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segunda-feira, 18 de novembro de 2024

VALÉRIO MESQUITA - A GRANDEZA CULTURAL DE MACAÍBA - ORGULHO ESTADUAL

 


Valério Alfredo Mesquita está aniversariando hoje. Completa 82 anos. Natural de Macaíba-RN, filho de Alfredo Mesquita Filho e Nair de Andrade Mesquita.  É escritor com livros publicados no gênero de crônica e ensaios.

Seu primeiro livro data 1968, "O tempo e sua dimensão". Mesmo ano em que se formou em Direito, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Hoje, sua produção literária já ultrapassou 25 edições, em vários títulos.

Tem uma especialidade quando se dedica a escrever sobre causos, principalmente os que envolvem políticos, pois nesse campo ele militou como prefeito e deputado estadual.

A cultura do Rio Grande do Norte deve muito a esse homem. Como gestor da Fundação José Augusto,  quando assumiu o cargo em outubro de 1980 e nele permaneceu até 1986, onde administrou  enfatizando o trinômio: restauração de patrimônio histórico, editoração ( 120 publicações) e animação cultural.

Foi Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Conselheiro e atual Presidente do Conselho Estadual de Cultura, membro de diversas instituições culturais, entre elas a Academia Norte-rio-grandense de Letras, onde ocupa a cadeira 21, desde o dia 30 de março de 2000.

Se fôssemos listar as ações e as bandeiras que Doutor Valério Mesquita  adotou  ao longo da sua vida pública, muito teremos para escrever. Homem de cultura e sobretudo de extrema sabedoria, que sabe administrar conflitos e ser resoluto.

Em suas mãos, ainda tremula a flâmula da esperança de que um dia, um governador ou governadora deste estado haverá de ter a coragem de abraçar a causa da restauração da "Casa Comercial do Guarapes, fundada em 1870, que importou e exportou produtos do seu porto para os EUA e Inglaterra".

A esse homem, nossos aplausos e votos de saúde e paz!

Francisco Martins


Fontes: 

Memória Acadêmica - Leide Câmara -  Editora IFRN/Natal - 2017, p. 379 a 381.

Fundação José Augusto 40 anos  - 1963/2003. Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine -  FJA/Natal 2004, página 109.184 a 188.

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

O MESTRE CÂMARA CASCUDO



 Eu converso com Câmara Cascudo. Faço isso com certa constância e tenho admiração imensa pelo Mestre.

Na verdade, em meus encontros com ele, eu uso e abuso do sentido da visão e audição. Pouco falo, muito aprendo. Ficar longe de Câmara Cascudo é optar por não colher ensinamentos, os mais diversos. Estar com ele, ah! é ter a certeza de mergulhar em mundo repleto de sabedoria.

Essas "conversas" cascudianas não acontecem no sobrado onde residiu por muitos anos. As aulas que dele recebo são ensinos preciosos, e se dão de forma prazerosa com o instrumento chamado livro.

O Mestre Cascudo é o melhor no Rio Grande do Norte. Cada página que deixou escrita corresponde a uma célula da sua imortalidade literária. Escreveu sobre os mais variados assuntos. Foi um "provinciano incurável", que através do conjunto das suas obras se fez universal.

Câmara Cascudo não deve ser esquecido, e as gerações atual e do porvir são convidadas a com ele dialogar. Mãos aos livros e viva o Mestre!

Francisco Martins - 24 de outubro de 2024.


quarta-feira, 23 de outubro de 2024

A BODEGA DO SEU RAIMUNDO GALDINO

Um exemplo de bodega nordestina

Nas décadas de 1950 e 1960, a bodega do Seu Raimundo Galdino, localizada ao lado da igreja de São Francisco, do distrito de Caracará, município de Sobral-CE, a quatro quilômetros da propriedade do meu avô (Fazenda Aracati) era muito sortida e a única existente naquela vila. Ocupava a sala da frente da residência de seu proprietário. Não fechava para o almoço e funcionava de maneira ininterrupta, das cinco horas da manhã até às oito horas da noite. Funcionava inclusive nos domingos e feriados. Às vezes, abria de madrugada, quando algum freguês batia em sua porta, solicitando a compra de medicamentos para dor de dente, diarreia, dor de cabeça, vômito, febre ou azia, ocasião em que o Seu Raimundo Galdino oferecia as poucas opções do seu estoque de medicamentos populares (Cibalena, Cibazol, Melhoral, Sonrisal, Elixir Paregórico, Óleo de Rícino, Pílulas de Vida do Dr. Ross, Pílulas de Matos, Mercúrio Cromo e mais uns poucos outros remédios).

A frente do prédio era de duas portas e tinha um alpendre com um banco de carnaubeira deitada, sobre duas forquilhas de aroeira fincadas no chão. Embora a construção fosse de taipa, o piso era de cimento vermelho e a coberta de telhas artesanais, com uma calha de estirpe de carnaubeira no beiral do alpendre, formando uma bica, onde, no período das chuvas, a meninada tomava banho. Nos fundos da bodega, ao lado das prateleiras de madeira, havia uma porta, que se comunicava com a residência do proprietário. No oitão da bodega tinha uma vara de bambu, bem alta, com uma antena de rádio na extremidade. No interior da bodega, sobre uma pequena mesa de pau-branco, estava um rádio Philips a válvula, ligado a uma bateria de caminhão, que só pegava na frequência AM (ondas médias e curtas), pois ainda não existia FM. O rádio da bodega funcionava o dia todo, com muito chiado, retransmitindo a programação da Rádio Iracema de Sobral. Só era desligado à noite, quando começava a Hora do Brasil.
O balcão de madeira, revestido com folhas de zinco, exibia algumas moedas antigas furadas (pataca, cruzado e vintém), fixadas por pregos na parte de cima do balcão. Na extremidade do balcão, uma passagem com dobradiças de couro, que permitia levantar o tampo do balcão, quando o bodegueiro necessitava sair, para pegar algum produto pendurado nos caibros do espaço externo. A balança de pratos, o cutelo de cortar fumo de rolo, a guilhotina de partir rapadura, o rolo de papel de embrulho e a gamela com toicinho de porco salgado (sal preso) ficavam sobre o balcão. A pobreza regional era tão grande que a rapadura podia ser vendida em pedaços. Era comercializada por unidade, por banda (meia rapadura) ou ainda por pedaço de um quarto de rapadura. A lata de querosene (da marca Jacaré), com a bombinha de zinco, para bombear o querosene, acoplada a ela, localizava-se sobre um estrado de madeira no canto da parede.
Os gêneros alimentícios podiam ser comercializados no peso ou no volume. No litro eram vendidos farinha de mandioca, milho, feijão-de-corda e arroz-vermelho em casca. O litro era feito de madeira e tinha o formato quadrado. O produto era colocado dentro do litro, com o auxílio de um casco de cágado. O toicinho, a linguiça caseira, a carne de sol, a tripa de porco salgada, as carnes verdes (de bode, ovelha ou de porco), a banha de porco, o açúcar, o sal grosso, o café em grão, a goma de mandioca e outros alimentos eram vendidos por quilo. Comprava-se o sal grosso na bodega e em casa triturava-se no pilão, pois naquela época não existia sal moído. Seu Raimundo Galdino tinha muita prática de embrulhar com papel de embrulho, usando os dedos, os produtos vendidos, pois os gêneros alimentícios não eram acondicionados em pacotes, tudo vinha à granel. Para o querosene tinha medidas apropriadas, feitas de zinco, que depois de cheias eram despejadas na garrafa do freguês, usando um funil de zinco. Cada família tinha sua garrafa de comprar querosene, a qual era transportada pendurada no dedo indicador do freguês, pois a mesma tinha um barbante amarrado no gogó, que terminava em laço, para pendurá-la no dedo. A manteiga de garrafa, o óleo de coco, o mel de abelha (jandaíra ou mandaçaia) e o mel de engenho eram comercializados em garrafas de 600 ml. A bodega vendia de um tudo, pois na vila não existiam lojas nem farmácias. Além de alimentos, lá se comprava ferragens (enxadas, pás, machados, facas, lamparinas, ralo de flandres para ralar milho verde, facões, pregos e arame farpado); remédios populares; aviamentos (elásticos, cianinhas, bicos, linhas, agulhas, botões etc); aspiral para repelir muriçocas; sabão da terra; sabonetes; creme dental; chinelas de rabicho de sola e de pneu (tiras de couro e solado de pneu de automóvel); louças de barro (panelas, potes, quartinhas etc); cestos de cipó; artigos feitos com palha de carnaubeira (chapéus, bolsas, esteiras, urus, vassouras, surrões e outros); urupemas; abanos; cuias; cuités; gamelas; cochos e outros utensílios domésticos.
Parede e meia à bodega, morava Seu João Enfermeiro, um profissional da área da saúde que tinha muita habilidade e prática para curar as enfermidades dos habitantes daquela comunidade rural. Era um misto de enfermeiro, farmacêutico, dentista e de médico. Ele encanava braço, arrancava dente, aplicava injeção no músculo (não aplicava injeção na veia), costurava, com linha zero e agulha grande de coser tecidos, facadas e outros ferimentos. Ele também vendia meizinhas (raizes, folhas e outras partes de plantas medicinais, sebo de carneiro capado e banhas de animais, como banha de tejo, de raposa, de cobra cascavel, de galinha, de traíra, de cágado e de jia). A mulher do bodegueiro, Dona Ciça, era parteira e rezadeira, pois curava quebranto, espinhela caída, mau olhado, moleira caída e outras doenças de menino. Ela também curava, no rasto, bicheiras dos animais, com suas rezas.
Uma coisa que me chamava a atenção era a convivência pacífica de três animais que ficavam soltos, o dia todo, dentro da bodega, sem brigas. Uma gralha cancão para comer baratas, um gato para pegar ratos e um cachorro de estimação e guarda. Interessante que o gato e o cachorro eram adestrados para não comerem as carnes, toicinho e linguiça da bodega. Eles só se alimentavam em horário certo e dentro da casa do bodegueiro, nunca no interior da bodega. Também, o gato não perseguia o cancão.
A bodega do Seu Raimundo Galdino vendia doses de cachaça no pé do balcão, com tira- gosto de queijo de coalho. A cachaça vinha da Serra da Meruoca, em ancoretas feitas de imburana, sobre lombos de animais.
Seu Raimundo Galdino era um senhor de muito respeito, imprimia em sua bodega um ambiente familiar, onde mulheres e crianças faziam compras com segurança. Embora fosse um estabelecimento comercial de muita ordem e seriedade, não deixava de ser também o local onde as notícias e as fofocas chegassem em primeira mão. As novidades, como doenças, queda de cavalo, chifrada de touro brabo, coice de vaca, coice de burro ou de cavalo sofrido por algum membro da comunidade, primeiramente, eram noticiadas, de boca em boca, a partir do bodegueiro. Ele tinha prazer em comunicar, em primeiríssima mão, as novidades locais e as notícias que captava pelo rádio. Quando alguma mocinha da vila engravidava, também ele era o primeiro a saber, pois seu vizinho, João Enfermeiro vendia Cabacinha e Babosa para fazer chá para abortar e ele não se continha em não contar para o seu vizinho e compadre Raimundo Galdino, o segredo precioso de quem comprava estas ervas. O bodegueiro sabia a vida de todos os habitantes da vila Caracará e vizinhanças.
Quase todas as compras neste ponto comercial eram feitas fiado, na caderneta, para serem pagas, semanalmente, no sábado à tarde, embora um cartaz pregado na parede anunciasse: FIADO SÓ AMANHÃ.
As bodegas sertanejas eram parecidas uma com a outra, de modo que mudava apenas a qualidade e a variedade dos produtos, sendo algumas mais sortidas e outras mais simples.


Benedito Vasconcelos Mendes

Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor. Professor Aposentado da UFERSA e da UERN. Sócio Efetivo da ANRL e da AMOL.

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

QUERIDO IRMÃO PADRE...

 

 O mês vocacional (agosto) e o dia do Padre ( 1º domingo) nos faz refletir sobre a nossa identidade sacerdotal e o nosso seguimento a Jesus Cristo. Todo tempo é tempo de se recompor para continuar a caminhada no contexto de uma igreja Sinodal e Missionária. O Presbitério como um corpo onde o Bispo juntamente com os presbíteros, vinculado pela missão, buscam viver na comunhão partilhando anseios, sentimentos, desejos, projetos, dificuldades e conquistas.

Pensemos juntos nas dificuldades que muitas Dioceses enfrentam com relação a construção do Reino. Ente elas a sobrecarga de trabalho, o número reduzido de Presbíteros e outras lideranças, além de grandes distâncias geográficas e meios de comunicação e locomoção precários. Daí a necessidade de firmarmos passos na implementação de uma Pastoral Presbiteral que tenta buscar encaminhamentos para todas as sombras e desafios que enfrentamos nos dias atuais.

 

Reflitamos nas várias etapas e fases que compõem a nossa vida. Embora não possamos determinar de modo matemático é possível destacar algumas etapas: 1º juventude sacerdotal: dizem alguns que são os primeiros cinco anos de ministério. É a fase da inserção. Dos primeiros êxitos e fracassos. Para alguns chega até os 30 anos de idade. 2º fase da maturidade: situada entre os 30 a 50 anos. É a fase da realização mais intensa, fundada na experiência que se vai adquirindo. 3º fase da plenitude, está entre os 50 e 65 anos. Apontada como sendo o tempo da definição de uma espiritualidade madura. 4º fase etapa da sabedoria: dos 65 aos 75 anos. Tempo de uma revisão profunda de toda a existência. A certeza de seu valor e importância para a comunidade e para o Presbitério, com toda a sua bagagem, pode dar sentido a esta fase, e colaborar na realização de quem vive esta etapa.

 

Por ultimo a etapa jubilar a partir dos 75 anos na qual se vive a alegria do dever cumprido e da maturidade alcançada. Aqui podemos partilhar experiência adquirida de maneira mais livre. Para os que vivem esse momento sabemos que é importante a presença de todo o Presbitério. Diante de todas estas etapas percebemos  o quanto é importante a Pastoral Presbiteral. É ela que deve estar atenta para respeitar e considerar cada momento da vida do padre. Sentimos ser uma necessidade urgente. “ Ainda tens longo caminho a percorrer” levanta-te e come (1 Reis, 19,7). Precisamos ser cuidados para melhor cuidar. Somos sabedores dos nossos limites mas conhecemos também nosso potencial. Precisamos de estímulo e apoio para a comunhão fraterna, solidariedade, compreensão e acolhimento. São elementos indispensáveis de uma Pastoral Presbiteral.

 

Em suma, percebe-se um interesse maior em descobrir ou construir uma espiritualidade própria do Padre diocesano, além de uma rica contribuição de grupos de espiritualidade tais como: Prado, Ordem Terceira Franciscana, Folcolares entre outros. Alguns promovem encontros dos padres em pequenos grupos, por afinidade ou por tempo de ordenação. Intercedamos ao Senhor da messe para que o Bispo com os Presbíteros e estes com o Bispo promovam um ambiente saudável, de unidade e amizade, na Igreja Local, na plena consciência de serem juntos Sacramento do Corpo de Cristo. Parabéns, Padres irmãos pelo nosso dia!


Pe. José Freitas Campos do Presbitério de Natal-RN.

sábado, 6 de julho de 2024

60 ANOS DE BEM MAIOR

 Chego hoje aos 60 anos. Estou definitivamente adentrando-me na terceira idade. Poderia usar o verbo chegar, mas é que verdadeiramente essa será a última fase da vida, e nela não chego, mas contemplo o partir.  Já se foram a infância, a juventude, a idade da prosperidade. Agora é a etapa na qual preciso caminhar com maior cautela.


Não sou pessimista! Creio na vida e a ela me dedico e abraço, sabendo porém que o ponteiro que mede o abastecimento dos meus dias, indica que  caminha para a reserva. Fiz tantas coisas ao longo desses anos, vivi muitas profissões, sou uma natureza múltipla de fazeres e dons. Tudo é motivo de agradecimento a DEUS,  o autor deste homem chamado Francisco Martins.


Na carta de Paulo aos Gálatas, capítulo 4, no versículo 10 ele escreveu: "Vocês guardam dias, meses, tempos e anos". Não sei o que o Apóstolo dos gentios queria advertir quando escreveu  isso, mas, realmente guardamos. E esses dias, meses, tempos e anos são elementos do conjunto chamado vida. Com ele e nele temos tudo o que fizemos de bom e mal na linha do tempo. Feliz daquele que pode chegar aos 60 anos, olhar os elementos desse conjunto e dizer:  fiz maior o bem, que o mal. Eu sou assim!









quinta-feira, 27 de junho de 2024

MEU ÚLTIMO ENCONTRO COM DOM HELDER

 

Padre José Freitas Campos

Quem não conhece o profeta da paz? Um cearense nascido em Fortaleza, Foi bispo auxiliar no Rio e Arcebispo de Olinda e Recife, a partir de 12 de março de 1964. Como bispo auxiliar do Rio de Janeiro, promoveu a Cruzada de S. Sebastião para a construção de casas para as famílias pobres e criou o Banco da Providência para a manutenção das obras de caridade. Sonhando com a união de todos os bispos brasileiros, surgiu a CNBB da qual foi o seu primeiro secretário geral por dois mandatos. Como pastor de Olinda e Recife (1964-1985), foi um dos bispos mais atuantes do Concílio Vaticano II. Este baixinho, frágil, sorria feliz por ver os novos caminhos pastorais que a lgreja ia assumindo.



Vestindo uma batina creme e usando uma cruz peitoral de madeira se apresentava como pastor de todos. Deixou o Palácio dos Manguinhos, e foi morar na sacristia da Igreja das Fronteiras. Ergueu uma parede para fazer um quarto, onde tinha a cama e uma mesa para estudar e escrever. Durante o Concilio, com um grupo de bispos assumiu o compromisso de ser lgreja dos pobres e para os pobres, decisão esta denominada "Pacto das Catacumbas".

            Sofreu purificando-se na noite escura. Até meados dos anos 80, seu nome não podia ser mais publicado ou pronunciado. Participou do movimento internacional com os pobres ‘’mãos estendidas" e lançou o grande projeto de "um ano 2000 sem fome’’. Não lhe foi poupado o sofrimento, a incompreensão, a dúvida sutil sobre suas intenções. Contudo, aceitou as piores perseguições contra a sua pessoa e o seu pastoreio no silêncio que santifica.

Após se tornar  emérito, D. Helder recolheu-se no silêncio: nem uma palavra ou declaração. Como sempre fez  continuou a se levantar de madrugada, abrir a janela, e orar por sua amada Olinda e Recife. Suas vigílias deram-lhe forças espirituais ao longo da vida. Faleceu, santamente, no dia 27 de agosto de 1999, aos 90 anos. Uma vida entregue totalmente a Deus, à Igreja e aos pobres mais pobres. Conheci-o amiúde. Era muito ligado à Igreja de Natal. Esteve aqui presente em grandes momentos da nossa caminhada pastoral: pregando o retiro do clero, como homileta da ordenação episcopal de D. Costa, em 1972, recebendo o titulo de cidadão norteriograndense e em tantos outros acontecimentos eclesiais. Por estar presente nas assembleias regionais, nos cursos de canto pastoral e em tantos outros eventos, ele me chamava pelo nome. Tinha-o em grande estima. A cada ano, por ocasião do encerramento do curso de canto pastoral no Auditório do Colégio São José em Recife, estava sempre dando a sua palavra profética de ânimo e de esperança. De quando em vez ia visitá-lo na sua pequena casa ao lado da Igreja das Fronteiras. Ele fazia questão de abrir a portaria e acolhia a quem o procurava.

 Combinei com o Pe. Baronto de irmos visitá-lo. Atendeu-nos bem, mas já estava um tanto quanto fragilizado pelo rigor dos anos. Não me reconheceu mais. O Pe. Baronto me apresentou dizendo-lhe que era um compositor nordestino e começou a entoar cantos de minha autoria. Ele sentado regia como se fosse uma grande orquestra composta de gente cheia de esperança. Foi a última vez que pude contemplar o rosto inconfundível e sereno deste profeta da Igreja do Nordeste e do Mundo. Anos depois por ocasião do seu centenário do nascimento  tive a grande graça de compor  um hino em sua homenagem cujo refrão assim rezava: Um nordestino, um profeta audaz, D. Helder Câmara, pastor da paz.

Pe.José Freitas Campos - do Presbitério de Natal

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

UM ANO PARA SER E FAZER DIFERENTE: DEPENDE DE VOCÊ



Terminamos mais um ano. Os homens são sedentos pelas frações do tempo, quer sejam em séculos, décadas, anos, meses, dias, horas, minutos, segundos. Isso vem de longe, duma época bem distante. Contar os dias é algo tão peculiar do ser humano, assim como é próprio do rio correr à foz.

Mas os grandes, aqueles que constroem um mundo à parte e vivem numa dimensão muito mais superior, não se preocupam com o fator tempo, aliás no que tange ao transcendental, o cronos não existe.

Há pessoas que passam por aqui muitos anos, no entanto, nada edificam, são adeptos da pior filosofia da existência: a normose, que assim é definida pelo grande mestre Hermógenes: “Os maus hábitos cristalizados como normais pela sociedade, tais como o consumismo e a corrupção”.

E o pior é que a grande maioria segue a normose e não sabe. São escravos sem horizontes à libertação. Que em 2023 sejamos capazes de fazer um ano diferente em nossas vidas. Sejamos idealistas e não  apenas sonhadores, pois a diferença entre este e aquele é que o idealista luta para realizar aquilo que sonha.

Que os homens possam no ano vindouro ser mais poetas, cantar a vida, viver a fé. Que cada mulher cultive durante todo o ano novo não apenas a beleza exterior, mas sobretudo a interior.

Que os pais tenham sabedoria para transmitir aos filhos. Que os professores, ah! os mestres, bem a eles desejamos um 2023 paradisíaco. Aos jovens deixamos a tarefa para que cada um possa vir a obedecer a si mesmo, não sem freios, sem limites, sem horizontes, mas com foco. Pois aquele que não obedece a si mesmo é regido pelos outros.

E às crianças, tesouros de cada lar, que para elas haja em 2023 uma Civilização de Amor. Feliz Ano Novo!

Francisco Martins

Imagem: https://br.pinterest.com/pin/1077556648322206457/.em 29.12.2022, às 10:29.

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

A PRESENÇA DE POTIGUARES NA REVISTA DE ANTROPOFAGIA

 Quem é do mundo da Literatura Brasileira já ouviu ou ouvirá alguém falar sobre “A Revista de Antropofagia”, um periódico de curta duração, que circulou no Brasil nos anos de 1928 e 1929. Os Idealizadores foram Oswald de Andrade e Raul Bopp. É um marco na história literária brasileira e deve ser conhecida, afinal, o Rio Grande do Norte também está lá. Isso mesmo! Demos nossa contribuição.

Noventa e quatro anos passados, o estado do Rio Grande do Norte ainda se firmando na sua construção literária,  audaciosamente exportava textos para a cidade de São Paulo, onde chegavam ao escritório da “Revista de Antropofagia”, localizado à Rua Benjamin Constant.

Em Maio de 1928, quando é lançada a revista, já somos agraciados na página 4, com um comentário generoso sobre o “Livro de Poemas” de Jorge Fernandes, que havia sido editado no ano anterior.

 Na edição nº 2, Junho de 1928, eis que Jorge Fernandes tem poesia publicada logo na primeira página: “O Estrangeiro”.  E se por aqui Jorge Fernandes continuava batalhando por um lugar ao sol, lá em São Paulo, a Revista de Antropofagia continuava dando espaço ao poeta, desta vez na edição  de nº 7, Novembro - 1928, página 5,  publicando a prosa poética:  “A Tardinha em viagem  no Seridó” 


Na edição nº 9,  Janeiro de 1929, página 5, é publicada “Canção do Retirante”.   Era o Brasil tomando conhecimento da porteira de Jorge Fernandes que se abria para deixar entrar o Modernismo no Rio Grande do Norte. Alguns desses trabalhos acima citados não estão presentes no livro: "Jorge Fernandes - o viajante do tempo modernista - obra completa", organizada por Maria Lúcia de Amorim Garcia.

Câmara Cascudo também deu sua contribuição ao periódico. A primeira é em Agosto de 1928, revista nº 4, página 3,  onde ele escreve: “Cidade do Natal do Rio Grande do Norte”. Na página seguinte, o Diretor da Revista, Antonio de Alcântara Machado ( A. De A.M) comenta um livro de Cascudo sobre  López do Paraguay (1927). Na revista nº 10 -  Fevereiro de 1929 – Câmara Cascudo se apresenta como poeta, em “Banzo”, na primeira página.
Depois de Jorge Fernandes e Câmara Cascudo, a Revista de Antropofagia também registra a participação de dois outros potiguares: Jayme Adour e Otacílio Alecrim. O primeiro  escreveu um artigo com o título "História do Brasil em dez tomos", na edição nº 4,  de 7 de abril de 1929 e no mês seguinte, maio,  foi o Diretor do Mês da revista. Jayme Adour nasceu em Ceará-Mirim e muito jovem se transferiu para a região Sudeste. 

Otacílio Alecrim, escreve na edição nº 12, que circulou no dia 26 de junho de 1929. O seu artigo tem como título: "Miss Macunaima". Otacílio Alecrim nasceu em Macaíba e assim, como Jayme Adour também se transferiu para o Sudeste. Com esta pequena pesquisa, deixo aqui a minha contribuição, neste ano em que comemoramos 100 anos do Modernismo. Para ter acesso a todos os números da Revista de Antropofagia é só clicar aqui: Biblioteca Brasiliana

30 de Novembro de 2022
Francisco Martins
Pesquisador




quarta-feira, 2 de novembro de 2022

E AGORA JESUS?


 Eu não gosto desta palavra FINADO, passa-me a ideia que terminou tudo, findou. Não creio nisso! Para mim o que houve foi uma mudança, saímos da esfera material e vamos para a espiritual. Entrega-se à terra o corpo, levamos com o espírito os nossos sentimentos, as coisas que não são mensuráveis: lembranças, histórias, risos, aromas, etc. Então tudo é apenas uma questão de crença! Infeliz daquele que acredita que a vida é apenas aqui. A esse a morte causa medo, o sepulcro é cova eterna.  E agora Jesus? Creio que serei muito mais do que falecido, viverei além do adjetivo "defunto", ficarei nos braços de Deus, pois Dele veio o fôlego da vida e a Ele retornarei. E agora Jesus? Bem a resposta me foi dada  e já faz bastante tempo: "Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, mesmo que morra, viverá" (João 11:25).

Francisco Martins
02 de novembro 2022

sábado, 15 de outubro de 2022

AOS NOSSOS MESTRES DE ONTEM E DE HOJE

 


Neste dia 15 de outubro, quando se celebra O Dia do Professor, quero homenagear todos aqueles profissionais que se dedicam a transformar vidas, semeando o conhecimento. Esses são verdadeiros heróis. Batalham anos e anos, labutando com as mais variadas idades dos humanos.

Entre as muitas professoras e professores que eu tive, guardo de forma especial Nevinha, a minha mãe das letras, que hoje está na dimensão maior e infinita. 

Quem aqui não teve uma professora ou professor? A eles nossos aplausos e reverência. Se há poetas, escritores e todas as demais profissões é porque antes teve o professor. Parabéns então para quem vive numa sala de aula com crianças, jovens e adultos, para quem vive na coordenação pedagógica, na administração escolar, nos corredores, em todas as esferas. Aguardo e acredito que um dia a Nação Brasileira vai valorizar esse ofício à altura da sua dignidade.

Trago  aqui um texto escrito por Edilson Pinto: " veja o que aconteceu com o professor João Batista Pinheiro Cabral, quando lecionava na UnB. Certo dia, chegando ao Departamento de história, encontra em todas as portas as mais diversas placas de identificação: “Professor fulano de tal - PHD pela Harvard University; Professor beltrano - Doutor pela University Paris-Sorbonne, etc. etc.” Cada um que colocasse uma titulação maior. Então, o estimado conterrâneo nosso, para não ficar atrás, - já que ele tinha pós-doutorado-, resolveu também fazer a sua placa: “João Batista Pinheiro Cabral – A-L-F-A-B-E-T-I-Z-A-D-O”...

E para concluir quero deixar aqui umas estrofes do cordel "Tormento de Dona Graça", de Mané Beradeiro, que diz assim:

Dona Graça bota fé
Mas não pode sustentar
Sozinha tão grande luta
Para tudo transformar
É preciso união
Ou vai tudo despencar
....
Termino esse cordel
Dando grande louvação
Àqueles que  nos ensinam
Do litoral ao sertão
Fazendo d'um quadro negro
A maior libertação.

Francisco Martins 
15 outubro 2022

PINTO, Francisco Edilson. E Daí?

BERADEIRO, Mané. Tormento de Dona Graça, cordel.

terça-feira, 5 de outubro de 2021

COMENTANDO MINHAS LEITURAS: NA BODEGA DE DONA MARGARETH

 

"As Bodegas da Rua do Patu e outras histórias" é o segundo livro de Margareth Pereira, desta vez no estilo de contos e crônicas. Lançado em 2018, tem o selo da Editora CJA e em suas 71 páginas há 17 histórias que nos chamam à reflexão da vida.

A prefaciadora, Professora Doutora Cláudia Santa Rosa, escreve: "Há livros que a gente se apega, identifica cheiro, cor, gosto ...Em seus escritos, Margareth deixa todas as pistas de um vasto repertório, forjado nas memórias de várias épocas".

E foi com este norte que eu entrei nos escritos da autora Margareth Pereira. A linha do desenvolvimento exposta por ela contém vários cenários, alguns têm a geografia bem definida (Ceará-Mirim), e outros, não revelada.

Margareth Pereira

Margareth Pereira nos põe diante de uma grande tela, em branco. Deixa ao nosso alcance tintas variadas e pinceis de modelos diferentes. Com sua escrita, sua vivência e criatividade nos convida a pintar nessa tela as imagens das histórias.

É bem verdade que as ilustrações de Júlio Siqueira já fazem parte do trabalho, mas não custa fazermos a nossa também.

Os contos e as crônicas pegam o tempo e o  ontem e o hoje se mesclam. Margareth Pereira nos transporta à rusticidade dos balcões das bodegas, faz a gente ter encontros com crianças vestidas de solidão, reforça a máxima de que "o amor não passa", nos surpreende com o final do  conto  "Entalo", traça analogias do comportamento humano com alguns animais, rega sementes de amor em corações adolescentes, indaga o porquê daquela vida sem cor e sem sabor e escreve outras histórias.

Tudo isso encontrei na Bodega de Dona Margareth. Vá lá você também!

Francisco Martins
05 de outubro 2021


sexta-feira, 1 de outubro de 2021

UM LUGAR ESPECIAL

 Se existe um lugar neste mundo  no qual eu quero ser lembrado, é sem sombra de dúvidas,  o espaço das bibliotecas. Eu tenho uma história de amor para com elas. Primeiro foi com a Biblioteca Pública Municipal Doutor José Pacheco Dantas, em Ceará-Mirim-RN; depois, lembro que gostava imensamente de ficar entre os livros da Biblioteca do Seminário de São Pedro, em Natal-RN. Nessa mesma cidade conheci a Biblioteca Estadual Câmara Cascudo, a  Biblioteca Esmeraldo Siqueira (na sede da Capitania das Artes) e  tive um grande caso de amor com a Biblioteca Padre Luiz Monte ( na Academia Norte-rio-grandensense de Letras), onde servi por mais de dez anos.


Em Parnamirim, cidade que me acolheu,  estou sempre que posso, flertando com o acervo da Biblioteca Pública Municipal Rômulo Wanderley.  Uma biblioteca que merece receber por parte do poder público, um olhar  e atitude dignas de uma cidade leitora. Quantas cidades no Rio Grande do Norte  têm vários prêmios por ações desenvolvidas no campo da leitura? Uma eu sei: Parnamirim, e o mérito é todo do esforço do projeto Rio de Leitura, que tem em seu leito de ações a força e a coragem dos professores mediadores de leitura e da equipe que administra o projeto, desde sua criação, tendo à frente a professora Angélica Vitalino. Nutro a esperança de que o legislativo e o executivo de Parnamirim compreendam o que significa a frase lobatiana: " Um País se faz com homens e livros".

Fui agraciado  com uma visita que fiz à biblioteca particular do jornalista Vicente Serejo,  uma das mais bonitas do Rio Grande do Norte, que ocupa praticamente toda uma casa, no bairro de Morro Branco.  Senti o aconchego na biblioteca particular do poeta Oreny Junior, em Parnamirim. Sentei nos bancos da Biblioteca Central Zila Mamede, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e, antes da pandemia eu estava namorando com a Biblioteca Veríssimo de Melo, que também pertence  a UFRN e fica sediada no Museu de Antropologia Câmara Cascudo. A pandemia me distanciou, mas a paixão continua e tão logo ela esteja aberta ao público voltarei àquele lugar.

Biblioteca particular de Vicente Serejo

Recentemente organizei o acervo da Biblioteca Ciro Tavares, que pertence a Academia Ceará-mirinense de Letras e Artes -  ACLA - Pedro Simões Neto, na cidade de Ceará-Mirim. Na semana, quase todos os dias, agendo um horário para pesquisar, de forma remota,  no site da Biblioteca Nacional.  Alimento-me dos jornais e revistas que estão disponíveis ao público, esse material é muito rico de informações culturais.

Minha biblioteca 

Dentro do meu lar, tenho uma pequena biblioteca, onde descansam nas prateleiras as obras que jugo necessárias tê-las perto de mim e debaixo do meu teto.  Não muito distante lá de casa, na Escola Municipal  Rubens Lemos,  eu fui agraciado para ser o patrono da biblioteca escolar, vejam só quanta alegria! Lá na placa de inauguração consta: Biblioteca Escolar Francisco Martins. Breve celebraremos sete anos de existência, em dezembro próximo.

Esta fascinação que tenho pelas bibliotecas me faz um bem enorme. Foi graças ao amor pelos livros que aprendi não apenas me tornar leitor, mas ser também: escritor, encadernador, arrumador de bibliotecas, pesquisador e outras coisas correlatas. Todo esse universo,  que possui um clima de sabedoria e paz, leva-me cada vez mais para perto de Deus, afinal, Ele também  nos dá a alegria de termos nas mãos a sua Biblioteca, onde a Palavra se fez carne  e habitou entre nós.

Francisco Martins -  Parnamirim-RN - 01 de outubro 2021

sábado, 28 de agosto de 2021

DR PACHECO DANTAS

 

Há exatos  143 anos, nascia  José Pacheco Dantas, filho do Coronel e Chefe Político Felismino do Rego Dantas Noronha e Maria Amélia Pacheco Dantas, no município de Ceará-Mirim-RN. Ele foi o primogênito de uma numerosa família com 14 irmãos. Viveu sua infância entre a cidade e a Casa Grande do Engenho União. Fez os estudos preliminares na sua cidade e em seguida foi estudar no Atheneu, em Natal.

        Desde cedo, Pacheco Dantas demonstrou inclinação para o jornalismo, com 16 anos funda em Ceará-Mirim o “Eco Juvenil”, em formato pequeno, com agentes na Capital e interior do Estado, além de manter intercâmbio com  Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Minas Gerais.

É o  Professor Hélio Dantas quem nos diz:

 Aos 18 anos, o “Almanaque do Rio Grande do Norte”, edição de 1897, publicação de Renaud & Cia., Natal, insere em suas páginas, substancioso trabalho seu, sob a epígrafe - Ceará-Mirim - que constitui um dos melhores estudos sobre esse município, abrangendo aspectos geo-econômicos, educacional, político, administrativo, sua potencialidade, aproveitamento de suas riquezas, produção,etc. É um trabalho de fundamental importância para o estudo e conhecimento do Ceará-Mirim do último cartel do século XIX ao 1º cartel do século XX.”

       Aos 19 anos, em 1897, Pacheco Dantas está na cidade do  Rio de Janeiro.  Lá consegue emprego  em jornais, passando por vários periódicos e chega a ser dono do seu próprio jornal “Gazeta do Norte”, em 1913, que mantém por 18 anos.  Vencendo inúmeras dificuldades, o jovem Pacheco Dantas vai ter seu primeiro emprego na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, no ano de 1900, onde trabalha como auxiliar por um curto período.  Nesse ínterim começa a estudar Medicina, formando-se em 1905. Defendeu a tese de doutorado com o tema “Sífilis e Casamento”, apresentando-a na banca em 27 de novembro daquele  ano. Posteriormente também teve graduação em Odontologia e Farmácia. Interessante é que  embora ele tivesse essas formações, não chegou a instalar consultório para exercer  tais profissões de forma liberal. Sempre trabalhou como funcionário público.

           Uma vez dentro da colmeia do funcionalismo público, Pacheco Dantas, embora tivesse atividades paralelas no campo do jornalismo, nunca deixou de assegurar sua instabilidade econômica, mantendo suas funções como servidor amanuense, chegando a ocupar o cargo de Secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro (1932). 

Pacheco Dantas em 1932

        Sempre que podia vinha visitar seus parentes em Ceará-Mirim. Chegou até ser proprietário de fazendas aqui no Rio Grande do Norte, administrando a distância. As fazendas foram Valparaíso, Itapuan e Livramento, nos municípios de Ceará-Mirim e Angicos, com criação de gados e plantações diversas.

        Tentou ser Deputado Estadual no Rio de Janeiro, filiando-se no Partido Nacional Evolucionista-PNE, em 1934.  Não obtendo êxito.

        Casou com Isabel da Cunha Dantas, da tradicional  família Pereira, com quem gerou dois filhos:  Yolando e Yvonne.


Participou ativamente, em 1903, da campanha pró-famintos do nordeste, fundando e presidindo, no Rio de Janeiro, o “Comitê Central”,  recolhendo donativos para os flagelados do Nordeste.  Funda, ainda, a “Liga Nacional Contra as Secas do Norte”,  com a finalidade de combatê-las e amenizar seus efeitos.

Representou o Rio Grande do Norte, no 4º Congresso Operário Brasileiro, realizado no Rio, em 1912, e representou o Estado, no Congresso de Aplicações Industriais do Álcool", patrocinado pelo Ministério da Agricultura, em 1903, na capital federal.

Pugnou também pelo aproveitamento das fontes minerais de Pureza e de Olho - d’água do Milho, tendo inclusive mandado proceder a exame quantitativo das águas dessas fontes. Batalhou, também, pelo aproveitamento do sargaço e sua industrialização, inclusive argumentando que no Japão havia 500 usinas e nenhuma no Brasil; ainda lutou pela construção das estradas de ferro Sampaio Correia e de Mossoró. Foi por sua intercessão que o Loide Brasileiro fez entrar seu primeiro navio no porto de Natal, em 1902, de nome “Planeta”.

Pertenceu, entre outras, às seguintes instituições: Sociedade de Medicina e Cirurgia; Sociedade Brasileira de Homens de Letras, Sindicato dos Médicos, todos no Rio de Janeiro. Foi sócio do Instituto Histórico do Rio Grande do Norte e do Instituto Histórico de Sergipe. Quando acadêmico, pertenceu à Fundação de Estudantes Brasileiros, foi Presidente do Diretório Acadêmico de Medicina, ambas no Rio. Foi fundador da Associação de Imprensa do Rio e da Associação Brasileira de Imprensa. Reorganizou e foi presidente do venerando Grêmio Norte Riograndense e foi fundador da Federação dos Centros do Norte do Brasil.

Quando visitou Ceará-Mirim pela última vez, levou uma porção de terra e com a qual mandou fazer uma almofada, manifestando seu desejo de repousar sobre ela sua cabeça quando partisse deste mundo. Pacheco  Dantas viveu até o dia 24 de julho de 1961, aos 83 anos.

 

Francisco Martins – 28 de agosto 2021

 

Fontes pesquisadas

Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 30 de março 1901;  3 de maio de 1902;  19 de agosto 1905.

Jornal “Gazeta de Notícias”, Rio de janeiro, 5 de fevereiro de 1911; 28 de julho 1911.

Jornal “A Notícia”, Rio de Janeiro,  18 de abril de 1900; 28 de novembro 1905; 18 de junho 1914.

Revista Fon Fon: Semanário Alegre, Político, Crítico e Espusiante, Ano X. n° 3, 15 de janeiro 1916.

Revista da semana, Rio de Janeiro, ano XVIII, nº 26, agosto 1916.

Revista Vida Doméstica, Rio de Janeiro,  edição 172, mês de julho de 1932.

Diário de Notícias – RJ, 4 de maio de 1932.

Diário da Noite, RJ, 19 de julho 1932.

Diário Carioca-RJ, 4 de maio de 1932.

O Paiz (RJ), 5 de dezembro de 1905;  5 de novembro 1912; 30 de agosto 1913; 18 de outubro 1914; 30 de maio de 1915; 18 de julho 1916; 10 outubro 1934.

A Ordem (RN), 27 dezembro 1938.

Jornal do Commércio  (RJ) 5 de novembro 1955;

O Poti - José Pacheco Dantas, o Patriarca de Ceará-Mirim -  Hélio Dantas -  27 de agosto 1978.

 Síntese Biográfica – Desembargador Virgílio Otávio Pacheco Dantas – Centenário 6.1.1982 – Meneval Dantas -  Rio Grande do Norte – Dezembro 1981.

 

 

               



terça-feira, 13 de julho de 2021

JURANDYR NAVARRO - O ARQUEÓLOGO DO "MONTE"

 Hoje eu ouvi uma frase dita pelo escritor Jurandyr Navarro que muito me tocou. Quando ele me entregou o livro "Padre Monte e a Sabedoria", disse-me: "Este é o meu último livro", referindo-se ao encerramento das suas atividades como escritor. Confesso que aquelas palavras soaram dentro de mim como badaladas de um sino de uma antiga catedral, onde o som é carregado de histórias e reminiscências.

Jurandyr Navarro - foto da Tribuna do Norte

 Sei que Jurandyr Navarro é um escritor profícuo, sua produção literária tem um tema, um norte, que o faz ser o mais  abundante no assunto Padre Monte. Se não fosse sua dedicação, seu trabalho de pesquisa garimpando os textos do Padre Monte, a cultura do Rio Grande do Norte sofreria  de uma inestimável lacuna na produção deixada por esse sábio e Padre Monte, com certeza, seria hoje apenas uma foto em preto e branco pendurada numa parede de uma biblioteca, de uma escola ou perdida entre as páginas de um breviário. Mas o  olhar e a paixão de Jurandyr Navarro mudou o curso dessa história. Graças a ele podemos andar pelas ruas da cidade de "Montópolis", sim! a cidade que Jurandyr  Navarro escavou como o melhor dos arqueólogos e nos revelou suas ruas e avenidas literárias.

Como bem escreveu Lívio Oliveira, ele é um "homem-instituição". Proponho que seja tombado, imediatamente, como patrimônio  vivo e indispensável à nossa cultura.  92 anos vive conosco esta centelha  provinda de Deus.

Ainda quero escrever mais sobre ele. Voltarei trazendo nas mãos a lista dos seus livros. Breve!


Francisco Martins

13 de julho 2021

 

Notas


Lívio Oliveira: http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/jurandyr-navarro-homem-instituia-a-o-chega-aos-90/443004

Foto de Jurandyr copiada do blog  http://blog.tribunadonorte.com.br/territoriolivre/em-plena-pandemia-jurandyr-foi-eleito-vice-da-academia/