quinta-feira, 27 de maio de 2021

DEDÉ SIMIÃO BUSCA A IMORTALIDADE NA ACLA



CANDIDATOS À ACLA
Dando continuidade à apresentação dos acadêmicos que concorrerão às vagas disponíveis das cadeiras da ACLA, apresentamos artigo de J Simião Severo, mais conhecido como Dedé Simião, que concorre à vaga da cadeira nº 20.
Lembramos que neste sábado, dia 29 de maio, às 15 h, a ACLA se reunirá virtualmente para cumprir a última etapa do processo seletivo de escolha dos nomes dos candidatos.
MÚSICA: ENTRE O RACIONAL E O MOMENTÂNEO.
Antes de tudo, faz-se necessário deixar claro que o termo “música popular brasileira (MPB)” está relacionado a toda música composta a partir das especificidades da cultura popular no país, abrangendo desde o folclore a outros estilos, por exemplo, música pop, funk dentre outros. A propósito, existe uma linha de pensamento entre pesquisadores e professores de música para melhor especificar um termo para o tipo de composição elaborada com maior expressividade e relações técnicas musicais. Assim, teremos o termo “Música Brasileira Popular (MBP)”.
Desse modo, a Música Brasileira Popular (MBP) vem perdendo cada vez mais espaço para o que podemos denominar de música de “massa”, para a “massa”, ou ainda, a qual considero música descartável. Sobre estes últimos termos, justifica o curto prazo de “vida” que a mesma possui, melhor falando, podemos observar a rapidez que determinados sucessos momentâneos são esquecidos pelo grande público e por quem as consomem. Por outro lado, tanto o mercado fonográfico quanto as redes sociais exercem forte influência para a valorização dessa vertente. Ademais, faz-se necessário mencionar que não só a música disponibilizada nas mídias molda os sentidos de gênero dos adolescentes, bem como os estilos dos adolescentes também influenciam a indústria musical.
Considerando que a música é inerente ao ser humano, e sendo assim uma maneira de expressão, ela fala muito de uma comunidade e de um indivíduo, de uma personalidade. Desse modo, se queremos conhecer o intelecto ou até mesmo a concepção de “mundo” de uma pessoa, descubramos que tipo de música ela gosta de ouvir. Não é intenção exibir juízo de valor para qualquer que seja o gênero musical, pois, acredito que se existe exagero de uma sociedade valorizar somente um tipo de música que é exposta como música “atual”, isso fez parte (e ainda faz) de uma enculturação enraizada e disponibilizada de maneira fácil. Existe todo um contexto que pode identificar as práticas e “consumo” musical.
A música é uma forma de expressão que se faz presente em cultos, momentos festivos, dentre muitos outros. Assim, podemos distingui-la através de três dimensões: plano emocional, racional e corporal. O emocional se refere à música que mexe com nosso sentimento. O racional, favorece aos músicos no sentido de eles terem certas vivências que disponibilizam uma percepção mais técnica musical, sendo automaticamente induzidos a pensarem nos aspectos rítmicos, melódicos, escalas utilizadas, forma musical, dentre outros pontos técnicos musicais. Entretanto, é oportuno mencionar que o racional não é especifico apenas dos músicos, uma vez que qualquer pessoa pode estudar história da música, por exemplo, e extrair conteúdos por meio da apreciação. Além disso, cada pessoa pode sentir uma determinada música de forma diferente, conforme suas experiências culturais. Portanto, a racionalidade implica uma compreensão, levando em consideração que há muito para se compreender na música além da técnica e virtuosidade. Já o corporal, tem somente a intenção em levar o ouvinte ao ato de dançar, não contemplando aspectos melódicos, harmônicos e até mesmo poéticos excepcionais.
A mídia impõe, e por isso, muitos acham que é de melhor qualidade, resultando em atrofiamento musical de quem se fecha apenas para uma vertente disponibilizada. Quando falo em mídia, também estou incluindo a internet com suas redes sociais, as quais exercem forte influência na atualidade. Podemos notar essa falta de apreciação em muitos gêneros brasileiros, por exemplo, a Seresta, que é tido como estilo musical que busca homenagear os romances e cantar as amizades.
Em detrimento as diversas possibilidades que a música, MBP, dispõe para que as pessoas possam se expressar por meio de maiores possibilidades sonoras musicais, bem como pelas poéticas que retratam sentimentos reais e emocionais, os falados hits do momento são levados para o topo do sucesso momentâneo apenas por conterem uma estrutura musical que contempla somente ao corporal, e que por vezes enfatizam e apelam para performances de danças e letras exacerbados.
Nesse sentido, considerando a música também uma forma de comunicação humana, é provável que a mesma tenha relação com o desenvolvimento reflexivo e intelectual do indivíduo. Assim sendo, o que vivemos hoje em nossa sociedade em relação aos estímulos e reações adversas emergentes, pode estar intrinsecamente relacionado aos hábitos enfatizados por um determinado grupo ou sociedade.
Nessa perspectiva, o gênero Seresta, estilo o qual fez parte da cultura ceará-mirinense, bem como outros estilos etnograficamente recriados em nossa cidade, entram em declínio e perde espaço para uma cultura de “massa”, fenômeno esse recorrente em todo o Brasil. É preciso considerar o “passado” para se consolidar um futuro mais étnico e genuíno, que possa revigorar conscientemente valores históricos e humanitários. Ceará-Mirim foi “palco” de grandes Serestas e de “personagens” esquecidos ou pouco lembrados, por exemplo, os violonistas Misael Coelho e Raimundinho, que com suas maneiras de cantar e encantar deram contribuições para a cultura local. Sobre esses assuntos, espero retornar a escrever sobre essas e outras figuras que de uma forma ou de outra contribuíram para a cultura popular musical local.
Efetivamente, de forma geral, vivemos em um tempo de fácil acesso a conhecimentos de altíssimos níveis, entretanto, a maioria prefere permanecer ao que rotulam de “moderno”, ou seja, buscam por “modinhas musicais” descartáveis. Ora! ser moderno é ser simplório? Deixo essa pergunta para uma reflexão. Não quero dizer com isso que não seja viável usufruir da música feita para o plano corporal, afinal, ainda existem boas músicas para este fim. Resumindo, vejo a não valorização da música composta com o intuito emocional e racional, um fato pertinente a uma educação a qual abrange família, escola, professores, pessoas de voz ativa na sociedade, bem como, uma responsabilidade de cada um de nós como seres étnicos.

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