CORDEL DA CONCEIÇÃO
Maria da Conceição
Sua história eu vou contar
Vou narrar em poucos versos
O que consegui rimar
Mergulhando nas palavras
Um cordel irei montar.
Como fruto do amor
Pedro e Das Dores juntou
A semente em terra boa
E vida desabrochou
Isto foi em Mangabeiras
Nove meses se passou.
E chegou aquele dia
Por Das Dores tão suado
Que trouxe a este mundo
Num pequeno povoado
A primeira Oliveira
Do amor sacramentado.
A partir daquele dia
O resguardo começou
Houve choro de menina
A parteira anunciou
E dentro daquela casa
Conceição logo mamou.
Era bem pixototinha
A criança que nasceu
Pedro disse a Das Dores:
“-Foi ela que Deus nos deu
Vamos criá-la e amá-la
Nesta terra de “bebeu”.
Zinha foi apelidada
E assim por toda a vida
Esta alcunha atendeu
Só mais tarde instruída
O seu nome escreveu
A menina tão sabida.
Naquela infância querida
Tempo áureo, tão singelo
A menina hoje lembrada
Crescia sem ter castelo
Os irmãos foram chegando
E Zinha era o tutelo.
Foram muitos os seus irmãos
Mas de vinte lá nasceu
E sua dedicação
Conceição a todos deu
Quem tá vivo testemunha
O que dela recebeu.
Diante de tanta gente
Para ela tomar conta
Não houve tempo de prosa
Mas isso não desaponta
Porque sendo uma Oliveira
Ela pouco se amedronta.
Como tudo neste mundo
Tem que ter mutação
Zinha não fugiu à regra
Cresceu sem aclamação.
Tinha sonhos escondidos
Lá dentro do coração.
Naquele tempo não tinha
Essa tal adolescência,
Muito menos internet.
Conceição sentiu dormência
Foi dormir sendo menina
Acordou sem paciência.
Era a fome do amor
Que no peito despertou
Não sabia se chorava,
E seu corpo se abrasou
Só mesmo um Pimentel
Para tudo que pensou.
Um olhar, um sorriso
Fez Clovis se derramar
Criar coragem e querer
Com Pedro pode falar
Jurando que sua filha
Pra sempre ele ia amar.
O rapaz era pequeno
No físico que possuía
Mas dentro daquele peito
Maior amor não existia
Para ele Conceição
Era tudo que queria.
Clovis conquistou a moça
E foi grande a alegria
No verde daquele vale
Dois corações se uniria
Era o amor moendo
No engenho da alquimia.
E o namoro se deu
Como um pé de baobá
Foi crescendo aos poucos
E o amor a aumentar
Pois aquela união
Só Deus pode terminar.
Como árvore frutífera
As flores foram vingar
Nasceu logo a Solange,
Depois Sandro a mamar,
Veio Sandra e Sânsio,
Oh homem prá trabalhar!
Conceição disse: “-Tá bom,
Não quero mais filho não”.
Clovis fez que ouviu
Mas não prestou atenção.
Zinha se descuidou
Pegue outro barrigão.
A criança que nasceu
Foi o filho temporão
Nove anos sem menino
Lá dentro do barracão
Sanderson foi o seu nome
Não há outra explicação.
O caçula era mimoso
Por “Menina” foi criado
Eu o vi todo branquinho
Com fralda e dedo chupado
Foi quem mais ficou em casa
Hoje é um advogado.
A família estava pronta
Todo mundo já chegou
Era tempo de lavouro
Deus assim determinou
E os pais destes meninos
Muitos anos trabalhou.
Hoje é tempo de colher
De tudo o que se plantou
E é neste aniversário
Que a coisa culminou
Pois honrar pai e mãe
É ordenança do Senhor.
Setenta anos de vida
Tem agora Conceição
E aqui neste jantar
Muita confraternização
É desejo de nós todos
Que haja paz e união.
Minha sogra Conceição
Eu termino este cordel
Deixando em suas mãos
Um grande favo de mel
Por ter gerado minha “Fia”
A doce Sandra Pimentel.
Mané Beradeiro - Novembro 2011