbo preocupar)
. Amanhã você ME fala o que faremos no sábado. (Me, vem acompanhado do verbo falar))
. Gosto de ME arrumar antes de sair. (Me, vem acompanhado do verbo arrumar).
“ME” se trata de um pronome pessoal oblíquo átono, e observando , pode-se ver nos exemplos, que está sempre acompanhado de um verbo, esta é a principal característica que o diferencia na hora de “MIM”, que é um pronome pessoal oblíquo tônico que ao invés de verbos, é sempre acompanhado de preposições.
Desse modo, quando usar Mim ou Me, é só lembrar que MIM não conjuga verbo e por isso, deverá estar acompanhado de preposições (a, até, com, contra, de, em, entre, para, por, sem, sob, sobre,)
- Assim, o certo seria:
"Não ME inveje" (ME está acompanhado do verbo 'invejar').






Compartilhado do Facebook de Ceição Paiva.


domingo, 29 de dezembro de 2019

BACALHAU DE JUMENTO - RECEITA

Aos amigos vou mostrar
Um prato feito por mim
"O bacalhau de jumento".
Quem come até o fim
Fica feliz e quer mais
Sabor agrada demais
Um Maná de serafim.


Mané Beradeiro

 Receita

250 gramas de carne de charque
4 batatas inglesas
2 tomates 
1 cebola média
1 dente de alho
4 ovos cozidos
Batata palha
Banha de porco
Azeite de oliva

Modo de fazer

Escalde bem a charque (3x) para tirar o excesso do sal. Corte em pedaços. Ponha na panela de pressão com os tomates ( tiras), a cebola ( rodelas)  e o  alho (picado). Refogue bem na banha do porco. Depois tampe a panela e deixe cozinhar com um pouquinho d'agua até a carne ficar bem macia. À parte cozinhe os ovos e as batatas. Quando a carne estiver no ponto, tire o excesso de caldo se houver e num refratário monte a carne, intercalando com os ovos e as batatas inglesas, regue com um fio de azeite e ponha nas laterais batata palha.
 
 

ACPVB ABRE INSCRIÇÕES PARA MULHERES



A Academia de Cordel do Vale do Paraíba - ACVPB  abriu inscrições para candidatas. As mulheres que desejarem se inscrever podem fazer até o dia 15 de janeiro próximo. A eleição acontecerá dia 25 de janeiro no Museu Jurandir Maciel, centro de João Pessoa-PB. De acordo com o edital publicado pela ACVPB a indicação deverá ser assinada por um acadêmico, com anuência da candidata. Maiores informações podem ser colhidas com o Presidente da ACVPB, poeta Marconi Araújo, pelo (083) 99307-4545.

sábado, 28 de dezembro de 2019

OS NOTÁVEIS E ANÔNIMOS NO PAINEL DE FLÁVIO TAVARES


Este belíssimo painel, óleo sobre tela, medindo 9 metros de comprimento por 3 metros de altura é fruto do trabalho de Flávio Tavares e foi pintado em 2008. Ele está fixado num dos salões do espaço cultural Estação das Ciências, em Ponta Seixas, João Pessoa-PB. Eu já devo ter visitado este lugar umas quatro vezes ou mais.  Sempre me encanto com a beleza do painel. E fico pensando no trabalho que teve Flávio Tavares.


Hoje eu estive lá mais uma vez. Fiquei parado olhando detalhes e eis que percebo que o painel  "No Reinado do Sol" ( é este o nome dado pelo pintor), traz muitas informações sobre a vida cultural do povo paraibano. Focando os olhos e correndo devagar, eis que me deparo com Ariano Suassuna,  José Américo e Augusto dos Anjos. Três grandes nomes que enobrecem nossa literatura.

Ariano Suassuna
Augusto dos Anjos
José Américo
Aprendi que a vida é como um grande painel de Flávio Tavares, cheio de pessoas notáveis e anônimas, mas todas elas extremamente necessárias à beleza do painel.

Francisco Martins
28 de dezembro 2019

FOLHETOS DE MANÉ BERADEIRO SERÃO VENDIDOS EM JOÃO PESSOA



O Mercado de Artesanato Paraibano, na Avenida Senador Rui Carneiro, 241,  no bairro de Tambaú, em João Pessoa,  terá brevemente um ponto de vendas dos folhetos de cordéis de Mané Beradeiro. A parceria foi firmada hoje, quando o poeta esteve em passeio e conheceu Edward, proprietário da loja Raízes Artesanato, de número 94, que fica no terceiro piso.Edward vende folhetos de vários poetas e é também escultor, fazendo arte plástica em madeira.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

TORPEDO DE MANÉ BERADEIRO 043/2019



Dinheiro compra pão, mas não compra gratidão. Um adágio popular que tem muito a nos ensinar. Não adianta querer fazer do dinheiro  a coisa mais importante da sua vida. Dinheiro foi feito para circular, proporcionar momentos de paz. Guardá-lo é adquirir doença. "Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males. e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores" (I Tm 6:10). Se uma dor já é ruim, imagine várias dores.

EM JANEIRO TEM A IV EDIÇÃO DO CANTARES DA TERRA EM SERTÂNIA/PE


VIDA EM BRANCO


Zélia Duncan

Você não precisa de artistas?
Então me devolve os momentos bons
Os versos roubados de nós
As cores do seu caminho
Arranca o rádio do seu carro
Destrói a caixa de som
Joga fora os instrumentos
E todos aqueles quadros
Deixe as paredes em branco
Assim como é sua cabeça
Seu céu de cimento
Silêncio cheio de ódio
Armas para dormir
Nenhuma canção para ninar
E suas crianças em guarda
Esperando a hora incerta
Pra mandar ou receber rajadas

Você não precisa de artistas?
Então fecha os olhos, mora no breu
Esquece  o que a arte te deu
Finge que ela não te deu nada
Nenhum som, nenhuma cor,
Nenhuma flor na sua blusa
Nem Van Goh, nem Tom Jobim
Nenhum Gonzaga, nem Diadorim
Você vai rimar com números
Você vai dormir com raiva
E acordar sem sonhos, sem nada
E esse vazio no seu peito
Não tem refrão pra dar jeito
Não tem balé pra bailar.

Você não precisa de artistas?
Então nos perca de vista
Então nos deixe de fora
Desse seu mundo perverso
Sem verso, sem graça, sem alma.

Zélia Duncan

Fonte: Revista da ANRL, edição nº 59,  abril a junho 2019, páginas 158 e 159.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

O HUMOR DE MANÉ BERADEIRO - RAPOSA DOIDA

Damião de Anita, era este o nome dele. No interior as pessoas são sempre conhecidas como sendo propriedade de uma outra. Ele era de Anita, e por sua vez Anita de Damião. Simples assim. Pelo menos nos últimos 20 anos era este seu nome, até que houve uma fatídica noite.
Foi Damião de Anita para uma festa, um forró de latada, nas  proximidades da sua casa, coisa que distava aproximadamente duas léguas. Estradinha de barro, mato de um lado e do outro. Apenas as estrelas e a lua davam claridade. Ele foi só.  Forró  animado por  Tonha Mota. Não tinha como não ser bom. Damião dançou, bebeu, e extrapolou na bebida. Quando terminou a festa e ele voltou para casa, mais melado do que pincel de aprendiz, a estradinha parecia que tinha estreitado mais ainda, andava levando mato no peito. Depois de um certo tempo, já pertinho de casa, parou para tirar água do joelho. Estava lá todo relaxado, olhava para as estrelas, via a lua e sentenciava em voz alta, como se estivesse mais alguém ali, além dele:
-Nunca, nunquinha que o homem foi a lua. Não acredito mesmo...
E a urinada estava a todo vapor.
Eis que sai da mata uma raposa. Uns quatro metros mais para cima, por onde ele teria que passar. Raposa parada, olhando para Damião de Anita,  olhos faiscando. Damião deu um grito para assustá-la, mas ela nem se mexeu. Outro grito. Nada!
Damião pensou deve está aluada.  Ameaçou jogar um pedaço de pau e foi aí então que ele foi atacado pela raposa, que mordeu exatamente naquele local. Abocanhou  o precioso de Damião e saiu em disparada levando o pedaço na boca.
Damião  quando percebeu o prejuízo  correu  pedindo socorro e segurando as calças ensanguentadas Foi atendido pelos vizinhos que imediatamente o levaram até a cidade mais próxima.
Na urgência houve o seguinte diálogo:
-Que aconteceu?
-Doutor ele foi mordido nas partes íntimas por uma raposa
-Ela chegou a dilacerar alguma  parte?
-Pior do que isso Doutor, ela não só mordeu como arrancou um pedaço
- hã!
E feita a cirurgia, depois que teve alta, Damião de Anita ficou sendo conhecida por Damião da Raposa.

Mané Beradeiro
26 de dezembro 2019

AUTORES E ASSUNTOS NA REVISTA DA ANRL 2019

Foi em dezembro de 2018 que lancei o livro "Autores e Assuntos na Revista da ANRL - 1951 a 2018", um livro que contempla todas as pessoas que escreveram na revista da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras-ANRL ao longo do período de 1951 até 2018. Foi uma tiragem pequena. Um trabalho que tem o selo da editora informal Carolina Cartonera. Um livro totalmente artesanal, mas que tem servido a estudantes e pesquisadores. A labuta não para.  Uma vez editadas as 4 revistas de 2019 é a hora de preparar a plaquete que dará continuidade a este trabalho e o manterá sempre atualizado. No mais tardar, em março de 2020 estarei com "Autores e Assuntos na Revista da ANRL - 2019". Aguardem!

Francisco Martins


 

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

MANUSCRITO DE CHARLOTTE BRONTË



O jornal O Estadão traz uma excelente matéria assinada por Maria Fernandes Rodrigues, sobre  o lançamento de um livro que vai contar a história dO manuscrito perdido de Charlotte Brontë, em um naufrágio no ano de  1812. Vale a pena dá uma conferida na matéria. Clique aqui: MANUSCRITO DE CHARLOTTE BRONTË

ASSIM DISSERAM ELES ...

"Ninguém deixa de ser moderno por causa do verso e da rima"

Francisco Carvalho (1927 a 2013)

COMENTANDO MINHAS LEITURAS: CORDÉIS ACADÊMICOS - LIVRO DA ACVPB



“Cordéis Acadêmicos  - folhetos de membros da Academia de Cordel do Vale do Paraíba” é o título da antologia organizada por Fábio Mozart, poeta.  Tem a participação de 20 poetas. Lancei meu olhar de leitor aos textos e fui ansioso conhecer um pouco da produção destes imortais.
O livro tem apenas 96 páginas, portanto, uma leitura que não demanda muito tempo. Começa com um resgate da história de Branca Dias, uma mulher judia que foi levada à fogueira na época da Inquisição, coisa que aconteceu aqui pelo Brasil. O poeta Antonio Marcos escreveu sobre o assunto.
Chico Mulungu chega lembrando “sou passageiro do tempo como uma flecha certeira”, e nesta condição vai abrir cenas da sua vida, numa trajetória de lutas e aprendizados, dando ao leitor um testemunho de glória, ornada com a poesia. Finaliza o poeta afirmando que “Este mundo é Severino/ Mas é possível driblar”. Tem toda razão poeta Chico Mulungu, somos “Severinos”, como bem anunciou João Cabral de Melo Neto.
Fábio Mozart escreve um cântico de amor verdadeiro quando narra a presença de Bob Motta e Adele na outra dimensão, onde somente o amor pode chegar, “pois o amor é mais forte/ que a decomposição”.  Não tenho certeza se Fábio Mozart conhece aquela citação do Poeta Paulo de Tarso, presente na carta que ele escreveu aos Coríntios, capítulo 13, versos 8, texto bastante antigo, mas que permanece vivo: “ O AMOR JAMAIS ACABA”.  Nesta mesma linha de homenagem, Gilberto Baraúna registra a ação de Aderaldo Luciano, um dos grandes defensores e estudiosos do cordel brasileiro. Orlando Otávio traz uma cacimba  repleta de reminiscências, da época em que trabalhou na SUCAM. Rubens do Valle também pode ficar junto a esses poetas, pois ele personificou seu pai João Paraibano, nas estrofes  do poema “As coisas que João cantava”.
Cristine Nobre, Jota Lima e Marconi Araújo usam a arte do cordel para expor coisas dos seus ofícios, respectivamente na Odontologia, Matemática e Direito.
No tocante a poemas com temas de gracejos, vamos encontrar na Antologia Bento Júnior,  sobre um jumento que assiste a uma aula e Lino Sapo  participa com suas memórias adolescentes, lembrando aquele tempo em que a masturbação ainda tinha como principal material os calendários de bolsos.
Pai e Filho se encontram nesta antologia. Estou me referindo a Sander Brown e Sander Lee, parecem até nomes de artistas de cinema dos anos setenta, mas são dois poetas, que  escreveram sobre Jackson do Pandeiro e a feira de Itabaiana.  Sander Brown ainda sendo lapidado pelo pai neste gênero poético.
Em “Agruras de um poeta popular”, Manoel Belizário, mostra a luta do poeta Zé Damião com a evolução da tecnologia, onde rádio, luz elétrica e televisão se tornam o trio fantástico que vai abalar o cordel brasileiro. Abala, mas não destrói.
A luz elétrica chega
Com olhar bisbilhoteiro.
Vai logo cuspindo assopro
Em tudo o que é candeeiro.
Com isso apaga a fogueira
Que iluminava o terreiro”
  ...
“A noite ficou chorosa.
Perdeu sua companhia.
O terreiro num clamor
Nem comia nem bebia.
O folheto não falava
Nem chorava nem sorria”

E agora José? A clássica interrogação de Drummond chega ao cordel e tem a resposta: somos uma classe de poetas que traz na história e no sangue, na vida e na obra, no ritmo e nos versos a resistência. Vencemos!
Maurício Lima apresenta “ A bela e a cobra”, um cordel  que ao meu ver necessita de um burilamento (revisão do português;  coesão textual; entre outras coisas). Francisco Carvalho, poeta, tem uma expressão que ajudará Maurício Lima a entender o que escrevo: “Forma e conteúdo são coisas indispensáveis”.
Pádua El Gorrión talvez tenha escrito, sem perceber, toda a filosofia cristã do Sermão da Montanha, em seu cordel “Valores de A a Z para vivermos melhor”. Fui comparar os valores citados por ele e vi que todos se fazem presentes no texto de Mateus, capítulo 5.  Se eu fosse o autor mudaria a posição da primeira estrofe para o 37º lugar, pois aí tudo ficaria de “A”  a “Z” como propõe o texto.
Tiago Monteiro com sua pena poética, provavelmente extraída do “Pavão Misterioso”, traz uma história muito bem contada, que surpreende o leitor  em determinado momento. Tudo escrito com tamanha maestria que ao longo dos seus 192 versos, usou apenas uma vez a rima oral.
Ao Thiago Alves peço permissão para dizer que em “Macaco matriculado” também se aplica a citação acima de Francisco Carvalho e junte-se a ela, que “a palavra é o instrumento primordial do poema. Cabe ao poeta usá-la da melhor maneira possível”.  Thiago Alves optou em fazê-lo em décimas setissilábicas ( abbaaccddc), mas em algumas estrofes  ele se perde na construção na estrutura proposta, o que indelevelmente prejudicou o conjunto. 
Josafá de Orós, poeta e sociólogo, teve a coragem de montar um texto onde Ariano Suassuna e um cantor de rap vão se encontrar numa peleja. Se foi pretensão do poeta fazer uma crítica aos dois gêneros, um literário (cordel) e o outro musical (rap), eu teria escolhido um outro nome para o cantor do rap, não o nomearia MC Merda Seca. Senti aí uma caracterização de aversão ao rap,  gênero artístico musical mais presente na cultura brasileira atual. Entretanto, o diálogo entre Ariano e o cantor de rap  tem a sua singularidade e é um tema que vem enriquecer qualquer mesa de debate entre os dois gêneros.
Raniery Abrantes mostra que já aprendeu a escrever cordel. Está pronto para levantar voos por esse mundo poético.
No geral a média poética da antologia é nota 4,2 ( na minha mensuração crítica). Perdoai-me aqueles que acham que estou querendo estabelecer uma escala, mas infelizmente vivemos em um mundo onde tudo é avaliado.  No tocante à parte gráfica ficaram a desejar a diagramação, a digitação e a colagem. O meu exemplar  já soltou todas as folhas, não aguentou  a leitura e releituras que faço no processo da construção de uma resenha.
Erros de diagramação:
Página 9 – repetiu a 4ª estrofe
Página 56 – estrofe 8 tem um verso a mais. Exatamente o que falta na página 57, estrofe 14
Página 60, a estrofe 5 falta o primeiro verso.
Página 84 – repete as estrofes 12 a 16, já presentes na página anterior.
Página 95 -  O último verso da 3ª estrofe ( nesta página) é o que falta na página 95, 1ª estrofe, verso 3º.

 TÍTULO – AUTOR E NOTA
Branca Dias – Antonio Marcos Monteiro – 4,0
O jumento estudante – Bento Júnior – 4,0
De Mulungu a Guarabira – Chico Mulungu – 5,0
Odontologia também rima com poesia – Cristine Nobre – 3,0
Chegada de Bob Motta no céu de Adele – Fábio Mozart – 5,0
Aderaldo Luciano, o professor de Cordel – Gilberto Baraúna – 5,0
A peleja de Ariano Suassuna com MC Merda Seca – Josafá de Orós – 4,0
O Debate do Plano com o espaço no Reino da Geometria – Jota Lima – 5,0
Meu amor proibido que terminou em tragédia – Lino Sapo – 4,0
Cordel da Conciliação – Marconi Araújo – 4,5
Agruras de um poeta popular – Manoel Belizário – 4,0
A bela e a cobra – Maurício Lima – 3,5
Sucam, um gostoso veneno – Orlando Otávio – 3,0
Valores de A a Z para vivermos melhor – Pádua El Gorrión – 4,5
Um Aprendiz de cordel – Raniery Abrantes – 5,0
As Coisas que João cantava – Rubens do Valle – 5,0
Quando Jackson do Pandeiro tocou na casa de Tota –  Sander Brow –  3,5
Sander Lee na feira de Itabaiana – Sander Lee – 5,0
A criança raptada – uma história de angústia e de perdão – Tiago Monteiro – 5,0
Macaco matriculado –Thiago Alves – 2,0

Mané Beradeiro
Parnamirim-RN, 25 de dezembro 2019