quarta-feira, 27 de junho de 2012
terça-feira, 26 de junho de 2012
BUSCANDO NOVOS POETAS
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domingo, 24 de junho de 2012
AS PLANTAS DAS CAATINGAS
A Benedito Vasconcelos
Irei falar de três árvores
do Nordeste com valor
Três plantas da Caatinga
Que Benedito (1) estudou
Informações preciosas
Que em livro transformou.
Vejo
o pé de umbu
Que vive mais de cem anos
Com seu tronco tão pequeno
E nisto
não me engano,
Com casca da cor de cinza
E com porte mediano (2)
A árvore é xerófila,
Coisa que não sei dizer
E também caducifólia
Se você quiser saber
As flores são todas brancas
Perfumosas pra valer.
Quando vem a
floração
O sertão se embeleza
Natureza ganha brilho
Sertanejo chora, reza
Louvando Deus no céu
Que todo poder encerra.
O melhor da
floração
Acontece sem se ver
Quando é de madrugada
As flores abrem sem tremer
É festa no umbuzeiro
Pela safra que vai ter.
Trezentos quilos de fruta
Se prepara
cada planta
Para produzir melhor,
É a safra sacrossanta
Umbuzeiro verdadeiro
No sertão desta pujança.
Do fruto é feito suco,
Umbuzada e licor,
Esteira e a batida,
Coisa boa sim senhor!
Inté um surupió (3)
Que alimenta melhor.
Não pense que eu
falei
Tudo de um umbuzeiro
Pois esta planta
fornece
Riqueza ano inteiro
Ao que vive
no sertão
De Antonio
Conselheiro.
No seu tronco há
também
Escondido lá no
chão
Cafofas,
canangas, cuncas, (4)
Saciando de
montão
A fome do sertanejo
Tão carente deste
pão.
São
batatas que dão água
Túberas medicinais.
Escoburto,verminose,
Diarreias,
coisas tais
Cura “´árvore sagrada
Do Sertão” (5) do Nunca Mais.
E agora de joelho
Diante
do Criador
Deposito
minha mente
Com
oração e louvor
Pra
falar do Juazeiro
Que
tem grande seu valor.
Das plantas deste Nordeste
Ela
faz o sol pensar:
“Queimo
tudo neste chão
Sem
apelo e reclamar,
Só
não seco Juazeiro.
Meu
juízo vai tostar”.
É
verdade meu leitor
De todas deste sertão
O Juá é planta viva
Que dá sombra de montão
Ao gado e ao homem
Seja qual for estação.
Se
tudo ao seu redor
Está seco, cor de cinza
O Juazeiro fornece
Nas trilhas da Caatinga
A beleza das folhagens
Que o sol não desatina.
Loquiá
já foi chamado
Pelos
índios carijós,
Laranjeira
de vaqueiro
Existente
entre nós
Forragem
alimentar
Para
a fome feroz.
O seu fruto é redondo
tem a
vitamina “C”
Deles
pode fazer vinho
Moscatel pra se beber
Lá
na sombra do Juá
Sertanejo tem lazer.
Juazeiro é bendito
A
florar em plena seca
E
abelha sem o néctar
Faz
do Juá a sua Meca
Produzindo mel tão puro
Que
dá ânimo ao jeca.
Não se fala do Juá
Sem
citar o seu poder
No
uso da medicina
E
o povo quer saber
Para
que serve aquela
Planta diga aí sem tremer.
Da
casca se faz um banho
Que
espuma prá valer
Por
causa da saponina (6)
Cura
xanha pode crer
E
as folhas do Juá
Botam asma pra correr.
Benedito diz também
Em
seu livro que eu li (7)
Que
trata males do sangue
Pra
você ser mais feliz
Fígado
e o estômago
Com
o Juá eu aprendi.
Sertanejo
já usava
No
seu banho o Juá
Como
fonte de xampu
E
tônico capilar.
Para
escovar os dentes
É
só raspa aplicar.
Agora eu dou psiu
Pra
falar da Sabiá
Que
é mimosa de nome
Ninguém
pode duvidar
Pequenina
no seu porte
Mas
boa de se plantar.
Quem
neste sertão respira
Testemunha
sem calar
As
estacas e forquilhas
Que
podemos contemplar
As
cancelas e mourões
Onde
o gado vai passar.
Tudo
é madeira nobre
E
banquete sem igual
Aos
bichos do sertão
Que
não fazem nenhum mal
Boi,
ovelha e cavalo
E
bode fenomenal.
Sabiá também se presta
Para
lenha e carvão
Dela
se extrai o álcool
Disso
eu sabia não
Viva
o livro que li
Grande
fonte de lição.
Lá
na serra do olhar
Onde
brota o amor
Sentimento
é guardado
Em
baú que tem valor
Todo
ele sabiá
Pro
cupim não causar dor
Ela é nobre madeira
Que
suporta fel e sal
Vinte
anos são precisos
Para
penetrar o mal
Por
isto a Sabiá
É planta tão divinal.
Para
encerrar o cordel
Falta
pouco eu dizer
De
árvore tão bendita
Que
estou a conhecer
Serve
ela de remédio
E
é bom você saber.
É a casca empregada
No
uso cicatrizante
E
o chá da parte viva
Às
tripas é atuante
Além
de limpar os brônquios
Quem
respira ofegante.
Agradeço ao Senhor
Inspiração
recebida
Que
na forma de cordel
Externei
tão merecida
Três
plantas do meu nordeste
A
muitos desconhecidas.
Mané
Beradeiro
22
de junho de 2012
NOTAS DO CORDEL
1)
Benedito
Vasconcelos Mendes é um estudioso da problemática nordestina. Natural de
Sobral-CE. Vive em Mossoró. Graduado em Engenharia Agronômica na Universidade
Federal do Ceará. É Doutor em Agronomia pela Escola Superior de Agricultura
“Luiz Queiroz”, da Universidade de São Paulo.
2)
O
umbuzeiro geralmente não tem mais de 6 metros de altura.
3)
Esteira
é uma espécie de doce e Surupió é um
pirão feito com o suco do umbu com
farinha de mandioca.
4
) Cafofas, cunangas e cungas são os nomes populares atribuídos a raiz do umbuzeiro.
Xilopódios (túberas) que são comestíveis e servem para saciar a forme e a sede,
são também chamadas de batatas de umbu.
5)
O escritor Euclides da Cunha, em sua
obra “Os Sertões” denominou o umbuzeiro de árvore sagrada do sertão.
6)
Saponina é a substância que tem a propriedade de produzir espuma.
7)
O livro, objeto deste cordel, foi “Plantas das Caatingas (Umbuzeiro, Juazeiro e
Sabiá)”. Coleção Mossoroense, Fundação Vingt-Um Rosado, 2001.
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