sexta-feira, 4 de setembro de 2020

terça-feira, 25 de agosto de 2020

JESUÍNO BRILHANTE SOB A MIRA DE HONÓRIO DE MEDEIROS

 Honório de Medeiros encontra o herói? Ou bate de frente com um bandido impiedoso? Eis a trilha que o leitor, a partir de agora, precisa seguir para encontrar a resposta”, do prefácio de Vicente Serejo.

 Honório de Medeiros apresenta Jesuíno Brilhante.

 Terceiro volume da sua saga sobre o cangaço no Rio Grande do Norte, “Jesuíno Brilhante: o primeiro dos grandes cangaceiros” (Offset Gráfica, 2020, 308p.) é um trabalho de pesquisa profundo que ultrapassa a narrativa biográfica.

“Jesuíno Brilhante” de Honório de Medeiros recupera uma época, a segunda metade do século XIX no Rio Grande do Norte, dirime dúvidas, esclarece fatos e reúne um documentário acerca do lendário cangaceiro.

 O autor, além disso, propõe uma revisão da literatura, discute o conceito de cangaço e outras questões pertinentes, como a dicotomia latente nos estudos do cangaço sobre heroísmo versus banditismo.

 Na  explicação, a título de apresentação, o autor, dentro da tradição do contar do sertanejo, apresenta as suas armas de autor-pesquisador e coloca a proposta do livro.

 Rico em notas e referências elencadas, estudadas, discutidas e questionadas, a publicação é uma contribuição importante aos estudos da história do Rio Grande do Norte, juntando-se aos melhores trabalhos e classificando-se como um profundo trabalho de pesquisa.

 O prefácio do jornalista Vicente Serejo apresenta o livro e situa a produção intelectual do autor no tema do cangaço e na estudos norte-rio-grandenses.

 Também se denota a qualidade editorial e gráfica do volume. A imagem da capa é uma obra de arte de Etelânio Figueiredo, o projeto gráfico de Waldelino Duarte, a ilustração de Gustavo Sobral, e a edição e impressão da Offset Gráfica de Ivan Jr.

 Contatos do autor

honoriodemedeirosblogspot.com

honoriodemedeiros@gmail.com

 

(Observação: material recebido por e-mail, através de Gustavo Sobral)

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

MARCO MACIEL: 80 ANOS

 

A Academia Brasileira de Letras apresenta, através de seu canal de podcast, a série Efemérides Acadêmicas, uma homenagem especial aos oitenta anos do Acadêmico Marco Maciel, eleito em dezembro de 2003. O episódio, que irá ao ar no dia 25 de agosto às 16h, conta com a participação dos Acadêmicos Marcos Vinicios Vilaça, Fernando Henrique Cardoso e Joaquim Falcão.

Este terceiro episódio dá continuidade à série de podcasts em comemoração de aniversários “redondos” de Acadêmicos e celebrará seus feitos e marcos ao longo de suas trajetórias dentro da Casa de Machado de Assis. A emissão está disponível no site da Academia, assim como nas plataformas Apple Podcast, Spotify, Deezer e Castbox.

Para conhecer a biografia do aniversariante  clique aqui:biografia

 

 

ARNO WEHLING FARÁ PALESTRA NA ABL

 

EDITORA PULO DO GATO FAZ LIVE COM ANDRÉ NEVES

 

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

AS CORES DO CORPO


Recordo de um tempo
Onde as causas
Pareciam perdidas.
No entanto, a saudade,
Esse sentimento demodê,
Abominado pelos desalmados,
Tortura-me a alma,
Se queres então me amar,
Faça dos meus versos
A tua cama aquecida
E dos meus beijos
Soluços de esperança.

                Alfredo Neves

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

UMA FLOR, COM URGÊNCIA!

 Este homem está louco!

Deem-lhe água,

Fresca e pura,

Limpa e clara.

A água acalma

Toda a loucura.


Este homem está louco!

Deem-lhe um pouco

De música, sim!

Branda música macia.

Isso é muito bom,

Isso alivia.


Este homem está louco!

Deem-lhe uma nuvem,

Uma nuvem perdida,

Dessas que a tarde surgem

Diante do sol e viajam

Mansas e coloridas.


Este homem está louco!

Deem-lhe uma flor.

Nada mais indicado

Para o seu caso,

Se é loucura de amor.

Deem-lhe uma flor.


Afrânio Zuccolotto ( 1913-1997)

terça-feira, 11 de agosto de 2020

CONTINUA AMANHÃ - DIA 12 DE AGOSTO - O IX ENCONTRO POTIGUAR DE ESCRITORES.

 

 

O IX ENCONTRO POTIGUAR DE ESCRITORES (EPE), realizado pela União Brasileira de Escritores (UBE/RN), está acontecendo de forma virtual,  durante o mês de agosto. É um evento que marca os 61 da instituição em solo potiguar. Porém, devido à pandemia da Covid-19 e à necessidade de se continuar respeitando o isolamento social, a IX EPE que teve início dia 5 último, prossegue amanhã, dia 12, e também nos dias 19 e 26 de agosto,  sempre às 19h, nas quartas-feira,s momento em que escritores contemporâneos, membros da UBE/RN, prestarão homenagem, a doze membros (in memoriam) que colaboraram para essa instituição e deixaram um legado cultural para o estado.

Palestrantes: Aluísio Mathias (Othoniel Menezes), Ana Claudia Trigueiro (PalmyraWanderley), Andreia Braz (Newton Navarro), Carlos Miranda Gomes (Ana Maria Cascudo), Dulinda Garcia (Miriam Coely), Geralda Efigênia (Lúcia Helena), Gilmara Machado (Zila Mamede), Humberto Hermenegildo (Câmara Cascudo), José de Castro (Berilo Wanderley), Júnior Dalberto (Sandoval Wanderley), Paulo Caldas Neto (Carolina Wanderley) e Tereza Custódio (Edgar Barbosa).

Espera-se contar com a participação de docentes e discentes da rede pública e privada do RN, mediadores de leitura, bibliotecários e demais público.

O certificado de participação será emitido pelos participantes que obtiverem a presença mínima de 75%. Maiores informações: ubern.comunica@gmail.com


COMISSÃO NORTE-RIO-GRANDENSE DO FOLCLORE VAI CELEBRAR OS 100 ANOS DE VERÍSSIMO DE MELO

 

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

DIA 13 DE AGOSTO TEM LIVE COM MANÉ BERADEIRO

 

ASSIM DISSERAM ELES ...

 
 
"Quem deixa de ser estudante jamais continua bom professor"

Câmara Cascudo

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

UM VELHO LIVRO



    Um velho livro, com seu cheiro peculiar, suas páginas amareladas. Ele me diz quantas pessoas já passaram as mãos em sua face, consultaram seu conteúdo e algumas as abandonaram. Um velho livro, com tantas histórias para mim contar. E eu ávido para ouvi-lo. Prometi que em minha pequena biblioteca ele terá um lugar especial, por ser quem é, e por ter sido de um ilustre professor: Protásio de Melo, o homem que ensinava português aos americanos, na base de Parnamirim, por ocasião da II Guerra Mundial.

sábado, 1 de agosto de 2020

O HUMOR DE MANÉ BERADEIRO - UM BATIZADO VERDE

  

      O Padre Alcides Pereira foi um dos mais atuantes que passou por Macaíba. Certa vez, foi escolhido para fazer o batismo do filho do preto e fanático aluizista João Curador. Corria os anos 60. Aluízio Alves era governador a quem o padre Alcides não via com bons olhos. O batizado foi marcado para 17 horas. Igreja cheia. Aluízio no auge. A família de João Curador toda vestida de verde. O menino que se chamava Aluízio, vestia enxoval verde, toca verde, bubu verde, sapatinho verde, tudo verde. Aluízio deu uma massada de duas horas, para desagrado e irritação do padre Alcides. Quando o governador chegou, de repente, todos se reuniram em volta da pia batismal e aí o padre Alcides, possesso, se referindo à criança, soltou o vozerão: "Tragam o garfanho!!!".


Referência: MESQUITA, Valério. Memória Popular V. Revista da ANRL. Edição 63, abril a junho 2020, p. 163.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

OS ACADÊMICOS DA ACLA SAÚDAM CEARÁ-MIRIM, NOS 162 ANOS DE SUA EMANCIPAÇÃO POLÍTICA


– CADEIRA 01 – CAIO CÉSAR CRUZ AZEVEDO
Meu coração bate e ainda semeia vigor em vias que fazem vibrar o meu Ceará-Mirim. O vale todo reverdesce, espraia-se, como um antigo deus protetor vindo das mitologias da terra. A visão é do paraíso. Rogamos para este coração, como para tantos outros, no centro do viver, perpetuar esta cidade, como afirma Madalena Antunes “as cidades não morrem... até mesmo quando caem em ruínas, salva-as do aniquilamento aquela alma fecunda que as revive, por ser consciente que o patrimônio arquitetônico é um livro de pedras, areia e cal a narrar com a escrita do tempo a construção de nossa identidade”.

– CADEIRA 03 – PAULO DE TARSO CORREIA DE MELLO
Ceará-Mirim é a poesia das lembranças de infância, Ceará-Mirim sou eu subindo a rua calçada em pedras irregulares, ao fim da tarde. Vestido em um terno azul, levo um presente bem embrulhado e um ramo de saudades roxas que me enfiaram na mão. Vou ao aniversário de uma namorada menina. Neste exato momento o relógio da igreja bate as cinco horas. Continuo escutando pelo resto da vida.

– CADEIRA 04 – FRANCISCA MARIA BEZERRA LOPES
Minha mente absorvia e contemplava euforicamente o VALE. E, novamente, feito criança ao entoar os parabéns numa festa de aniversário, ressoou em meus ouvidos novos aplausos. Muito mais que uma obra de arte estava lá. Divino, pintura natural. Suprarreal. Que o tempo nem o homem, ainda, não conseguiram apagar. Continua enchendo os olhos de muitos até hoje, e recebendo efusivos aplausos.

– CADEIRA 06 – ANDRÉ FELIPE PIGNATARO FURTADO DE MENDONÇA E MENEZES
Ceará-Mirim, terra dos meus antepassados, tanto pelo lado paterno como pelo materno, descobri-te tarde demais. Porém, me recebeste de braços abertos, e, hoje, sinto-me como um verdadeiro filho teu. Como é agradável andar pelas tuas veredas e respirar a tua história; ouvir os teus sussurros e sentir o teu doce sabor; escutar os teus gemidos e inalar o teu perfume.
Parabéns, Ceará-Mirim, pelos teus 162 anos de lutas e glórias.

– CADEIRA 07 – ROBERTO BRANDÃO FURTADO
FÉRIAS EM CEARÁ-MIRIM.
Da rua das Trincheiras para a rua da Igreja, era um pulo: dois quarteirões. Lá me esperava a pelada apalavrada com João Palhano e Zé Moreira. Para chegar ao local da lide, bastava pular as bueiras com a ajuda da vara de bambu. Depois do jogo, uma “furtiva” incursão ao sítio de Aurora Barroca, na rua Grande, para usufruir do sabor das uvas do seu bem cuidado parreiral. De volta para casa, passar em frente a casa de Clóvis Soares, dona Corinta de seu Simeão, dobrar na esquina de Chico Leopoldino, sem antes dispensar uma olhadela para a mansão de Valdemar de Sá, vizinha a casa de esquina que morei, perto da padaria de João Neto e no oitão de Dr. Canindé. A noite, duas opções: jogar sinuca com Pedro Champirra, no Café de Cleto, sob os olhares de Coronel Pinto e de Vital Correia ou ir ao cinema de Jorge Moura, assistir um episódio de Besouro Verde.
Que boa era a infância!

– CADEIRA 08 – GIBSON MACHADO ALVES
ENCANTOS DO MEU LUGAR. Lugar de lembranças, de sonhos e, sobretudo, de esperança! Memórias de um tempo que já vai longe, na infância, quando a alegria da meninada, eram as peladas no sítio de Antônio Potengi, o campinho dos irmãos Manoelzinho e Carlos Gusmão, nosso mundo encantado lobatiano apesar da ausência de suas figuras mitológicas. Lá, vivíamos sonhos e momentos de felicidade, brincávamos e criávamos nossas fantasias de crianças e adolescentes, já na fase das resenhas amorosas juvenis. Tantas lembranças de um pequeno e efêmero espaço temporal! Nossa aldeia de menino, tão conhecida e explorada, tornou-se estranha, desconhecida e distante de nossas reminiscências provincianas.

– CADEIRA 09 – MÚCIO VICENTE DE OLIVEIRA
VALE ORGULHO, PARABÉNS!
Venha conhecer a nossa cidade,
A maior igreja do estado, a casa do barão;
A usina são Francisco; o engenho união
O túmulo da linda Emma; a fazenda nascença.
O banho das escravas, a casa grande do Guaporé,
O olheiro diamante, o engenho verde nasce, a fazenda Igarapé.
Os quilombolas em coqueiros, Capela, matas, mineiros.
Orgulho-me quando falo sempre assim,
Do vale do Ceará-Mirim, dos verdes canaviais.

– CADEIRA 10 – LEDA MARINHO VARELA DA COSTA
Ceará-Mirim é uma terra repleta de fascínio que me faz sentir casada com a Natureza – canavial, mar, rio – onde consigo beber crepúsculos adocicados de mel e me vestir de auroras poéticas.

– CADEIRA 11 – JOSÉ DE ANCHIETA CAVALCANTI
AS PALMEIRAS DO COLÉGIO SANTA ÁGUEDA.
Reverenciando o aniversário do Ceará-Mirim.
Eis que se postam altaneiras, com seus leques abertos ao vento, olhando o vale distante em um místico de oração! Quem são elas? São as palmeiras do velho Colégio Santa Águeda! Elas são as únicas palmeiras da minha infância, infância que as viu crescer, encantar os poetas e, depois, muito depois, caírem aos “golpes do machado branco”, no dizer de Augusto dos Anjos e “não mais levantaram da terra”, ainda no dizer do maravilhoso vate paraibano [...]
E as palmeiras que já se manifestaram e já se foram, deixaram na alma do menino, o forte sentimento de saudade e de ternura de um tempo bom que não voltará jamais!
Parabéns Ceará-Mirim, por mais um aniversário.

– CADEIRA 13 – BIANCA DI ANGELI CARRERAS SIMÕES
Das altas elevações desta terra
Até os vastos canaviais,
Uma coisa que nunca se erra
É a memória dos imortais.
Lembro as palavras do meu pai
Que quando saía de Ceará-Mirim
Nenhum lugar ocupava, jamais
O espaço era só dela, simples assim.
Viva a Ceará-Mirim, nos seus 162 anos de emancipação.

– CADEIRA 14 – JANILSON DIAS DE OLIVEIRA
Ceará-Mirim minha cidade querida!
Jamais te esquecerei
Es a razão de minha vida
Para sempre te amarei.

– CADEIRA 15 – JEANNE ARAUJO SILVA 
EM TEUS VERDES ENCANTADOS
Na primeira manhã em que te vi, vestias teu mais lindo vestido em tons de verde, e o vento ondulava sua saia que voava suavemente e me encantava. Foi amor à primeira vista. Meus olhos pousaram sobre os teus e nunca mais quis me ver longe de ti, dos teus encantos e de tua suavidade. Não te toquei naquele dia. Não conheci suas curvas e esquinas. Mas embrenhastes no meu coração e não pude te esquecer um só minuto. Então foi preciso tomar a decisão e voltei. Desta vez, cada vez mais enamorada, voltei pra ficar junto a ti. E o mesmo assombro de sua beleza me encantou os olhos. Os seus tons de verde me feriram os olhos acostumados com o cinza do sertão. A umidade de seus orvalhos umedeceram esses mesmos olhos ressecados de solidão. Eu já não era mais sozinha, eu tinha a ti, que me acolheu docemente.

– CADEIRA 16 – RICARDO DE MOURA SOBRAL
CEARÁ-MIRIM DO MEU CORAÇÃO
“Terra de que ninguém se desprende sem perder o espírito”.
Quem ousa acrescentar algo à frase de Nilo Pereira, autor da Manhã da Criação? Diante de ti, terra dadivosa, berço fecundo, pátria afetiva, repouso celestial, curvo-me eternamente grato por desfrutar de sua insuperável beleza natural, da generosidade de seu povo, e pelo legado que me transmitistes dos meus ancestrais, plasmado numa memória presencial entrada no quarto século. Retribuo-te, terra amada, com a minha presença, discreta e silenciosa.

– CADEIRA 17 – SAYONARA MONTENEGRO RODRIGUES
Em seu solo sagrado, que tanta história possui, tantos talentos vertem, comemora-se os seus 162 anos de beleza, tradição e glória.
Parabéns, Ceará-Mirim!

– CADEIRA 18 – FRANCISCO MARTINS ALVES NETO
É verdade minha menina?
162 anos faz você nesta jornada.
Uma criança, uma cidade, uma bondade.
Desejo-lhe felicidade!

– CADEIRA 19 - MARIA DA CONCEIÇÃO CRUZ SPINELI
PARABÉNS A CEARÁ-MIRIM
No dia 23 de março do ano de 1903, Dolores Cavalcanti, filha de Ceará-Mirim, lançava um jornal feminino chamado “A Esperança”, e convidava os presentes a “[...] ir comigo a tantos lugares de paisagens e cenários, ver o rio descer em cheias diluviais: ouvir a voz do canavial, tangido por um sopro de poesia; entrar na matriz e orar a Nossa Senhora da Conceição; descer e subir pelas velhas ruas, onde há de cada um de nós um pouco [...]”. Passados 117 anos, com a mesma Esperança, faço um convite de volta ao passado desejando perspectivas alvissareiras para o futuro, parabenizo a cidade de Ceará-Mirim.

– CADEIRA 20 – MARIA MARGARETH DA SILVA PEREIRA
“As capelas nas terras dos senhores de engenho demonstram a devoção da família e os passantes até hoje se transpiram no tempo.”
CABAÚ: do engenho ao casario p.133

– CADEIRA 21 – GERINALDO MOURA DA SILVA
CEARÁ-MIRIM - 162 ANOS DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA.
Era o ano de 1858. Nascia na província do Rio Grande, a Briosa Vila do Ceará-Mirim, que mais tarde se tornaria uma fidalga cidade encrustada num verde e paradisíaco vale. Orgulho de todos nós seus filhos, nativos ou adotivos que sempre a cantaram em verso e prosa. Do adro da matriz de Nossa Senhora da Conceição, admirando o balançar do canavial parece que a Divina Providência quis deixar sua marca indelével de beleza e riqueza em seus vários aspectos. Não no sentido capitalista e materialista, mas uma riqueza cultural, histórica e arquitetônica onde os poetas, músicos e artistas registraram no tempo e na memória de todos o que de mais belo possuímos.
Parabéns à nossa terra e aos todos que aqui vivem e que aprenderam a amá-la e sonham sempre com dias melhores sob o manto protetor da Virgem Mãe de Deus.

– CADEIRA 22 – FRANKLIN MARINHO DE QUEIROZ
Aos 162 anos de idade, um município é uma criança, consequentemente temos que cuidar dele com o mesmo zelo, amor e responsabilidade que se dedica a um infante. Este é o meu pensamento, esta é a minha atitude para com o Ceará-Mirim. A ternura, a saudade de outrora, da origem do seu povo, da sua aristocracia canavieira, dos seus altos e baixos, não cabem nesta mensagem, para dizer o que penso e o que sinto pela minha terra, mas estou sempre no casarão da antiga rua da Aurora, a disposição de todos, para relatar os fatos históricos desta cidade que eu tanto amo.
Viva ao Ceará-Mirim!
Viva a Nossa Senhora da Conceição!

– CADEIRA 23 – MARIA LEONOR ASSUNÇÃO SOARES
Ceará-Mirim, comemoramos hoje 162 anos de sua emancipação política. É Fácil falar sobre você, minha terra querida, pois há muitos anos desfruto das suas belezas, vibro com suas alegrias e sofro com suas tristezas. Quero, portanto, desejar a você e a todos os seus habitantes muitas felicidades e um futuro promissor. Quero saudar a você, minha terra, saudar seus filhos, vivos e mortos, pedindo a Deus e a Nossa Padroeira, Nossa Senhora da Conceição, que derramem suas benções sobre a nossa terra e sobre o nosso povo. Viva a nossa querida Ceará-Mirim!

– CADEIRA 24 – IRAN RODRIGUES COSTA
Ceará-Mirim que encantou, ainda encanta, claro, terra que abraça e acolhe, parece estar inquieta tentando rebuscar no passado construir melhor presente para que o futuro não nos reclame tanto!

– CADEIRA 25 – ORMUZ BARBALHO SIMONETTI
Desembarquei em Ceará-Mirim em 1981, para ficar de 6 a 12 meses. E aqui vivi, nessa bela terra, 23 anos de minha existência. Dispensável dizer que foi amor à primeira vista. Conquistei importantes amizades que perduram até os dias de hoje. Por fim, já aposentado, passei a integrar a valorosa Academia Ceará-mirinense de Letras e Artes “Pedro Simões Neto”-ACLA, instituição que vem se destacando no cenário cultural e artístico do Rio Grande do Norte.
A você, Ceará-Mirim, a minha homenagem e o meu preito de gratidão!

– CADEIRA 26 – MARIA DAS GRAÇAS BARBALHO BEZERRA TEIXEIRA
Em Ceará-Mirim que se estende para cima e para baixo, nada mais aprazível que o verde do vale, suas ladeiras, suas ruas largas, seus becos históricos, sua arquitetura, seu rio antes caudaloso, hoje assoreado, todavia ainda respirando vida, buscando caminhos, umedecendo terras. Em Ceará-Mirim minha terra centenária os cheiros de açúcar, melado, ocre, argila, massapé, mesclam e lambuzam as lembranças, os amores, a saudade imorredoura. Em Ceará-Mirim de Nossa Senhora da Conceição comemora-se hoje os seus cento e cinquenta e sete anos de lutas e glórias, de muitas histórias, de muitos contos e de muita poesia. SALVE CEARÁ-MIRIM!

– CADEIRA 27 – MARIA HELOISA BRANDÃO VARELA
HOMENAGEM AO CEARÁ MIRIM - 162 ANOS.
Parabéns ao Ceará Mirim a aos Administradores atuais pelas comemorações. Inspirada no poema Pasárgada, do poeta modernista Manoel Bandeira. Penso que todos têm dentro de si uma Pasárgada. Hoje no meu imaginário, as paisagens fabulosas, a lembrança da cidade nos remete aos tempos de crianças e adolescência e nos faz reviver e renovar, saímos mais jovens, claro no sentido figurado. A mensagem que deixo através do poema Pasárgada é uma homenagem aos presentes e a terra querida de todos nós.

– CADEIRA 28 – JOANA D’ARC ARRUDA CÂMARA
Ceará-Mirim eu te parabenizo pelos 162 anos.
Teus casarões e teu vale verde, encantam a todos que te conhece.
Tenho orgulho de ser filha dessa terra abençoada por Nossa Senhora da Conceição e das figuras ilustres que enriquecem a nossa cultura. Hoje é um dia especial para os Ceará-mirinenses. Parabéns a todos.

– CADEIRA 29 – JOVENTINA SIMÕES OLIVEIRA
“Ceará-Mirim, hei de lhe ver, jovem e formosa, como uma manhã de sol, vestida de noiva, desposando o progresso...”. – Reitero hoje, os mesmos desejos de sucesso formulados pelo meu pai, Percílio Alves de Oliveira, no seu livro O Colecionador de Esmeraldas (1981).
Curvo-me diante de você, Ceará-Mirim, cidade que me embalou criança, me acalentou adolescente e me inspirou adulta, me transformando no que hoje sou. Eu lhe saúdo, Ceará-Mirim e lhe dedico a minha gratidão eterna e o meu amor incondicional. Parabéns pelos 162 anos de emancipação política.

– CADEIRA 30 – EMMANUEL CRISTÓVÃO DE OLIVEIRA CAVALCANTI
Na passagem de mais um aniversário da Emancipação Política do Ceará-Mirim devo dizer que, como ceará-mirinense, me sinto orgulhoso de ser seu filho, pelo encanto, pela sedução e fascínio que esta querida terra, palco inesquecível da minha infância, adolescência e maturidade, vem me proporcionando no decorrer de toda minha vida. Como um antigo Menino de Engenho, do velho Jaçanã, hoje de fogo morto, recordo-me dos meus antepassados, que dali com seu trabalho, tiravam o seu sustento e de sua família, e dos dias felizes da minha infância, ali vividos. Quero neste exato dia de comemoração de mais um aniversário da minha querida Ceará-Mirim, homenagear todos os seus filhos, que fizeram, marcaram e deram personalidade e grandeza à velha e tradicional Cidade dos Verdes Canaviais.

– CADEIRA 31 – CLEONEIDE MARIA MACIEL DA SILVEIRA
Ceará-Mirim, terra acolhedora de filhos e visitantes. Grandiosa em suas belezas naturais; berço da literatura poética erudita e popular, templo da diversidade religiosa e cultural.
Aqui exalto todos os seus ancestrais, em especial aos povos indígenas com seus saberes da tradição, que foram os primeiros guardiões desse território.
Ceará-Mirim, celeiro artístico, terra de resistência e de magia cultural te felicito pela passagem dos seus 162 anos de Emancipação Política!!!

– CADEIRA 32 – CRÉSIO TORRES DE OLIVEIRA JÚNIOR
Nas asas do nobre poeta
Viaja um sublime coração,
162 anos a pulsar
Dotado de grande inspiração!
Contando a sua história
“Movido sempre pelo chão”,
Ao mundo aclamou Júlio Senna:
“Ceará-Mirim exemplo nacional”!














FOTOS DE MARIA SIMÕES.


FOTO 1 – Igreja de Nossa Senhora da Conceição
FOTO 2 – Colégio de Santa Águeda
FOTO 3 – Biblioteca Pública José Pacheco Dantas
FOTO 4 – Solar dos Correia
FOTO 5 – Mercado Público Municipal
FOTO 6 – Casa onde morava a poeta Adelle de Oliveira
FOTO 7 – Casa onde nasceu o poeta Sanderson Negreiros
FOTO 8 - Engenho Nascença
FOTO 9 - Engenho Carnaubal
FOTO 10 - Engenho Trigueiro
FOTO 11 - Engenho Capela.


Copiado da página da ACLA.

COMENTANDO MINHAS LEITURAS: REVISTA DA ANRL - Nº 63 - ABRIL A JUNHO 2020

Manoel  Onofre Jr e Thiago Gonzaga entregam à comunidade leitora e literária, mais uma edição da Revista da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, a de número 63, que corresponde aos meses de abril a junho do corrente ano.

Sabemos que eles sozinhos não fazem a revista, mas é graças ao labor tão dedicado que a dupla consegue garimpar material para compor a revista. Tenho acompanhado esta pugna  e sei o quanto eles são fiéis ao princípio do projeto editorial.

Convido os leitores a tomarem nas mãos a edição 63 da referida revista e sentirem o quanto a mesma está boa. Logo no primeiro artigo, o Presidente Diogenes da Cunha Lima vai salvar a estada de Clarice Lispector, em Natal, no ano de 1944. Iaperi Araújo e  Alfredo Neves escrevem sobre Abraham Palatnik, falecido esse ano. Vicente Serejo, o homem que ama livros, nos conta sobre a sua visita  a José Mindlin, ciceroneada por Genibaldo Barros. Um primor de texto.
Abraham  Palatnik

O  escritor e crítico literário Nelson Patriota traz a tona  acertos e feitos de Veríssimo de Melo. Sobre este folclorista eu escrevi um ensaio da importância dele na literatura de cordel. O poeta Paulo de Tarso Correia de Melo compartilha com os leitores,  nuances da sua amizade com outro grande poeta: João Cabral de Melo Neto. Murilo Melo Filho, que também partiu para a dimensão incomensurável,  é homenageado por Cláudio Emerenciano. Segue-se logo após, um artigo do Diretor da Revista, Manoel Onofre Jr, sobre João Wilson Mendes Melo, que viveu 99 anos e foi ocupante da cadeira 25 por 37 anos.
João Wilson Mendes Melo

Francisco Ivan é tema de assunto no artigo de Armando Prazeres, onde este trata sobre um banquete barroco, preparado por aquele. A poeta Diulinda Garcia escreve sobre outra mulher, também poeta, Myriam Coeli, dando-nos um breve perfil daquela que foi escritora e jornalista. O editor Thiago Gonzaga nos transporta à  arte literária de Dácio Galvão, um homem administrador da cultura, com relevantes serviços prestados à sociedade. O Acadêmico Jurandyr Navarro lembra Oswaldo de Souza, o músico e o  curador de arte.

Tome fôlego, pois ainda temos muito para apreciar.  Flávio Gameleira escreveu sobre Henry Koster e sua jornada pelo nordeste brasileiro; o cineasta e jornalista Valério Andrade não  errou um milímetro em seu depoimento sobre o amigo Valério Mesquita, corroborando com a citação bíblica "há amigos que são mais chegados do que um irmão". O médico  Daladier Pessoa Cunha Lima mostra que também conhece a anatomia das artes plásticas e em seu artigo trata  sobre "A Ultima Ceia", de Leonardo da Vinci. Encostadinho a ele, Francisco  de Assis Câmara  corre a pena escrevendo sobre  "A Beleza".

Veja bem! Até aqui a revista já pagou a edição, mas, a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras sabe que este periódico é instrumento de luz, e assim sendo, o lume vai ficando cada vez mais brilhante com a participação do Padre João Medeiros Filho, que escreveu sobre Dom Adelino Dantas.  Eider Furtado teve seu necrológio (ou sessão saudade) feito por Carlos Gomes, seu amigo de longas datas.  Confesso que já passei da metade da revista e isso me causa uma ansiedade ao saber que só terei mais algumas paginas pela frente. O texto de Edilson Segundo tem a canocidade de um biógrafo. Ele da ao leitor o retrato de um menino, nascido no interior de Pau dos Ferros, que recebeu de Deus a grande missão de ser um semeador de projetos voltados ao povo, este menino cresceu, ultrapassou seus 90 anos e se chama Padre Sátiro.
Padre Sátiro

Denise Coutinho e Cássia de Fátima escrevem juntas sobre "A representatividade feminina em a "Parede" de Edna Duarte". Edna Duarte brevemente vai completar 81 anos. O artigo acima faz referência ao conto que a escritora  publicou no primeiro livro "Sete Degraus do Absurdo", em 1977.
Na sequência temos Francisco Fernandes Marinho, um pesquisador e escritor bastante conhecido no Brasil,  que nos lembra os 120 anos da plaquete : " Impugnação dos embargos do Ceará pelo Rio Grande do Norte", de Rui Barbosa.
Padre Cícero

Nas páginas 124 a 130 vamos nos encontrar com a figura  emblemática do Padre Cícero Romão Batista, num texto maravilhosamente escrito por Benedito Vasconcelos Mendes, homem que respira o sertão nordestino. Paulo Negreiros nos conta a saga da sua família, dando realce a  Cocota e principalmente a Manoel Fernandes Negreiro. A revista traz também uma entrevista que Lívio de Oliveira fez com Murilo Melo Filho, em julho de 2008.  No campo da ficção, temos os contos de  Humberto Hermenegildo, com "O Cortejo",  Clauder Arcanjo com "Sentença". Lívio Oliveira retorna com páginas de um diário, as quais têm sabor de crônica em tempo de pandemia e Arrmando Negreiros  escreve sobre o tema da COVID-19 e os números da peste atual.
Já no finalzinho da revista, Valério Mesquita, um célebre contador de causos populares, traz as letras do riso e as frases da alegria conduzindo o leitor a um relaxamento literário.
E como não podemos viver sem a poesia, a edição 63 é fechada com trabalhos de Jarbas Martins e Oreny Júnior.

Francisco Martins
30 de julho 2020



76 ANOS DO ENCANTAMENTO DE EXUPÉRY


Annecy
31 de julho de 1944, por volta das 13h30m, o piloto Saint-Exupéry, em sua nona missão como piloto de guerra tem a sua aeronave abatida sobre a região de Annecy, quando sobrevoava ao largo da Córsega. Antoine-Marie-Roger de Saint-Exupéry nasceu em Lyon, França, no dia 29 de junho de 1900. Como escritor teve as seguintes obras publicadas:
Exupéry

Vôo Noturno - 1931
Terra dos Homens - 1939
Piloto de Guerra
Carta a um Refém
O Pequeno Príncipe - 1943
Cidadela - 1948 - obra póstuma.

O mais famoso dos seus livros, O Pequeno Príncipe, foi  traduzido para a língua portuguesa por Dom Marcos Barbosa.


segunda-feira, 27 de julho de 2020

NORDESTINIDADE EM DECADÊNCIA

 
Luiz Carlos Freire
 
 
Há 27  anos, quando coloquei pela primeira vez os meus pés no Rio Grande do Norte, encontrei praticamente “outro país”. Da mesma forma seria o potiguar fazendo viagem contrária, pois somos países dentro de um país. Como não poderia ser diferente, as diferenças culturais variam na linguagem, alimentação, música, danças, formas de relações humanas, tradições, hábitos etc etc etc. Essa é a maior riqueza do Brasil: suas peculiaridades.

Câmara Cascudo escreveu em 1934 que haveria um dia que o homem do interior estaria falando igualzinho ao homem da capital, atribuindo esse processo ao fenômeno do rádio. As ondas sonoras acessíveis a todo o estado, levavam o modo de falar do natalense a todos os rincões norte-rio-grandenses. Desse modo espalhava-se as gírias, os vícios de linguagem, os neologismos, e as sintaxes tortas ou não, enfim a “modernidade” natalense chegava ao homem do campo, o qual, muitas vezes nem sabia onde ficava a sua capital, mas agia como se ali morasse.

Analisando essa reflexão, emprego o mesmo raciocínio na questão de uma espécie de decadência da nordestinidade em terras potiguares. Poderia ser apenas influência externa sem grandes impactos, mas observo que de fato é decadência mesmo, pois já é possível enxergar muitos grupos modificados culturalmente. Às vezes observo pessoas que nasceram e cresceram aqui no estado e tenho dúvidas se elas de fato são mesmo potiguares. Não entendam que defendo o engessamento da cultura, ou que, saudosista, quero o passado de volta. Não é isso, afinal nem tive esse passado, pois não nasci aqui. Minha observação diz respeito a minuciosa observação sobre mudanças impactantes na cultura norte-rio-grandense, fruto da influência das coisas vindas do eixo Sul/Sudeste e de outros países. É fenômeno impressionante.

Essa desnordestinização está presente na música, na literatura, na linguagem falada, na cultura popular, na dança e numa sucessão de tradições e hábito conforme veremos. Quando cheguei ao Rio Grande do Norte, em 1991, recordo-me que trouxe muitas fitas cassetes com músicas predominantemente da minha região. Eventualmente eu pegava o aparelho de som e deixava a música rolar, principalmente aos sábados. Lembro-me que vários vizinhos me perguntavam que músicas eram aquelas. Uns detonavam. Outros achavam interessantes. Não entendiam como alguém podia ouvir Tonico e Tinoco, Almir Sater, Tetê Espíndola, Hermano Irmãos, Chico Rey e Paraná, Dino Rocha, Zé Correia, Tião Carreiro e Pardinho, Elinho, Irmãs Galvão, As Marcianas, Lourenço e Lourival, Milionário e José Rico e outros. Sempre gostei do sertanejo de raiz, o chamamé (que é uma influència paraguaia desde que o MS surgiu na geografia do Brasil), assim como as guarânias.

Nascido na terra de Almir Sater, eu não poderia trazer em minhas memórias o gosto musical por bandas como Forrozão Chacal, Banda Grafite, Ferro na Boneca, Forró do Muído, Impacto Cinco, Terríveis, Cavaleiros do Forró, Colo de Menina, Banda Líbanos, Desejo de Menina, Mala Sem Alça e uma infinidade de outras bandas e grupos musicais que embalavam o Rio Grande do Norte desses últimos tempos. É óbvio que não há brasileiro que não conheça Luiz Gonzaga, Elba Ramalho, Fagner, Zé Ramalho e uma infinidade de clássicos da música nordestina, mas estou me referindo às bandas locais que tocavam dia e noite nas emissoras de rádio no período entre 1991 a 2000 mais ou menos.

Certa vez uma professora perguntou quase se benzendo: “como você consegue ouvir esse tipo de música”? Uma amiga às vezes zombava de mim, dizendo que eu adorava “choradeira e cantor miando”. Tinha aversão aos ritmos sertanejos (estou falando do sertanejo dos anos 90 para trás: música de verdade). Na realidade, gosto de todos os estilos musicais: clássico, sertanejo tradicional, rock, orquestras, enfim todo tipo de música predominantemente dos anos 90 para trás, pois depois disso surgiu um sertanejo esquisito, tão esquisito que denominaram "sertanejo universitário". Hoje aparece uma pérola no sertanejo! Na realidade, nunca mais vi nem pérolas.

Pois bem, nos anos 90 quase nenhum potiguar apreciava a música sertaneja de raiz. Confesso que naquele tempo conheci apenas uma pessoa que gostava (um pouquinho) porque tinha passado um tempo no interior de São Paulo. Atualmente parece haver uma globalização dos estilos musicais com prejuízo para o Nordeste, salvas as devidas exceções. Não estou generalizando. Digo “com prejuízo” porque se um potiguar for ao Rio de Janeiro, a São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná Rio Grande do Sul não verá a influência do forró por ali, tampouco sua supremacia. Mas isso ocorre por aqui – ao contrário - ou seja, os potiguares deram uma esquecida do forró de raiz para abraçar o estilo musical sertanejizado. Digo assim porque o que vemos, hoje, é uma coisa nova e esquisita denominada “sertanejo”, mas não é. O cantor Wesley Safadão é um protótipo em transição do forró com um misto sertanejo universitário e outros estilos.

O próprio Luan Santana, que iniciou carreira com excelente influência do sertanejo tradicional no Mato Grosso do Sul, tornou-se uma espécie de Wesley Safadão do Sertanejo. Sua música não reflete mais os ares sertanejos do seu estado de origem.

Outra figura curiosa é Michel Telló, um artista completo, mas mutante. Para quem não sabe, ele iniciou a carreira no Mato Grosso do Sul, no início da década de 90, numa banda chamada “Tradição”, coisa esquisitíssima. Era um pedaço do Rio Grande do Sul no Mato Grosso do Sul. Havia o predomínio do “Vaneirão”, ritmo gaúcho. Inclusive estudiosos de Cultura  sul-mato-grossense  o criticam muito  pelo fato de ele ter contribuído com a diluição do sertanejo sul-mato-grossense, imputando ritmos gaúchos. Depois que Michel Telló se projetou nacionalmente o sul-mato-grossense até achou bom, pois não o viu tão presente por ali, descaracterizando a música local. Um exemplo de artista com forte respeito às suas raízes é o genial Almir Sater.

Mas, retornando ao Rio Grande do Norte, observa-se uma influência maciça da música sertaneja, abrangendo de norte a sul do estado, muito embora se trate de um sertanejo descaracterizado. São poucos cantores potiguares atuais que se inspiram em Luiz Gonzaga (que é uma verdadeira enciclopédia do Nordeste). Suas músicas são poemas belíssimos, que encantam. Conhecer Luiz Gonzaga é conhecer o Nordeste. Distanciar-se de Luiz Gonzaga é distanciar-se do Nordeste. É perder a identidade e assumir identidade alheia. Suas músicas revelam a nordestinidade na sua forma mais pura. Trata-se de uma fonte inesgotável de saberes e tradições do povo nordestino, sem contar suas melodias, seu modo impressionante de se apresentar ao público etc. Poucos potiguares se inspiram em Fagner, Zé Ramalho, Belchior, Clemilda, Marinês, Dominguinhos, Elino Julião, Alceu Valença, Canários do Reino, Genival Lacerda, Rita de Cássia, Sivuca, Trio Nordestino, João do Vale, Sirano e Sirino, Flávio José e outros. Quais artistas atuais se inspiram ou estudam os forrozeiros potiguares Marcos Lopes, Forrozão Cabra da Peste, As Nordestinas, Forró Meirão? Em outros estilos, quem se inspira nos artistas potiguares Ismael Dumangue, Donizete Lima, Ademilde Fonseca, Dusouto, Núbia Lafaytete etc etc?

Não se trata de doutrinação do forró, até porque as pessoas são livres para os seus gostos musicais. Os estilos musicais são múltiplos e estão em todo o Brasil. E devem ser assim mesmo. Minha reflexão se prende a questão de o forró, que nasceu no Nordeste, sofrer considerável descaracterização - Pasmem! provocada pelos próprios potiguares. Quando alguns mecenas do forró aparecem para salvar o forró verdadeiro e a sua nordestinidade, soa soa como algo folclórico e até mesmo pitoresco, como se o forró fosse uma coisa que desonrasse. E esse comportamento se justifica com a releitura das palavras de Cascudo, mas numa dimensão incomparavelmente maior e mais impactante, graças às redes sociais, canais fechados de TV, Youtube, enfim uma infinidade de mecanismo que tornam o rádio de Cascudo fichinha. O povo potiguar está se permitindo influenciar muito mais pelas coisas que vem de fora de que as coisas de sua própria identidade. O forró, que deveria estar presente nos 365 dias do ano, parece mais restrito ao período junino, como se fosse meramente um elemento folclórico. Isso se parece com a  Rede Globo, a qual se lembra do Nordeste apenas durante o São João.

Dia desses houve uma overdose de sertanejo universitário no Arena das Dunas. No segundo dia de venda de ingressos, esgotou tudo. O estádio superlotou. Contam que se formaram “pipocas do sertanejo” do lado de fora do estádio, numa quantidade quase igual aos que estavam dentro do show. No palco estava Maiara e Maraísa, Marília Mendonça, Jorge e Mateus e muitos outros. Isso não seria questionável se até hoje, na história do Rio Grande do Norte, nenhum show com artistas nordestinos gerasse tanto público.

Questionável!

Vá ao Rio Grande do Sul e veja se eles dão esse trato à cultura deles. São quase bairristas. Primeiro a cultura deles. Depois as influências externas, desde que não sobrepuje os gauchismos.  O que é de fora é enxergado como efêmero de cara.Vá ao Pernambuco e verifique se o “Axé” assumiu os sons de seu Carnaval. Nunca. Primeiro o  deles! Com predomínio para o frevo Agora olhe o Carnatal local. É a Bahia no Rio Grande do Norte! Não há uma identidade local. Já nasceu sem a cara potiguar, mesmo  havendo músicos e sambistas potiguares respeitáveis. Quando criaram o Carnatal, deveriam ter colocado como critério principal elevar a cultura musical potiguar, mesmo que trouxessem material de fora. Mas que a "pitiguarânia" predominasse.

Como disse acima desnordestinidade é um fenômeno que acomete muitos pontos da cultura potiguar, e diz respeito a literatura também. Atualmente observo os leitores potiguares mais interessados por literaturas estrangeiras de que pela literatura regional. Digo isso porque observo muito. Onde vejo gente lendo, observo o que ela está lendo. Principalmente o público infanto-juvenil. Quase todos leem os principais autores ingleses, americanos, franceses, italianos, dinamarqueses, alemães etc. Mas... e os autores do Rio Grande do Norte? Quem conhece Ana Cláudia Trigueiro, Zila Mamede, Ferreira Itajubá, Françoise Silvestre, Nei Leandro de Castro, Tarcísio Gurgel, Madalena Antunes, Clotilde Tavares, Nivaldete Ferreira, Thiago Gonzaga, Manoel Onofre Júnior, Salizete Freire, Otacílio Alecrim, Antonio Francisco, José de Castro, Francisco Martins,  etc etc etc. E os grandes autores do Nordeste, como Graciliano Ramos, Jorge Amado, João Cabral de Melo Neto, Rachel de Queiroz, Clarice Lispector etc etc etc?

Não entendam nenhuma dessas reflexões como bairrismo da minha parte, até porque aprecio autores do mundo inteiro – em todas as áreas da Arte – mesmo conhecendo os grandes nomes da minha terra natal. Refiro-me aos potiguares que produzem quase-cópia do que vem de fora, negando a própria cultura. Esses, fazem jus ao “santo de casa não faz milagre”, pois os artistas locais não lhes inspiram.

Mas no caudal dessa reflexão, também observo escritores nordestinos – embora poucos - certamente atentos a essa  espécie de decadência da nordestinidade - contribuindo a  desnordestinidade. Eles assumem uma postura que é espécie de tentativa de cópia de alguém - mas alguém estrangeiro. Quase como se quisesse ser aquele/la  autor(a) famoso(a). Isso também não é bom, pois o leitor percebe o joquete! Não é legal se espojar nessa perda de identidade em busca meramente de lucro. Todo autor tem influências. Mas não vem ao caso dessa análise. O bom é seguir uma linha...uma característica. É por isso que de repente explode inclusive no exterior.

Creio que faltam escritores que usem a palavra como arte. Como alguém já disse “que usem a palavra para dizer”. Faltam Gracilianos Ramos, Flaubert, Rimbaud, Baudelaire, Adélia Prado, Padre Vieira, Fátima Abrantes. Nossa literatura é nova. Tem menos de 500 anos. Precisamos aprender também alguma coisa lá fora. Mas no Brasil há alguns monumentos inspiradores. Ao invés de estarem estudando grandes autores e construindo o seu próprio caminho, se diluem e se distanciam de suas raízes.
 
Escrevi sobre música, de literatura, mas a desnordestinidade é visível em muitos espaços. É fácil perceber o fenômeno. Em termos de linguagem, na década de 90, quando cheguei ao RN, todos diziam “visse!”. Tinha o efeito de “certo!” (adjetivo). O “visse” desapareceu da boca do potiguar. Naquele tempo a emissora de televisão “Rede TV” tinha um programa que usava muito a expressão “tá me tirando?” (tá zombando de mim?). Em pouco tempo os potiguares colocaram debaixo do tapete “tá mangando”, substituindo-o por “tá me tirando”. Escrevi um longo trabalho sobre linguagem. O planeta da descaracterização da linguagem regional potiguar - substituída por linguagem típica do eixo Rio/São Paulo é gigantesco. Não vou me estender no assunto agora. É muito abrangente. Em outro momento escrevo a minha opinião sobre outros pontos dentro dessa desnordestinização. E viva o Nordeste.