Durante muitos anos se pensou que Auta de Souza foi uma poetisa mística. Isto se deve ao fato das suas poesias sempre terem como tema a ligação Homem/Deus. O poeta Francisco Palma a chamou de "Cotovia Mística das Rimas"; o próprio Olavo Bilac assim se refere a Auta: "mas a nota mais encantadora do livro é a do misticismo, que dá a algumas das suas poesias." Nem mesmo o irmão Henrique Castriciano ficou fora deste conceito quando assim escreveu: "mas, sem a dor que lhe requintou a fé, Auta certamente não teria encontrado a forma com que dá cor e relevo às visões do seu misticismo." Outros também afirmaram isto, como Tristão de Ataíde, Jackson de Figueiredo, Perilo Gomes e Palmira Wanderley.
Mas é com Câmara Cascudo que esta cortina há de cair, pois assim se expressa o mestre: "A minha geração em Natal, aqueles que começaram a escrever ao redor de 1928, receberam Auta de Souza como a Poetisa Mística do Brasil. Nenhum de nós sabia o que vinha a ser misticismo. O título era sonoro e orgulhador para o nosso provincianismo sedento de notoriedade. OLavo Bilac e Nestor Vitor diziam-na "mística". Podiam resolver. Tinham autoridade. Estávamos todos enganados. Eles e nós".
Desta forma, é certo afirmar que Auta de Souza não é poetisa mística. O místico tortura a carne para edificar o espírito. Ela jamais se enclaustrou, nunca teve êxtases ou visões, não vivia de forma contemplativa. E para fechar esta afirmação com segurança, veja o que diz a Doutora Maria de Lourdes Belchior, da Universidade de Lisboa: "Não há escritores místicos na Literatura Portuguesa, nem na Literatura Brasileira. Existem, tão só, autores espirituais."
Inegável é que "a religiosidade de Auta de Souza era profunda, sincera, modular, mas não ascética, mortificante, mística" (Câmara Cascudo).
Então, pelas razões expostas acima, Auta de Souza não é poetisa mística. Seria ela uma simbolista? Esta pergunta respondo brevemente.
Um comentário:
E pensei que ela era mística...
Abraços, seu blog está cada vez melhor.
Karina Santos
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