O Poeta Milton Siqueira (1911-1988) considerado um dos representantes da poesia marginal, escreveu também na linguagem sertaneja. A prova disso está no livro Emoções.
Truvuada
Ao colega José Praxedes, o maior poeta vaqueiro do nordeste
Chuva, relampo e truvão,
Essa noite foi bunito,
So se uvia a exprosão
Pulos artos infinito!
O pai da boa cuaiada
Tava brabo qui nem feria,
E sapecava as espada
Dos relampo nas esferia!
Cabra trimia de medo
Quando as luz alumiava
Sub os serrote e os penedo,
E os curisco os ceu riscava!
Os aniná dos pulero
E os outro dos currá,
Correro tudo ligero,
Pra mode se ocurtá!
Era grande a tempestade,
Paricia tiroteio
Ou metraia de verdade,
Ou o qui dizê nem seio!
Rezava a Nosso Sinhô,
De frieza intiriçado,
E trimendo de pavô!
Uma faisca caiu
Numa oitica veia,
Uma zuadão se uviu
Pru riba de nossas teia!
Pensei cum eu ca cum migo,
O mundão hoje se acaba,
Pru mode qui isso é castigo
Que sub os mortá disaba!
As ventania chiava
Como as cascavé zangada,
E as têia arrebentava
Numa fura indimonhada!
Pru toda parte curria
Um riacho invulumoso,
Os bucho dos rio inchia
Cumo dragão pavoroso!
Qui São Jiromo nas vala,
Pru toda sua bondade,
Rezava as muié na sala
Do meu vizinho e cumpade!
Os truvão arribombava
Cumo bomba de canhão,
Os relampo arrelampava
Como boca de vurcão!
Os chão tava qui nem papa,
Dave lama nos jueio,
Hoje aqui ninguem inscapa,
Tive no imo esse anseio!
Eu tinha me alevantado
E abrido a minha jinela,
Mode inspiá assustado
A frevura da panela!
O ceu simiava um pote
A chuvê chuva pra baxo,
E as terra era um caçote
Merguiando num riacho!
A tão danidas trumenta
Cuma essas do sertão,
Ninhuma corage infrenta,
Nem se fô Napulião!
Mondé
Ao Veríssimo de Melo e ao Câmara Cascudo
Fulô, eu não sou preá,
Mode caí im mondé...
Tu tem no peito, muié,
Um gato maracajá...
A tuarma é cascavé
Pricurando invenená
Meu coração a briá
Chêio de amô e de fé!
Num sou Adão, traidera,
Muié ruim, fuxiquera,
Mode cumê a mação!
És irismã da seipente,
Te finguindo dinucente,
Mode eu caí no arçapão!
FONTE: Milton Siqueira, Emoções. Rio Grande do Norte - 1950.
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