quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

EVOCAÇÃO DE ZILA MAMEDE

 

A reunião de hoje, deste Conselho Estadual de Cultura, marca, para todos nós, o início da ausência definitiva de uma grande e querida companheira. Não precisaria, certamente, relembrar-lhe o nome, porque, há cinco dias, ele percorre os vãos de nossa memória: Zila Mamede. Mas bem merece ela todas as nossas homenagens, esta emoção, este sentimento, esta mágoa que sobem do íntimo de todos nós, inapelavelmente.

Integrante deste Conselho, e é sob este aspecto que dela me ocupo, em primeiro lugar, tinha ela o pleno senso da responsabilidade e da importância do seu encargo. Vimo-la, aqui, quantas vezes, sugerir, debater e defender problemas, iniciativas e providências de ordem cultural (históricos, artísticos, patrimoniais, literários), com a visão, o discernimento, a experiência, a seriedade de quem se sentia votada, por múltiplas faces, ao serviço do benefício coletivo. Criadora, organizadora e diretora de bibliotecas públicas, como a da Universidade e a da Fundação José Augusto, ambas se tornaram modelares no gênero, e constituíram sempre objetivos fundamentais, uma de cada vez, de seus cuidados e de suas preocupações.

Pesquisadora de caráter histórico e intelectual, bio-bibliográfico, seu trabalho sobre os primeiros cinquenta anos de atividade cultural de Câmara Cascudo, em três volumes, constitui um documentário de relevo excepcional. Obra de atualidade e de interesse permanente, dela tive a alegria de observar (nessa época eu também me ocupava de um ensaio sobre Cascudo) que, de então por diante, ninguém poderia estudar ou abordar o mestre da Junqueira Aires, impávido ainda e agora nos seus 87 anos gloriosos, sem consultar o livro de Zila. Obra do mesmo molde é a que já se encontrava concluindo, sobre o poeta João Cabral de Melo Neto. Ambos iniciativas e realizações creio que raríssimas em nosso país, pela meticulosidade das investigações procedidas.

Extraordinária, em Zila, nos dois trabalhos, essa capacidade de abelha laboriosa, movimentando-se na colheita e na ordenação de milhares de fichas, quando se sabe, ainda, as obrigações sempre desgastantes, que assumia na vida particular, orientando, ajudando, provendo, decidindo, quotidiana e regularmente.

Em Zila, havia, sobretudo, mulher prodigiosa e incansável, a grande poetisa que, embora nascida na Paraíba, viera aos cinco anos, menina ainda, para a cidade de Currais Novos, em nosso Estado, e aqui se fixou com a família. Aqui se fez, assim, a sua formação educacional, moral e social, aqui integrou-se nas condições e nos interesses de nossa vida coletiva,aqui participou, fez amigos, viveu, em suma, com tudo quanto uma vida humana comporta de alegrias e dores, sacrifícios e compensações, desânimos e vitórias. Viveu, lutou e construiu um nome estelar, na poesia norte-riograndense, dos mais altos, dos mais puros, dos mais belos, com repercussões nos grandes centros intelectuais do país.

Pelo seu estilo, pela natureza do seu verso, de sua linguagem, Zila permanecerá, imune a escolas, a modas, a correntes, a movimentos; elaborou um tipo de poesia despojado, lúdico, exato, com a energia vital interior e a verdade imanente das coisas criadas para vencer o tempo. Nela, o "exercício da palavra" (título de um dos seus livros), era sempre um ato de consciência e de fé. Zila sabia o segredo das palavras que ficam, que têm vida própria, e não há, portanto, na sua poesia, fantasias e artifícios. Sentimento não é sentimentalismo, emoção pieguismo. Harmoniosa e serena, ela cantou o mar e a terra, os destinos humanos e as incertezas da vida, as coisas e as paisagens, o urbano e o rural, o amor e o tempo. Com igual intensidade e onírica visão. Viajou, viu mundos e ares estrangeiros, na América do Norte e na Europa. Noites de jazz, em Nova Orleans e de flamenco, na Espanha, coisas que adorava. Nunca se teria imaginado um mito, sempre se afirmou como mulher, isto é, como criatura humana, no seu espírito, no seu corpo, no seu sangue. E no entanto, nem sempre de saúde estável e repousada, num temperamento inquieto. Reli, estes últimos dias, mitos de seus poemas. E como é estranha essa presença constante do mar no seu caminho, de menina e moça do sertão, só depois costeira. Mas foi já sob a sugestão ou a influência do mar, que ela compôs, um dia, os melancólicos e não sei se premonitórios "Canto do afogado" e "Canção do sonho oceânico", do seu livro "Salinas", de 1958. Antes, no seu primeiro livro, "Rosa de Pedra", de 1953, o primeiro poema intitula-se "Mar morto", e, além disso, são as águas do mar que escorrem na quase maioria dos seus poemas de então, Quanto à "Herança", seu último livro publicado, em 1984, perfeito nos temas e na forma, este é um balanço da existência familiar, tipos curiosos e vultos de parentes e aderentes, velho baú de guardados, um retorno aos dias perdidos, estrofes lembrando aqueles retratos que amarelecem nas paredes das salas bem-postas de antigamente.

Insisto na presença do mar na poesia de Zila. Ainda um exemplo: "Navegos", de 1975, é uma coletanea de temas diversos, mas o título denuncia mais uma vez, a sua obsessão. Foi o mar, assim, o seu refúgio, o seu companheiro de cismas solitárias, o seu espaço de navegos, seus sonhos sem alcançar,seus horizontes distantes e vazios. O instrumento fatídico de sua morte, afinal. Terá sido, igualmente, o de sua paz? (Palavras sobre Zila Mamede, no Conselho Estadual de Cultura, dezembro, 1985).

Américo de Oliveira Costa

Fonte: O Comércio das Palavras, Volume II, páginas 95 a 97.     

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

SEXTA-FEIRA COMEÇA O 5º CÍRCULO NATALENSE DO CORDEL

 

Confira a Programação que tá pra lá de arretada

11 de dezembro (Sexta-feira)
» 18h30min – Abertura oficial com a presença da Estação do Cordel e Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel (Anlic)
» 19h – Mesa de ideias: Marcos no Cordel: Fortalezas poéticas, construções sociais
Mediação: Carlos Alberto (RN)
Debatedores: Aderaldo Luciano (PB/RJ), Paulo Teixeira Iumatti (SP) e Helonis Brandão (CE)
12 de dezembro (Sábado)
» 8h30min – Café com Cordel com a presença dos poetas de Pau dos Ferros-RN, Manoel Cavalcante, Robson Renato e Ingrid Natália
» 9h30min – Mesa de Glosas – Na trilha feminina
Coordenação: Anita Alves (RN)
Mediação: Thaynnara Queiróz (PE)
Poetisas glosadoras: Dayane Rocha (PE), Elenilda Amaral (PE), Érica Pereira (PB), Erivoneide Amaral (PE), Francisca Araújo (PE), Lucélia Santos (RN) e Lu Fernandes (RN)
» 12h – Sarau: Poesia no Prato com a participação dos poetas e seus filhos declamando em família. Neste time teremos: Cacá de Cirilo e Clara Bezerra (Carnaúba dos Dantas – RN), Cláudia Borges e Filipe Borges (São José do Mipibu – RN), Jadson Lima e Davi Lima (Bom Jesus – RN), Wagner Cortês e Bia Cortês (Carnaúba dos Dantas – RN), Adriano Bezerra e Liane Bezerra (Santa Cruz – RN) e para fechar o sarau do dia, a voz e a criatividade dos violeiros Felipe Pereira (Natal-RN) e Helanio Moreira (Serra de São Bento – RN)
» 14h – Mesa de ideias: Debate – Cordel em Movimento, A Escrita de Inspiração Feminina no Cordel – Movimentos e atuações
Mediação: Tonha Mota (RN)
Debatedoras: Erica Montenegro (PE), Madu Costa (MG) e Nilza Dias (SP)
» 16h Mesa de ideias: Revolução no Traço Xilográfico Brasileiro O Protagonismo das Mulheres.
Mediadora: Cláudia Borges (RN)
Debatedoras xilogravuristas: Nireuda Longobardi (RN/SP) e Lucélia Borges (BA/SP)
» 18h – Sarau de Encerramento: Estação do Cordel vai à sua Casa!
Coordenado por Daniel Francisco (Parelhas – RN), que contará com a seguinte seleção de poetas: Aleixo Luiz da Fonseca (Parelhas – RN), Anielly Nogueira (Caicó – RN), Claudson Faustino (Currais Novos – RN), Constância Uchoa (Caicó – RN), Dodora Medeiros (Caicó –RN), Dorinha Rocha (Ipueira – RN), Evanilson Adelino (Carnaúba dos Dantas – RN), Fabricio Vale (Caicó – RN), George Azevedo (Jardim do Seridó – RN), Geraldo do Norte (Parelhas –RN),Hérculys França (Parelhas – RN),Iany Alves (Caicó – RN),José Alves da Silva (Parelha – RN), Léo Medeiros (Currais Novos – RN), Lucélia Santos (Patu – RN), Neco do Acordeon (Parelhas – RN), Patricia Gurgel (Caicó – RN), Patricia Sampaio (Caicó – RN), Paulo Varela (Assu – RN), Rainilton de Sivoca (Parelhas – RN), Thiago Camilo (Currais Novos – RN), Thiago Monteiro (PB), Tonha Mota (PB/RN) e Varneci Nascimento (BA/SP)
Realização
» Ponto de Memória Estação do Cordel e Academia Norte-Riograndense de Literatura de Cordel (Anlic/RN)
Comissão Organizadora:
» Tonha Mota, Moura Galvão, Claudia Borges, Anita Alves, Lucineide Vieira, Carlos Alberto e Nando Poeta
» Você pode acompanhar e interagir passo a passo com as mesas de ideias e interagir com os(as) debatedores(as). É só clicar no link da plataforma  Zoom 
» Mas também poderá acompanhar pelo  facebook   ou   youtube 

 

ESTE DEUS

Este Deus que não se contenta em ser Deus mas que também quis ser Pai.

Este Deus que nos ensina que AMAR é distribuir tudo de nós a todos.

Este Deus que aparentemente possa parecer distante, ele tem o comando de todos os reinos ontem, hoje e amanhã.

Este Deus tão meu, tão ao seu alcance ...

A Ele meu louvor, minha fé, meu canto popular e meu apelo: Maranata!


Francisco Martins

09 de dezembro 2020


DUDA DA BONECA FAZ EXPOSIÇÃO DE MÁSCARAS NA PRAIA DE SAGI

 

Duda da Boneca, este artista plástico,dançarino e multifacetado que faz da sua arte um instrumento que dá luz ao mundo, realiza neste mês de dezembro, na Praia de Sagi - RN, uma exposição de máscaras. Brevemente irei lá prestigiar o trabalho do amigo. A abertura foi dia 5 e vai até 19 de dezembro, na Casa de Taipa.


Francisco Martins

09 dezembro 2020

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

O MEU ESCRITOR E POETA PREFERIDO

Ele é Aquele que conhece a alma humana melhor do que todos os ganhadores do Nobel de Literatura.

Escreve   com tanta sapiência, mas tanta sabedoria que tudo que registrou em seu livro até o momento, nada deixou de se realizar. Não é o máximo? 

O leitor quando descobre o autor e por Ele se apaixona, assim como nos apaixonamos por:  Cervantes, Saramago,  Shakespeare,  Dostoiésvki,  Machado de Assis, Borges, Exupery, Clarice Lispector, Gabriel Garcia Marquez, Lobato, Adélia Prado, Drumonnd,  Quintana...(lembre dos seus autores favoritos), a gente vai cada vez mais gostando  Dele e percebemos que Ele nos ama como nenhum outro escritor que você conhece (mesmo fisicamente). Por isso lá no livro há muitas promessas para você. Não vou citar nenhuma, para não praticar spoiler. Vá lá e descubra você mesmo!

É  algo transcendental - domina a prosa e a poesia. Escreve crônicas,  descreve batalhas, romances, dramas, humor. Leva-nos para cenas inesquecíveis, toca-nos o coração e quem compreende sua mensagem transforma-se! Não, Ele não é mágico, mas seu livro uma vez lido causará uma reação de repulsa ao mal.

Meu escritor e poeta preferido ... Será que não é o seu também?


Francisco Martins

08 de dezembro 2020

 


 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

O VIRUS E O VELHO - PARTE II

 


-Olá Dotô! A gente se encontrou de novo.

Em março eu tive aqui proseando com vosmicê sobre o tal Corona Virus. Se arrecorda?

Pois num é que  eu estou contaminado por ele!

E tem gente que me pergunta:

“Compadre você pegou a Covid 19?”

Arrespondo com o espríto de Seu Lunga: - Não, foi ela quem me pegou!

Mentira? Não! Pegou mesmo na última quinta-feira deste mês de Santa Luzia.

Comecei a sentir uma dor no juízo, aqui dentro da cabeça.  Adepois veio um cansaço grande,

Um esmorecimento parecia até que eu tinha levado uma surra de cipó brocha.

Homi, Dotô, pra mió o sinhô intendê, era como se eu fosse  um  tejo e tivesse passado umas duras horas pelejando com a cascavel.

Pra piorar a situação  chegou a caganeira, destas de chicotada, que a gente vai se acabando pelo fundo igualzim a panela veia.

Perdi as contas que fui a casinha. Ah vírus miserável!

As caixas dos peitos  num foram afetadas, respiro tal qual um bezerro novo.

O velho bombo (coração) continua a bater na merma cadência de 56 anos atrás,  que dizer, menos, mas bate bem.

Por onde será que esse condenado entrou?

Num importa, né dotô?.

Eu quero mesmo é fazer com que ele saia de dentro de mim e vá pros quintos do Inferno.

Bicho nojento

Sujeito homicida dos sonhos alheios

Destruidor de famias

Isso só pode ser o peido do Satanás espaiado  pelos cinco continentes.

Mas eu vou miorá, Vou sim!

Anote aí Seu dotô

Mané Beradeiro não é homem que vai morrer assim facilmente.

Inda vou abrir muitas cancelas,

passar por mata-burros,

Deixar rastro em estradas  e espaiar versos como quem planta  pé de fulô.

 

Parnamirim-RN

07 de dezembro 2020

 

 Observação: Se você não leu a Parte I  clique aqui e leia: O Velho e o Vírus

domingo, 6 de dezembro de 2020

MARGARIDA

 A todas as mulheres poetas, principalmente as cordelistas, trago hoje este lindo poema  "MARGARIDA", da poeta Lisbeth Lima.



BEM ME QUER,

MAS ME QUERES.

BEM ME QUER,

MAL ME QUEREM.

BEM ME QUER,

MAL NENHUM ME QUERES.

QUANDO BEM ME QUERO

MUITO MAIS ME QUEREM.

 

Fonte: Revista da Academia Norte-rio-grandense de Letras, nº 58, ano 2019, p.247.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

O CORDEL DE SAIA (OU NÃO) - MOSTRA A FORÇA DA MULHER QUE TRAZ À LUZ OS SEUS VERSOS

 


 Izabel Nascimento, poeta cordelista, escreveu na apresentação do livro que é objeto desta resenha, o seguinte: “honrar o passado é a maneira mais admirável de alicerçar o futuro”. Concordo plenamente com a poeta dos girassóis. E aproveitando essa assertiva, dela extraio para introdução da resenha duas palavras: honra e futuro.

HONRA A QUEM MERECE

82 anos de Publicações Femininas na Literatura de Cordel” é um dos mais recentes trabalhos publicados pela Cordelaria Castro, que tem sua sede em Petrolina – PE.  A edição  foi organizada por Graciele Castro, tem capa e ilustrações de Nireuda Longobardi e também  de Kelmara Castro e Regina Drozina, poetas das goivas. 

 A obra coletiva contou com a participação de 21 mulheres cordelistas, cujos nomes citarei adiante. Além da presença de Alzinete Alencar Pimentel, Alinete Pimentel  e Suely Pimentel. Tudo nesse livro foi feito com a presença feminina, nem mesmo o projeto gráfico da capa (Julie Oliveira), a diagramação (Graciele Castro) e a revisão (Isis da Penha) fugiram disso.

Toda essa equipe e o empenho dela teve como objetivo honrar  MARIA DAS NEVES BATISTA PIMENTEL,  a primeira mulher que escreveu  poemas no gênero de cordel, publicado em 1938.  Maria das Neves nasceu em João Pessoa-PB no dia 2 de agosto de 1913. Era filha de Francisco das Chagas Batista e Hugolina Nunes Batista. O fruto nunca cai longe da árvore, e Maria das Neves é a prova disso.

Maria das Neves

     Naquele tempo, todos os poetas cordelistas eram homens. Maria das Neves recorreu ao nome do esposo Altino Alagoano (Altino de Alencar Pimentel) para  poder imprimir o folheto e vender. O título dessa obra foi  “O Violino do Diabo ou o valor da honestidade” (uma releitura do livro “O Violino do diabo” de Victor Pérez Escrich).

 

Quem desejar se aprofundar no poema do cordel acima, convido o leitor a conhecer o excelente texto “Maria das Neves Batista Pimentel: a voz por trás do verso”, de Elanir França de Carvalho e Letícia Fernanda da Silva Oliveira. Vide endereço abaixo.

A bandeira erguida pela Cordelaria Castro é digna de honra e aplauso por todos aqueles que labutam e sabem o quanto é importante apregoar o cordel brasileiro.

CONSTRUINDO O FUTURO AGORA

Há outras coisas que devo escrever sobre o livro “82 anos de Publicações Femininas na Literatura de Cordel”. É a hora de apresentar minhas considerações como crítico literário.  Primeiro: gostaria de dizer que oito décadas guarda muitos acontecimentos referentes ao tema proposto. Senti falta de uma pesquisa mais profunda sobre outras mulheres. Segundo, não sei qual foi o critério usado pela editora para formar o ramalhete das 21 poetas, mas muita gente boa ficou de fora e  que  com certeza só viria a engrandecer a obra.

Terceiro: quando eu me proponho a escrever uma crítica sobre determinado livro ou coletânea, procuro ter respeito pelos participantes, mas, sobretudo pelo meu leitor. Li e volvi minha atenção aos poemas e suas autoras. Todas as 21 convidadas receberam a missão de tecer seu poema usando o mote: “Minha trajetória no cordel”, optando pela sextilha ou setilha. Quero chamar a atenção do leitor para uma observação que jugo importante: apenas a poeta Tânia Castro optou pela sextilha no estilo corrido (AABCCB), a maioria ficou mesmo na sextilha com estilo aberto (XAXAXA) e somente Cleusa Santos escreveu em setilha.

 Debrucei-me sobre os cordéis que elas produziram, andei entre as estrofes, conversei com os versos, sentei e escutei as rimas. Vi a beleza da oração, senti o ritmo dos poemas, e alguns estão carentes disso. Quando se trata se poesia, queremos o melhor, pois a poesia é a moldura da beleza.  Esse pensamento aplica-se também ao cordel brasileiro.

Quero mulheres escrevendo com qualidade, com segurança, com o exercício de lapidarem seus versos e apresenta-los como diamantes que são cobiçados. Isso não é um sonho utópico, é tangível. Aqui, nesta resenha temos o exemplo de Giselda Pereira, poeta de excelência, e outras que estão chegando neste nível.

Trouxe tudo anotado e apliquei na minha Tabela Beradeiriana, que com base nos dados de rimas certas, métricas corretas, oração e ritmo, consigo obter o Índice de Coeficiente Poético – ICP  dessas 21 mulheres. O resultado foi o seguinte:

1)   Alaíde Souza Costa – 87,9%

2)  Aurineide Alencar – 91,2%

3)  Bhetty Brazil – 62,4%

4)  Cleusa Santo – 99,2%

5)  Cris Moura – 92,2

6)  Dani Almeida – 98,9%

7)  Daniela Bento – 93,9%

8)  EdiMaria – 98,5%

9)  Elizângela Soares – 89,3%

10)       Giselda Pereira – 100%

11)         Graciele Castro – 81 %

12)       Isabel Maia – 89,5%

13)       Josenilda Dias – 79,9%

14)       Josy Silva –  73,5%

15)       Julie Oliveira – 95,2%

16)       Madalena Castro – 93,7%

17)       Negra Aurea – 97,7%

18)       Raimunda Frazão – 79%

19)       Tânia Castro – 93%

20)      Vana Miletto – 98,8

21)       Vânia Alves – 76,3%

 Quanto mais próximo de 100 estiver o ICP, mas competente é a poeta no que diz respeito aos itens avaliados.  As cordelistas que apresentam problemas de métricas e rimas, que são os  pilares mais problemáticos na construção de um cordel, deixo aqui o que escreveu a poeta Madalena Castro:

                                       “Fiz meus primeiros cordéis 

                                               Alguns desmetrificados,

                                               Mas com o tempo eles foram

                                               Todos eles revisados

                                               Já conto quase noventa

                                               De cordéis meus publicados”

                                               (CASTRO, 2020, p.44).

 Essa é a atitude que o cordel brasileiro espera que todos os cordelistas façam sempre. Burilar o poema é engrandecer o cordel. Reconhecer os erros é uma qualidade dos grandes poetas. Infelizmente eu já ouvi alguns dizerem: “não fico preocupado se a rima ou a métrica estão certas”. Que tipo de cordel esse poeta produz? Eu mesmo venho fazendo isso com os meus cordéis. Quantos erros eu cometi de métrica e rima! Se queremos um futuro para esse gênero literário, não podemos permitir que ele continue sendo impresso com erros gritantes que atingem a  base das suas regras.

Hoje, a maioria dos poetas cordelistas possui o ensino médio e há até doutores. Eis a razão de estarmos atentos a tal assunto.

As xilógrafas trouxeram suas imagens poéticas e enriqueceram a obra. Continuem escrevendo seus textos, extraindo da madeira as raspas que permitem surgir a beleza das cenas que nascem através das vossas mãos.

Por último, gostei do registro que o trabalho apresenta fazendo referência às mulheres violeiras.  Por tudo isso, está de parabéns a Cordelaria Castro.  O livro, ora resenhado, podia ter vindo bem melhor, mas o importante é que ele chegou e está circulando pelo Brasil, compondo as prateleiras da estante reservada à História do Cordel Brasileiro.

E se eu não fosse um crítico de cordel escreveria apenas:  O livro “82 anos de Publicações  Femininas na Literatura de Cordel”, uma obra coletiva, mostra-nos o quanto o cordel é importante para transformar vida. Lemos isso nos vários depoimentos, em formas de versos, que as 21 mulheres participantes escreveram. É uma prova tangível que a poesia funciona como terapia, tábua de salvação, além de ser uma ferramenta para  hastear a bandeira do feminismo e denunciar  pensamentos retrógrados. Viva as mulheres desse universo!

Se você leu até aqui, quero que saiba, parafraseando o poeta  Manoel Cavalcante: " ...a grandeza da poesia jamais vai ser exata...a poesia não é regra de três".  Mas um texto  como manda o figurino do cordel brasileiro é bem mais bonito, isso é.

 

Mané Beradeiro

Parnamirim-RN,  29 de novembro a 3 de dezembro de 2020.

 

 Fontes:

1)   https://www.paraibacriativa.com.br/artista/maria-das-neves-batista-pimentel/

 

2)  “Maria das Neves Batista Pimentel: a voz por trás do verso”, file:///C:/Users/Cliente/AppData/Local/Temp/716-Texto%20do%20artigo-1801-1-10-20170221.pdf

 

3)   Dicionário Brasileiro de Literatura de Cordel – ABLC. Rio de Janeiro, 2005.