domingo, 10 de setembro de 2017
sábado, 9 de setembro de 2017
NOVO TRABALHO DE PESQUISA SOBRE ANRL: ASSUNTOS E AUTORES NAS 50 EDIÇÕES DA REVISTA DA ANRL
O pesquisador Francisco Martins terminou mais uma pesquisa. Trata-se do livro inédito: Assuntos e Autores nas 50 edições da Revista da ANRL, com mais de cem páginas, no qual o pesquisador Francisco Martins teve o cuidado de organizar a lista de todas as pessoas que escreveram na referida revista, desde a primeira edição em 1951 até a edição de nº 50 janeiro a março 2017.
1) Qual foi o interesse de trabalhar neste assunto das 50 edições da Revista da ANRL?
Primeiro mostrar àquelas pessoas que tem acompanhado o trabalho das edições da Revista da ANRL sobre a importância deste periódico para a história da nossa literatura e da própria Academia. Depois, por ser um ano marcante, no qual a instituição celebra 80 anos de fundação.
2) Recentemente, Lívio de Oliveira, Acadêmico e Diretor da Biblioteca Padre Luís Monte-ANRL disse ao repórter Ramon Ribeiro (Tribuna do Norte) que o senhor é tido como historiador da ANRL. Concorda com a afirmação do poeta?
Confesso que quando li a matéria fiquei um pouco preocupado com o título dado pelo poeta Lívio Oliveira. É um peso e uma responsabilidade muito grande ter essa qualificação. Diria que sou e estou mais para colaborador e construtor da memória da Casa Manoel Rodrigues de Melo. Na verdade eu tenho apenas um trabalho publicado neste campo de pesquisa sobre a ANRL, que foi lançado em novembro de 2016, que é a "Grande Pesquisa". Não sei se o que faço e pesquiso pode-me dar o título de historiador, isso o tempo dirá.
3) Quais respostas pretende dar a sua pesquisa sobre a linha do tempo da Revista da ANRL?
Proponho que o leitor encontre nesse livro, não somente o nome de todas as 318 pessoas que escreveram de 1951 a março de 2017, mas que também saibam quais foram os assuntos e seus gêneros, bem como a revista e as páginas que se encontram. Será sem dúvida uma boa fonte para se buscar informações sobre assuntos literários.
4) Há algumas curiosidades neste trabalho?
Sim, será possível identificar quem mais escreveu para a Revista, quais gêneros são mais frequentes, quais foram os maiores discursos de posse e os menores, etc.
Revista nº 50 |
5) Alguma previsão sobre quando o livro estará disponível ao público?
Não tenho esta resposta, pois o material será entregue ao Diretor da Revista da ANRL, Acadêmico Manoel Onofre Jr e certamente isso será definido entre ele e a Presidência daquela casa.
6) Quando será entregue?
Na próxima semana.
7) Quanto tempo trabalhou nessa pesquisa?
Comecei na manhã do dia 26 de dezembro do no passado e terminei em 20 de abril de 2017. Cheguei a me dedicar mais de oito horas por dia. É claro que ao longo deste período a dedicação não foi exclusiva, mas, há nele pelo menos noventa dias seguidos. Li todas as revistas.
7) Quanto tempo trabalhou nessa pesquisa?
Comecei na manhã do dia 26 de dezembro do no passado e terminei em 20 de abril de 2017. Cheguei a me dedicar mais de oito horas por dia. É claro que ao longo deste período a dedicação não foi exclusiva, mas, há nele pelo menos noventa dias seguidos. Li todas as revistas.
sexta-feira, 8 de setembro de 2017
CINCO LIVROS DE CASCUDO COMO SUGESTÃO DE LEITURA
Quando li o artigo de Thiago Gonzaga, sobre sugestões de leitura da autoria de Câmara Cascudo, confesso que imediatamente veio à minha mente, aquele pensamento que traz uma grande quantidade de verdade: Muita gente fala de Cascudo no Rio Grande do Norte, mas quem verdadeiramente conhece sua obra, mergulhou na leitura dos seus livros, estudou com afinco e curiosidade o quê ensina o Professor em suas muitas páginas? Cascudo, 31 anos depois do seu encantamento e daqui a mais 30 anos, ainda teremos muitas pessoas sem saber a grandeza desse homem-enciclopédia. Fico com a proposta do escritor Thiago Gonzaga: "desfrutem da leitura do nosso maior escritor". Porém, entre um livro e outro, vá conhecer o ninho da águia potiguar, visite o Ludovicus - Instituto Câmara Cascudo e apaixone-se pelo seu universo.
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NOVO FOLHETO DE MANÉ BERADEIRO
Neste mês de setembro o poeta cordelista Mané Beradeiro estará lançando seu mais novo folheto. "Jesus e o Diabo no Rio Grande do Norte" tem a arte da capa feita por Eliabe Alves, o mesmo que também desenhou "Um bode chamado Woden". O folheto pode ser comprado em Natal, na Estação do Cordel, situada a Praça Padre João Maria, ou diretamente com o autor através do (084) 9.8719 4534. Entrega para todo o Brasil.
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segunda-feira, 4 de setembro de 2017
ASSIM DISSERAM ELES ....
"O contador de histórias é justamente o contrário de historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias. Por que essa diferença? (...) O historiador foi inventado por ti, homem culto, letrado, humanista; o contador de histórias foi inventado pelo povo (...)"
Machado de Assis
História de quinze dias. São Paulo: Editora Globo, 1997, p. 84.
Machado de Assis
História de quinze dias. São Paulo: Editora Globo, 1997, p. 84.
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quarta-feira, 30 de agosto de 2017
terça-feira, 29 de agosto de 2017
segunda-feira, 28 de agosto de 2017
E FOI ASSIM O MEU MÊS DE AGOSTO - SEM DESGOSTO NENHUM - SÓ ALEGRIA
O mês de agosto chega ao fim, estamos vivendo a última semana. Foi um mês com várias apresentações culturais, olhando a agenda, vi que estive nos seguintes locais:
Escola Municipal Professora Íris de Almeida (dia 2); Escola Municipal Homero Dantas (dia 18); CMEI Maria Leonor (dia 23); Escola Municipal Professor Belo Monte (dia 25); Complexo Educacional Escola Doméstica/Henrique Castriciano (dia 26); amanhã, dia 29, estarei na Escola Municipal Professora Adelina Fernandes e no dia 31 fecho o mês fazendo a abertura da Feira do Conhecimento, na Escola Estadual José Mamede, em Tibau do Sul/RN.
Em todos esses lugares onde já estive vivi momentos inesquecíveis. Recebi muito carinho direcionado a mim, bem como aos meus personagens: Mané Beradeiro, Leiturino e as obras publicadas, quer sejam os folhetos de cordéis, bem como o livro infantil "Doutor Buti", praticamente com a primeira edição esgotada, totalmente vendida em sua maioria no seio das escolas, sem deixar nenhum exemplar em livrarias.
Entre as tantas homenagens que recebi não posso esquecer a manhã vivida na Escola Municipal Íris de Almeida - Monte Castelo - em Parnamirim/RN. Quando cheguei a escola fui logo orientado para ir à biblioteca e lá me deparei com um grupo de crianças, todas fantasiadas com as personagens do livro infantil "Doutor Buti", um trabalho lindo da Professora Mediadora de Leitura, Francilene Nunes
O cão Miguel |
A barata |
A lagartixa |
O camaleão |
Jacqueline, os alunos fantasiados e Francilene Nunes |
Na Escola Municipal Homero Dantas - Nova Esperança - Parnamirim/RN, tive mais uma vez a alegria de ficar ao lado de Lucas Marques, ilustrador do livro "Doutor Buti", oportunidade em que fomos carinhosamente recebidos por aquela equipe maravilhosa. Autografamos os livros para alunos e professores
Com Lucas Marques |
Foi também na Escola Homero Dantas que eu recebi uma declaração que todo escritor gostaria de ouvir: Fabio Luan, que não é aluno daquela escola, sabendo que eu estaria lá, pediu para ganhar de presente o livro infantil. A irmã Luana fez economias e deu o presente tão esperado. Dele ouvi: "Francisco Martins, quando eu crescer quero ser um escritor igual a você". Não tive como segurar a emoção, meus olhos me traíram, e as lágrimas rolaram molhando minha face de alegria.
Fábio Luan e sua irmã Luana |
No CMEI - Maria Leonor, as apresentações de Leiturino foram nos turnos matutino e vespertino, com um público de idade pequenina, mais cheio de encanto.
Em Natal, a Escola Municipal Professor Belo Monte também me deu grandes emoções. Estive lá na pele de Mané Beradeiro, falando das coisas do Nordeste, do cordel, dos causos, etc. Vi o quanto os alunos se debruçaram sobre meus folhetos e o "Doutor Buti". Foram também duas apresentações, manhã e tarde.
E quando eu pensava que nada mais poderia me surpreender, chega a aluna Alicya, mostrando-me a paródia que fez da prosa poética "O Cordel da Salvação". Olha só como ficou a primeira estrofe:
Alicya |
Esperei ansiosa a assinatura ganhar.
O Mané Beradeiro diz em nordestinês:
-Se aprochegue mininha, seu sonho vou realizar.
Meu coração disparou, não houve comparação,
nem os oceanos juntos, nem meu Nordeste todo.
Nada pode superar o que ouvi,
vocês podem acreditar.
São momentos como estes que me dizem eu ser um homem realizado e feliz em tudo o que faço.
Encerrei a semana, adentrando no Complexo Educacional da Escola Doméstica/Henrique Castriciano, onde no sábado pela manhã dei um testemunho do meu trabalho como cordelista, escritor, contador de histórias e leitor, aos alunos do Fundamental II, dentro do evento Literatura em Cena, um projeto desenvolvido pela equipe de Língua Portuguesa daquela instituição. Depois da minha fala teve uma sessão de autógrafos nos folhetos de cordéis e nos livros. Nem precisa dizer o quanto me senti feliz ali no meio daquela juventude e dos mestres, principalmente porque pude contar um pouco da poética história de Dindinha, aquela que usava uma saia de merinó, e que foi a avó de Auta, Eloy e Henrique Castriciano. Aqui, como também nas demais, as fotos falam por si.
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UMA RUSSA NA MINHA VIDA
Condessa de Segúr |
Eu confesso que nem sabia que ela tinha nascido tão longe, muito longe daquele lugar chamado Fazenda Santa Maria, no município de Ceará Mirim, onde eu vivia meus nove anos. O nome dela era Sophie Feodorovna Rostopchine, mais conhecida pelo título de A Condessa de Segúr. Nasceu no dia 1 de agosto de 1799, em São Petersburgo na Rússia, e faleceu em 9 de fevereiro de 1874, na cidade de Paris, França. Noventa anos depois da sua morte foi que eu nasci, e foram precisos mais nove anos para que eu tocasse num livro escrito por ela. Meus pais chegaram em casa com um presente diferente, aquele livro, o primeiro que ganhei em minha vida. Creio que meus pais já me viam como uma criança inclinada à leitura.
O livro era este: Braz e a primeira comunhão. Ainda tenho guardado em minha pequena biblioteca esta preciosidade. Braz tem algumas semelhanças com a criança que eu fui: vive numa fazenda, é pobre, seus pais também são agricultores e ele tem um coração voltado para o bem e sempre disposto a perdoar. Ah! os livros e seus habitantes. Eis-me aqui crescido, quarenta e quatro anos se foram daquela leitura. Meu mundo é outro, tudo mudou, mas o de Braz permanece o mesmo, imutável. Continua lá, escrito do mesmo jeito, fiel desde a primeira edição.
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quarta-feira, 23 de agosto de 2017
ALEX MEDEIROS É O MAIS NOVO INTEGRANTE DO CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA
Alex Medeiros, jornalista, tomou posse no Conselho estadual de Cultura, em sessão na tarde de ontem, terça-feira, dia 22 de agosto de 2017. O mandato do mais novo membro do CEC/RN vai até o dia 21 de agosto de 2023 ( seis anos).
Momento em que o Conselheiro assina o termo de posse e compromisso. Desejo a Alex Medeiros sabedoria junto aos demais colegas desse Colegiado e que ele venha somar na defesa da cultura do Rio Grande do Norte.
Momento em que o Conselheiro assina o termo de posse e compromisso. Desejo a Alex Medeiros sabedoria junto aos demais colegas desse Colegiado e que ele venha somar na defesa da cultura do Rio Grande do Norte.
segunda-feira, 21 de agosto de 2017
COMENTANDO MINHAS LEITURAS - HISTÓRIAS SEM DATA
Nunca é tarde para ser apresentado a Machado de Assis. Ele é um dos maiores escritores da literatura brasileira, senão o maior. Ler sua obra, isto é, todos os seus livros, é uma oportunidade de aprender muito. Em março deste ano reli HISTÓRIAS SEM DATA, uma coletânea com dezoito contos, que teve sua primeira edição em 1884, pela Garnier - Rio de Janeiro. Alguns são bem conhecidos do público, como por exemplo: "A Igreja do Diabo", diga-se por sinal atualíssimo em relação a situação das igrejas, parece até um conto profético. "Singular Ocorrência" é outro conto muito bem escrito e "As academias de Sião", no qual o autor mostra porque há homens femininos e mulheres másculas, são ao meu ver os três melhores desse livro. Machado de Assis ainda não foi descoberto pelos leitores brasileiros, em sua grande maioria. Alguns já ouviram falar sobre ele, sabem dizer os títulos mais famosos por ele escritos, mas não chegaram a mergulhar no conhecimento do vasto conjunto da sua obra literária. Ainda é tempo de estender a mão a este velho e bom escritor que o Rio de Janeiro nos deu.
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ASSIM DISSERAM ELES ...
Joaquim Fagundes - 1856 a 1877 |
a seguir pressurosa os passos meus!
Mas, é tão cedo ainda! Sinto na alma
Tanto fogo e amor! Tanta esperança!"
Joaquim Fagundes - morreu em Natal no dia 21 de agosto de 1877, aos 20 anos, 5 meses e 2 dias. Ele é o patrono da cadeira 14, na Academia Norte-rio-grandense de Letras . Foi dramaturgo, jornalista, poeta, advogado e compositor. A cadeira 14 é atualmente ocupada por Armando Negreiros.
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domingo, 20 de agosto de 2017
TESTEMUNHA
Eu ainda vi seus últimos momentos
Sou testemunha da sua partida!
Morreu atropelada no trânsito.
Rolou, tentando não
se esmagada.
Foi tudo em vão.
Dela sobrou tão somente uma pasta.
Um catador de alumínio a levou.
Foi mais uma lata que se unia as outras.
O sangue negro do imperialismo não morre!
Francisco Martins
05.05.2017
UM FRADE EM NOME DA IGREJA CATÓLICA CENSUROU A LITERATURA
Você sabia que no Brasil, a Igreja Católica promoveu a censura sobre a literatura? Isso aconteceu no início do século passado e a lista dos livros proibidos aos leitores foi feita pelo Frade Pedro Sinzig, um intelectual pertencente a Ordem dos Franciscanos Menores -OFM, que foi escritor, jornalista, professor, músico e palestrante. Publicou mais de 40 títulos, além de inúmeros artigos em jornais e suplementos. O livro organizado por ele que censurava as obras literárias no Brasil, tinha como título "Através dos Romances", sendo lançado em 1915 e a segunda edição em 1923. Brevemente estarei com um artigo sobre esse tema. Aguarde.
Imagem do Frei Pedro Sinzig disponível em: http://www.franciscanos.org.br/?page_id=909. Visualizada em 19.08.2017
Imagem do Frei Pedro Sinzig disponível em: http://www.franciscanos.org.br/?page_id=909. Visualizada em 19.08.2017
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sábado, 19 de agosto de 2017
A GRANDE PESQUISA
Professora Conceição preparou para aquele
semestre um seminário que iria homenagear os nomes dos escritores do Rio Grande
do Norte. Dividiu tarefas entre seus alunos. Poesia, conto, crônica, biografia, ensaio, etc. Cada
grupo ficaria responsável por um gênero literário e nele deveria trazer ao
plenário um pequeno histórico sobre os maiores nomes e a bibliografia do
assunto. Era trabalho de pesquisa e muita leitura.
Entre os alunos houve um que chegou
à Professora Conceição e disse:
-Professora, gostaria de fazer uma
pesquisa para este seminário de história da literatura potiguar sob outro prisma.
-Qual?
-Tenho a idéia de escrever um ensaio
sobre a história da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras - ANRL. São oitenta
anos de presença em nosso meio a ser celebrada este ano de dois mil e
dezesseis.
-Interessante! Fale-me do que você
pretende pesquisar.
E o aluno explicou detalhadamente
tudo que estava organizado em sua mente. Foram quase dez minutos de explanação
sobre o projeto. Professora Conceição aprovou a idéia e autorizou o mesmo a
torná-la concreta.
O tempo era curto e o desafio grande
para realizar aquela pesquisa que sem dúvida viria a contribuir com a história
da literatura no solo potiguar. Eram tantas as perguntas que povoavam a mente
daquele estudante! Que segredos teria a ANRL? O que não se sabe sobre sua
história? Em oitenta anos de existência o que ela vez pela cultura local? Não
seria apenas um clube social?
Para respondê-las a alternativa era
mergulhar no campo da pesquisa. Ler tudo que foi escrito sobre a instituição,
conversar com os acadêmicos, beber nas páginas da coleção da revista da ANRL,
ir às atas. E foi exatamente assim que a
coisa aconteceu; durante três meses, o
aplicado aluno passou suas manhãs na sede da Academia. Tinha fome de conhecimento por tudo que dizia
respeito àquela octagenária instituição. Tornou-se amigo de Manoel Onofre
Júnior, escritor acadêmico, Diretor da Revista da ANRL.
Os dias úteis de segunda a sexta não
era tempo suficiente para suas leituras, começou a levar para casa livros que
seriam estudados no final de semana. Sua mente estava cheia de nomes de
escritores, dos mais variados gêneros, nomes de ontem e de hoje, alguns bem
lembrados, outros sequer referenciados na memória coletiva. Com tanta leitura,
tantas informações, o aluno vivia e respirava a história da ANRL.
Vivia, respirava e até mesmo já
começava a sonhar com a própria Academia, pois nem dormindo se via livre dela. Primeiro sonhou que estava na casa de Câmara
Cascudo, o fundador, e ali, escondido entre as estantes da “Babilônia” viu quando dona Dálhia anunciou a chegada de Aderbal
de França. Era uma tarde de domingo, e a
folhinha marcava 9 de agosto de 1936. Naquele sonho o aluno escutou toda a
conversa que Cascudo teve com Aderbal, o famoso Danilo das crônicas sociais.
No dia seguinte, tão logo acordou
ficou pensativo se o sonho fora invenção ou se realmente aquela reunião tinha
acontecido. Qual não foi sua surpresa quando leu um artigo de Otto Guerra
escrito na revista da ANRL e que dizia ter havido aquela reunião.
Nosso aluno ficou espantado. Teria
ele algum poder sobrenatural? Como soube daquela data, ano, local e turno da
reunião? Estranho. Será que sua sede de conhecimento sobre a História da ANRL
estava recebendo ajuda do além? Mas, logo com ele que era tão cético nestas
coisas espirituais. Tudo talvez não
tenha passado de uma grande coincidência. Sim, foi isso que aconteceu, pensou o
estudante.
Pegou o ônibus e se pôs a caminho da
sede da ANRL, pagou a passagem e sentou-se. Na poltrona ao lado já se
encontrava um jovem com semblante de anjo, cabelo penteado para trás, olhar
extremamente sério, rosto bem barbeado. Saudou o jovem pesquisador:
-Bom dia! Indo à universidade?
-Bom dia! Não. Vou dá continuidade
numa pesquisa que, já faz algum tempo,
vem preenchendo meus dias.
-Qual é o assunto? Desejou saber o
jovem com semblante angelical.
-É sobre a história da Academia Norte-Rio-Grandense de
Letras. Conhece?
Ele limitou-se a sorrir e disse que
sim. Sabia um pouco sobre ela, respondeu modestamente. Enquanto o ônibus corria
ruas acima e abaixo, a conversa entre eles tornou-se prazerosa. Falaram de
contos, um pouco de poesia e outros assuntos. Estava próxima a parada da ANRL.
Antes de sair ele disse seu nome àquele jovem de olhar tão sério, compenetrado,
como quem vivia numa esfera espiritual constante.
-Vou descer na próxima. Qual é o seu
nome?
Um freio brusco foi o suficiente
para desencadear um ataque de tosse naquele moço que ele conheceu. Era tão
forte a tosse que imediatamente fez uso de lenço e simplesmente com um gesto
disse adeus.
Enquanto caminhava rumo a sede da
ANRL pensou no rosto daquele jovem que não teve tempo de dizer seu nome. Guardou sua fisionomia na esperança de reavê-la
brevemente, quem sabe numa manhã próxima. Entrou na sede na Academia e deu
continuidade à sua pesquisa. Focou nos patronos, quarenta nomes de homens e
mulheres que marcaram a história do Rio Grande do Norte.
O estudante estava animadíssimo com
os textos que ia lendo sobre o traço biográfico dos patronos. Agarrou-se ao livro “Patronos e Acadêmicos” de
Veríssimo de Melo e cada página que se abria para ele era como uma porta do
vasto mundo dos homens e sua história. Naquele dia ele não se dedicou a outro
tema. Ao final da tarde foi ao salão nobre da Academia e ficou contemplando os
quadros dos patronos. Fez isso devagar, degustando cada momento diante da
pintura, e pensando sobre cada um deles.
Frei Miguelinho, o herói cívico; Nísia Floresta, a feminista do Brasil; Conselheiro
Brito Guerra, grande magistrado; Lourival Açucena, o primeiro poeta do Rio
Grande do Norte ... Seus olhos miravam a imagem e o cérebro, imediatamente, evocava
o que cada um tinha sido.
Na ordem cronológica dos patronos, o
aluno já estava chegando ao final, via agora o patrono Luís Antonio, cadeira
38, depois Damasceno Bezerra, cadeira 39 e quando seus olhos se debruçaram
sobre o quadro do patrono da cadeira 40, ele teve um grande susto, gritou e
saiu correndo escada abaixo, numa atitude desesperada. Quase cai. Acudiram o
jovem, Evane e Marlucia, e ele, pálido,
branco e frio como mármore, respirava ofegante.
Marlúcia abanava o rapaz. Evane
deu-lhe água e ambas perguntavam o que ele tinha visto. Os olhos dilatados, o
coração batendo acelerado, a adrenalina correndo nas suas veias, impediram-no
de falar.
-Será que foi um ladrão? Comentou
Marlúcia.
Ele com o indicador gesticulava,
negando. Bebeu a água, respirou e as primeiras palavras vieram...
-Era ele, ele, o rapaz com quem
conversei no ônibus hoje pela manhã.
-Ele quem, criatura? Indagou Evane.
-O patrono que vi lá em cima.
Marlúcia sentenciou:
-É o quê dá estudar muito, ler
demais. Termina ficando abilolado. Tadinho!
Evane reprovou com o olhar aquele comentário.
Levou o jovem para o jardim e se pôs a
conversar com ele. Tudo que ele falou, realmente, levava a crer que tivera uma
experiência sobrenatural com Afonso Bezerra, jovem patrono da cadeira 40,
falecido em 1930, aos 23 anos de idade.
Em casa compartilhou com os seus
pais aquela experiência inesquecível. Sua mãe repetiu as palavras que foram
ditas por Marlúcia. Ele retrucou:
-Não é nada disso, mamãe! Eu
realmente conversei com ele no ônibus.
E a noite veio. Chegou trazendo o
vento frio, vindo do mar, peneirado pela vegetação das dunas e que entrava pela
janela do quarto daquele estudante que, deitado em sua cama, pensava nos últimos acontecimentos. As lufadas de ar provocavam um ruído nas
dobradiças da janela. Pareciam sons fantasmagóricos. Ele levantou-se, fechou-a e voltou a
deitar-se.
Ao seu lado, deitou-se também a
insônia. Usavam o mesmo lençol, tinham os mesmos olhos. Abertos, fitando o
nada, ouvidos atentos a qualquer barulho que pudesse ser provocado naquela
noite. O tempo passou muito devagar, madrugada densa. Um galo cantou ao longe e
esperou que outro apanhasse seu canto para tecer a madrugada, como bem disse o
poeta João Cabral de Melo Neto.
Precisava dormir. Sono não chegava.
Tomou chá, esperou o efeito. Teve a ideia de contar “carneirinhos”, só que ao
invés de carneirinhos que pulavam a cerca, o jovem brincou de serem escritores
passando pelo portal da ANRL: Adauto Câmara 1,
Henrique Castriciano 2, Otto
Guerra 3 ...Juvenal Lamartine 12... E deu certo. Não conseguiu chegar aos
quarenta. Seus olhos pesaram e o lençol não mais estava sendo dividido com a
insônia.
Dormindo, o moço relaxou. E nada
mais perigoso do que a bambeza corporal. Sonhou, e se viu num outro mundo, numa terra mítica e
lendária. Nela, as ruas eram todas
calçadas com rapadura, os bancos das praças forrados com mantas de
carne-de-sol, os colchões das camas de casal eram todos de queijo de coalho.
Durante o dia a cidade recebia a luz vinda dos clássicos. Cada dia, a folhinha
trazia uma obra inesquecível. À noite, boêmios, poetas, músicos e artistas em
geral se entregavam aos prazeres da boa música e da leitura.
No centro daquela cidade, o coração:
uma grande biblioteca. Imensa, o templo que celebrava a imortalidade. Todo
aquele acervo era organizado por Câmara Cascudo, que contava com o apoio dos
escritores Oswaldo Lamartine, Veríssimo
de Melo e Deífilo Gurgel. Estantes douradas, livros de todos os tempos e
lugares, escritos em todas as línguas, mas, com um detalhe: qualquer um podia
lê-los. Bastava tocá-los e imediatamente o texto assumia a versão do idioma do
leitor.
O sonho era delicioso, mas foi
interrompido por um grito da mãe:
-Acorde! Já chamei três vezes e você
não se levanta. Vai perder o ônibus.
Pulou da cama, tomou um rápido café,
estava ansioso pelo fechamento da sua pesquisa. Trabalhou com obstinação. Na data marcada fez
uma belíssima apresentação. Ao final, aplaudido pelos colegas e a Professora Conceição,
recebeu nota dez, e escrito na primeira página do ensaio estava o seguinte
texto da sua mestra:
Ao aluno Thiago, que trouxe à nossa sala, a
história da Academia Norte-rio-grandense de Letras, nosso reconhecimento pela
pesquisa e votos de que continue amando cada vez mais a literatura que brota
neste solo potiguar.
Francisco Martins
Parnamirim
–RN 19 de agosto 2016
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