sexta-feira, 5 de maio de 2023

A MÃE DO BANDIDO


O dr. Generino Semifusa

se levantou pra defender o réu.

- Senhores, o bandido que se acusa

é o tipo mais perfeito do bandido.

Não tem moral nem religião - é increu

O crime perpetuou-o, foi cometido

com a agravante de - premeditação.

É homicida e ladrão.

(Enxugou o suor. Toda a platéia 

escutava essa enorme verborréa).


- Mas, senhores jurados, vós sabeis

que a pérola nós vamos encontrar

numa ostra, enterrada sob a lama.

Este bandido de alma pervertida,

possui um sol que brilha em sua vida.

Pelo processo lido, vós vereis

um ponto importantíssimo, que a trama

do inquérito escondeu. Vou revelar

que esta alma pelo crime emperdenida,

que é capaz de matar por um vintem

assim como faz mal, pratica o bem.


Este homem que vós ides condenar

tem mãe. É uma velhinha já de oitenta,

a quem, filho exemplar, ama e sustenta.

Essa velhinha vós ides matar!


(O promotor, um bacharel careca

nervoso se assuou na própria beca.

Os jurados, deveras comovidos,

intimamente pensavam na mui gasta dirimente

da "privação dos sentidos".

O próprio juiz sentia a entalação

da mais profunda e inédita emoção)


Para encurtar esta enfadonha história

vou dizer a verdade nua e crua.

O defensor ficou cheio de glória

e o tribunal jogou o homem na rua...


Dez minutos depois, uma velhinha

já tremula, falou ao defensor:

- Venho beijar-lhes as mãos, senhor doutor!

Nossa senhora sempre o acompanhe...


Semifusa ficou todo nervoso.

- Mas quem é a senhora? perguntou.

- Eu sou, doutor, a mãe do criminoso...

E o doutor Generino retrucou:

- Minha pobre velhinha, não estranhe,

... eu nem sabia que ele tinha mãe!


FONTE: Baú de Turco

AUTOR: Sá Poty

ANO: 1932, 3ª edição, pág, 84 a 86

Editor Pedro Lopes - Recife-PE











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