Com a criação do livro em série a partir dos linotipos móveis de Gutenberg, a condensação de experiências e ensinamentos passou a ser compartilhada amplamente, como se fosse um patrimônio de todos e não privilégio de poucos.
A tradução da Bíblia e sua divulgação em grande escala por Martinho Lutero partiu o absolutismo da Igreja, dando sinais de um novo tempo com a multiplicação do conhecimento entre a humanidade. Os registros de experiências passaram a pertencer ao todo, à espécie humana. Passou a ser repetido e compartilhado, possibilitando ao homem dar um salto na história, calcando as bases da revolução industrial.
É após a criação do livro, do condensamento do pensar e do descobrir, que o homem se tornou um ser tec´nológico. Transmitindo conhecimento e novas descobertas e observações de gerações a gerações, inaugurou uma nova fase na cadeia evolutiva humana, saindo do primarismo das ações repetidas, passando ao inulsitado de novos e pioneiros experimentos. O homem deixou de aprender no tempo e passou a aprender no espaço. Nunca a espécie humana evoluiu tanto como na era do pós-livro. Agente de transformação, ora cultuado, ora perseguido, o livro é a representação de um tempo, um símbolo.
Agora, muito tem-se falado na sobrevivência do livro tal como o conhecemos hoje depois do advento dos novos meios de comunicação. Seria sua extinção parte da própria evolução? Não podemos esquecer que texto vem de textura, e é na impressão que ele tem sua versão final, sua forma definitiva. Ler é sobretudo sentir o universo lúdico escondido por detrás das palavras, tão abstrato quanto a imaterialidade que cada uma guarda, que cada uma traz em si.
Os jovens, educados sobre a luz translúcida das velas do computador, acham opaca a impressão em branco e preto das páginas dos livros, dando um claro sinal da leitura que lhes apetece.
Enquanto divagamos sobre o futuro do livro e da imprensa em tempos de virtualização do mundo e das relações humanas, no frio abrigo da tela do computador brinca, despreocupado, o texto que nunca foi imaginado.
Autor: Petrônio Souza Gonçalves
Fonte: Revista da Academia Mineira de Letras, ano 88, Volumes LVII e LVIII, ano 2010, páginas 145/146.
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