quinta-feira, 22 de agosto de 2024
quarta-feira, 21 de agosto de 2024
sábado, 17 de agosto de 2024
TRILOGIA DE ALUMBRAMENTOS
Na minha vida de folclorista, pesquisador de assuntos os mais vários, eu tive alguns momentos de beleza, que dariam poemas e poemas, da mais fina ternura e emoção.
sábado, 10 de agosto de 2024
HISTÓRIAS BREJEIRAS
Contam os mais velhos que a Florzinha foi uma mocinha que encantou-se. Bonita, com os cabelos loiros na cintura. Daí, o nome de Florzinha. Vive nas matas e é muito fumadeira.
Caçador que se embrenha na floresta noite adentro, para pegar um peba, um tatu, um veado, mais das vezes topa com ela, que chega e pede fumo. Se o caçador der o fumo,a caçada é generosa. Enche o bornal de caça. Mas, se por moleza, não tiver fumo para Florzinha, não mata nem rato, pois ela bota azar no cabra.
Gosta de correr a cavalo que é uma peste. Tem por costume fazer umas trancinhas nas crinas dele, bem feitinhas e que dão um trabalho danado para desmanchar.
No sítio do Louro, mais das vezes chega um cavalo de trancinhas. Uma noite dessas, Zuza viu um cavalo de Nelson assombrado. Um cavalo manso, nascido e criado aqui neste pasto. Havia corrido desde a terra dos abacaxis e amanheceu dentro desta roça, perto de casa. As crinas cheinhas de tranças.
Uma outra vez, ela pregou uma peça no louro. Deu um assobio no ouvido dele, já de noitinha, lá no fim do mato. Foi quando ele disse:
“Por caridade, eu já estou indo embora. - Botou a foice no ombro e desabou.
“Lá, no Agreste, tinha um velho que gostava muito de caçar. Certa vez, na mata do Bomfim, topou-se com ela, que foi logo perguntando se ele tinha fumo.
“Tenho - respondeu.
“Então me dê um fuminho que é para eu fumar. Agora tem uma coisa, o meu cachimbo é grande, porque é feito do coco da sapucaia. É preciso de muito fumo para encher.
O velho, que tinha bastante fumo na ocasião, forneceu o suficiente para Florzinha encher o pito.
“Olhe, amanhã traga fumo de novo, que eu facilito tudo o que é de casa para você. Agora, não conte nada à sua mulher. Se disser, o pau canta, quando você chegar aqui no mato.
Ele prometeu que não contava a ninguém. No dia seguinte, levou fumo de novo. Foi aí que sua mulher começou a desconfiar. E o que fez? Botou pimenta no fumo sem que o velho desse fé. Chegando lá, ele entregou a encomenda para a Florzinha, quando ela pitou, era só pimenta!
“Já sei, você contou alguma coisa em casa. Agora sabe o que vai acontecer? Vou dar-lhe uma pisa.
Tirou um cipó de brocha e lhe enfincou no couro, fazendo o velho correr até em casa. Quando, todo lenhado, conseguiu abrir as portas, ela disse:
“Sua casa foi quem te valeu, senão você ainda ia apanhar mais.
O velho ficou tão doente de um jeito que nunca mais teve gosto para caçar.
Observação: O autor desse texto é Newton Lins. Fazendeiro e médico. Foi publicado em "O Jornal de Hoje", edição 30 de janeiro de 1998.