Machado de Assis mexe muito com minha curiosidade de leitor. Sempre estou aprendendo com ele e descobrindo coisas, principalmente no tocante a semântica. Um bom exemplo é o emprego das palavras concerto e conserto usadas nos textos machadianos. Aprendi quando estudante, que há somente duas formas para se aplicar essas palavras, ei-las:
a) Use "conserto" quando tiver significado de reparo, restauração, reforma, remediar, corrigir, colocar algo em bom estado.
b) Use "concerto" (com a letra “c”) para indicar uma sessão musical, agindo como um sinônimo de orquestra, espetáculo ou show musical.
E assim acreditei e confiei nos meus mestres que fora disso não há mais nenhuma chance de ser empregada a palavra concerto.
E foi lendo e relendo algumas obras de Machado de Assis que encontrei concerto (C), quando deveria ser com (S). Estaria Machado de Assis errado? Confira você mesmo leitor.
1) Mas, meu amigo, é muito bom ter casas: o senhor é que não conta os estragos, os consertos, as penas-d'água...
2) Custódio tirou o lenço, alisou o chapéu devagarinho; depois guardou o lenço, concertou a gravata...
(Papeis Avulsos II/ O empréstimo, p. 53)
3) Durante a estação lírica é a ópera; cessando a estação, a alma exterior substitui-se por outra: um concerto, um baile ...
4 ...todos os olhos estão no Jacobina, que concerta a ponta do charuto, recolhendo as memórias.
(Papéis Avulsos II/ O Espelho, p. 73)
E agora, as frases 2 e 4 estariam erradas?
A priori, com base no conceito acima, poderíamos afirmar que sim, mas o dicionário Aurélio nos lembra que a palavra não tem apenas esse significado. Con-cer-to pode vir na frase com o sentido de harmonia ou acordo.
Assim sendo, Machado de Assis não errou.
São coisas da nossa Língua Portuguesa. Que como dizia o Barão de Itararé, "Calça é coisa que se bota e bota é coisa que se calça".
Referências
ASSIS, Machado. Papéis Avulsos II. São Paulo: Globo, 1997
a) Use "conserto" quando tiver significado de reparo, restauração, reforma, remediar, corrigir, colocar algo em bom estado.
b) Use "concerto" (com a letra “c”) para indicar uma sessão musical, agindo como um sinônimo de orquestra, espetáculo ou show musical.
E assim acreditei e confiei nos meus mestres que fora disso não há mais nenhuma chance de ser empregada a palavra concerto.
E foi lendo e relendo algumas obras de Machado de Assis que encontrei concerto (C), quando deveria ser com (S). Estaria Machado de Assis errado? Confira você mesmo leitor.
1) Mas, meu amigo, é muito bom ter casas: o senhor é que não conta os estragos, os consertos, as penas-d'água...
2) Custódio tirou o lenço, alisou o chapéu devagarinho; depois guardou o lenço, concertou a gravata...
(Papeis Avulsos II/ O empréstimo, p. 53)
3) Durante a estação lírica é a ópera; cessando a estação, a alma exterior substitui-se por outra: um concerto, um baile ...
4 ...todos os olhos estão no Jacobina, que concerta a ponta do charuto, recolhendo as memórias.
(Papéis Avulsos II/ O Espelho, p. 73)
E agora, as frases 2 e 4 estariam erradas?
A priori, com base no conceito acima, poderíamos afirmar que sim, mas o dicionário Aurélio nos lembra que a palavra não tem apenas esse significado. Con-cer-to pode vir na frase com o sentido de harmonia ou acordo.
Assim sendo, Machado de Assis não errou.
São coisas da nossa Língua Portuguesa. Que como dizia o Barão de Itararé, "Calça é coisa que se bota e bota é coisa que se calça".
Referências
ASSIS, Machado. Papéis Avulsos II. São Paulo: Globo, 1997
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