segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

FALSÁRIOS DA LITERATURA POTIGUAR

Recentemente, li, consternado, a noticia de que o jornalista e escritor Carlos de Souza não publicará mais a sua tradicional coluna no jornal Tribuna do Norte. Atitude que empobrece demais a tão carente área literária-cultural do Estado. Em um dos trechos da entrevista, onde explica seu desligamento, o jornalista comenta: “Até tentei fazer algumas críticas, mas era difícil demais. Acabava sempre magoando alguém. Aí desisti. Vivo numa província metida a besta que o resto do país ignora solenemente”.
Para o leitor mais jovem, que talvez não o conheça, Carlos de Souza é um importante escritor nosso, nascido na cidade de Areia Branca e radicado em Natal. Grande revelação dos anos 80, estreou com “Crônica da Banalidade”, novela (1988), e em seguida, além do seu destacado trabalho como jornalista, sobretudo nos jornais Diário de Natal e Tribuna do Norte, continuou uma bela carreira como escritor, tendo publicado nos anos seguintes, “Cachorro Magro”, poesia (1999), “É Tudo Fogo de Palha”, teatro (2006), “Cidade dos Reis”, romance (2014) e mais recentemente “Urbi”, contos (2015).
As resenhas, comentários e críticas literárias de Carlos de Souza irão fazer falta imensa em nosso meio cultural. A extinção da coluna de Carlão nos remete ao fim de outra coluna deixada, ano passado, pelo jornalista e escritor Nelson Patriota. Não podemos afirmar com exatidão os motivos que levaram o também crítico literário a não mais publicar sua crítica semanal. Porém percebemos algo muito grave acontecendo em nossa literatura: o excesso de escritores e livros medíocres.
A literatura potiguar, na atualidade, assim como outras literaturas, tem muito joio no trigo. Há uma verdadeira inflação de mediocridades. Inúmeros escritores de araque, verdadeiros “estelionatários da literatura”, extremamente ególatras, acham-se mais importantes do que a obra que escrevem. São marqueteiros dos seus próprios trabalhos e se autopromovem, muitos de forma ridícula. Alguns desses autores, até inteligentes, não têm, porém, discernimento para filtrar o que é arte e o que não é, em se tratando de literatura.
Em grande maioria, nossos autores contemporâneos são tremendamente iludidos. Tudo isso, por causa de meia dúzia de “amigos” que os aplaudem e os chamam de escritores. Grandes medíocres, eles passam a se dedicar à literatura como se fossem verdadeiros escritores. Querem tornar-se uma espécie de Paulo Coelho de Natal; talvez pensem que ser Paulo Coelho é grande coisa, afinal, eles não entendem nada mesmo de literatura. Coitados. Sem falar, que, numa província em que a tiragem média de um livro é de 300 exemplares, é inaceitável que o autor queira se achar genial. Muitas vezes esses poucos exemplares não são sequer lidos; ficam nas estantes dos amigos, enquanto outra parte vai parar nos sebos da cidade. Pobres escritores presunçosos, também não entendem nada sobre sistema literário. Deveriam ler um pouco do mestre Antonio Cândido.
Muitos desses falsários da literatura, vivem ligados às chamadas redes sociais, fazendo propaganda de si mesmos, dizendo que seus livros são bons, e divulgando notinhas elogiosas de amigos que os leram (será mesmo que leram?). E pasmem caros leitores, eu já ouvi da boca de muitos deles que não admitem crítica às suas obras. Alguns nos procuram, pedindo pra fazermos resenhas dos seus livros, solicitando para serem entrevistados, querendo obstinadamente, divulgar o trabalho deles. Isso nos faz rir e entristecer ao mesmo tempo. Quanta imaturidade literária!
Enfim, essa é a triste realidade que observamos, notadamente na poesia, que vive uma crise sem tamanho. Nunca li tantos versos ruins na minha vida, como tenho lido na atualidade. Eu já havia comentado, num texto aqui mesmo, ano passado, que tem gente rimando amor com dor e achando que faz poesia. Mas, e não é só isso: comete-se poemas, com imagens e versos gastos, já ditos milhares de vezes por outros poetas. Nada de novo, nada relevante ou edificante para a nossa literatura.
Na prosa de ficção, coisa semelhante acontece: histórias cheia de clichês, de um mau gosto incrível. Muitos acham que criam obras-primas, mas na verdade, seus trabalhos não passam de diluições, reflexos de suas próprias leituras. Nada de novo, nada de criativo, apenas a repetição do que já leram ou viram em filmes e novelas na TV. Ainda tem outro agravante, no desejo de serem chamados de romancistas quando escrevem, contos ou novelas, mas não sabem nem diferenciar os gêneros.
A crise na literatura local é tanta, que muitos desses “escritores”, residentes no interior, estão abrindo Academias de Letras em suas cidades. Só falta agora criarem academias de bairros… Tudo movido à vaidade.
Interessante notar que não se preocupam em formar leitores, alguns até fingem se preocupar, mas, o que querem mesmo é se promover. O ego deles está acima de qualquer coisa.
Como se já não bastasse o mal que fazem à literatura, também agridem a natureza (pois, como se sabe, é preciso derrubar árvores para se fazer papel). Que desperdício!
Não vou nem comentar aqui determinadas agremiações ridículas, que eles também criam para juntar mesmice e literatura de terceira categoria. Devo dizer que, alguns desses elementos, são boas pessoas, cordiais, simpáticas, todavia não entendem nada de literatura, não têm afinidade alguma com a arte da palavra. Fariam um bem às nossas letras se deixassem de escrever e passassem a se dedicar a outras tarefas.
A verdade é essa, são muitos, mas muitos escritores sem valor, que na verdade não devem ser chamados de escritores. Os nossos bons escritores ainda são aqueles mesmos que você deve saber, caro leitor. Os que de maneira sóbria vêm batalhando desde o século passado. Dez ou doze nomes, no máximo, da nova geração têm real valor, o resto, como se diz na linguagem popular, “é tudo farinha do mesmo saco”.
Com tantos egos e tantos medíocres soltos por aí afora, é difícil se conseguir fazer uma verdadeira crítica literária no Estado, a não ser que o crítico esteja disposto a ter inimigos pelo resto da vida.

Thiago Gonzaga (thiagokats@hotmail.com)

Fonte: Disponível em: http://www.substantivoplural.com.br/falsarios-da-literatura/ Visualizada em 5 dez 2016.

DOS MOMENTOS DA CARAVANA DE ESCRITORES NA ESCOLA ESTADUAL ANTONIO PINTO DE MEDEIROS













sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

EDITORA CAROLINA CARTONERA LANÇA MAIS UMA ANTOLOGIA DE PEQUENOS ESCRITORES


Foi na tarde de onte, 1 de dezembro, que pelo segundo ano consecutivo, a Escola Municipal Homero Dantas e a Editora Carolina Cartonera lançaram  a antologia escrita pelos alunos do 3º Ano B, turma da Professora Tetê Dantas. A tarde de autógrafo foi emocionante e  inesquecível para todos aqueles que ajudaram a concretizar este sonho. Veja o registro fotográfico no link Tarde de autógrafo

CARAVANA DE ESCRITORES VISITA HOJE A ESCOLA ANTONIO PINTO DE MEDEIROS

A Escola Estadual Antonio Pinto de Medeiros, localizada no conjunto residencial Cidade Satélite, em Natal-RN,  vai receber na tarde de hoje,às 14 h, um grupo de escritores que participa do projeto Caravana de Escritores, capitaneado por Thiago Gonzaga. O projeto tem apoio da COSERN através da lei de incentivo à cultura Câmara Cascudo e propõe levar às escolas os escribas e seus livros para uma conversa descontraída com o público estudantil.
Hoje, entre os escritores convidados, também se fará presente Francisco Martins, que levará aos jovens daquela escola uma palavra de incentivo à leitura e sua importância na transformação de vida.

I FEIRA EMPREENDEDORA E CULTURAL DE NÍSIA FLORESTA



DIA 06 E 7 DE DEZEMBRO 2016
PROGRAMAÇÃO –
COORDENAÇÃO GERAL: PE AJOSENILDO NUNES DE REJANE DE SOUZA
OBJETIVO: fomentar a criação de um ambiente favorável para geração de oportunidades de negócio e estimular a criação de novos empreendimentos sustentáveis, como âncora para o desenvolvimento social e cultural da região.
LOCAL – Largo da Matriz - Hora -13h – Dias 6 e 7 de Dezembro 2016
EMPREENDEDORISMO
1. Exposição das diversas artes criadas pelos artesãos da região e de outros serviços.
2. Distribuição de material informativo do Sebrae.
CULTURA
1.TENDA LITERÁRIA: – teatro de fantoches - saraus – contação de histórias e leitura livre.
Dia 07 de Dezembro – 9h30 – Centro Paroquial Isabel Gondim
2. Exposição do Projeto Memória do Banco do Brasil sobre Nísia Floresta
3. MESA-REDONDA- NÍSIA EM NÍSIA.
DRA REGINA SIMON- Título da palestra: “CINTILAÇÕES DE UMA ALMA BRASILEIRA: A RECONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO DA “TERRA ABENÇOADA”, POR NÍSIA FLORESTA.
Perfil Acadêmico:
Doutorado em Letras Neolatinas pela UFRJ (2008)- com ênfase na Literatura Hispano-americana. Atualmente, é Professora-Adjunta de Língua e Literaturas Hispânicas do Departamento de Língua e Literaturas Estrangeiras Modernas da UFRN e do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem – PpgEL - na área de Literatura Comparada - linha de Literatura e Memória Cultural. Área de pesquisa: Literatura Hispano-Americana, Memória, Utopia, Relatos de Viagem, Alteridade e estudos sobre a mulher.
ISABELA LAUAR – Título da palestra: NÍSIA FLORESTA: DIREITOS DAS MULHERES EM VIDA, PROSA, POESIA E EDUCAÇÃO - Graduanda em Direito do Centro Universitário do Rio Grande do Norte (UNI-RN). Realiza pesquisa sobre a escritora potiguar Nísia Floresta:"Nísia Floresta: direitos das mulheres em vida, prosa, poesia e educação". Autora do livro: “A trilha evolutiva da mulher: da dominação de gênero aos caminhos emancipatórios.”
APOIOS: SEBRAE – PARÓQUIA NÍSIA FLORESTA – BIBLIOTECA COMUNITÁRIA DONA MARIINHA – SECRETARIA DE TURISMO E CULTURA DE NÍSIA FLORESTA – SECRETARIA DE ADMINSITRAÇÃO DE NÍSIA FLORESTA – BLOG NÍSIA DIGITAL. CÁRITAS ARQUIDOCESANA DE NATAL – FUNDAÇÃO JOSÉ AUGUSTO – MARINAS – CAMARÃO – ESTAÇÃO PAPARY.

PROGRAMAÇÃO DE HOJE DO II SEMINÁRIO INTERNACIONAL


domingo, 27 de novembro de 2016

MANUEL BANDEIRA EM NATAL- VERÍSSIMO DE MELO CONTA

Referência: MELO, Veríssimo de. Acontecimentos da Cidade. A República, 19.10.1958

sábado, 26 de novembro de 2016

FRANCISCO MARTINS É AGRACIADO COM A MEDALHA DEÍFILO GURGEL

O escritor Francisco Martins foi agraciado na última quinta-feira, dia 24 de novembro, às 19 h, na Pinacoteca do Estado, com a Medalha Deifilo Gurgel, principal comenda do Estado do Rio Grande do Norte que homenageia pessoas físicas e instituições que se destacam na cultura popular. Francisco Martins teve seu trabalho reconhecido, no tocante a  produção literária dos folhetos de cordéis, que assina com o heterônimo de Mané Beradeiro e o projeto Momento do Livro.





domingo, 20 de novembro de 2016

A RELEITURA DE MANÉ BERADEIRO NA DISCUSSÃO DOS MINISTROS





Os ministros Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes protagonizaram uma discussão no plenário do Supremo Tribunal Federal na tarde desta quarta-feira (16). Durante o bate-boca, Mendes chegou a criticar a condução de Lewandowski no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
A confusão começou quando Lewandowski questionou um pedido de vista feito por Mendes, que já havia votado. Os ministros podem mudar o voto até que o julgamento seja finalizado. A presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, afirmou que o procedimento de Mendes estava correto.

Lewandowski: Pela ordem, o ministro Gilmar Mendes já não havia votado? Eu tenho impressão que acompanhou a divergência. Depois votou o ministro Marco Aurélio e Sua Excelência está abrindo mão do voto já proferido e pediu vista? Data vênia, é um pouco inusitado.
Versão de Mané Beradeiro:   o ministro Gilmar Mendes já votou? Eu acho que ele tá querendo sacanear
Gilmar Mendes: Enquanto eu estiver aqui eu posso fazê-lo.
Versão de MB: Eu sou ruim igual a necessidade em casa de rico
Cármen Lúcia: Enquanto não estiver proclamado, o regimento permite que haja...
Versão de MB: Meninos, comportem-se!
Mendes: Vossa Excelência fez coisa mais heterodoxa...
Versão de MB:  Bixiguento, fez coisa pior...
Lewandowski: Eu, graças a Deus, não sigo o exemplo de Vossa Excelência em matéria de heterodoxia, viu? Graças a Deus e faço disso ponto de honra.
Versão de MB:  Padim Ciço é testemunha do que faço
Mendes: Basta ver o que Vossa Excelência fez no Senado.
Versão de MB: Tá se vendo, tá se vendo...
Lewandowski: No Senado? Basta ver o que Vossa Excelência faz diariamente nos jornais. Uma atitude absolutamente ao meu ver incompatível com ...
Versão de MB: Tá se vendo o quê? E você que só vive de caganeira e se limpa com jornal...
Mendes: Faço isso inclusive para poder reparar os absurdos que Vossa Excelência faz.
Versão de MB: Se aperreie não bixim, tu faz pior....
Lewandowski: Absurdos não, Vossa Excelência retire o que disse porque isso não existe. Vossa Excelência está faltando com o decoro não é de hoje. Eu repilo qualquer... Vossa Excelência, por favor, me esqueça.
Versão de MB: Por muito menos já puxei a peixeira... acho bom sair do meu caminho
Mendes: Não retiro.
Versão de MB: não saio
Lewandowski: Bom, então, Vossa Excelência se mantenha como está. Eu reafirmo que Vossa Excelência está faltando com o decoro que essa corte merece.
Versão de MB: Então vá se lascar!

sábado, 19 de novembro de 2016

SOBRE O QUE ESTÃO DIZENDO DO LIVRO A GRANDE PESQUISA - PARTE I

Paulo de Tarso e Gustavo Sobral
O escritor, pesquisador, ensaísta e biógrafo Gustavo Sobral, aqui ladeado pelo poeta Paulo de  Tarso Correia de Melo, adquiriu ontem o livro A Grande Pesquisa e hoje me mandou o seguinte comentário: Caro confrade, escrevo para dizer de "A grande pesquisa" o conto que conta a história está uma beleza de narrativa, depois adentramos ao universo dos patronos e acadêmicos com inúmeras informações que desconhecia. Repito ainda da capa, simplesmente um encanto que casa perfeitamente com a proposta do livro.

SAIU O RESULTADO DO DESAFIO CRIATIVO DA ESCOLA 2016

Cruzando os sertões da Mata Branca: educação e sustentabilidade na caatinga – Escola Estadual de Ensino Profissional Lucas Emmanuel Lima Pinheiro / Iguatu (CE).

 Descobrindo as riquezas e importância da Gruta do Padre – Escola Estadual Edvaldo Flores / Santana (BA).

 Entre versos e rimas: História e cultura local – Escola de Ensino Médio Ronaldo Caminha Barbosa / Cascavel (CE)

 Libras: a voz do silêncio – Escola Municipal Dom Sílvio Maria Dário / Itapeva (SP).

 O uso do papel reciclado para a produção de embalagem para mudas – Escola Estadual Técnica Agrícola Desidério Finamor / Lagoa Vermelha (RS)

  Para além dos muros da escola: intervindo no Jardim Maringá – EMEF Assad Abdala / São Paulo (SP).

 Solta esse Black – Escola Municipal Levy Miranda / Rio de Janeiro (RJ).

 Tenda Móvel – Escola de Ensino Médio Professor Milton Façanha Abreu / Mulungu (CE).

 Urupet – Escola do Sesi de Campo Grande / Campo Grande (MS).

 Utilização de plantas medicinais no município – Colégio Estadual do Rio do Antônio / Rio do Antônio (BA).

Fonte: http://criativosdaescola.com.br/desafio-2016-conheca-os-premiados/Visualizada em 19 novembro 2016


O PARTO

A história do vaqueiro continua, depois que ele pediu a moça para namorar com ele (PEDIDO), recebeu  o sim ( RESPOSTA DA DONZELA), teve o casamento (NUPCIAS SERTANEJA),  engravidou a mulher (DESEJO DE BUCHUDA), vem agora a hora do nascime to da criança, leia:


A mulher tem uma arma de forte convicção
Quando a danada usa golpeia o coração
O poder de fogo é alto não há quem resista não!
Vaqueiro dormindo fora com medo da castração
Ouvia de onde estava  os soluços da mulher
Que toda noite chorava, batia e fincava o pé
Dizendo que bago cozido toda gestante quer.

Quando o dia raiou na manhã de sexta-feira
Há muito que seu marido já estava no curral
Pensativo,  com um plano, infalível, sem igual.
Capou o novilho branco e gritou descomunal
Fingindo ter sido o seu extraído do local.
Entregou o sacrifício falando à mulher:
-Por você corro este risco, dou beijo em jacaré,
Me agarro com tacaca, guaxinim e Lampião.
Se Deus me deu dois,  um é seu, meu coração!

A mulher acreditou na farsa que foi montada,
Pois o vaqueiro esperto, todo dia de madrugada,
Antes de ir pro curral, assim ele se tratava:
Jogava cinzas na trouxa,  lavava  com  infusão
De cajueiro bravo e raspas de limão
Prometia ficar bom  pra próxima  vadiação.

E  agulha do tempo cozia o grande evento
Usava linha tão fina, de fibra resistente,
Feita do algodão mocó, que tem o suor da gente.
A mulher pressentia  que açude também seria
Fazendo jorrar a vida em momentos de agonia
Dando a luz à criança, motivo de alegria.
Parteira foi avisada e ficou de prontidão,
De apetrechos lavados esperava  a ocasião
Daquelas mãos tão benditas  colherem
Com mansidão mais uma alma pro sertão.

Naqueles dias finais do ciclo da gestação
Precavido o vaqueiro   foi  buscar  no Alazão
Sua mãe  tão bondosa que  cuidaria da nora
Nas dores de contração.
Ela seria então, ajudante da parteira,
Cozinheira e lavadeira no resguardo  que viria.
Família que é unida é igualzim mercearia
De tudo nela se tem, pra na hora da precisão
Tá ao alcance da mão, servindo de coração.

A criança resolveu que ao mundo viria
Naquele mês de dezembro, ninguém a empataria.
A  aparadeira  chegou,  foi precisa e pontual
Pediu ajuda aos santos e se deu o ritual:
Água fervia na panela de barro
Vaqueiro suava lá fora
A mulher sentia dores, reclamava toda hora
Prometeu pegar Vaqueiro, sementeiro  do amor.
Disse ser aquilo errado, no plano do Criador,
O cabra joga  semente e ela quem sente a dor?

Parteira trocava os panos naquela arrumação.
Mulher empurrava a cama e gritava: amolem o facão,
Pois se eu dessa eu escapar, Vaqueiro será capão!
Respirava agoniada, sentia as contrações.
Quebrou dois caibros do quarto, tamanha sua aflição.
Todo seu corpo era dor,  açude em transbordamento,
No meio das suas pernas  já havia sangramento.

Parteira deu-lhe garrafa  e disse: pode assoprar
Isso não é besteira, a dor vai aliviar.
Mulher agüenta dor,  é costela modelada
Pelas mãos do Maioral, é miolo de aroeira,
Tronco de carnaubeira, natureza sem igual.
Duas horas se passaram naquele clima infernal
Deitada em cama de couro, chorava  e esperneava.
No terreiro,  o Vaqueiro, também já se desmanchava
Pedindo  em sua fé, providência  imediata.
Caningou tudo que é santo pra dor dela então passar.

Parteira viu que deitada a criança não viria
Trouxe o tronco  de Ipê para mulher se sentar
Somente daquela forma  o parto ia acabar.
Mãe de imbigu orientou: - Neste tronco sua dor logo irá passar
 Sente-se  com o mucubu, nada de bunda ajeitar
Garanto que rapidinho a criança vai chegar.
Alfazema foi queimada, para o quarto incensar.
A catinga da placenta ela iria ocultar
Coroou para a vida a criança afinal.
E foi assim que nasceu,   a menina do Vaqueiro,
Beleza  regional,  moreninha,  bem gordinha
E o parto foi normal.

Mané Beradeiro
Parnamirim – RN , 15 de novembro 2016

DISCURSO DE POSSE E ELOGIO AO PATRONO

Antonio Glicério - 1981 - 1921


Exma. Sra. Joventina Simões, Presidente desta Academia.
Exmas. Autoridades presentes ou representadas,
Senhores Acadêmicos,
Meus familiares, amigos, convidados,
Meus senhores e minhas senhoras,

Serei breve, como breve foi a vida do meu patrono.
Chego a esta casa conduzido pelas mãos de  uma senhora,   ela não é minha mãe, mas me deu vida, pois através dela ganhei o que há de mais precioso na minha existência, que é a minha esposa.  Agradeço a ela, Maria da Conceição de Oliveira Pimentel, professora,  por ter dados estes passos  comigo, conduzindo-me à Casa de Pedro Simões Neto.
A imortalidade daqueles que integram esta Academia Cearamirinense de Letras e Artes – ACLA - Pedro Simões Neto é consagrada, aqui e em outras Arcádias literárias não pelo número de anos que vivemos, afinal, no tocante a isso, somos efêmeros.  O poeta bíblico, Davi, escreveu:
       
 A duração da nossa vida é setenta anos; e se alguns, pela sua robustez, chegam aos            oitenta, o que ela lhes pode dar não é mais do que cansaço e aborrecimento. O tempo passa de tal maneira que temos a sensação de voarmos (Salmo 90:10)
Diante desta realidade cabe a cada membro da Academia deixar às gerações o seu legado de produção artística na prosa e/ou poesia.  Isso sim, nos fará imortal. Ficaremos presentes nas páginas que escrevemos, no conjunto das letras que conseguimos sincronizar dando corpo a ideia do texto.
        Ocupo a cadeira  18,  sendo seu fundador e primeiro ocupante.  Essa cadeira tem como patrono Antonio Glicério. Quem foi ele? Que sabemos sobre sua existência?  Antonio Glicério nasceu em Ceará Mirim no dia 2 de julho de 1881, no Engenho Verde-Nasce.  Nilo Pereira escrevendo a Veríssimo de Melo diz que Antonio Glicério era filho da escrava Sancha Conceição, mucama famíliar muito querida e que gostava  de contar estórias. Foi poeta, boêmio.
 Não  chegou a ter grandes estudos, provavelmente apenas o que corresponde hoje ao Ensino Fundamental II. Aos 9 anos já morava em Natal, onde teve como professor o Padre João Maria. O  poeta Bezerra Júnior,  descreve no seu discurso de posse na Academia Norte-rio-grandense de Letras, que ele era um homem pálido, esguio e melancólico.
 Foi poeta que abraçou o estilo romântico no início do século XX. Vejamos, por exemplo este soneto, publicado no jornal  A República, em 1908.
        Vamos cantar o nosso amor, sozinhos,
 longe de tudo que é descrente: vamos!
Onde somente os ternos passarinhos
Beijam, sorrindo, os orvalhos ramos.

Vamos gozar os íntimos carinhos
Nos róseos lares onde nos amamos
E ouvir o doce gorjear  dos ninhos
Enquanto flor, na primavera estamos.

Vamos, beijando as adoradas folhas,
Puras, estreitas, duleidas, formosas,
De nossa verde e fúlgida existência

Cantar o nosso amor imaculado
Como num leito santo e perfumado
Cantar, ditosa, a alma da inocência.

Como se vê, Antônio Glicério podia até não ter formação acadêmica, mas suas leituras, fez dele um homem culto, que escrevia com maestria.  A leitura é sem sombra de dúvida, a mais natural das formações intelectuais.  Antonio Glicério foi também profissional gráfico, tendo sido tipógrafo, onde  trabalhou na composição e paginação do jornal A República, e foi funcionário do Grupo Escolar Padre Miguelinho, em Natal.
Casou  aos 29 anos com Leopoldina Matos, em 16 de maio de 1911 e chegou a preparar seu único livro de poemas,  que chamou de Cantilenas, embora o mesmo não tenho sido publicado. Em 5 de junho de 1921, doente, vitimado pela tuberculose, um destino que tanto atingiu os poetas românticos, faleceu aos 39 anos na cidade de Santo Antonio do Santo da Onça –RN.
Hoje seu nome é referenciado como patrono das cadeiras 23 e 18, respectivamente na Academia Norte-rio-grandense de Letras e na Academia Cearamirinense de Letras e Artes-ACLA-Pedro Simões Neto, além de dá nome a uma rua  no bairro de Lagoa Seca, na capital.
Meus senhores, minhas senhoras, termino meu elogio ao patrono e  lembro que nesta noite sou apenas aquela criança que brincava pelas ruas de Ceará-Mirim, correndo acima e abaixo, indo muitas vezes ao rio, onde tomava banho escondido dos meus pais.
Ceará Mirim sempre permanece dentro de mim e agora, mais do que nunca hei de amá-la mais e mais e cantá-la como o verso da prosa poética de Edgar Barbosa:
Vejo-te sempre com o teu longo vestido verde, com as torres altas de tua igreja; vejo-te ainda em minha lembrança e no meu sonho.
        Obrigado.

Ceará Mirim- RN, 18 de novembro de 2016