Recentemente, li, consternado, a noticia de que o jornalista e
escritor Carlos de Souza não publicará mais a sua tradicional coluna no
jornal Tribuna do Norte. Atitude que empobrece demais a tão carente área
literária-cultural do Estado. Em um dos trechos da entrevista, onde
explica seu desligamento, o jornalista comenta: “Até tentei fazer
algumas críticas, mas era difícil demais. Acabava sempre magoando
alguém. Aí desisti. Vivo numa província metida a besta que o resto do
país ignora solenemente”.
Para o leitor mais jovem, que talvez não o conheça, Carlos de Souza é um importante escritor nosso, nascido na cidade de Areia Branca e radicado em Natal. Grande revelação dos anos 80, estreou com “Crônica da Banalidade”, novela (1988), e em seguida, além do seu destacado trabalho como jornalista, sobretudo nos jornais Diário de Natal e Tribuna do Norte, continuou uma bela carreira como escritor, tendo publicado nos anos seguintes, “Cachorro Magro”, poesia (1999), “É Tudo Fogo de Palha”, teatro (2006), “Cidade dos Reis”, romance (2014) e mais recentemente “Urbi”, contos (2015).
As resenhas, comentários e críticas literárias de Carlos de Souza irão fazer falta imensa em nosso meio cultural. A extinção da coluna de Carlão nos remete ao fim de outra coluna deixada, ano passado, pelo jornalista e escritor Nelson Patriota. Não podemos afirmar com exatidão os motivos que levaram o também crítico literário a não mais publicar sua crítica semanal. Porém percebemos algo muito grave acontecendo em nossa literatura: o excesso de escritores e livros medíocres.
A literatura potiguar, na atualidade, assim como outras literaturas, tem muito joio no trigo. Há uma verdadeira inflação de mediocridades. Inúmeros escritores de araque, verdadeiros “estelionatários da literatura”, extremamente ególatras, acham-se mais importantes do que a obra que escrevem. São marqueteiros dos seus próprios trabalhos e se autopromovem, muitos de forma ridícula. Alguns desses autores, até inteligentes, não têm, porém, discernimento para filtrar o que é arte e o que não é, em se tratando de literatura.
Em grande maioria, nossos autores contemporâneos são tremendamente iludidos. Tudo isso, por causa de meia dúzia de “amigos” que os aplaudem e os chamam de escritores. Grandes medíocres, eles passam a se dedicar à literatura como se fossem verdadeiros escritores. Querem tornar-se uma espécie de Paulo Coelho de Natal; talvez pensem que ser Paulo Coelho é grande coisa, afinal, eles não entendem nada mesmo de literatura. Coitados. Sem falar, que, numa província em que a tiragem média de um livro é de 300 exemplares, é inaceitável que o autor queira se achar genial. Muitas vezes esses poucos exemplares não são sequer lidos; ficam nas estantes dos amigos, enquanto outra parte vai parar nos sebos da cidade. Pobres escritores presunçosos, também não entendem nada sobre sistema literário. Deveriam ler um pouco do mestre Antonio Cândido.
Muitos desses falsários da literatura, vivem ligados às chamadas redes sociais, fazendo propaganda de si mesmos, dizendo que seus livros são bons, e divulgando notinhas elogiosas de amigos que os leram (será mesmo que leram?). E pasmem caros leitores, eu já ouvi da boca de muitos deles que não admitem crítica às suas obras. Alguns nos procuram, pedindo pra fazermos resenhas dos seus livros, solicitando para serem entrevistados, querendo obstinadamente, divulgar o trabalho deles. Isso nos faz rir e entristecer ao mesmo tempo. Quanta imaturidade literária!
Enfim, essa é a triste realidade que observamos, notadamente na poesia, que vive uma crise sem tamanho. Nunca li tantos versos ruins na minha vida, como tenho lido na atualidade. Eu já havia comentado, num texto aqui mesmo, ano passado, que tem gente rimando amor com dor e achando que faz poesia. Mas, e não é só isso: comete-se poemas, com imagens e versos gastos, já ditos milhares de vezes por outros poetas. Nada de novo, nada relevante ou edificante para a nossa literatura.
Na prosa de ficção, coisa semelhante acontece: histórias cheia de clichês, de um mau gosto incrível. Muitos acham que criam obras-primas, mas na verdade, seus trabalhos não passam de diluições, reflexos de suas próprias leituras. Nada de novo, nada de criativo, apenas a repetição do que já leram ou viram em filmes e novelas na TV. Ainda tem outro agravante, no desejo de serem chamados de romancistas quando escrevem, contos ou novelas, mas não sabem nem diferenciar os gêneros.
A crise na literatura local é tanta, que muitos desses “escritores”, residentes no interior, estão abrindo Academias de Letras em suas cidades. Só falta agora criarem academias de bairros… Tudo movido à vaidade.
Interessante notar que não se preocupam em formar leitores, alguns até fingem se preocupar, mas, o que querem mesmo é se promover. O ego deles está acima de qualquer coisa.
Como se já não bastasse o mal que fazem à literatura, também agridem a natureza (pois, como se sabe, é preciso derrubar árvores para se fazer papel). Que desperdício!
Não vou nem comentar aqui determinadas agremiações ridículas, que eles também criam para juntar mesmice e literatura de terceira categoria. Devo dizer que, alguns desses elementos, são boas pessoas, cordiais, simpáticas, todavia não entendem nada de literatura, não têm afinidade alguma com a arte da palavra. Fariam um bem às nossas letras se deixassem de escrever e passassem a se dedicar a outras tarefas.
A verdade é essa, são muitos, mas muitos escritores sem valor, que na verdade não devem ser chamados de escritores. Os nossos bons escritores ainda são aqueles mesmos que você deve saber, caro leitor. Os que de maneira sóbria vêm batalhando desde o século passado. Dez ou doze nomes, no máximo, da nova geração têm real valor, o resto, como se diz na linguagem popular, “é tudo farinha do mesmo saco”.
Com tantos egos e tantos medíocres soltos por aí afora, é difícil se conseguir fazer uma verdadeira crítica literária no Estado, a não ser que o crítico esteja disposto a ter inimigos pelo resto da vida.
Thiago Gonzaga (thiagokats@hotmail.com)
Fonte: Disponível em: http://www.substantivoplural.com.br/falsarios-da-literatura/ Visualizada em 5 dez 2016.
Para o leitor mais jovem, que talvez não o conheça, Carlos de Souza é um importante escritor nosso, nascido na cidade de Areia Branca e radicado em Natal. Grande revelação dos anos 80, estreou com “Crônica da Banalidade”, novela (1988), e em seguida, além do seu destacado trabalho como jornalista, sobretudo nos jornais Diário de Natal e Tribuna do Norte, continuou uma bela carreira como escritor, tendo publicado nos anos seguintes, “Cachorro Magro”, poesia (1999), “É Tudo Fogo de Palha”, teatro (2006), “Cidade dos Reis”, romance (2014) e mais recentemente “Urbi”, contos (2015).
As resenhas, comentários e críticas literárias de Carlos de Souza irão fazer falta imensa em nosso meio cultural. A extinção da coluna de Carlão nos remete ao fim de outra coluna deixada, ano passado, pelo jornalista e escritor Nelson Patriota. Não podemos afirmar com exatidão os motivos que levaram o também crítico literário a não mais publicar sua crítica semanal. Porém percebemos algo muito grave acontecendo em nossa literatura: o excesso de escritores e livros medíocres.
A literatura potiguar, na atualidade, assim como outras literaturas, tem muito joio no trigo. Há uma verdadeira inflação de mediocridades. Inúmeros escritores de araque, verdadeiros “estelionatários da literatura”, extremamente ególatras, acham-se mais importantes do que a obra que escrevem. São marqueteiros dos seus próprios trabalhos e se autopromovem, muitos de forma ridícula. Alguns desses autores, até inteligentes, não têm, porém, discernimento para filtrar o que é arte e o que não é, em se tratando de literatura.
Em grande maioria, nossos autores contemporâneos são tremendamente iludidos. Tudo isso, por causa de meia dúzia de “amigos” que os aplaudem e os chamam de escritores. Grandes medíocres, eles passam a se dedicar à literatura como se fossem verdadeiros escritores. Querem tornar-se uma espécie de Paulo Coelho de Natal; talvez pensem que ser Paulo Coelho é grande coisa, afinal, eles não entendem nada mesmo de literatura. Coitados. Sem falar, que, numa província em que a tiragem média de um livro é de 300 exemplares, é inaceitável que o autor queira se achar genial. Muitas vezes esses poucos exemplares não são sequer lidos; ficam nas estantes dos amigos, enquanto outra parte vai parar nos sebos da cidade. Pobres escritores presunçosos, também não entendem nada sobre sistema literário. Deveriam ler um pouco do mestre Antonio Cândido.
Muitos desses falsários da literatura, vivem ligados às chamadas redes sociais, fazendo propaganda de si mesmos, dizendo que seus livros são bons, e divulgando notinhas elogiosas de amigos que os leram (será mesmo que leram?). E pasmem caros leitores, eu já ouvi da boca de muitos deles que não admitem crítica às suas obras. Alguns nos procuram, pedindo pra fazermos resenhas dos seus livros, solicitando para serem entrevistados, querendo obstinadamente, divulgar o trabalho deles. Isso nos faz rir e entristecer ao mesmo tempo. Quanta imaturidade literária!
Enfim, essa é a triste realidade que observamos, notadamente na poesia, que vive uma crise sem tamanho. Nunca li tantos versos ruins na minha vida, como tenho lido na atualidade. Eu já havia comentado, num texto aqui mesmo, ano passado, que tem gente rimando amor com dor e achando que faz poesia. Mas, e não é só isso: comete-se poemas, com imagens e versos gastos, já ditos milhares de vezes por outros poetas. Nada de novo, nada relevante ou edificante para a nossa literatura.
Na prosa de ficção, coisa semelhante acontece: histórias cheia de clichês, de um mau gosto incrível. Muitos acham que criam obras-primas, mas na verdade, seus trabalhos não passam de diluições, reflexos de suas próprias leituras. Nada de novo, nada de criativo, apenas a repetição do que já leram ou viram em filmes e novelas na TV. Ainda tem outro agravante, no desejo de serem chamados de romancistas quando escrevem, contos ou novelas, mas não sabem nem diferenciar os gêneros.
A crise na literatura local é tanta, que muitos desses “escritores”, residentes no interior, estão abrindo Academias de Letras em suas cidades. Só falta agora criarem academias de bairros… Tudo movido à vaidade.
Interessante notar que não se preocupam em formar leitores, alguns até fingem se preocupar, mas, o que querem mesmo é se promover. O ego deles está acima de qualquer coisa.
Como se já não bastasse o mal que fazem à literatura, também agridem a natureza (pois, como se sabe, é preciso derrubar árvores para se fazer papel). Que desperdício!
Não vou nem comentar aqui determinadas agremiações ridículas, que eles também criam para juntar mesmice e literatura de terceira categoria. Devo dizer que, alguns desses elementos, são boas pessoas, cordiais, simpáticas, todavia não entendem nada de literatura, não têm afinidade alguma com a arte da palavra. Fariam um bem às nossas letras se deixassem de escrever e passassem a se dedicar a outras tarefas.
A verdade é essa, são muitos, mas muitos escritores sem valor, que na verdade não devem ser chamados de escritores. Os nossos bons escritores ainda são aqueles mesmos que você deve saber, caro leitor. Os que de maneira sóbria vêm batalhando desde o século passado. Dez ou doze nomes, no máximo, da nova geração têm real valor, o resto, como se diz na linguagem popular, “é tudo farinha do mesmo saco”.
Com tantos egos e tantos medíocres soltos por aí afora, é difícil se conseguir fazer uma verdadeira crítica literária no Estado, a não ser que o crítico esteja disposto a ter inimigos pelo resto da vida.
Thiago Gonzaga (thiagokats@hotmail.com)
Fonte: Disponível em: http://www.substantivoplural.com.br/falsarios-da-literatura/ Visualizada em 5 dez 2016.