quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

LUÍS CARLOS LINS WANDERLEY NÃO FOI O PRIMEIRO CRONISTA DE CEARÁ-MIRIM

A História esconde segredos. Descobri-los é tarefa daqueles que gostam de pesquisar, que mergulham nos livros, em periódicos antigos, em escavações e outros meios.  Hoje é dia de anunciar que  LUIS CARLOS LINS WANDERLEY não terá mais o título de primeiro cronista da História de Ceará-Mirim.
Luís Carlos Lins Wanderley - quadro da galeria de patronos da ANRL 


Em agosto de 1882, o Bispo Dom José Pereira da Silva Barros, de Olinda-PE, esteve visitando o Rio Grande do Norte e o Dr. Luís Carlos Lins Wanderley, primeiro potiguar a se doutorar em medicina, foi convidado a fazer parte da comitiva, estando com o prelado em todas as paróquias que Dom José Pereira visitou, e entre estas a cidade de Ceará-Mirim. O olhar e as anotações do também jornalista Luís Carlos Lins Wanderley transformaram-se no livro " Visita Episcopal do Exmo. e Revdmo. Sr. D. José Pereira da Silva Barros a algumas paróquias do Rio Grande do Norte"(1887).

A memorialista Madalena Antunes, autora de "Oiteiro - memórias  de uma Sinhá-Moça"(1958) transcreve o texto escrito por Luís Carlos Lins Wanderley, no capítulo "A visita de D. José", o que comprova quanto foi marcante aquela estada de um Bispo, na cidade de Ceará-Mirim, cerca de 137 anos passados.
Madalena Antunes - memorialista






Este fato passou despercebidos pelos historiadores Rocha Pombo e Câmara Cascudo, que não registraram em nenhum momento a visita de Dom José pelo Rio Grande do Norte nos seus respectivos  livros: "História do Estado do Rio Grande do Norte" (1922) e "História do Rio Grande do Norte" (1984, 2ª edição). Cascudos lembrou de  citar no livro  "História da Cidade do Natal" (1980, p.444), afirmando que ele esteve em Natal em 8 de agosto de 1882.  O certo é que  por mais de um século e três décadas o nome do Dr. Luís Carlos Lins Wanderley foi detentor do título de primeiro cronista da cidade de Ceará-Mirim por causa do seu trabalho de relato junto ao Bispo  Dom José.

Francisco Martins tomando posse no IHGRN
Para se fazer justiça, o pesquisador Francisco Martins, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e da Academia Cearamirinense de Letras e Artes - ACLA - Pedro Simões Neto encontrou neste mês de fevereiro de 2019, um texto no jornal  "O Dois de Dezembro", periódico político e noticioso, datado de 10 de fevereiro de 1860, portanto 22 anos antes da visita episcopal, que muda essa história.. A crônica tem como título:  "VIAGEM OFICIAL DO EXMO. SR. DR. JUNQUEIRA À VILA DO CEARÁ-MIRIM". Dr. Junqueira citado na crônica era o Presidente da  Província do Rio Grande do Norte,  João José Junqueira que governou de 4 de outubro de 1859 a 28 de abril de 1860. Ele fazia parte do Partido Conservador.
Brasão do Partido Conservador

 A importância desta crônica para a História de Ceará-Mirim é de uma valor considerável. A visita do Dr. Junqueira começa a ser feita no dia 31 de dezembro de 1859, às 17 horas,  saindo a cavalo de Natal com destino à Vila de Ceará-Mirim, via Extremoz,  com a sua comitiva composta pelo chefe da polícia,  um ajudante de ordem,  um oficial da secretaria de policia, do guarda-mor da alfândega, e dois deputados provinciais.
Diz o cronista: "Na altura do Jorge, uma légua antes de chegar à vila foi S. Exc. recebido pelo comandante superior Manoel Varela do Nascimento, e mais um número crescido de cavaleiros que, juntos aos do Sr. Leopoldo, pode-se dizer, formavam um esquadrão completo de cavalaria".
O Leopoldo citado acima é  Manoel Leopoldo Raposo da Câmara que foi ao encontro do Dr. Junqueira, uma légua antes de Extremoz, oferecendo sua casa para a estada do Governo Provincial.
Dr. Junqueira visita os alicerces da construção da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, fazendo doação de dois contos de reis para a obra do templo. Vai aos  engenhos Carnaubal  e Cumbe.
A visita termina na tarde do dia 3 de janeiro de 1860, quando pelas 17 hs volta para Natal. Quem foi o autor desta crônica? Eis um enigma  a ser decifrado. O cronista, habilidoso e de pena ágil, não quis assinar com o seu nome verdadeiro, fez uso de um pseudônimo:  O ROCEIRO DA CAPELA.

Brevemente, ainda neste semestre, o pesquisador Francisco Martins estará lançando uma plaqueta com ambas as visitas.

 
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Um comentário:

jornal da grande natal disse...

Geralmente quem assinava o expediente do jornal, em certo momento, por um motivo ou outro, não assinava texto. Nao era muitk costume assinar artigos.