sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

TORPEDO DE MANÉ BERADEIRO 035/2018




 João Leso*  bem lembrou: "Quem se agarra sem ter unhas está no risco de cair", e para garantir  esse dito popular venha cá e fique lá, mas não esqueça da Palavra que vive a exortar: O SENHOR é a minha luz e a minha salvação; de quem terei medo? O SENHOR é a fortaleza (Salmo 27, versículo 1)


* Personagem do cordel "Como João Leso vendeu o bispo" de Leandro Gomes de Barros

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

SOBRE O CAFÉ MAGESTIC






Mas a casa de diversões mais importante deste bairro foi o “Café Magestic” que teve vida quase centenário. Primeiro, com o nome de “Potiguarania”, nele se reuniam os poetas, prosadores e intelectuais do fim do século passado para começo do atual. Este Café já foi descrito pelos nossos historiadores. Depois surgiu o Magestic no mesmo local do outro e ficava na esquina da rua Vigário Bartolomeu, nº 549 com a rua Ulisses Caldas, nº 101. O prédio ainda é o mesmo, tendo sofrido apenas modificações internas. Imóvel, baixo e feio, mas ao gosto da época de sua construção. A única coisa interessante na sua arquitetura é a coluna curva na esquina do prédio.

O “Magestic” tem muitas estórias, nas diversas épocas de muitas gerações. Mas o período mais vibrante, mais cheio de vida, onde a boêmia e o bom humor dominavam o tradicional Café, foi, mais ou menos, entre os anos de 1919 a 1935. Os fatos, as anedotas e as peças verificadas e planejadas ali dariam para grosso volume, sendo que algumas não poderiam ser escritas tal a irreverência do ocorrido, mesmo porque alguns autores já foram para o outro mundo.

Na época acima citada, encantava o Magestic o respeitável grupo de poetas, escritores, intelectuais e de bons bebedores e comedores: Jorge Fernandes, Francisco Madureira, Baroncio Guerra, Valdomiro Dias, Pedro Lagreca, José Laurindo, Teodorico Guilherme, João Carvalho Cruz, Américo Pinto, Eurico Seabra, Francisco Pignataro, Lustosa Pita, Damasceno Bezerra, Luis Maranhão e muitos outros. Todos amigos e “irmãos da opa”. Ninguém tinha o direito de ficar aborrecido, por mais pesadas que fossem as brincadeiras.

Assim é que o Francisco Madureira foi vítima de uma peça que quase o levou ao cemitério. Madureira era baiano e, como tal, gabava-se de ser grande comedor de pimenta. Foi-lhe armada uma cruel cilada. Adquiriram no Mercado, que ficava próximo, um pacote de pimenta malagueta e mandaram preparar porco assado, camarão, etc. À noite, quando Madureira chegou, formaram uma grande roda e a cerveja jorrou sem parcimônia. Quando Madureira já estava com umas “200 libras”, veio então a questão da Bahia e pimenta. Um da roda disse que Madureira era um falso baiano, porque não comia pimenta como um baiano autêntico costuma fazê-lo e era assim um baiano desmoralizado, o que foi aprovado por todos os outros. Madureira protestou aos gritos e disse que iria provar como ele era baiano legítimo. O homem, coitado, caiu na esparrela. Pediu pimenta e veio um prato cheio. Começou então a devorar camarões e mastigando pimenta. Quando então folgava um pouco, os amigos da onça diziam: “Só isso! Fulano de Tal, que não é baiano, come muito mais”. E o infeliz Madureira comia mais pimenta e quando parava um pouco vinha a mesma alegação. Pimenta, pimenta e pimenta. Com pouco tempo, o homem, como se diz a gíria: “botou pra morrer”, sufocado, agoniado e com os olhos querendo sair das órbitas. Foi então levado para sua casa e passou vários dias muito doente. A turma teve, no Magestic, vibração por muitos dias.

De outra feita, o imortal Jorge Fernandes estava tomando umas e outras quando apareceu um homem vendendo, em uma gaiola, um galo-de-campina cantador. Jorge chama o homem e pergunta quanto custava o concriz. O homem responde que o pássaro não é concriz e sim um galo-de-campina. Jorge Fernandes retruca que o bicho é um concriz e o vendedor reafirma que é um galo-de-campina. Ora, Jorge, velho conhecedor de pássaros, sabia que o animal era realmente um galo-de-campina, e então, convida o homem para sua mesa, e dá logo a ele uma grande “talagada”. A conversa animou-se ainda mais quando Jorge recita aqueles versos maravilhosos, inclusive o “Banho da Cabocla”. Quando o vendedor já estava “com meio lastro” levantou-se para ir embora e então Jorge Fernandes disse: “Vá amigo vender seu galo-de-campina”. Aí então o vendedor que havia recebido tantas atenções e mais ainda encantado com a palestra de Jorge Fernandes, disse: “Não, doutor. Agora é que reparo bem: o passarinho é mesmo um concriz”.

Outra ocasião, também no Magestic, estava uma vasta roda de “comes e bebes”, quando chega um homem, amigo da turma, que era dono de um barracão na antiga feira externa do velho Mercado da Cidade Alta. O homem lamentava-se então do fiado, que estava acabando com seu negócio. O poeta Jaime Wanderley, que nesta época gostava de cerveja e já “meio triscado” disse: “O amigo precisa de colocar um aviso em seu barracão para acabar com o fiado. Quer um aviso?”. O comerciante então disse que aceitava com muito gosto. Jaime, então, tomou de um pedaço de papelão e escreveu:

Pra que não haja transtorno

Aqui no meu barracão,

Só vendo fiado a côrno,

Fela da puta e ladrão.

O homem colocou o aviso e o fiado acabou-se.

O Café Magestic ficava em um ponto muito movimentado porque estava bem em frente ao “Royal Cinema” e à noite o movimento era grande. Bem na esquina do Magestic fazia ponto com sua carrocinha, o sorveteiro português “Seu Silva”, que ali trabalhou por muitos e muitos anos, até a data do seu falecimento.

Nunca Natal tomou um sorvete tão bom e exclusivamente de frutas, sem qualquer complicação dos sorvetes hoje usados.

O Magestic era também o “quartel general” da brigada de choque comandada pelo jovem Renato Wanderley, hoje próspero homem de negócios residente na Guanabara.

Naquela época, como se sabe, o transporte era quase que exclusivamente marítimo, e como sempre havia navio no Pôrto, os passageiros saíam para conhecer a terra. Também naquela época os passageiros, principalmente, os rapazes eram mal-educados e quando chegavam em uma cidade pequena como a nossa era para esculhambar. Hoje se diz: “bagunçar o coreto”. Natal, então, cidade pequena e pobre, era vítima daqueles canalhas e até as moças sofriam pilhérias quase sempre grosseiras. Chafurdavam toda a cidade. Bondes, cafés, jardins e cinemas. Renato que era rapaz vivo, valente e, sobretudo, muito querente de Natal, resolveu tomar uma providência, já que o policiamento era muito benevolente. Escolheu uma dúzia de rapazes dispostos, deu instruções e esperou os acontecimentos. Assim, quando havia vapor no Cais, principalmente à noite, Renato ficava na espera e destacava uma pessoa para acompanhar de longe os viajantes, isto é, saber se estavam ou não bem comportados. Quando, então, os mal-educados começavam a esculhambação, o vigia corria para o Magestic e dava o alarme. Renato então descia com a brigada de choque e o braço comia. Depois da refrega eram levados para o Cais Tavares de Lira e obrigados a embarcar. Às vezes a luta era grossa porque do outro lado também havia gente valente. Aí então a polícia aparecia e dava uma mãozinha ao Renato. O fato é que, em pouco tempo, a notícia correu mundo e os canalhas desapareceram. Renato prestou assim inestimáveis serviços a Natal e à família natalense. Entretanto, Renato não recebeu nenhuma condecoração. E há por aí tanta gente com medalha ao mérito sem nenhuma ação prestada com o risco de suas ventas.


Observação: Crônica copiada do livro Natal que eu vi, de Lauro Pinto. Imprensa Universitária - Outubro  1971.




segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

COMENTANDO MINHAS LEITURAS DE CORDEL: CHICO CATATAU



CHICO CATATAU - UM CANGACEIRO DIFERENTE

O cordel narra a história de Francisco Marival, o Chico Catatau, personagem fictício, criado pelo poeta Izaías Gomes, que está distribuída em 108 páginas, através de dez capítulos e 480 estrofes em sextilha.  A narrativa do texto se dá na terceira pessoa, com o narrador presente no espaço das cenas, mas sempre um pouco distante,  o suficiente para tudo ver e narrar: “O recém falava fino/ Um pouquinho atrapalhado/ Eu que era bem menino/ Me lembro do apurado/ Vendo o povo feito ruma/Correndo desembestado” ( estrofe 16, p. 8. Grifo nosso).  Esta presença é também sentida pelo Chico Catatau a ponto dele manter o desejo de se comunicar com o narrador:
                           
                                 Catatau inda clamou:
                               -Me acuda Ave Maria!
                               Me ajude nessa hora
                               Ou o autor da poesia
                               Se ele não mudar o verso
                               Morrerei nessa agonia
                               (ASSIS, 2014, p. 73)

Para criar o enredo dessa história, que é preciso afirmar ser muito bem montado, o autor Izaías Gomes deu vida a mais de vinte personagens. Chico Catatau – um cangaceiro diferente está como obra literária poética, dentro do contexto do cordel no Rio Grande do Norte, como uma das principais obras de gracejo/valentia,, assim como “As Pelejas de Ojuara” de Nei Leandro de Castro, está para a prosa potiguar.

Izaias Gomes
A história tem como berço o povoado do Ingá, no município de Montanhas-RN. E é nesse torrão potiguar que as cenas acontecem e continuam até Catatau partir para a dimensão espiritual, quando passa a transitar pelo Céu, Inferno e Purgatório. Todo autor deixa sempre um pouco do DNA dos seus conhecimentos nos textos que ele escreve, isso é normal, pois tudo quanto escrevemos, seja em prosa ou poesia, há nas entrelinhas aquilo que pensamos e lemos.  Com o poeta Izaías Gomes não foi diferente, é bem forte a existência do seu pensar, no tocante a religião.
A história de Catatau contém várias estrofes, nas quais o sentimento religioso do protagonista é conflitante com o sentimento do narrador. A própria cena inicial tem como palco o espaço sagrado de uma capela, onde a criança nascerá.  Ao longo da narrativa não serão poucas as vezes em que Catatau estará demonstrando seu sincretismo religioso, mesclando a fé católica com práticas do culto afro-brasileiro.  Se por um lado é notório este comportamento, que nada mais representa do que a realidade popular na qual está inserido Catatau e sua família, como elementos que retratam a fé ora vivida dentro do mundo católico, ora através do ritual afro-brasileiro. Vejamos a resposta que Zacarias, pai de Catatau dá ao Padre  Téo no tocante a consulta do xangozeiro:
                               -Padre, sei que somos falhos,
                               Nós todos perante Deus;
                               Pois eu tenho alguns pecados,
                               Seu vigário tem os seus,
                               Então fique com os vossos
                               Que fico aqui com os meus
                               (ASSIS, 2014, p. 27)

E é exatamente nessa estrofe, onde o poeta narrador, através do eu lírico, arremete suas setas, deixando claro seu posicionamento no tocante à fé, é  o conflito que citei acima. Nasce ali uma sequência de mensagens subliminares, presentes ao longo do poema, onde somente um leitor mais experiente irá perceber ou então se perguntar quando na última página ler a declaração que faz o autor.   Finalmente, podemos assegurar que o cordel, ora resenhado nos ensina que nada é perdido para sempre. Há uma esperança e o bem vence o mal, aliás, uma constante em outros poemas de cordel.
Um texto poético precisa apresentar três características: subjetividade, emoção e lirismo.  Junte-se a isso, que se tratando de um poema em cordel, é indispensável que haja também rima, métrica e oração.  No tocante às três primeiras características é bem fácil detectar a subjetividade e a emoção. Mas e o lirismo? É possível encontra-lo em Chico Catatau? Leia o livro e tente descobrir.
 Conclui o poeta Izaias Gomes prometendo que a história termina aqui, por enquanto, mas que ele irá escrever outra vez sobre Chico.
Gostaria de trazer a essa resenha, algumas considerações que acho importantes e ao meu ver enquanto leitor, terminam afetando a estética do texto poético. São elas:

1)      O uso da palavra orgia (p. 7), embora ele esteja  empregada de forma correta, que neste caso significa desordem, anarquia, tumulto.

2)      Na 13ª estrofe, p. 8, o poeta usa a expressão: “ já tando raiando a luz”. Creio que se ele  tivesse usado o verbo sem ser na forma contraída o verso ficaria melhor:  Estando raiando a luz. Como se vê sem quebra da métrica.

3)      Expressões coloquiais:  O uso do verbo estar, em sua forma contraída, na expressão coloquial é uma constante ao longo do texto. Encontramos várias vezes:  tando” ( p. 8, );  “tava” (p. 8, 17, 24, 34, 44, 46, 60, 65, 71, 76, 88 ...); “tô” (p. 41),  em outras estrofes (p. 66, 106)) e as vezes dentro da mesma (p. 34 )  encontramos as formas culta e a coloquial. Isso se aplica também ao  advérbio de negação, não, que  é  usado nas duas formas. Exemplos:

              não era para voar” (estrofe 214, p. 52)
“ele aprontou outras coisas,/que não pude enumerar” (estrofe 217, p.53)
num acertava em ninguém” (estrofe 219, p. 53)
O portão tinha selado/ Pra meu Chicão num entrar” (estrofe 374, p.88)
Quem sabe eu num revelo” (estrofe 478, p. 108)

Essa oscilação entre as linguagens coloquial e a culta não  considero errada, mas penso que o autor poderia ter optado apenas por uma.

4)      O verbo vir foi um gargalo no texto, o autor usou  “vim” quando deveria usar “vir”. “Dizendo:-Pode vim todos ...” (estrofe 54, p. 17) , “-Quem for macho pode vim” ( estrofe 413, p.96), “-Como é que pude vim” ( estrofe 458, p. 104). Teria sido um erro de digitação?

5)  O cordel tem ao todo  2.880 versos, nos quais 1.440 versos estão rimando  da seguinte forma: o segundo, o quarto e o sexto,  é o que chamamos rima xaxaxa.  O poeta Izaias Gomes foi brilhante nas rimas, deixando  a desejar apenas a estrofe 13, p 8, onde ele rimou luz/cruz/cruz .

Era de madrugadinha
Já tando raiando a luz
o menino atravessado
Saía como uma cruz
quando o padre viu o peste
Fez logo o sinal da cruz
Os  cordelistas sabem que não fica bem ter rimas repetidas numa mesma estrofe.

Há outras frases que trazem erros gramaticais, o que infelizmente vai tirando o brilho da beleza estética do poema.


Mané Beradeiro

Referência:
ASSIS, Izaias Gomes de. Chico Catatau - um cangaceiro diferente.  1ª ed. Parnamirim: Isvá Editora, 2014.

Imagen de Izaias - disponível em < https://www.google.com.br/search?q=chico+catatau+um+cangaceiro+diferente&dcr=0&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwib8fDO5bTYAhWEDJAKHT4VBgMQ_AUICigB&biw=1366&bih=635#imgrc=bJ_JRx2RkfAouM:> Visualizada em 31 dez 2017.


QUERO DOM MARCOLINO DANTAS NO MAPA DO RN

Dom Marcolino Dantas é um pequeno povoado que faz parte do município de Maxaranguape-RN, distante da capital aproximadamente 50 km, no sentido do litoral norte, chega-se lá partindo de Natal, através da BR 406 até a cidade de Ceará Mirim e depois segue na RN 064, onde logo depois da travessia  do Rio Maxaranguape, no primeiro  posto de gasolina à esquerda, é a entrada que dá aceso a Dom Marcolino Dantas. O local tem esse nome em homenagem àquele que foi o primeiro Arcebispo do Rio Grande do Norte, Dom Marcolino Dantas, baiano.

Dom Marcolino - o Arcebispo
Um povoado sem expressão cultural, sem importância econômica, sem riquezas minerais, mas um lugar cheio de encantamento e de pessoas maravilhosas. Estive lá no dia 27 de dezembro último, quando fui visitar minha irmã. Revi as ruas de Dom Marcolino, largas, ainda com aquele ar interiorano, cheias de árvores.  Caminhei à noite, sem muita preocupação, embora saiba que ali também já chegou a violência desenfreada que galopa pelo Rio Grande do Norte.
Voltei no dia seguinte, já com vontade de retornar o mais breve possível e poder aproveitar mais daquele lugar. Prometi a mim que em 2018 irei mais vezes ali. Tentarei escrever um ensaio histórico daquela comunidade, inclusive visitando algumas pessoas que ainda estão lá e foram colunas da fundação do povoado.  A toponímia  é algo muito importante para a identidade de um povo, uma cidade.  E é aqui onde quero fazer meu registro  e pedir aos vereadores de Maxaranguape que tomem providência junto ao DNIT - Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes - mais especificamente  no Rio Grande do Norte  para que solicitem que o nome do povoado DOM MARCOLINO DANTAS apareça no mapa do Rio Grande do Norte com o nome real, e não da forma que lá aparece, conforme consta no site do DNIT, endereço eletrônico abaixo, com a nomeclatura de  Dom Eugênio. Veja a foto:

Com base em quais documentos ou informações o DNIT chegou a esse nome?  Pelo que eu sei, Dom Eugênio Sales foi o primeiro nome  dado a Punaú, que também foi outro povoamento, fruto de um programa de reforma agrária, realizado pelo INCRA, nome que sempre foi renegado pelo povo, que preferiu continuar chamando Punaú, e assim ficou. Sabemos que Dom Marcolino é pequeno, mas mudar o nome é uma atitude no mínimo zombeteira com os seus habitantes.


http://www.dnit.gov.br/download/mapas-multimodais/mapas-multimodais/rn.pdf. Visualizado em 1 de janeiro de 2018

sábado, 30 de dezembro de 2017

BALANÇO CULTURAL DAS AÇÕES REALIZADAS EM 2017

O Palhaço Leiturino fez na tarde de hoje, na Igreja Batista de Natal, na Rua Mossoró,  a última apresentação de 2017. Foi um momento cheio de encanto e alegria, com proposta evangelizadora aos pequeninos.



 Agora é a hora de fazer a última postagem de 2017. Um ano que à semelhança dos demais eu tenho muito que agradecer a todas as pessoas que acreditam em meu trabalho, neste projeto que chamo Momento do Livro e caminha para o Xº ano, quando definitivamente eu irei encerrar as minhas atividades como ator e contador de histórias. Ficarei apenas na esfera da produção textual e da pesquisa.  Portanto, atenção, se em 2018 você pretende ter Mané Beradeiro ou o Palhaço Leiturino em sua escola, aconselho entrar em contato o mais rápido possível comigo, pois em 2018 eu farei apenas duas apresentações mensais, uma por quinzena.  Assim sendo, a agenda para o ano vindouro será aberta na terça-feira, dia 2.  Faça sua reserva, mesmo que não tenha a data definida do evento. Quem chegar na frente tem mais chances de conseguir a disponibilidade. E o ano de 2017 como será que ele foi para as atividades do Momento Livro? Vejamos:

Mané Beradeiro - 21 apresentações
Palhaço Leiturino  - 29 apresentações
Escritor Francisco Martins - 50 ações culturais
Carolina Cartonera -  6 ações culturais
Meu Pé de Laranja Lima - 1 ação cultural

Total geral:  107

Como escrevi  são muitos motivos para agradecer. Há pessoas que somam comigo e sequer aparecem nesses eventos. A elas eu quero externar meu sincero reconhecimento pelo carinho e dedicação que recebo de vocês.
Tomara poder contar com essa equipe em 2018.


COLEÇÃO LUIZ CAMPOS COMEÇA A CIRCULAR EM JANEIRO DE 2018

Existiu no Rio Grande do Norte um poeta por nome de Luiz Campos, cantador de viola, cordelista.  Luiz Campos já não está conosco. Deixou seus poemas. Para homenageá-lo eu criei uma coleção que vai levar o seu nome. A pretensão é divulgar poetas cordelistas, através dos seus poemas, junto a comunidade escolar. O primeiro  folheto da Coleção é da autoria de  Antônio Marcos Gomes Monteiro,  e tem como título Casa de Taipa.
O poeta Antônio Marcos é paraibano, nascido em Itabaiana, e reside atualmente no povoado Jacaré, Pilar. Ele é professor de Língua Portuguesa, e já tem outros títulos publicados em cordel.  A saber: O Papa Francisco no Brasil, O Cachimbo de Izaías, Preserve a terra florida cuidando da natureza, Branca Dias, Nos passos de Lampião, A feira de Caruaru e a feira de Itabaiana, além desse que faz parte da Coleção Luiz Campos, Casa de Taipa, que está na segunda edição.

Antônio Marcos - poeta
Quem tiver interesse em ter publicado seu trabalho pela Coleção Luiz Campos deve entrar em contato com Mané Beradeiro, atraves do telefone (084) 9.8719 4534 ou através do e-mail franciscomartinses@gmail.com

CASCUDO NASCEU




Hoje é a data natalícia de Luís da Câmara Cascudo, como acontece todos os anos eu presto minha homenagem a esse insuperável mestre da cultura.  O poeta Marciano Medeiros assim escreveu sobre ele:

Luís da Câmara Cascudo
Era um mestre inigualável
Que teve estilo incomum
E saber inesgotável
Foi na terra potiguar
Provinciano incurável

Quero também  fazer minhas sextilhas em louvor ao aniversariante, e fiz assim: 

CASCUDO NASCEU

Diz a lenda potiguar
Que quando Luís nasceu
Naquela Rua das Virgens
A terra estremeceu
Tamanha foi  alegria
Pelo que aconteceu

No plano material
Quase nada se notou
Foi apenas um menino
Que na cidade chegou
Mas na esfera celeste
Um anjo assim cantou:

Nasce agora em Natal
Aquele que vai fazer
Vaqueiro ser estudado
Jangada se conhecer
A cultura  popular
Consagrar o seu saber

O seu nome é Luís
Professor ele será
Aquele que conhecer
Jamais o esquecerá
Tamanha sabedoria
Na Terra não haverá

Saiba o povo do Brasil
As nações do mundo inteiro
Que Cascudo vai fazer
Um chafurdo verdadeiro
A sua fama será grande
O maior dos Conselheiros.

Quando  anjo se calou
A mata principiou
A festa maior que houve
No reino  do Encantou
Com todo tipo de alma
Que o Universo formou.

Esse é nosso brilhante
A quem presto no cordel
Por ele tão apreciado
O louvor do menestrel
Viva Câmara Cascudo
Escritor que é Nobel.

Mané Beradeiro
30 dez 2017

Referência
MEDEIROS, Marciano. Câmara Cascudo arquiteto da alma nacional. 1ª edição. Ed do autor. Dezembro 2013, p.1

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

COMENTANDO MINHAS LEITURAS EM CORDEL : EVENTOS SOB O SOL A PINO - INCIDENTES SOB A LUA CHEIA

Aderaldo Luciano (53)  é bastante conhecido pelas suas pesquisas desenvolvidas sobre o Cordel, suas considerações são bem pertinentes sobre o assunto.O poeta é natural de Areia-PB e reside no Rio de Janeiro. Se você não sabe muita coisa sobre Aderaldo Luciano, convido a visitar o link Inventário no qual irá ter bastante informações sobre o mesmo.
Aderaldo Luciano
Tenho como foco nesta resenha mostrar a minha perspectiva em relação ao quarto texto de cordel "Eventos sob o sol a pino - incidentes sob a lua cheia". São 52 estrofes em sextilha em 16 páginas, publicado pela Editora Luzeiro. O primeiro texto de poema no estilo de cordel da autoria de Aderaldo Luciano foi " O Auto de Zé Limeira" e depois vieram mais outros três cordéis.

Mas, voltemos ao texto objeto desta resenha. A sonoridade do poema é muito boa. Há bem presente os valores transmitidos  pela educação familiar, tais como: simplicidade, honestidade, hospitalidade, trabalho, entre outros.  À primeira vista, o enredo da história de Francisco, o  protagonista, leva-nos a crer que em torno dele teremos diversos fatos narrativos bem envolventes. Na verdade, o poeta Aderaldo poderia ter se estendido bem mais do que as 52 estrofes. Por não fazer, deixa-nos com a vontade de querer mais dessa trama poética. Tive a sensação que o autor irá voltar brevemente com um novo texto de Francisco, numa espécie de saga.  É um cordel que nos remete  ao início do século XX,  mais precisamente ao sertão paraibano, e tem como pano de fundo  a relação entre patrão e serviçal, com característica de sofrimento para o protagonista:

"Dormiu com as cicatrizes,
Viveu com as chagas alertas.
Seu peito, vivo vulcão
De fendas boquiabertas,
Cuspia apenas grunhidos
Com maldiçoes em ofertas."

Da primeira estrofe até a vigésima primeira o mundo de Francisco é o mesmo e que pisamos e vivemos. Continuando a leitura, a natureza que segue seu ciclo  de alternância entre dia e noite, começa a mudar  a cena. Estrofes nos levam ao sobrenatural que vai até o final com imagens fortes de luta e vingança.  Não se pode culpar o autor, caso o leitor prossiga e não venha gostar do que leu. Ele prudentemente se protegeu quando adverte:

"Você, leitor, que não pode
pensar em cenas mortais
pare aqui, feche o livro
para não sofrer demais
pois o que vem a seguir
são eventos bestiais"

Somos frutos das nossas leituras, a dos livros e do mundo que nos cerca, com todos os seus ensinamentos. Nesse cordel Aderaldo Luciano testemunha isso. Há uma grande metáfora nas entrelinhas que compõem as estrofes desse cordel, ele não quer simplesmente tratar de uma narrativa sobrenatural, vai mais além, é um convite à uma reflexão em relação ao binômio patrão/empregado. A eterna luta de classe, na qual o segundo só será vitorioso se houver por parte deste a coragem de transladar, lutar com todas as suas forças em defesa própria. Lembra-me o pensamento de Dalton: "Revoluções, meu caro, não podem ser feitas com águas de rosas.""
Francisco fez a sua revolução, e conforme escrevi acima, ficou o gosto de quero mais. Não devia o poeta ter descansado a pena, exceto se foi para relaxar e  em pouco tempo voltar com Francisco, metamorfoseado e montado em seu cavalo arreado.

Mané Beradeiro


Referências

https://jornalggn.com.br/blogs/aderaldo-luciano. Visualizado em 21 dezembro 2017
LUCIANO, Aderaldo.  Eventos sob o sol a pino - incidentes sob a lua cheia. 1ª ed. Luzeiro. São Paulo, 2016.

ACERVO DE ISAURA AMÉLIA ESTÁ EXPOSTO NO PROJETO PUBLICO É PRIVADO


A Sociedade Amigos da Pinacoteca, o Governo do Estado do RN e a Fundação José Augusto apresentam de 20 de dezembro até o dia 20 de fevereiro de 2018, dentro do projeto Privado é Público, o acervo de Isaura Amélia, tendo a curadoria de Dione Caldas. A  exposição contém quadros de variados artistas, como Diniz Grilo, Dorian Gray, Abraham Palatnik, Maria do Santíssimo, Newton Navarro, Leopoldo Nelson, Salvador Dali e outros mais. Aberta ao público que pode visitar de segunda a sexta-feira, pela manhã, na Rua Jundiaí, 641, Tirol, em Natal-RN.

REVISTA PREÁ


A Revista Preá, nº29 está na praça, edição que cobre os meses de dezembro/17 e janeiro/18.  Recebi a pouco tempo e só em folheá-la percebi que não saiu com o brilhantismo e a riqueza que tiveram as edições anteriores. Deu-me a sensação que foi feita às presas, dada a escassez de assuntos relevantes que poderiam conter. Mas essa é uma opinião minha, de um leitor que tem acompanhado todas as edições. Irei me debruçar sobre a mesma neste final de semana e na terça-feira estarei confirmando ou não o que escrevi por aqui.

Francisco Martins

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

ANRL LANÇOU A REVISTA Nº 53

Foi lançada ontem à noite, na sede da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras-ANRL, a Revista nº 53 - Outubro-Dezembro 2017. Um trabalho trimestral que tem como equipe Manoel Onofre Jr. Diretor da Revista, Thiago Gonzaga, Editor, que contam com o apoio do Presidente daquela instituição, Diogenes da Cunha Lima.


Sempre que me permitem eu colaboro com artigos para esse periódico, que está entre as melhores revistas literárias na classificação C, de acordo com a Qualis -Periódicos.  Nessa última edição de 2017 trago aos leitores uma curiosidade da história literária brasileira, "De quando a Igreja Católica censurou a literatura no Brasil".


Quem desejar ler o texto, basta clicar no link Revista da ANRL n º 53, e folhear o arquivo até a página 35.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

CONVERSANDO DE NATAL COM CÂMARA CASCUDO

É quase impossível escrever das coisas passadas sem recorrer a Câmara Cascudo. Agora mesmo, sento-me para trazer aos meus leitores um pouco de conhecimento sobre  a primeira Árvore de Natal, e vejo-me debruçado sobre as anotações cascudianas.
24 de dezembro de 1909, vinte horas, no salão do Natal Club foi inaugurada a primeira Árvore de Natal. Cascudo nos lembra que a ideia foi de Manuel Dantas. Era um pé de jasmim-laranja, todo ornado com papel, bolas de vidro e fios dourados. Quer saber mais sobre esse acontecimento? Leia a crônica "Cinquentenário da Primeira Árvore de Natal". Ainda neste mesmo clima natalino, continuo a ler o Mestre Cascudo, que em outro texto me diz que Papai Noel era figura desconhecida em Natal até 1930 e "nenhuma falta ocasionava essa louvável ausência...Mania de imitação, obediência às modas de fora. Só aceitarei o PAPAI NOEL em Natal quando os CONGOS dançarem em Paris e os CABOCLINHOS em Stockholm (sic)"
Prossegue o cronista afirmando que Thomas Nast, um bávaro, naturalizado americano, que era desenhista, morava em New York e em 1863 desenhou pela primeira vez um Papai Noel, reproduzindo a figura alemã  de Santo Claus. Mas, o que deixava Cascudo feliz era os Presépios, por isso assegura que "Congregação do Natal é o PRESÉPIO". E todo presépio que se preza tem lá as imagens dos Reis Magos. Em Natal as imagens que estão na Capela dos Santos Reis, bairro que antigamente era conhecido pela Limpa, foram enviadas de Portugal por El Rei Dom José, em 1752.

Referência

CASCUDO. Luís da Câmara. O Livro das Velhas Figuras - Volume X.  IHGRN/Sebo Vermelho. Natal, 2009. Páginas 52 a 65.