A história do vaqueiro continua, depois que ele pediu a moça para namorar com ele (PEDIDO), recebeu o sim ( RESPOSTA DA DONZELA), teve o casamento (NUPCIAS SERTANEJA), engravidou a mulher (DESEJO DE BUCHUDA), vem agora a hora do nascime to da criança, leia:
A mulher tem
uma arma de forte convicção
Quando a
danada usa golpeia o coração
O poder de
fogo é alto não há quem resista não!
Vaqueiro
dormindo fora com medo da castração
Ouvia de
onde estava os soluços da mulher
Que toda
noite chorava, batia e fincava o pé
Dizendo que
bago cozido toda gestante quer.
Quando o dia
raiou na manhã de sexta-feira
Há muito que
seu marido já estava no curral
Pensativo, com um plano, infalível, sem igual.
Capou o
novilho branco e gritou descomunal
Fingindo ter
sido o seu extraído do local.
Entregou o
sacrifício falando à mulher:
-Por você
corro este risco, dou beijo em jacaré,
Me agarro
com tacaca, guaxinim e Lampião.
Se Deus me deu
dois, um é seu, meu coração!
A mulher
acreditou na farsa que foi montada,
Pois o
vaqueiro esperto, todo dia de madrugada,
Antes de ir
pro curral, assim ele se tratava:
Jogava cinzas
na trouxa, lavava
com infusão
De cajueiro
bravo e raspas de limão
Prometia
ficar bom pra próxima vadiação.
E agulha do tempo cozia o grande evento
Usava linha
tão fina, de fibra resistente,
Feita do
algodão mocó, que tem o suor da gente.
A mulher
pressentia que açude também seria
Fazendo
jorrar a vida em momentos de agonia
Dando a luz
à criança, motivo de alegria.
Parteira foi
avisada e ficou de prontidão,
De
apetrechos lavados esperava a ocasião
Daquelas
mãos tão benditas colherem
Com mansidão
mais uma alma pro sertão.
Naqueles
dias finais do ciclo da gestação
Precavido o
vaqueiro foi buscar
no Alazão
Sua mãe tão bondosa que cuidaria da nora
Nas dores de
contração.
Ela seria
então, ajudante da parteira,
Cozinheira e
lavadeira no resguardo que viria.
Família que
é unida é igualzim mercearia
De tudo nela
se tem, pra na hora da precisão
Tá ao
alcance da mão, servindo de coração.
A criança
resolveu que ao mundo viria
Naquele mês
de dezembro, ninguém a empataria.
A aparadeira
chegou, foi precisa e pontual
Pediu ajuda
aos santos e se deu o ritual:
Água fervia
na panela de barro
Vaqueiro
suava lá fora
A mulher
sentia dores, reclamava toda hora
Prometeu
pegar Vaqueiro, sementeiro do amor.
Disse ser
aquilo errado, no plano do Criador,
O cabra
joga semente e ela quem sente a dor?
Parteira
trocava os panos naquela arrumação.
Mulher
empurrava a cama e gritava: amolem o facão,
Pois se eu
dessa eu escapar, Vaqueiro será capão!
Respirava
agoniada, sentia as contrações.
Quebrou dois
caibros do quarto, tamanha sua aflição.
Todo seu
corpo era dor, açude em transbordamento,
No meio das
suas pernas já havia sangramento.
Parteira
deu-lhe garrafa e disse: pode assoprar
Isso não é
besteira, a dor vai aliviar.
Mulher
agüenta dor, é costela modelada
Pelas mãos
do Maioral, é miolo de aroeira,
Tronco de
carnaubeira, natureza sem igual.
Duas horas
se passaram naquele clima infernal
Deitada em
cama de couro, chorava e esperneava.
No
terreiro, o Vaqueiro, também já se
desmanchava
Pedindo em sua fé, providência imediata.
Caningou
tudo que é santo pra dor dela então passar.
Parteira viu
que deitada a criança não viria
Trouxe o tronco de Ipê para mulher se sentar
Somente
daquela forma o parto ia acabar.
Mãe de
imbigu orientou: - Neste tronco sua dor logo irá passar
Sente-se
com o mucubu, nada de bunda ajeitar
Garanto que
rapidinho a criança vai chegar.
Alfazema foi
queimada, para o quarto incensar.
A catinga da
placenta ela iria ocultar
Coroou para
a vida a criança afinal.
E foi assim
que nasceu, a menina do Vaqueiro,
Beleza regional,
moreninha, bem gordinha
E o parto
foi normal.
Mané
Beradeiro
Parnamirim – RN , 15
de novembro 2016
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